Mais quieta

É no nosso quarto da bagunça que conversamos com Deus

A mãe de santo disse: “Minha filha, você precisa ficar mais quieta”. O analista disse: “A graça que você coloca nas pessoas não precisa acabar, é sua”. O psiquiatra disse: “Não tem efeito colateral páreo para sugador de clitóris”.

A pediatra falou: “Eu não acredito em complemento vitamínico, eu acredito em mãe que lava sempre o nariz do filho”. Minha mãe falou: “Tem que malhar os glúteos pensando nos glúteos, se pensar em outra coisa não dá certo”. Meu pai falou: “Desmarquei a colonoscopia, na minha idade eu não quero descobrir mais nada”. Meu pai também falou: “Se eu fosse casado com a sua mãe até hoje, eu já teria me separado faz tempo”.

Maria diz: “A vida sempre vai dar meio ruim. O que salva é o casting dos amigos”. Um cara chamado Enin, no Twitter, posta: “Quando estiverem completamente doidos, procurem um psicólogo e não uma pessoa pra dar em cima”. Luiz diz: “Às vezes a gente quer resolver um problema tão rápido que isso se torna um problema ainda maior”.

O cara da farmácia brinca: “Consigo agendar seu exame de Covid pra 2038”. Marcela me faz rir: “Apesar de ele não ter passado na entrevista pra babá, contratei o pai dos meus filhos”. Renata, ainda que apaixonadíssima, não abre mão da sua frase fetiche: “O homem tem que acabar”.

João manda mensagem na última semana do ano: “Você precisa aprender a ‘deixar a desejar’”. Dr. Tapajós, apesar de a minha tomografia estar limpinha, escuta minha tosse e me receita antibiótico: “A clínica é soberana”. Ana analisa seu decote pela manhã e conclui: “Meu colo amassa mais que calça de linho”.

No Instagram de Pedro, tem sempre alguém mandando “foguinho, coração, foguinho”. No meu WhatsApp, Camila sempre manda áudios indignada com a própria situação: “Depois do piolho, da bronquiolite e da herpes, precisava Covid?”. No meu Instagram, uma moça decide que preciso transar com desconhecidos e por isso mesmo ela não vai se apresentar.

Márcio conta que largou uma namorada porque, quando tocava aquela do “Manuel foi pro céu”, ela imitava um cara chamado Manuel indo pro céu e ele morria de vergonha. Letícia conta que transou com um cara em Maresias porque achou fofo ele estar na festa com o pai. No final da noite, “o pai” veio cobrar dinheiro dela. Linn da Quebrada, no espetacular documentário “Bixa Travesty”, conta que gosta de trans-tornar.

Minha filha pergunta: “Morte existe só no mundo inventado ou na vida boa também?”. Minha filha pergunta: “Mamãe, por que você gosta tanto de música triste?”. Minha filha pergunta: “A Santa Rita que você sempre conversa é a Rita Lee?”. Minha filha pergunta: “Se eu acordar adulta amanhã eu perco todas as minhas roupas?”. Minha filha pergunta: “Demora muito pra eu mandar nessa casa?”.

Digo ao meu personal que vou tatuar no Tinico Rosa (nome do tatuador), e ele responde: “Nossa, corajosa, nesse lugar deve doer muito”. Pastor Henrique Vieira responde para Mano Brown: “É no nosso quarto da bagunça que conversamos com Deus”. Vera responde: “Claro que você sabe o que fazer, você só está com medo”.

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Opositores de Lula ficam à espera de um bárbaro que não existe e se dão mal

As direitas que se opõem ao petista desenharam a sua estratégia à espera de um extremista que não vai disputar a eleição

A única polarização na disputa presidencial se dá entre Lula (PT) e todos os outros, excetuando-se Ciro Gomes (PDT), já digo por quê. E é do tipo aritmética, não ideológica: o petista ou tem mais votos do que a soma dos adversários ou empata com eles.

Tanto os candidatos de direita como os de extrema-direita —Bolsonaro e Sergio Moro— insistem, no entanto, em caracterizar o moderadíssimo ex-presidente como um radical de esquerda.

E aí as respectivas campanhas dessa turma semelham parafuso espanado e começam a girar em falso, limitando-se a falar com os fiéis de sempre. Vão mudar a tempo para tentar exaltar as próprias virtudes em vez de lutar contra um adversário comum, construído por seus delírios? Não sei. Faço análises, não previsões.

Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil e hoje um dos sócios majoritários do governo, desponta como o articulador da campanha continuísta. Já escreveu um artigo nesta Folha e concedeu uma entrevista ao Globo com conteúdo idêntico: o Lula que se aproxima de Geraldo Alckmin seria mero truque.

Esse ser caroável esconderia o amigo da Venezuela e de Cuba… Se Nogueira tivesse com o povo do Piauí o zelo que demonstra com cubanos e venezuelanos, a vida no Estado seria melhor… Ocorre que esse candidato do PT —que ele já considerou o “melhor presidente da história do Brasil”— só existe na sua ficção eleitoral. Afinal, se o fanático não servir nem para combater o comunismo, ainda que imaginário, vai servir para quê?

Também circula por aí a informação de que João Doria (PSDB) pretende dar prioridade aos ataques ao candidato do PT num mix de restrições entre ideológicas e éticas, buscando reavivar mensalão e petrolão.

Há tempos me pergunto, e respondo, se, depois de tudo, faz sentido insistir nessa tecla. Lula conseguiu pôr um escolhido seu no segundo turno, em 2018, mesmo preso. Está livre. Também das ações judiciais. Uma coisa e outra —a condenação sem provas e a anulação dos processos— são, a seu modo, obras de Moro.

Então falemos sobre o ex-juiz, ex-ministro de Bolsonaro, ex-funcionário da Alvarez & Marsal e atual candidato —conseguiu ser tudo isso em quatro anos. Um prodígio! Converse com pessoas dos mais diversos matizes ideológicos. Todas elas, se responsáveis, falam sobre a necessidade de haver alguma forma de conciliação para, ao menos, levar o navio ao cais. Depois a vida volta ao normal.

Elio Gaspari já disse com acerto neste jornal que o líder petista está um passo à frente nesse esforço. É o significado de suas conversas com Alckmin e outros à sua direita. Para tornar viável a sua candidatura, Moro tem de propor, necessariamente, a guerra.

Segundo números da pesquisa Ipespe —para citar o levantamento mais recente—, o ex-juiz, parcial e incompetente, tem de convencer os brasileiros de que só ele pode impedir a concretização da vontade de 68% a 70% dos eleitores —é a soma das respectivas intenções de voto no ex-presidente e no atual; o primeiro tem quase o dobro do segundo.

Se o percurso não deixou clara a tese, vamos à síntese: os direitistas e extremistas de direita que se opõem ao ex-mandatário desenharam a sua estratégia à espera de um bárbaro que não vai disputar a eleição. Ciro caminha por fora e resolveu antagonizar com a real polarização aritmética: Lula contra os outros. É como se dissesse: “A seu modo, todos representam o ‘statu quo’; eu mudo esse destino”. Não é tarefa fácil.

Lembro do poema “À Espera dos Bárbaros”, do poeta grego, nascido no Egito, Constantino Kafávis. A oposição de matriz reaça ou conservadora ao candidato do PT está como os romanos do texto. Sua existência era pautada pela expectativa de que aqueles chegariam. E, no entanto, não chegaram. E são estes os versos finais: “Sem bárbaros o que será de nós?/ Ah! eles eram uma solução.”

Nota particular: Se a pessoa que me tomou emprestado o livro “90 e Mais Quatro Poemas”, de Kaváfis, primeira edição da tradução do poeta português Jorge de Sena, estiver lendo este texto, peço: “Devolva meu livro, vai!” Prometo não o emprestar nunca mais.

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‘Capitã cloroquina’ coloca no Lattes presença em atos de raiz golpista de Bolsonaro

Preenchimento com participação em manifestações é incomum na plataforma de currículos acadêmicos

médica Mayra Isabel Correia Pinheiro, secretária do Ministério da Saúde que ganhou o apelido de “capitã cloroquina” pela recomendação de medicamentos sem eficácia contra a Covid-19, incluiu em seu currículo hospedado na plataforma Lattes a participação nos atos de raiz golpista promovidos por Jair Bolsonaro (PL) no 7 de Setembro do ano passado.

plataforma Lattes é um reservatório de currículos acadêmicos do país, no qual os pesquisadores devem listar o que têm produzido em suas áreas de atuação, como artigos, livros, cursos, etc.. Não é comum a inclusão de participação em manifestações de rua.

Mayra, que é secretária da Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, incluiu o que chamou de “Manifestações do Dia 7 de Setembro” no campo de produção técnica da plataforma, junto de entrevistas e participações em programas de televisão.

Em suas redes sociais, ela postou mensagens chamando bolsonaristas a saírem às ruas e publicou vídeos aparentemente feitos por ela durante os atos de 7 de Setembro. Ela também publicou uma mensagem em que dizia ter feito parte da multidão.

Bolsonaro passou meses convocando apoiadores para atos no 7 de Setembro, quando fez discursos com ameaças golpistas contra o STF (Supremo Tribunal Federal), exortou desobediência a decisões da Justiça e disse que só sairá morto da Presidência da República.

Seus seguidores levaram faixas e cartazes e repetiram gritos autoritários e antidemocráticos na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e na avenida Paulista, em São Paulo.

Mayra foi uma das principais responsáveis por ações pelas quais o governo federal foi bastante criticado durante a pandemia.

Ela foi um dos nomes à frente das incessantes recomendações de remédios sem eficácia contra a Covid-19, como hidroxicloroquina e cloroquina.

Partiram dela a força-tarefa de Manaus para incentivar o uso desses medicamentos durante o colapso marcado por falta de leitos e de oxigênio, o ofício que afirmava ser inadmissível a não utilização dessas drogas na capital do Amazonas e também o TrateCov, página na internet que orientava a administração de cloroquina e antibióticos até para dor de barriga de bebê.

A CPI da Covid sugeriu seu indiciamento sob acusação de epidemia com resultado morte, prevaricação e crime contra a humanidade.

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The Beatles

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Unsurpassed Masters – Vol. 4 (1968)

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Fraga

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Padim Lula no Nordeste

Tem sempre alguém que passa a mão na bunda. © Ricardo Stuckert

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Sessão da meia-noite no Bacacheri

Um lorde escocês é convencido por um trio de bruxas de que ele se tornará o próximo rei da Escócia, e sua ambiciosa esposa o apoia em seus planos de tomar o poder.e bruxas de que ele se tornará o próximo rei da Escócia, e sua ambiciosa esposa o apoia em seus planos de tomar o poder.

The Tragedy of Macbeth. Escrito e dirigido por Joel Coen, baseado na peça de William Shakespeare, com Denzel Washington e Frances McDormand. 

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Moro diz que precisa fazer mais fonoaudióloga para conseguir falar quanto ganhou com assessoria

O ex-juiz, ex-ministro e futuro ex-candidato Sérgio Moro declarou que ainda precisa de mais algumas sessões com a fonoaudióloga para declarar ao TCU o valor que recebeu como consultor da Alvarez & Marsal. A declaração de renda do juiz está a mais tempo presa do que os presos da Lava Jato.

O candidato diz que seus eleitores acreditam nele. Ou seja: três pessoas (e mesmo assim a mulher é dúvida). Moro também está sendo investigado no TCU por ter mentido currículo ao dizer que tem Pacote Office completo, mas na verdade só sabe mexer no Powerpoint.

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A terra acordou mais redonda

Talvez o único legado de Olavo seja o empoderamento dos burros

Minha bolha estourou. Sabemos que eles estão por aí, vemos os números em pesquisas e em declarações. Mas pela primeira vez dei de cara com uma dupla de negacionistas. E numa mesa de bar. Ninguém merece. O que era para ser uma happy hour se transformou num pôr de sol com má digestão.

O casal, conhecido de um amigo, não acredita na gravidade da Covid, na segurança e na eficácia das vacinas e revirou os olhos quando disse a palavra “ciência”, o que me fez parecer mais radiativa do que Chernobyl. Nunca alguém havia me olhado com tanto desdém, como se eu fosse uma completa idiota, quando os terraplanistas eram eles.

Talvez pelas restrições de circulação e de encontros sociais, cada um de nós tem estado protegido da avalanche de teorias conspiratórias que inundam o WhatsApp e dos tuítes do Olavo de Carvalho, o guru bolsonarista e negacionista, morto nesta segunda (24). Mas essas pessoas existem e não têm vergonha de defender barbaridades. É mesmo espantoso esse fenômeno da burrice assanhada.

Esse talvez tenha sido o único legado de Olavo, o empoderamento dos burros. Uma parte ressentida da sociedade, influenciada e manipulada por toda sorte de teorias obscurantistas e devaneios, mas que teve sua voz amplificada nas redes sociais, passou a ter representantes em cargos públicos e nos meios de comunicação alternativos. Para essa massa de gente raivosa, os idiotas são os outros. Nós, os que acreditam em ciência.

Especulações rondam a morte do escritor. A filha Heloísa de Carvalho, com quem era rompido, diz que a causa foi Covid, informação negada pelo médico pessoal. Num tuíte de janeiro de 2021, o guru escreveu: “todo bolsonarista que morre, a mídia diz que morreu de Covid. Por que será, né?”. Talvez porque negacionistas estejam em maior número nas estatísticas.

Independentemente do laudo, com a morte de Olavo, a Terra acordou um pouco mais redonda, como li nas redes.

Publicado em Mariliz Pereira Jorge - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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Re-record

https://cartunistasolda.com.br/wp-content/uploads/2017/11/My-Sweet-Lord-2000-Re-Record.mp3?_=2

 

George Harrison – My Sweet Lord

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Lá jaz Olavo de Carvalho

Enterrá-lo aqui seria profanar os cemitérios cheios de gente que ele e Bolsonaro ajudaram a matar

Nenhum jornal impresso ou online deu a morte de Olavo de Carvalho em manchete no alto da primeira página. Deram-no na primeira página, certo, mas em muito menos espaço que reservariam à morte de um cantor sertanejo ou baterista australiano de rock. O Jornal Nacional foi ainda mais discreto —ignorou-o nas chamadas de abertura do programa e, em vez disso, destacou a morte em Mangaratiba (RJ) de três girafas trazidas da África para o zoológico do Rio. Olavo de Carvalho só apareceu no jornal propriamente dito por 1min15. As pobres girafas mereceram 4min44.

Perfeito. Também acho a morte de uma girafa mais importante que a de Olavo de Carvalho. As girafas, assim como os lêmures e os gnus, não discutem o óbvio. Sabem que a Terra é redonda, e olhe que nunca saíram dela e a espiaram lá de cima. Submetem-se à vacinação se necessário e não dão cursos de negacionismo por correspondência para zebras ingênuas. Além disso, raras girafas fumam cinco maços de cigarros por dia.

Sei da importância das girafas desde meus primeiros dias em jornal. “Foca” do Correio da Manhã em 1967, disseram-me que os garotos como eu eram condenados a cobrir buraco de rua e atropelamento de cachorro até se provarem capazes de tarefas mais complexas. Devo ter sido logo promovido a essa categoria porque, dias depois, o chefe de reportagem me mandou apurar o nascimento de uma girafa no zôo. Girafas quase nunca procriavam em cativeiro e, quando isso acontecia, era um acontecimento. Pois lá fui eu, e nunca mais voltei ao cachorro atropelado.

Olavo de Carvalho, que morreu nos EUA, foi enterrado às pressas nesta quarta-feira (26), lá mesmo, perto da cidadezinha onde morava, na Virginia. Fizeram muito bem. Imagine se Jair Bolsonaro o trouxesse para enterrá-lo aqui, com honras de Estado.

Seria uma profanação dos cemitérios brasileiros, onde estão tantos que ele e Bolsonaro ajudaram a matar.

Publicado em Ruy Castro - Folha de São Paulo | Com a tag | Deixar um comentário
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Playboy|1990

1993|Pamela Anderson. Playboy Centerfold

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