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Catch a Fire
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Vide bula
Como tratar um ilustrador com carinho
Primeiro: O ilustrador ilustra, isso é óbvio. Mas outra função do ilustrador é resolver problemas. Além de ilustrar, ele também é pago para pensar. Assim, quando um anúncio é criado e um ilustrador é chamado para fazer o trabalho, seria mais do que normal haver uma conversa entre ambas as partes, explicar a situação e deixar na mão do ilustrador resolver o pepino da melhor maneira possível.
Então se o ilustrador disser que existe uma maneira melhor de fazer o que o diretor de arte pede, escute o homem! Ele trabalha com isso todos os dias e pode dizer o que funciona ou não. Sem medo de machucar o ego alheio, pode questionar isso. Faz parte do serviço de um bom ilustrador. Senão o diretor de arte pode achar uma bosta e botar a culpa na ilustração.
Segundo: Ilustrador não é máquina pra produzir material em série. Apesar de todos os esforços da Apple e da Adobe, a ilustração ainda é um produto artesanal. Então se o cliente pede 10 ilustrações, deve-se pagar 10 ilustrações, e não 9, como os produtos da Polishop.
Terceiro: Ilustrador não é diretor de arte. Ele pode até ser, mas quando você contrata o ilustrador é para ele ilustrar. A agência tem um diretor de arte para fazer – pasmem – direção de arte. Então nem venham com referências de Image Bank e xerox de páginas de livros de ilustração sem entregar um layout ou pelo menos um rafe ante de fazer um trabalho. Referência não é layout. Ilustradores ainda não sabem ler a mente. Passem informações claras purr favor.
Quarto: Evitem a péssima prática de mostrarem um tipo de ilustração para fazer o orçamento e quando aprovado ele mudar radicalmente porque “esqueceram” alguns detalhes que não eram pertinentes antes. O que era um desenho de um porquinho sozinho não pode se transformar depois num porquinho dentro do chiqueiro dentro de uma fazenda cheia de bichinhos.
Desconfiem sempre quando alguém pedir uma ilustração “facinha” pra você fazer.
Luiz Alberto Borges da Cruz, Foca|Curitiba, 1963|2018
Padrelladas
Diário da gripezinha
Acabou. Não se diz mais população brasileira. Agora se diz sobreviventes. “Como vai fulano? Vai sobrevivendo. O que, cá entre nós, é exagero dizer sobreviventes. Prefiro dizer subviventes. Abaixo da linha da pobreza. Levando a vida, como se diz. Levando sempre. Isso não é nem subviver. Já Monsieur Crorroquine, gozando férias. O que fez durante a vida inteira. Entre uma e outra gozada, vamos descansar que ninguém é de ferro. Do alto do seu albornoz, seja lá o que isso signifique, vê seu povo faminto, desempregado, morrendo como moscas, se bem que moscas morrendo não significa nada.
Brasileiros morrendo também não: por isso morrem como moscas. O que é que eu posso fazer? Não posso fazer nada.
Publicado em Nelson Padrella - Blog do Zé Beto
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Lições para 2022
O reconhecimento e a necessidade de atentar a ciência e de não embarcar em notícias falsas oficiais ou contidas nas mídias sociais ou afirmações anticientíficas.
Usar máscara sempre, higienizar as mãos e tomar todos os cuidados e recomendações para não propagar a pandemia.
Tomar a vacina, a primeira, a segunda, a dose de reforço e as outras que virão.
Valorizar as pessoas e não menosprezar o direito à vida.
Pensar, muito bem, antes de votar.
Entender o luto das pessoas e se solidarizar.
As relações pessoais são infinitamente maiores e mais profundas que telas de computadores e telefones celulares.
Há vida fora das mídias sociais.
Valorizar a família, o trabalho e as relações humanas.
Entender que a perda de quase setecentas mil pessoas não foi normal e poderia ser, em parte, evitada, a história registrará isso.
O novo ano será uma nova etapa, contudo, não nos descuidemos.
É necessária uma política de saúde pública para tratar do luto coletivo, decorrente da pandemia, mas por enquanto os governos mundiais não estão preocupados com isso.
A sociedade brasileira precisa de mudanças de hábitos, e um grande reforço da ideia de fraternidade e solidariedade.
O Estado é fundamental para deter pandemias e socorrer as pessoas, em quaisquer casos, sejam sanitários, sociais e educacionais.
A ciência salvou milhões de pessoas por meio da vacinação e das políticas de saúde coletiva. Parte do mundo foi excluída e desses países é que surgiram as variantes, portanto todo planeta está conectado. Precisamos de uma fraternidade econômica global.
A única saída para o planeta é o amor coletivo, isso inclui todos os seres humanos e o meio ambiente, fauna e flora.
O poder econômico está alterando o clima da Terra, mas não responde por catástrofes climáticas e ambientais, temos que mudar isso.
Prevenir-se individualmente tem profundos reflexos no coletivo e diz respeito a tomar atitudes sensatas e objetivas e fazer o óbvio.
As crianças devem ser vacinadas.
Nisso tudo, os grandes heróis são médicos, enfermeiros, atendentes, todo pessoal de apoio, limpeza e retaguarda e os pesquisadores.
Nossos salvadores também são todos os que tomaram a vacina e obedecem e atendem à ciência e às regras sanitárias.
Não há indivíduo sem a coletividade.
Sonhos frustrados
Orson, Glauber, Kubrick, Hitchcock, todos sonharam com filmes que nunca puderam fazer
Quando alguém do cinema me diz que desistiu de um filme que estava lutando para rodar, penso no prejuízo potencial para a cultura. E se o filme saísse uma obra-prima? Toda arte leva a frustrações, mas o cinema é cruel. Entre a concepção original de um filme e este na lata, podem-se passar anos –ou o filme nunca chegar à lata.
Não é um problema só nosso, nem de hoje. O russo Eisenstein não pôde filmar “Uma Tragédia Americana”, do livro de Theodore Dreiser, e nunca completou “Que Viva México!” (1931). Orson Welles deixou pela metade “It’s All True”, em 42, e “Dom Quixote”, em 59. Vincente Minnelli nem pôde começar o talvez último grande musical da MGM, “Say It with Music”, em 61 —a MGM acabou antes.
No Brasil, Nelson Pereira dos Santos sonhava fazer de “Rio 40 Graus” (55) e “Rio Zona Norte” (57) uma trilogia com “Rio Zona Sul”, mas este nunca saiu do papel. Glauber Rocha se entendeu com Nelson Rodrigues para filmar uma de suas peças, mas desistiu, pelo inevitável choque autoral —os dois eram gênios (Leon Hirszman, que herdou o projeto, não tinha esse problema). E Carlos Manga, mestre das chanchadas, acalentou uma grande ideia jamais realizada: a vida de Carmen Miranda.
Alain Resnais, recém-saído de “O Ano Passado em Marienbad” (61), queria levar para a tela Mandrake, o Mágico —teria sido sensacional. Já pensou se Stanley Kubrick conseguisse filmar “Napoleão”, pelo qual lutou durante anos? E o gourmet Hitchcock alimentou um dos projetos mais delirantes da história.
Ele queria fazer um filme de suspense sobre a… alimentação. Começaria pela criação, o abate, a colheita e a chegada dos alimentos à feira e sua estocagem num frigorífico. Depois, a etapa da cozinha, a transformação, o preparo. O apogeu, um jantar em black-tie. E então o inglório destino das delícias, nos encanamentos subterrâneos da grande cidade. Hitchcock só não sabia ainda em que momento aconteceria o crime.
Publicado em Ruy Castro - Folha de São Paulo
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