The Beatles – How Do You Do It
The Beatles – How Do You Do It
Joe Biden, visitando o Kentucky, associou o tornado que devastou a região e as chuvas no Brasil às mudanças climáticas.
Sinto que há algo parecido, mas ainda esbarro num monte de dúvidas. Sei que as chuvas estão sendo provocadas por um sistema meteorológico chamado Zona de Convergência do Atlântico Sul. É uma grande extensão de nuvens movidas por um coquetel de ventos: do Sudeste, Nordeste e até das altitudes bolivianas.
Essas chuvas são influenciadas por La Niña, um fenômeno, assim como El Niño, que acontece no mar.
Desde quando li as intervenções dos cientistas numa conferência sobre o clima, aprendi que o aquecimento global seria irreversível quando houvesse mudanças nas famosas correntes marinhas. Não tenho condição de afirmar que a velha La Niña tenha se alterado por influência de Elizabeth Bishop correntes. Sei que, assim como El Niño, quando traz chuvas numa região do Brasil, leva seca para outras.
No momento, chove no Sudeste, e há escassez de chuvas no Sul do Brasil.
Além da destruição dos corais, do derretimento das geleiras, da poluição humana, há coisas acontecendo nos mares. Cientistas descobriram que a velocidade das correntes tem aumentado, ainda não sabem precisamente as consequências disso.
As correntes são um dos principais fatores que determinam o clima. Breve, saberemos medir seu papel preciso nesses eventos extremos.
Vem aí para a América do Sul uma onda de calor que deverá atingir os 50 graus. Sem chuvas, o Rio Grande do Sul será o principal ponto do país a sentir essa alta temperatura, assim como o Uruguai e parte da Argentina.
Quando se ouvem os especialistas, La Niña é a suspeita de sempre. Falta-nos ainda uma visão do que está se passando nos oceanos.
A esta altura dos acontecimentos, nem tudo pode ser evitado. Mas saber sempre ajuda. Assim como saber nos ajuda a combater o vírus da Covid-19.
O governo Bolsonaro não consegue ou não quer mais fornecer dados sobre a incidência da variante Ômicron. Tendemos para cifras gigantescas de contaminados.
Bolsonaro acha que as notícias assustam as pessoas e acusa os jornalistas de espalhar o medo. Governado por um negacionista, o Brasil é hoje um território assolado pelo vírus, inundado por chuvas violentas e castigado por uma intensa onda de calor.
E aqui é o Novo Mundo, onde deveria fervilhar o debate, multiplicar o número de pesquisas, enfim, florescer um polo planetário de conhecimento.
Sempre que passo na região, visito o Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, em Arraial do Cabo, Região dos Lagos, no Estado do Rio, onde há um interessante fenômeno: a ressurgência; as correntes marinhas mais frias e profundas ascendem e facilitam a pesca.
O ideal seria usar o instituto para estudos mais amplos sobre as correntes marinhas. Há pouco dinheiro, mas, com todo o respeito, conhecer os segredos do mar num tempo de aquecimento global é mais importante que a simples preparação para a guerra.
Assim como a Covid-19, as mudanças climáticas têm pouco apelo eleitoral. Mesmo que o tema não entusiasme o próximo governo, uma cooperação horizontal com várias instituições do mundo pode trazer essa efervescência intelectual ao Brasil.
Quatro anos de combates contra o terraplanismo em todos os campos não devem exaurir nossos cientistas; ao contrário, deveriam acentuar o desejo por conhecimento e recuperar o tempo perdido.
O grande número de estudiosos que perdemos não significa algo permanente. Alguns podem voltar. Tempos sombrios sempre trazem períodos de luz. Não há uma relação mecânica entre uns e outros. Apenas possibilidades que parecem nos dizer: pegar ou largar.
Outros belos exemplos ele tem oferecido à sociedade, como a disseminação da mentira de forma criminosa. As crianças aprendem fácil, e as mais burrinhas logo se afeiçoam às novidades. Tiozinho privilegia a Idade Média, quando as pessoas iam pro fogo por dá cá aquela palha, para utilizar aqui um dito fora de moda.
“Zero a Zero e Hora a Hora’. Sobre os escombros da edição gaúcha de Última Hora, o jornal nasceu em Porto Alegre, em 1964, pelas mãos do jornalista Ary de Carvalho (último diretor de UH Porto Alegre). Mais tarde, foi adquirida por Maurício Sirotsky Sobrinho e pertence até hoje à citada família, além de inúmeras estações de rádio e TV, que retransmitem a programação da “Rede Lobo”. Maurício Sirotsky Tio também tinha um sobrinho famoso: Samuel Wainer e deixou dois filhos que não fizeram feio: Nahum e Sani Sirotsky. Nahum foi fundador da Revista Senhor, diretor da Revista Manchete, jornalista de Última Hora, “O Lobo” e Jornal do Brasil. Em 1990, se instalou em Tel Aviv, onde foi correspondente dos empreendimentos jornalísticos dos seus primos até morrer, em 2015. Sani foi diretor de publicidade, superintendente e vice-presidente dos jornais de primo Samuel. Com a debacle do Império Wainer, passou a ser um dos mais importantes publicitários do Brasil. Nas páginas de “Zero a Zero e Hora a Hora” brilha o colunista David Coimbra, frequentemente citado por Célio Heitor Guimarães, em número de citações só perde para o Rubem Alves. Contudo, o mais famoso colunista do jornal de Porto Alegre é o Luís Fernando Veríssimo que, assim como o pai Érico, jamais quis saber da Academia Brasileira de Letras.
“Gaveta do Polvo”. Desde 1919 é o tradicional jornal da família paranaense. Publica, diariamente, dezenas de colunistas, mas mantém sob contrato apenas um: Pandolpho Philomeno (homenagem aos dois avôs) Paranhos de Medeiros e Albuquerque. Os Paranhos de Medeiros e Albuquerque, quando Curitiba completou 300 anos, já viviam aqui desde do ano de 1500. O primeiro deles chegou ao Brasil junto com Cabral e morrendo de calor na Bahia de Todos os Santos, emigrou para a Serra do Mar, onde, ao lado de muitos “pinhais”, construiu residência, ali no Lago da Ordem, ao lado da Casa Romário Martins. Pandolpho Philomeno é professor catedrático de aramaico, árabe, hebraico, persa, grego arcaico e moderno e latim clássico e vulgar da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Paraná, onde se encontra aposentado, pela compulsória, desde o dia 31 de dezembro de 1969. Pandolpho Philomeno é conservador nos costumes e liberal na economia, não tomou nenhuma dose da “vachina” contra a covid e nas eleições presidenciais cravou o 17 com muita convicção. Convicto se encontra até hoje, tanto que, em outubro, pretende votar no 22, mas está desesperançado, crê firmemente que o TSE, por não adotar o voto impresso e principalmente por aquele “careca”, vai fraudar a eleição para o “Novededos”. Nunca pensou em se candidatar à Academia Brasileira de Letras, já que aos 133 anos de idade, se considera imortal. A contratação de Pandolpho Philomeno foi um grande achado do jornal. Toda manhã chega na redação, abre suas redes sociais, vai correndo ler o “filho 02” e traduz para o vernáculo as palavras sem sentido algum do Carluxo. Depois, acrescenta verbo, sujeito, advérbio, artigos, pronomes, adjetivos, objetos direto e indireto, voz passiva e voz ativa, coisas que o Carluxo jamais imaginou que existissem. Ao final, tem um texto aparentemente legível nas mãos. Para que os leitores não descubram o truque, Pandolpho Philomeno passou a criar vários pseudônimos: Alexandre Garcia, J. R. Guzzo, Rodrigo Constantino, Guilherme Fiuza, Luís Ernesto Lacombe e outros menos conhecidos. Como a maioria do povo brasileiro é de direita, “nossa bandeira jamais será vermelha”, o jornal, desde que contratou Pandolpho Philomeno, passou a fazer muito sucesso. A edição digital tem mais de 50 milhões de acessos por dia e a impressa, vendida em todas as bancas do Oiapoque ao Chuí, ultrapassa um milhão de exemplares/dia.
No reinício primevo, o sossego dos sismos.
Reverberante e verdejante, a pacífica pastoral das superfícies. Tempos propícios, vicejam minúcias, jardins de delícias, pelúcia das planícies aos precipícios. Tudo germina e nada termina: capins, aipins, cupins e micuins; cipós, ipês, igarapés, iguanas, guaranás, ananás; aroeiras, araucárias, araras, aranhas, ariranhas; baobás, babuinos, bambus, badejos, brejos, bem-te-vis, besouros, bisões, butiás, buritis, oitis, saguis, anis; emas, dracenas, açucenas, verbenas; bromélias; camélias, adálias, tílias; salmões, salamandras, samambaias, sapucaias; relvas, selvas, sálvias, malvas; riachos, mochos, carunchos; grutas, gretas, grous, grilos, guacos, guanacos. Flora e fauna fácil e farta, firme e forte, frequente e feliz.
No desinício, um ávido avoado.
O marmanjo, num átimo, desarranja o átomo. Despeja dejetos dos seus desejos abjetos. Infla o peito pelo efeito estufa. Põe súlfur no futuro. Derrama mercúrio, derrete os polos, derruba o paraíso, derrota o planeta. Quando não intoxica, oxida. Exulta e relaxa no lixo, na inexorável luxúria da lixívia. O caos é seu chão e em seus êxitos o seu exílio. Se exuma mas não examina seu nexo. Nunca se exime.
Ex-símio exímio. Extinto.
30 de junho|2011|Blog do Fábio Campana