Olavo de Carvalho é impedido de reencarnar por não apresentar comprovante de vacinação

Após ter tido uma passagem para o outro plano cheia de homenagens e comemorações, Olavo de Carvalho teve dificuldades em se manter em uma nova moradia. Sua estadia no inferno foi recusada pelo próprio Satanás, que se recusou a ter sua imagem associada a um negacionista — no Céu, foi barrado por razões óbvias. Uma curiosidade: a onda de calor sentida nos últimos dias pode ter sido causada pela abertura das portas do inferno para o recebimento do guru de Bolsonaro.

Enquanto aguardava no Purgatório, o astrólogo foi encaminhado para a a reencarnação, mas teve seu visto de volta negado por não apresentar comprovante de vacinação. Olavo tenta agora reencarnar na Terra plana.

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Era da Mentira

Temos que conhecer de forma objetiva as estratégias dessa velha arte

Nos últimos dias temos escutado muitas mentiras. Tem de todo tipo: mentira deslavada, ambiguidade intencional, retirada de contexto, projeção, inversão. Como são muitas e concorrentes, disputam hegemonia. Um nome educado para isso é “disputa de narrativas”, no grande mercado simbólico que rege o mundo. Ganha quem souber mentir mais tempo para mais gente.

Roubar no jogo é o novo jogo. Alterar os dados, as imagens, os fatos? Pode. Ocultar informações? Pode. Invadir domínios públicos e privados? Pode. Roubar dados? Deve. Afinal, guerra é guerra e lucro é lucro. Lentamente naturalizamos o uso de tais estratégias.

Já adianto o final da coluna: precisamos criar um campo específico do saber chamado mentirologia. Temos que conhecer de forma objetiva as estratégias dessa velha arte, assim como as estruturas subjetivas aí atreladas. Vejamos alguns cases recentes.

O Intelectual. Ele queria nos mostrar que vítimas também são algozes, retomando o intrincado problema da dominação. Foi soltando um fio de exemplos justapostos para demonstrar sua tese, usando invariavelmente a metodologia metonímica de tomar a parte pelo todo (uma parte mínima, minúscula). Um dos seus argumentos: vejam Abdias, uma referência do movimento negro no Brasil e no mundo, na verdade fez parte de um movimento autoritário e, por que não dizer, fascista. Abdias viveu quase um século, fazendo de sua vida uma grande obra, com todos os elementos da clássica “trajetória do herói” (produtores do Brasil, #ficaadica). Participou durante poucos meses —entre os mais de 1.100 que viveu— de um movimento que se dizia “integrador” e que lhe interessou por pretender ser crítico do imperialismo e valorizar o Brasil e sua cultura. Abdias logo percebeu o embuste e saiu para fazer as outras e mais interessantes coisas que realizou em 99% do seu tempo de vida. Por que Antonio alterou a história, inclusive mensurável e documentada? Precisava desesperadamente preservar seu desenho de mundo para conseguir estar nele?

Será que a gente sempre sabe quando e quanto mente? Pintar um quadro tão falseado da realidade é mentir. E não precisa nenhum Platão expulsar artista da pólis e criticar a mimese para gente entender isso.

Tem o Juiz. Ele faz mágica e joga em todas as posições: acusa, defende, julga. Compra e vende. Compra e vende informação, ganha (muito) dinheiro. Trama trama e esconde-esconde. Uma parte da arquibancada tenta investigar, a outra tenta acreditar. Na boa-fé ou na loucura da autoilusão, o que normalmente dá na mesma e é sempre uma má ideia de fé. Aliás, fé não é uma boa ideia.

O case presidente ainda vai render trabalho final de curso e mil doutorados em mentirologia. Você frauda e vence o jogo dizendo que o outro frauda (rouba). Depois você começa a perder, então frauda (por ex., o TSE) e diz que o outro frauda (por ex., a urna). Espiral satânica.

O último case é o mais curioso: o personagem ficou famoso por denunciar fetos em refrigerantes e debochar de vírus, vacinas e cigarros. Morreu, coitado. E sim, investigar a gigantesca indústria química contemporânea é um trabalho necessário, de preferência chegando do lado certo da história (confesso: tive pena do idiota sabichão que escolheu ser contra a vacina e a favor do cigarro). Mas minha pergunta hoje é outra: como alguém que se diz astrólogo, e portanto estuda um pouco dos astros, pode afirmar que a gente não sabe porra nenhuma então por que caralho a Terra não pode ser plana? No século 3 a.C., Eratóstenes conseguiu calcular, com varetas fincadas em Siena e Alexandria, a circunferência da Terra. Sim, há 2.200 anos, um grego calculou essa medida, com um erro mínimo, a partir da premissa de um planeta redondo habitado por animais racionais.

O que me assusta, na verdade, é que entramos numa era em que fica cada vez mais tênue a borda entre a mentira, a pilantragem e a loucura.

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Premeditando o Breque

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Tempo

Robert Amorim, Le Pomme de Terre, Lapa, Rio de Janeiro, 2010. © Giselle Hishida

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Direto da Zona Fantasma

Estamos aprendendo a dispensar coisas que até há pouco eram corriqueiras no nosso cotidiano

Leio no colega Mauricio Stycer que a TV a cabo será o novo telefone fixo. Ou seja, está a caminho do céu. Má notícia para os que, como eu, ainda veem nela uma alternativa aos programas de auditório civil e religioso que infestam a TV aberta. O telefone fixo, por sua vez, já é um fóssil paleozoico contemporâneo dos cefalópodes.

Nada como o avanço da tecnologia para redefinir as relações sociais. Há décadas na praça, acumulei uma razoável quantidade de amigos com quem continuei mais ou menos em contato pelos canais convencionais —telefone, email, telegrama, uma ou outra carta e, em caso de viagem, o querido cartão postal. Mas todos esses amigos devem ter se mudado para a Zona Fantasma, porque telegramas, cartas e cartões postais são coisas que não recebo há 20 anos. E só agora me dou conta de que também não os envio, donde, para eles, já devo ter sido despachado, idem, para a Zona Fantasma.

Estamos aprendendo a dispensar coisas que até há pouco eram corriqueiras no cotidiano. Faz tempo que, por falta de ofertas, não compro um CD ou DVD. Por sorte, ainda tenho milhares, mas não sei até quando existirá equipamento para tocá-los. Farão companhia à minha pequena coleção de espátulas —facas de osso ou madeira com que se abriam livros que vinham com os cadernos fechados e hoje servem de decoração, ao lado de uma borracha, um mata-borrão e uma caneta-tinteiro. Falando nisso, a Bic, que quase aposentou as lindas Parkers, também está hoje em perigo. C’est la vie.

Há pouco, na rua, perguntei as horas a uma jovem com um relógio de pulso. Em vez de consultá-lo, ela tirou do bolso um celular e olhou para a tela. Eram 9h30. Seu relógio deve estar na categoria de seus brincos e pulseiras.

No futuro, quando escavarem o Leblon, os arqueólogos me encontrarão acoplado a um telefone fixo e a uma TV, e precisarão de uma bateria de reações químicas para determinar a qual era pertenci.

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Padrelladas

– Claro que há muita gente que acredita nessas loucuras e em outras piores. Um povo que não consegue raciocinar e que, portanto, aceita como verdades verdadeiras essas patacoadas todas, acredita que rato quando fica velho vira morcego, que a terra é quadrada, e que no fim do arco-íris tem uma boate guei. Era assim na Idade Média. Com Bolsonaro e seus paus mandados estamos fazendo uma viagem para trás e abraçando o Obscurantismo, a Ignorância e o Medo.

– A respeito de Satanás, quem foi mesmo que disse que se Hitler invadisse o Inferno ele apoiaria o diabo?

 

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© Edward Weston

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Purquá Mecê

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Livro do mês da Expressão Popular conta a história do artista chileno Victor Jara

Victor: uma canção inacabada”, biografia do artista chileno Victor Jara morto pela ditadura Pinochet, foi a obra escolhida pela Expressão Popular para inaugurar o ano de 2022 no Clube do Livro da Editora. Escrito pela inglesa Joan Turner Roberts, também conhecida como Joan Jara, o livro teve o primeiro lançamento, originalmente em inglês, há quase 40 anos, no ano de 1983.

Joan é bailarina, professora de teatro, arte e dança, escritora, militante pelos direitos humanos e diretora da Fundação Victor Jara. Ela e Victor tiveram uma história de amor que perdurou do início dos anos 1960 até 1973, ano do cruel golpe militar no Chile e do covarde assassinato de seu companheiro.

Para Jorge Montealegre, poeta chileno, membro da Fundação Victor Jara e autor do posfácio “Pegadas, rastros, ressonâncias de uma canção inacabada”, presente na edição chilena atualizada de 2020, “a canção e a figura de Víctor Jara estiveram presentes nas intermináveis manifestações das jornadas de protesto de outubro de 2019, em que o direito de viver em paz foi um bravo grito de esperança, cantado simultaneamente em todo o Chile, sob Estado de Emergência. Essa música foi uma só voz na maior manifestação da história do Chile, na qual o povo se reuniu para impedir os abusos e a repressão”.

Equipe Ultrajano

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Damares e Queiroga, os dois abutres

Tudo há de ser considerado agravante no dia em que forem julgados

Sim, eu sei, o responsável maior por tudo isso é Bolsonaro. Mas quero falar desses dois pelo que fizeram nos últimos dias, com suas notas “técnicas” que são decretos de morte, com seu palavrório “técnico” homicida.

Ao semear confusão proposital sobre as vacinas, os dois abutres sopram o hálito da morte, desestimulam as pessoas a dispor do melhor recurso de proteção neste momento, receber uma injeção no braço, ato corriqueiro até outro dia.

Como nas facções criminosas, os dois abutres competem em vilania para desfrutar das graças do chefe. Agem por motivo torpe, cruel, fútil, sem dar possibilidade de defesa às vítimas. Seus alvos são crianças! Muitas delas talvez já sejam órfãs de pai, mãe ou de ambos, mortos pela Covid. Crianças que poderão ter sequelas da doença. Crianças já tão sacrificadas em dois anos de prejuízos no aprendizado.

Queiroga é médico. Damares é capaz de perseguir uma criança grávida em decorrência de um estupro. Aves de mau agouro, rondaram a família de uma criança com doença no coração, como urubu que sobrevoa a carniça. Tudo isso há de ser considerado agravante no dia em que forem julgados. Esse dia há de chegar.

Fico a imaginar o êxtase dos abutres com a explosão da ômicron e as UTIs pediátricas lotadas, o gozo com a abertura de novos sepulcros. Estamos aprisionados nessa demência desenfreada, numa soma interminável de pesadelos e loucura impiedosa, soterrados por um colapso ético.

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1968 – Ditadura Abaixo

ditadura-abaixo

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O livro conta a história do movimento estudantil em  Curitiba. Tem ficção e realidade. HQ e textos. Músicas. Moda e costumes. Cultura e publicidade. Recortes de jornais, fichas policiais e documentos secretos dos órgãos de segurança. Mostra o cotidiano vigiado, a censura, a prepotência e a ignorância que geram o seu oposto: uma constante busca pela liberdade de aprender, de opinar e de viver do jeito que achar melhor. Mexer no baú das lembranças, tirar o pó dos guardados é necessário para entender o que aconteceu e, principalmente, para não esquecer. Esse e o único jeito de evitar que aconteça de novo. Este exemplar, cortesia da editora, foi dado a Ione Prado por Vitório Sorotiuk, com quem trabalhei em 1980 no jornal Correio de Notícias. 

Teresa Urban|Quadrinhos de Guilherme Caldas|Arte e Letra Editora|2008

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 Katie-WestKatie West. © Girlsoutwest

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