O “tudólogo”, especialista em nada, comentarista de tudo

Lira Neto

Arautos de certezas inabaláveis, luminares do Facebook, são abençoados com o dom do conhecimento instantâneo Ligo a tevê e lá estão eles, nas bancadas dos telejornais: os “tudólogos”, especialistas em nada, comentaristas de tudo. Falam, com a mesma e peculiar desenvoltura, sobre a guerra na Ucrânia, a variante ômicrom e, quem sabe, a influência da pelagem do tamanduá-bandeira na formação psicossocial dos filhos do primo do vizinho da irmã do guarda.

Conhecem tudo sobre geopolítica do leste europeu, epidemiologia, cibercrimes, física quântica, ambientalismo, cinema indiano, literatura gótica, inteligência artificial, psicanálise, Round 6, sexo entre golfinhos e o que mais lhes der na telha. Padres-mestres que têm ideias prontas e firmes sobre qualquer assunto, notícia ou tema.

Com a segurança, soberba e altivez de um catedrático do Twitter, emitem opiniões polivalentes aos jorros, borbotões e esguichos, glosando seja lá qual for o mote em questão: eleições presidenciais, criptomoedas, terrorismo, saúde pública, novas matrizes energéticas, planejamento urbano, táticas de futebol, menopausa do urso panda, o paredão da Linn da Quebrada, o biquíni de crochê da Anitta.

Já fui convidado a participar de programas radiofônicos do gênero, para falar sobre algum livro meu então recém-lançado — e, já que eu estava ali no estúdio, enquanto aguardava minha vez, os apresentadores começaram a me pedir apreciações, ao vivo, sobre isso e aquilo, alhos e bugalhos, espeto e ovo, cousas e lousas. Política cambial, cerimônia do Oscar, desastre de Chernobyl, voto distrital, tráfego aéreo, Primavera Árabe, a morte do Gugu, os glúteos da Kardashian, o último videoclipe da Beyoncé.

“Não sei”; “sei lá”; “não vi”, “não faço a mais remota ideia do que seja”, deu-me ganas de responder. Pressionado, capitulei. Acabei entrando no jogo e proferi platitudes ginasianas, em tom professoral. Um vexame, em suma. Para sorte minha, no rádio, ninguém nota quando quem está ao microfone começa a enrubescer e suar de vergonha.

Ao final, nos dois únicos casos nos quais caí no disparate de bancar o tudólogo, minha participação foi elogiada pelos locutores, que me consideraram apto e até com algum jeito à arte da embromação. Agradeci, acabrunhado, torcendo para que nenhum amigo meu, sem nada mais de útil a fazer, estivesse sintonizado na emissora àquele horário. Da terceira e última vez que tal me ocorreu, de tão nervoso e constrangido, perdi a fala, acometido de repentina, psicossomática e salvadora rouquidão.

Continue lendo

Publicado em Ultrajano | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

#ForaPutin!

Publicado em Comédia da vida privada | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

War

Publicado em Sem categoria | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Radicalmente neutro

Insulto avisa seus navegantes que não toma partido na guerra Rússia-Ucrânia. Não é apenas por ideologia, ou melhor, é por ideologia, pois a recusa à ideologia representa ideologia. Embora saiba das causas próximas e remotas do conflito, prefere ficar distante, no doce deleite da alienação, assumida e radicalmente alienado. A alternativa é a mesmice do que se vê por aí, todo mundo dando pitaco, um pior que o outro, aquele achismo de dar pena.

O blogue fecha com dois de seus influencers, os Ratinhos, pai e filho. O pai, homem de visão, que conhece a criminalidade desde seu tempo de repórter, quando era pobre de marré; Ratinho pai diz para a gente esquecer o assunto, não tomar conhecimento, cuidar de coisas sérias. Em suma, ficar neutro, até mais que o presidente Bolsonaro, o maior influencer do Brasil – e dos Ratinhos, pai e filho. Neutralidade, a palavra mágica, na vida e na política. Sim, radicalmente neutro, tipo sabonete Phebo.

Os Ratinhos conhecem e praticam a neutralidade, mestres consagrados no esforço de permanecer rigorosamente alheios às disputas, sem apoiar qualquer dos contendores. Afinal, se os dois que disputam tiverem razão seria injusto tomar partido. Que melhor exemplo que o de serem amigos de igual afeto tanto de Lula quanto de Jair Bolsonaro? Ratinho filho, ou júnior, nosso governador, é tão neutro que quando a coisa aperta no Paraná ele a neutraliza nos EUA. Sem perder a neutralidade jamais.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Ladies Orchestra

© Sára Saudková

Publicado em Sem categoria | Com a tag , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Publicado em ova-se! | Com a tag , , , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Vai passar? Tem certeza?

Cada paralelepípedo do Largo da Ordem ressoa a letra da canção que Chico Buarque de Hollanda, muito inspirado, escreveu para compor uma dobrada de sucesso com Francis Hime, lançada há 37 anos. Mal sabiam que, no Carnaval pandêmico de 2022, Curitiba vestiria a carapuça do sanatório geral, mas em outra passarela de alegorias: a da cena política!

Cabe aqui um parêntese, antes de enveredar o texto para esse campo minado e tão enviesado ou castrador de contextos quanto as editorias internacionais de noticiários daqui ao reportarem conflitos nos países dos outros, quando não regurgitam com farofa as versões das grandes redes corporativas e seus interesses comerciais. Nunca se viu tanto jurado disposto a julgar quesitos e categorias sobre as quais não entende “lhufas” para, no final das contas, sua contribuição a mais ou de menos acabar por definir as escolas que irão desfilar no final de semana seguinte sobre o salto alto de um campeonato tão duvidoso quanto arbitragem de V.A.R. para os escudos mais pesados em campo.

Mas ainda nem abri o ponto de destaque anunciado… Cabe ressaltar que Curitiba tem uma história bonita e emocionante sobre o entrudo, a festa popular, que dribla obstáculos desde sempre, preconceitos, e que afirma sua identidade o tempo todo. Driblar não é um termo sem propósito em um ambiente que desfila de mãos dadas com outra paixão nacional, a do futebol. A Curitiba do samba no pé e da bola na rede tem memórias preciosas para contar, com páginas amareladas de sorrisos, de extroversão, de muito trabalho, incremento de renda e de valor cultural inestimável. Fora os jeitinhos e a malandragem nossa de cada dia.

Como no restante do país, esse caldo cultural é engrossado com todos os temperos da formação da nossa identidade de povo e da brasilidade que corre alucinada nas veias da nossa gente, com doses, claro, das saborosas imperfeições de que é feita uma realidade. Talvez, colecione torcidas de narizes mais exigentes, requintados e hipócritas justamente por desmascarar que o curitibano tem também (- Pasmem! Jesus Cristinho!) raiz essencialmente popular, negra, alegre, verdadeira e humanamente torta.

Dito isto, a ofegante epidemia do momento acontece mesmo no palco da política, que sapateia e dá bizarras piruetas de contentamento em nome de salvaguardar suas tenebrosas transações e de perpetuar um tempo com muitas páginas infelizes, mantenedoras de confortos e que são seletivas na distribuição das benesses e das oportunidades que a cidade tem para oferecer. Aos barões famintos e napoleões retintos da capital paranaense, séculos e séculos depois dos fatos que inspiraram a genialidade no repertório do Chico, a parte que ainda lhes cabe nesse latifúndio de segregação é errar cegamente pela vastidão territorial do município, levando pedras, feito penitentes, para erguer estranhas e impenetráveis catedrais. Essa realidade fugiria à compreensão de outro cantador, o Zé Geraldo, quando imortalizou sua interpretação de “Cidadão” do Lúcio Barbosa, dizendo que o padre lhe deixava entrar no recinto, construído pelo trabalho de suas mãos e com o suor de suas energias, e que o próprio Nosso Senhor lhe ordenava para deixar de tolices e não se deixar amedrontar por esse contexto de exclusões e de seletividades. Continue lendo

Publicado em Thea Tavares - Blog do Zé beto | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Elas

Céu (estilizado como CéU), Maria do Céu Whitaker Poças. ©  Felipe Diniz

Publicado em elas | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Thiago E, o próprio, driblador de gagueira.

Publicado em Todo dia é dia | Com a tag , , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Tempo

2º Festival Internacional do Humor Gráfico das Cataratas do Iguaçu – Planeta Água – 2003

Publicado em Sem categoria | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Flagrantes da vida real

Samuel Lago com a mão na massa. © Maringas Maciel

Publicado em Flagrantes da vida real | Com a tag , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Publicado em Todo dia é dia | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Hoje

Jaguar, pseudônimo de Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe [29 de fevereir0 – 1932], um dos maiores cartunistas brasileiros, hoje completa 90 anos de idade.  © Paulo Vitale

Publicado em Sem categoria | Com a tag , , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Yes, nós somos bananas

Bolsonaro deu entrevista coletiva (sic) sobre a situação da Ucrânia. O vexame de sempre, na forma e no conteúdo: um presidente que não domina o básico do idioma, sem fluência, em frases de monossílabas – no idioma com quase 50% polissílabas – ele devia saber disso, já que é autor de dicionário de palavras cruzadas; o chefe de Estado sem a mais elementar noção de relações internacionais. Sempre a insistir na sua relação “excepcional”com Vladimir Putin, faz o biruta, na mudança dos ventos: o Brasil passa a ser neutro no conflito da Ucrânia, uma neutralidade que conflita com o voto na ONU condenando a agressão russa.

O brasileiro que analisa, porque pensa, o brasileiro informado, desliga a televisão para não renegar a brasilidade, o patriotismo e o amor à pátria que elegeu um inepto para dirigir o país e representá-lo perante o mundo. O brasileiro com o senso da relevância da imagem do homem público sente-se humilhado com tudo que Jair Bolsonaro diz e faz. Esse brasileiro conhece o Brasil e seus homens públicos; sabe que o presidente não difere, com a “honrosa” exceção da insanidade, dos políticos internos. Mas esses políticos cedem à experiência de séculos do Itamaraty na ação e leitura dos fatos da política internacional.

A política externa mantinha-se com dignidade e eficiência até que o dedo podre e a língua suja de Jair Bolsonaro puseram o Itamaraty como arauto do atraso e puxadinho dos filhos do presidente, réplicas de caráter do pai. Apesar de o mundo ver o brasileiro pelo exibicionismo cafona, o Brasil tem histórico de compostura dos chefes de Estado – que se transformam quando no Exterior.  Bolsonaro faz no Exterior a política da roça – e vende-se como estadista. Ele está mais para Rodrigo Duterte, o celerado filipino, que para Lula da Silva, que se revelou estadista (apesar dos pesares que com Bolsonaro deixam de pesar).

Bolsonaro só não suja ainda mais a imagem do Brasil porque os EUA, líder na área de influência, tiveram – e podem reeleger – presidente pior que o brasileiro. Acontece que esta conclusão não pode ser comprada pelo valor de face, pois cada país tem seu valor, força e importância, e o Brasil se esforça por perder o que restava com Jair Bolsonaro e seu governo de terra arrasada – sentidos literal e amazônico. Donald Trump, o ex-presidente dos EUA, outro amigo de Bolsonaro, no começo aplaudiu a Rússia, dando a invasão da Ucrânia como obra de gênio; depois passou a condená-la. Um Bolsonaro pouco menos estúpido e que fala inglês.

Bolsonaro tratou a agressão da Ucrânia como briga de vizinhos. Não falava como estadista, sim como político da roça, para sua fauna negacionista, os ignorantes que o consideram melhor que Emmanuel Macron porque este, na reunião com Putin sobre a Ucrânia, sentou no extremo de uma longa mesa; e Bolsonaro, tão próximo, só não sentou no colo do russo porque os dois são apenas bons amigos. A entrevista coletiva recente, com um dois de paus à direita, não passou de recado de Bolsonaro ao vice Hamilton Mourão, que no momento certo e no vazio do titular fez avaliação adequada do conflito na Ucrânia.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Com a tag , , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

#ForaBozo!

Publicado em Comédia da vida privada | Com a tag , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter