O irritante guru do Méier

Quero apenas repetir que minha relação com a arte é diferente. Pra mim, artista tem que sofrer. Ser anão, como Lautrec, cortar orelha como Van Gogh, contrabandear armas como Rimbaud, morrer na miséria como Grosz. Cara que, como eu, ganha dinheiro com o que faz pode ser, e é, chamado de tudo, menos de artista.

Jornal do Brasil, 23|4|92

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A vida sempre vale a pena

Flávio Cavalcanti nunca foi um dos meus tipos favoritos. Direitista militante, apoiou ostensivamente o golpe militar de 64, bajulou a milicada e tornou-se uma das principais figuras da televisão brasileira nos anos 60/80. Comandava um programa dominical de quatro horas, pela então Rede Tupi, em cadeia nacional, com sucesso absoluto de audiência.

Logo percebeu que fizera besteira, arrependeu-se, mas aí já era tarde demais. Foi censurado, punido e tirado do ar pelos próprios parceiros que incensara. Mas tinha lá as suas virtudes. Por exemplo: abrigou em sua casa, em Petrópolis, na zona serrana do Rio, perseguidos pela ditadura, como as atrizes Leila Diniz e Márcia de Windsor, por sinal ambas juradas de seu programa.

A lembrança de Flávio deve-se ao livro que acabo de ler (“Senhor TV – A vida com meu pai, Flávio Cavalcanti”, (Matrix Editora, 2021), escrito pelo filho Flavinho. O livro, parcial por certo, não traz maiores novidades, além daquelas já conhecidas pelo público e pela imprensa da época. Mas merece citação.

No fim da vida, com a derrocada final dos Diários e Emissoras Associados, dos quais faziam parte as TVs Tupi (do Rio e de São Paulo) e o desinteresse das demais televisoras, Flávio viveu momentos difíceis, acrescidos com o agravamento da doença da esposa Belinha, a falta de dinheiro e a perda da casa de Petrópolis, hipotecada para fazer frente às despesas. Fez uma experiência na Rede Bandeirantes de Televisão e acabou sendo acolhido por Sílvio Santos, do SBT, onde, a despeito das divergências com o patrão, passou os últimos três anos de sua vida.

Na noite de quinta-feira 22 de maio de 1986, Flávio estava no ar com seu programa semanal. Anunciou a entrada dos comerciais e não voltou mais ao palco. Acabou sendo levado ao Unicor paulista com uma isquemia coronariana. Quatro dias depois, já fora da UTI, teve uma parada cardíaca fatal. Cinco horas de tentativa não conseguiram reanima-lo. E o SBT saiu do ar naquele dia/noite em sinal de respeito.

Apesar da personalidade polêmica e controvertida e dos exageros diante das câmaras, Flávio Cavalcanti teve a sua importância como repórter e apresentador de televisão. E grandes momentos de humanidade. Como, por exemplo, no bilhete que deixou ao neto Jarbas:

“Quero dizer-lhe, meu neto, que vale a pena.

“Vale a pena crescer e estudar. Vale a pena conhecer pessoas, ter amigos, ter namoradas, sofrer ingratidões, chorar por algumas decepções e – a despeito disso tudo (ou por causa disso tudo) – ir renovando todos os dias a sua fé na bondade essencial da criatura humana e o seu deslumbramento diante da vida. Vale a pena verificar que não há trabalho que não traga a sua recompensa; que não há livro que não traga ensinamento; que os amigos têm mais para dar que os desafetos para tirar; que, se formos bons observadores, aprenderemos tanto com a obra do sábio quanto com a vida do ignorante. Vale a pena ver que toda amargura nos deixa reflexão, toda tristeza nos deixa a experiência, todo sofrimento nos faz crescer e a alegria nos enche de luz.

“Vale a pena ter caráter, ser honesto, justo e desprendido das coisas materiais. Vale a pena ter ideais e lutar bravamente por eles.

“Vale a pena viver nestes assombrosos tempos modernos em que os milagres acontecem ao virar de um botão ou ao pressionar uma tecla; em que se pode telefonar da Terra para a Lua; lançar sondas espaciais, máquinas pensantes, à fronteira dos outros mundos. E descobrir na humanidade que toda essa maravilha tecnológica não consegue, entretanto, atrasar ou adiantar um segundo sequer a chegada da primavera.

“Vale a pena saber que os cientistas e especialistas revelarão coisas que a mim não foram reveladas. Você certamente conhecerá seres vindos de outras galáxias e de outras dimensões, o que para mim é uma certeza, para meus pais foi uma teoria e para meus avós mera especulação.

“Vale a pena, mesmo quando você descobrir que tudo isto que eu estou tentando lhe ensinar é de pouca valia, porque a teoria não substitui a prática e cada um tem de aprender por si mesmo que o fogo queima, que o vinagre amarga, que o espinho fere e que o pessimismo não resolve rigorosamente nada.

“Vale a pena até mesmo envelhecer como eu e ter um neto como você, que me devolveu a infância”.

Como se vê, sempre se pode tirar algo de bom do ser humano, tenha ele vivido de um jeito ou de outro.

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Bolsoriarty ou Mabusonaro

Até que ponto os cúmplices que Bolsonaro implantou no sistema impedirão que ele pague por seus crimes?

Jair Bolsonaro acaba de nomear mais um aliado para um cargo-chave na administração. Desta vez, trata-se de um indivíduo com autoridade para bloquear, ignorar ou mesmo apagar as investigações contra um de seus filhos pela extorsão de funcionários chamada “rachadinha”. Qual é a novidade? Todo dia, Bolsonaro infiltra em cargos-chave elementos de sua confiança. É sua prerrogativa, mas nunca um presidente amarrou tão bem o sistema visando a proteger-se, assegurar impunidade ou eternizar-se no cargo.

Bolsonaro já se garantiu na rede de procuradorias, corregedorias, controladorias, delegacias, órgãos públicos de busca e informação e até no STF, no qual implantou dois pinos. Tem pelo menos um cúmplice em cada tribunal. Foi fazendo isso aos poucos, em silêncio, enquanto nos distraía com a chusma de militares, nem tão decisivos, que transplantou para o governo. O resultado desse enraizamento está na tranquilidade com que afronta diariamente a lei e sai assobiando, como se se soubesse fora do alcance dela.

A literatura e o cinema criaram dois personagens igualmente sinistros: o professor Moriarty, arqui-inimigo de Sherlock Holmes, e o Dr. Mabuse, imortalizado em três filmes de Fritz Lang. O primeiro controlava Londres; o segundo, a partir de Berlim, fitava o mundo. O alcance de ambos compreendia desde uma carteira furtada no metrô até a manipulação de leis, passando pelo hipnotismo de gente influente, espionagem eletrônica e controle de organismos essenciais.

Quando, ao fim de uma história, achava-se que Moriarty e Mabuse estavam mortos ou derrotados, crimes como os deles continuavam acontecendo. Eram de seus auxiliares deixados impunes ou de estudiosos de seus métodos e que conseguiam replicá-los. O terror não tinha fim.

Bolsonaro, um dia, descerá da cadeira e responderá por seus crimes. Resta ver até que ponto os homens que impregnou no sistema impedirão que pague por eles.

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Grandes Tragédias Brasileiras

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A demissão inexplicável de Monica Rischbieter do Teatro Guaíra

Monica Rischbieter, diretora do Teatro Guaíra, ficou espantada quando um amigo telefonou hoje e disse que ela tinha sido demitida do cargo e que sua exoneração fora publicada no Diário Oficial do Estado de ontem. A cópia logo chegou, confirmando o fato. Mônica, ex-secretária da Cultura e com 14 anos de experiência à frente do Guaíra, não entendeu o motivo pelo qual não recebeu nenhum telefonema comunicando o ato.

Ela é uma das profissionais mais competentes e mais queridas na área da cultura no Paraná. Expressionante!

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Pobre com visão de futuro tenta ser adotado por Bolsonaro para comprar mansão de 6 milhões

Ciente de que sua casa nunca vai cair, o presidente Jair Bolsonaro cometeu mais um ato de falta de empatia ontem. Depois de sobrevoar regiões atingidas pela chuva em São Paulo, Bolsonaro disse que “faltou visão de futuro” a quem construiu em área de risco. O mesmo se pode dizer de quem cravou 17 na urna nas últimas eleições. 

Trinta e duas pessoas estão se oferecendo para serem adotadas por Bolsonaro. A ideia é que cada um deles consiga financiamento a preço baixíssimo e possa comprar pelo menos um imóvel decente. Nem precisa ser uma mansão de 6 milhões, como fez seu filho Flávio.

Bolsonaro foi encaminhado ao oftalmologista porque lhe falta visão do presente.

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#ForaBozo!

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If not for you

 

George Harrison (Bob Dylan)

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Flagrantes da Vida Real

A fotógrafa Fernanda Castro, olhar severo para só o que ela está vendo. © Maringas Maciel.

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© Newton Bento

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Monica Vitti, atriz italiana, morre aos 90 anos

A atriz italiana Monica Vitti morreu nesta quarta-feira (2), aos 90 anos. A informação foi confirmada pelo Ministro da Cultura da Itália, Dario Franceschin.

“Adeus, Monica Vitti, adeus à rainha do cinema italiano. Hoje é um dia verdadeiramente triste, morre uma grande artista e uma grande italiana”, “escreveu ministro em um comunicado compartilhado nas redes sociais.

Dario também publicou um texto no qual recorda a longa carreira da atriz, que participou de obras que vão da comédia ao drama. Segundo a imprensa italiana, Monica sofria de Mal de Alzheimer há cerca de duas décadas.

Maria Luisa Ceciarelli, nome de batismo de Monica, nasceu em Roma em 1931. A atriz iniciou sua carreira artística ainda na adolescência em produções amadoras. Depois, cursou a Academia Nacional de Artes Dramáticas de Roma.

Monica ficou conhecida por seu trabalho em clássicos da década de 1960 como “A aventura” (1960), “O deserto vermelho” (1964), “O eclipse” (1962) e “A noite” (1961).

Por suas atuações, recebeu sete troféus no Globo de Ouro Italiano, venceu cinco prêmios de Melhor Atriz no David Di Donatello Awards e foi indicada ao BAFTA. Em 2000, Monica se casou com o pianista e compositor Roberto Russo, com quem tinha um relacionamento desde 1973.

Walter Veltroni, diretor, escritor, político e amigo da família, publicou nas redes sociais que Roberto, “seu parceiro de todos esses anos, me pede para comunicar que Monica Vitti se foi. Faço com dor, carinho e pesar”.

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O paraíso tem cheirinho de ar-condicionado velho

O paraíso tem cheirinho de ar-condicionado velho

Lá em casa o único ar-condicionado ficava no quarto dos meus pais. Nos dias quentes de verão, ganhávamos o direito de dormir lá, os quatro irmãos, amontoados em colchões no chão. Gostava de abraçar aquele gigante barulhento e enfiar o nariz dentro das suas persianas. Não me esqueço do cheirinho delicioso que vinha das suas profundezas geladas. Talvez fosse mofo.

Guardo até hoje profunda estima pelo aparelho. Mais que isso: devoção. O ar-condicionado ocupa, pra mim, o Olimpo dos eletrodomésticos, o oposto da impressora, que mora no Hades dos eletrodomésticos, ao lado das caixinhas bluetooth. O ar-condicionado, não: fica do ladinho de Zeus. Não nega fogo. Pinga, geme, agoniza, mas não morre.

Um ar-condicionado pode durar 30 anos, o que, em anos de eletrodoméstico, equivale a 300. Tenho um guerreiro aqui que já estava no apartamento quando eu cheguei. Deve ter a minha idade. Assim como eu, reclama pra trabalhar, faz um barulho danado, gasta mais energia do que precisa, mas está vivinho, com uma saúde de ferro —tirando o pigarro e a coriza.

Gosto especialmente daquilo que ele tem de mais jurássico: seu barulho, nos dias bons semelhante ao de um navio, nos dias ruins lembra uma traineira. Imagino que esse fosse o barulho que ouvíamos, antes de nascer, no calor do útero. Sua música me transporta de volta pro saco gestacional, quando a vida consistia em escutar uma máquina trabalhando. Sair de casa, num dia quente, é um parto.

No quarto colocamos um Split –seu silêncio me incomoda. Não se fazem mais barulhos de ar-condicionado como antigamente.

“Um casamento é uma aliança entre um homem que não consegue dormir com a janela fechada e uma mulher que não consegue dormir com a janela aberta”, disse Bernard Shaw, no século passado. A frase, claro, precisa ser atualizada. “Um casamento heterossexual é uma aliança entre uma mulher alérgica a ar-condicionado e um homem que só dorme com o termostato no 15.”

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PGR denuncia ministro da Educação ao STF por homofobia

A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou nesta segunda-feira (31/01) o ministro da Educação, Milton Ribeiro, ao Supremo Tribunal Federal (STF), pelo crime de homofobia.

A denúncia foi motivada por uma entrevista que o ministro concedeu ao jornal O Estado de S. Paulo, em setembro de 2020, na qual afirmou que adolescentes optam pela homossexualidade por pertencerem a “famílias desajustadas”.

“Acho que o adolescente, que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo (…) tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas, algumas. Falta atenção do pai, falta atenção da mãe”, afirmou Ribeiro ao jornal.

O ministro brasileiro também disse ver “menino de 12, 13 anos optando por ser gay, nunca esteve com uma mulher de fato, com um homem de fato, e caminhar por aí. São questões de valores e princípios”.

Preconceito e discriminação

A denúncia, assinada pelo procurador Humberto Jacques de Medeiros, destacou que Ribeiro “praticou o preconceito e a discriminação às orientações sexuais homoafetivas e às identidades de gênero, atribuindo-lhes a condição de anormalidade, bem como de decorrerem de um contexto familiar desajustado”.

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