Direto da Zona Fantasma

Estamos aprendendo a dispensar coisas que até há pouco eram corriqueiras no nosso cotidiano

Leio no colega Mauricio Stycer que a TV a cabo será o novo telefone fixo. Ou seja, está a caminho do céu. Má notícia para os que, como eu, ainda veem nela uma alternativa aos programas de auditório civil e religioso que infestam a TV aberta. O telefone fixo, por sua vez, já é um fóssil paleozoico contemporâneo dos cefalópodes.

Nada como o avanço da tecnologia para redefinir as relações sociais. Há décadas na praça, acumulei uma razoável quantidade de amigos com quem continuei mais ou menos em contato pelos canais convencionais —telefone, email, telegrama, uma ou outra carta e, em caso de viagem, o querido cartão postal. Mas todos esses amigos devem ter se mudado para a Zona Fantasma, porque telegramas, cartas e cartões postais são coisas que não recebo há 20 anos. E só agora me dou conta de que também não os envio, donde, para eles, já devo ter sido despachado, idem, para a Zona Fantasma.

Estamos aprendendo a dispensar coisas que até há pouco eram corriqueiras no cotidiano. Faz tempo que, por falta de ofertas, não compro um CD ou DVD. Por sorte, ainda tenho milhares, mas não sei até quando existirá equipamento para tocá-los. Farão companhia à minha pequena coleção de espátulas —facas de osso ou madeira com que se abriam livros que vinham com os cadernos fechados e hoje servem de decoração, ao lado de uma borracha, um mata-borrão e uma caneta-tinteiro. Falando nisso, a Bic, que quase aposentou as lindas Parkers, também está hoje em perigo. C’est la vie.

Há pouco, na rua, perguntei as horas a uma jovem com um relógio de pulso. Em vez de consultá-lo, ela tirou do bolso um celular e olhou para a tela. Eram 9h30. Seu relógio deve estar na categoria de seus brincos e pulseiras.

No futuro, quando escavarem o Leblon, os arqueólogos me encontrarão acoplado a um telefone fixo e a uma TV, e precisarão de uma bateria de reações químicas para determinar a qual era pertenci.

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Padrelladas

– Claro que há muita gente que acredita nessas loucuras e em outras piores. Um povo que não consegue raciocinar e que, portanto, aceita como verdades verdadeiras essas patacoadas todas, acredita que rato quando fica velho vira morcego, que a terra é quadrada, e que no fim do arco-íris tem uma boate guei. Era assim na Idade Média. Com Bolsonaro e seus paus mandados estamos fazendo uma viagem para trás e abraçando o Obscurantismo, a Ignorância e o Medo.

– A respeito de Satanás, quem foi mesmo que disse que se Hitler invadisse o Inferno ele apoiaria o diabo?

 

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© Edward Weston

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Purquá Mecê

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Livro do mês da Expressão Popular conta a história do artista chileno Victor Jara

Victor: uma canção inacabada”, biografia do artista chileno Victor Jara morto pela ditadura Pinochet, foi a obra escolhida pela Expressão Popular para inaugurar o ano de 2022 no Clube do Livro da Editora. Escrito pela inglesa Joan Turner Roberts, também conhecida como Joan Jara, o livro teve o primeiro lançamento, originalmente em inglês, há quase 40 anos, no ano de 1983.

Joan é bailarina, professora de teatro, arte e dança, escritora, militante pelos direitos humanos e diretora da Fundação Victor Jara. Ela e Victor tiveram uma história de amor que perdurou do início dos anos 1960 até 1973, ano do cruel golpe militar no Chile e do covarde assassinato de seu companheiro.

Para Jorge Montealegre, poeta chileno, membro da Fundação Victor Jara e autor do posfácio “Pegadas, rastros, ressonâncias de uma canção inacabada”, presente na edição chilena atualizada de 2020, “a canção e a figura de Víctor Jara estiveram presentes nas intermináveis manifestações das jornadas de protesto de outubro de 2019, em que o direito de viver em paz foi um bravo grito de esperança, cantado simultaneamente em todo o Chile, sob Estado de Emergência. Essa música foi uma só voz na maior manifestação da história do Chile, na qual o povo se reuniu para impedir os abusos e a repressão”.

Equipe Ultrajano

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Damares e Queiroga, os dois abutres

Tudo há de ser considerado agravante no dia em que forem julgados

Sim, eu sei, o responsável maior por tudo isso é Bolsonaro. Mas quero falar desses dois pelo que fizeram nos últimos dias, com suas notas “técnicas” que são decretos de morte, com seu palavrório “técnico” homicida.

Ao semear confusão proposital sobre as vacinas, os dois abutres sopram o hálito da morte, desestimulam as pessoas a dispor do melhor recurso de proteção neste momento, receber uma injeção no braço, ato corriqueiro até outro dia.

Como nas facções criminosas, os dois abutres competem em vilania para desfrutar das graças do chefe. Agem por motivo torpe, cruel, fútil, sem dar possibilidade de defesa às vítimas. Seus alvos são crianças! Muitas delas talvez já sejam órfãs de pai, mãe ou de ambos, mortos pela Covid. Crianças que poderão ter sequelas da doença. Crianças já tão sacrificadas em dois anos de prejuízos no aprendizado.

Queiroga é médico. Damares é capaz de perseguir uma criança grávida em decorrência de um estupro. Aves de mau agouro, rondaram a família de uma criança com doença no coração, como urubu que sobrevoa a carniça. Tudo isso há de ser considerado agravante no dia em que forem julgados. Esse dia há de chegar.

Fico a imaginar o êxtase dos abutres com a explosão da ômicron e as UTIs pediátricas lotadas, o gozo com a abertura de novos sepulcros. Estamos aprisionados nessa demência desenfreada, numa soma interminável de pesadelos e loucura impiedosa, soterrados por um colapso ético.

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1968 – Ditadura Abaixo

ditadura-abaixo

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O livro conta a história do movimento estudantil em  Curitiba. Tem ficção e realidade. HQ e textos. Músicas. Moda e costumes. Cultura e publicidade. Recortes de jornais, fichas policiais e documentos secretos dos órgãos de segurança. Mostra o cotidiano vigiado, a censura, a prepotência e a ignorância que geram o seu oposto: uma constante busca pela liberdade de aprender, de opinar e de viver do jeito que achar melhor. Mexer no baú das lembranças, tirar o pó dos guardados é necessário para entender o que aconteceu e, principalmente, para não esquecer. Esse e o único jeito de evitar que aconteça de novo. Este exemplar, cortesia da editora, foi dado a Ione Prado por Vitório Sorotiuk, com quem trabalhei em 1980 no jornal Correio de Notícias. 

Teresa Urban|Quadrinhos de Guilherme Caldas|Arte e Letra Editora|2008

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 Katie-WestKatie West. © Girlsoutwest

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Mais quieta

É no nosso quarto da bagunça que conversamos com Deus

A mãe de santo disse: “Minha filha, você precisa ficar mais quieta”. O analista disse: “A graça que você coloca nas pessoas não precisa acabar, é sua”. O psiquiatra disse: “Não tem efeito colateral páreo para sugador de clitóris”.

A pediatra falou: “Eu não acredito em complemento vitamínico, eu acredito em mãe que lava sempre o nariz do filho”. Minha mãe falou: “Tem que malhar os glúteos pensando nos glúteos, se pensar em outra coisa não dá certo”. Meu pai falou: “Desmarquei a colonoscopia, na minha idade eu não quero descobrir mais nada”. Meu pai também falou: “Se eu fosse casado com a sua mãe até hoje, eu já teria me separado faz tempo”.

Maria diz: “A vida sempre vai dar meio ruim. O que salva é o casting dos amigos”. Um cara chamado Enin, no Twitter, posta: “Quando estiverem completamente doidos, procurem um psicólogo e não uma pessoa pra dar em cima”. Luiz diz: “Às vezes a gente quer resolver um problema tão rápido que isso se torna um problema ainda maior”.

O cara da farmácia brinca: “Consigo agendar seu exame de Covid pra 2038”. Marcela me faz rir: “Apesar de ele não ter passado na entrevista pra babá, contratei o pai dos meus filhos”. Renata, ainda que apaixonadíssima, não abre mão da sua frase fetiche: “O homem tem que acabar”.

João manda mensagem na última semana do ano: “Você precisa aprender a ‘deixar a desejar’”. Dr. Tapajós, apesar de a minha tomografia estar limpinha, escuta minha tosse e me receita antibiótico: “A clínica é soberana”. Ana analisa seu decote pela manhã e conclui: “Meu colo amassa mais que calça de linho”.

No Instagram de Pedro, tem sempre alguém mandando “foguinho, coração, foguinho”. No meu WhatsApp, Camila sempre manda áudios indignada com a própria situação: “Depois do piolho, da bronquiolite e da herpes, precisava Covid?”. No meu Instagram, uma moça decide que preciso transar com desconhecidos e por isso mesmo ela não vai se apresentar.

Márcio conta que largou uma namorada porque, quando tocava aquela do “Manuel foi pro céu”, ela imitava um cara chamado Manuel indo pro céu e ele morria de vergonha. Letícia conta que transou com um cara em Maresias porque achou fofo ele estar na festa com o pai. No final da noite, “o pai” veio cobrar dinheiro dela. Linn da Quebrada, no espetacular documentário “Bixa Travesty”, conta que gosta de trans-tornar.

Minha filha pergunta: “Morte existe só no mundo inventado ou na vida boa também?”. Minha filha pergunta: “Mamãe, por que você gosta tanto de música triste?”. Minha filha pergunta: “A Santa Rita que você sempre conversa é a Rita Lee?”. Minha filha pergunta: “Se eu acordar adulta amanhã eu perco todas as minhas roupas?”. Minha filha pergunta: “Demora muito pra eu mandar nessa casa?”.

Digo ao meu personal que vou tatuar no Tinico Rosa (nome do tatuador), e ele responde: “Nossa, corajosa, nesse lugar deve doer muito”. Pastor Henrique Vieira responde para Mano Brown: “É no nosso quarto da bagunça que conversamos com Deus”. Vera responde: “Claro que você sabe o que fazer, você só está com medo”.

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Opositores de Lula ficam à espera de um bárbaro que não existe e se dão mal

As direitas que se opõem ao petista desenharam a sua estratégia à espera de um extremista que não vai disputar a eleição

A única polarização na disputa presidencial se dá entre Lula (PT) e todos os outros, excetuando-se Ciro Gomes (PDT), já digo por quê. E é do tipo aritmética, não ideológica: o petista ou tem mais votos do que a soma dos adversários ou empata com eles.

Tanto os candidatos de direita como os de extrema-direita —Bolsonaro e Sergio Moro— insistem, no entanto, em caracterizar o moderadíssimo ex-presidente como um radical de esquerda.

E aí as respectivas campanhas dessa turma semelham parafuso espanado e começam a girar em falso, limitando-se a falar com os fiéis de sempre. Vão mudar a tempo para tentar exaltar as próprias virtudes em vez de lutar contra um adversário comum, construído por seus delírios? Não sei. Faço análises, não previsões.

Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil e hoje um dos sócios majoritários do governo, desponta como o articulador da campanha continuísta. Já escreveu um artigo nesta Folha e concedeu uma entrevista ao Globo com conteúdo idêntico: o Lula que se aproxima de Geraldo Alckmin seria mero truque.

Esse ser caroável esconderia o amigo da Venezuela e de Cuba… Se Nogueira tivesse com o povo do Piauí o zelo que demonstra com cubanos e venezuelanos, a vida no Estado seria melhor… Ocorre que esse candidato do PT —que ele já considerou o “melhor presidente da história do Brasil”— só existe na sua ficção eleitoral. Afinal, se o fanático não servir nem para combater o comunismo, ainda que imaginário, vai servir para quê?

Também circula por aí a informação de que João Doria (PSDB) pretende dar prioridade aos ataques ao candidato do PT num mix de restrições entre ideológicas e éticas, buscando reavivar mensalão e petrolão.

Há tempos me pergunto, e respondo, se, depois de tudo, faz sentido insistir nessa tecla. Lula conseguiu pôr um escolhido seu no segundo turno, em 2018, mesmo preso. Está livre. Também das ações judiciais. Uma coisa e outra —a condenação sem provas e a anulação dos processos— são, a seu modo, obras de Moro.

Então falemos sobre o ex-juiz, ex-ministro de Bolsonaro, ex-funcionário da Alvarez & Marsal e atual candidato —conseguiu ser tudo isso em quatro anos. Um prodígio! Converse com pessoas dos mais diversos matizes ideológicos. Todas elas, se responsáveis, falam sobre a necessidade de haver alguma forma de conciliação para, ao menos, levar o navio ao cais. Depois a vida volta ao normal.

Elio Gaspari já disse com acerto neste jornal que o líder petista está um passo à frente nesse esforço. É o significado de suas conversas com Alckmin e outros à sua direita. Para tornar viável a sua candidatura, Moro tem de propor, necessariamente, a guerra.

Segundo números da pesquisa Ipespe —para citar o levantamento mais recente—, o ex-juiz, parcial e incompetente, tem de convencer os brasileiros de que só ele pode impedir a concretização da vontade de 68% a 70% dos eleitores —é a soma das respectivas intenções de voto no ex-presidente e no atual; o primeiro tem quase o dobro do segundo.

Se o percurso não deixou clara a tese, vamos à síntese: os direitistas e extremistas de direita que se opõem ao ex-mandatário desenharam a sua estratégia à espera de um bárbaro que não vai disputar a eleição. Ciro caminha por fora e resolveu antagonizar com a real polarização aritmética: Lula contra os outros. É como se dissesse: “A seu modo, todos representam o ‘statu quo’; eu mudo esse destino”. Não é tarefa fácil.

Lembro do poema “À Espera dos Bárbaros”, do poeta grego, nascido no Egito, Constantino Kafávis. A oposição de matriz reaça ou conservadora ao candidato do PT está como os romanos do texto. Sua existência era pautada pela expectativa de que aqueles chegariam. E, no entanto, não chegaram. E são estes os versos finais: “Sem bárbaros o que será de nós?/ Ah! eles eram uma solução.”

Nota particular: Se a pessoa que me tomou emprestado o livro “90 e Mais Quatro Poemas”, de Kaváfis, primeira edição da tradução do poeta português Jorge de Sena, estiver lendo este texto, peço: “Devolva meu livro, vai!” Prometo não o emprestar nunca mais.

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‘Capitã cloroquina’ coloca no Lattes presença em atos de raiz golpista de Bolsonaro

Preenchimento com participação em manifestações é incomum na plataforma de currículos acadêmicos

médica Mayra Isabel Correia Pinheiro, secretária do Ministério da Saúde que ganhou o apelido de “capitã cloroquina” pela recomendação de medicamentos sem eficácia contra a Covid-19, incluiu em seu currículo hospedado na plataforma Lattes a participação nos atos de raiz golpista promovidos por Jair Bolsonaro (PL) no 7 de Setembro do ano passado.

plataforma Lattes é um reservatório de currículos acadêmicos do país, no qual os pesquisadores devem listar o que têm produzido em suas áreas de atuação, como artigos, livros, cursos, etc.. Não é comum a inclusão de participação em manifestações de rua.

Mayra, que é secretária da Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, incluiu o que chamou de “Manifestações do Dia 7 de Setembro” no campo de produção técnica da plataforma, junto de entrevistas e participações em programas de televisão.

Em suas redes sociais, ela postou mensagens chamando bolsonaristas a saírem às ruas e publicou vídeos aparentemente feitos por ela durante os atos de 7 de Setembro. Ela também publicou uma mensagem em que dizia ter feito parte da multidão.

Bolsonaro passou meses convocando apoiadores para atos no 7 de Setembro, quando fez discursos com ameaças golpistas contra o STF (Supremo Tribunal Federal), exortou desobediência a decisões da Justiça e disse que só sairá morto da Presidência da República.

Seus seguidores levaram faixas e cartazes e repetiram gritos autoritários e antidemocráticos na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e na avenida Paulista, em São Paulo.

Mayra foi uma das principais responsáveis por ações pelas quais o governo federal foi bastante criticado durante a pandemia.

Ela foi um dos nomes à frente das incessantes recomendações de remédios sem eficácia contra a Covid-19, como hidroxicloroquina e cloroquina.

Partiram dela a força-tarefa de Manaus para incentivar o uso desses medicamentos durante o colapso marcado por falta de leitos e de oxigênio, o ofício que afirmava ser inadmissível a não utilização dessas drogas na capital do Amazonas e também o TrateCov, página na internet que orientava a administração de cloroquina e antibióticos até para dor de barriga de bebê.

A CPI da Covid sugeriu seu indiciamento sob acusação de epidemia com resultado morte, prevaricação e crime contra a humanidade.

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The Beatles

 

Unsurpassed Masters – Vol. 4 (1968)

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