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Playboy|1950
Publicado em Playboy - Anos 50
Com a tag coleção playboy, playboy anos 50, revista playboy
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Os grandes jornais que ainda existem no Brasil – 1ª parte
“O Lobo”. Fundado no Rio de Janeiro em 1925 pelo jornalista Irineu Marinho, que faleceu dias depois. Seu filho Roberto, que já nasceu doutor, eis que não frequentou nenhuma faculdade na vida, assumiu a direção, quando a então capital do Rio de Janeiro tinha mais de 30 jornais diários, fora os semanários, quinzenários, mensários, bimensários e trimensários. Roberto Lobo Mau Rinho comeu a Chapeuzinho Vermelho e todos os concorrentes, só restando o tal “O Dia” que ninguém dá bola. Roberto encheu a redação de comunistas, que passaram a ser conhecidos como os “comunistas do doutor Roberto Marinho”. Criou, anos depois, a “Rede Lobo” e passou a ser acusado de ser capacho da ditadura. Nunca respondeu as acusações, mas poderia ter dito “apoiei sim, mas qual dono de jornal não o fez?”. De 30 em 30 anos “O Lobo” publica um editorial pedindo desculpas aos leitores pelas cagadas que fez nos últimos 30 anos. O mais importante colunista de “O Lobo” é Merval Pereira, atual presidente da Academia Brasileira de Letras. Para chegar lá, Merval escreveu o maior e mais importante livro da língua portuguesa de todos os tempos (Eça de Queiroz, Machado de Assis e Fernando Pessoa nunca o ultrapassaram em qualidade) denominado “O lulismo no poder”. Até hoje a “Rede Lobo” se encontra repleta de comunistas, sendo o mais famoso, e perigoso, um tal Bonemer Júnior, que usa o nome de guerra de William Bonner.
“O mal Estado de São Paulo”. Fundado em São Paulo em 1875 por Júlio Mesquita, sendo o tradicional jornal das famílias paulistanas. Até a morte de Getúlio Vargas, nunca publicou na capa uma matéria sobre o Brasil, já que os Mesquitas consideravam, e consideram, que o Brasil não valia a capa do jornal deles. O jornal enriqueceu a família Mesquita com os classificados. No governo Jânio Quadros, o mesmo apareceu na televisão com um exemplar de domingo nas mãos que pesava 2,5 Kg. Jânio disse que era um enorme desperdício de papel, que levava embora os parcos dólares que o país possuía. Passou a ser elogiado pelo jornalão e se esqueceu do peso do jornal. Em 1964, outro Júlio Mesquita, filho, neto ou bisneto do fundador (vá lá saber), apoiou entusiasticamente a Redentora. Vencida a Gloriosa, procurou Castello Branco com uma lista de nomes para o ministério. Castello mandou o Mesquita da vez tomar na tarraqueta. Outros Mesquitas (alguns com o nome de Júlio e outros com o nome de Ruy) passaram pela direção do jornal. Hoje é controlado por um comitê de bancos credores que resolveu acabar com o cargo de diretor de redação. No expediente, revezam-se jornalistas de segunda divisão com o título de “diretor de conteúdo” (sabe-se lá que porra é essa). Seu principal colunista é Ignácio de Loyola Brandão, um dos poucos integrantes da Academia Brasileira de Letras que sabe escrever no idioma de Camões.
“Falha de São Paulo”. Fundada em 1921, apresentava três versões: “Falha da Manhã”, “Falha da Tarde” e “Falha da Noite”. Nos anos 60, foi adquirida por Otávio Frias, que era concessionário da rodoviária da cidade de São Paulo e o maior criador de frangos do Estado. Otávio pai unificou as edições com o título de“Falha de São Paulo”. Quando Otavinho, filho de Otávio, completou a idade certa, foi nomeado diretor de redação e, para tanto, demitiram Claudio Abramo (um dos mais importantes jornalistas da história do Brasil). Abramo foi trabalhar com Mino Carta na Isto É (que ainda não era a Quanto É?). Voltaria mais tarde, como colunista, correspondente em Paris, em Londres e novamente colunista. Foi o único jornal a bancar o “Diretas Já”, saindo todos os dias com uma faixa amarela debaixo do título. Otavinho, já falecido, ficou famoso quando mandou publicar, em plena democracia, um editorial dizendo que a ditadura no Brasil não tinha sido tão violenta assim. Tinha sido uma “ditabranda”. Anos depois, sua irmã, que havia assumido a direção do jornal após a morte de Otavinho, mandou publicar um editorial pedindo desculpas pela “ditabranda”. Recentemente, o outro irmão, Luiz, demitiu a irmã, por gastar demais. Apesar de contar com dois dos melhores jornalistas do Brasil, Elio Gaspari e Janio de Freitas, o mais famoso colunista do jornal é o “Erramos”. Dia sim, dia também, o “Erramos”, logo abaixo da coluna do leitor, publica um texto consertando no dia seguinte as merdas do jornal do dia anterior. Em 1983, o “Falha de São Paulo” fundou a empresa de pesquisas “Datafalha”. A “Datafalha” não falha nunca. Nas penúltimas eleições, cravou como senadores eleitos pelo Paraná o Roberto Requião e o Beto Richa, tudo dentro da margem de erro.
Publicado em Paulo Roberto Ferreira Motta
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A violência obstétrica
A violência obstétrica se refere aos diversos tipos de agressão a mulheres gestantes, seja no pré-natal, no parto ou pós-parto, e no atendimento de casos de abortamento.
São vários tipos de violência, seja por omissão no atendimento, por violência física, verbal e psicológica.
As pessoas que podem praticar essa violência contra a mulher são: médicos(as) obstetras, enfermeiros(as), anestesistas, técnicas de enfermagem, recepcionistas e a administração da clínica ou hospital.
O Tribunal de Justiça de São Paulo, em caso de falta de assistência do hospital, julgou o dano moral configurado e que decorreu do sofrimento resultante da violência obstétrica a que foi submetida a parturiente, que também se estendeu ao genitor ao presenciar o nascimento da filha. Em tais condições fixou em R$ 60.000,00 em desfavor do hospital.
Há ainda diversos julgados no Poder Judiciário nos quais se comprova que a equipe médica ou enfermeiros proferem xingamentos à parturiente.
O pós-parto também abrange essa categoria de violência nos casos de tratamentos e cuidados do pós-operatório em que há omissão. No Tribunal de Justiça do Acre houve uma condenação em 70 mil reais em desfavor do hospital por negligência médica.
O parto por cesariana, que rende mais ao setor obstétrico, também é uma triste realidade, pois o nosso país é o segundo que mais realiza esse tipo de parto no mundo.
A violência verbal por comentários constrangedores, ofensivos ou humilhantes à gestante também é outra face oculta de tudo isso. Seja para inferiorizar a mulher por sua raça, idade, escolaridade, religião, crença, orientação sexual, condição socioeconômica, número de filhos ou estado civil, seja por ridicularizar as escolhas da paciente para seu parto, como a posição em que quer dar à luz.
A maternidade é uma dádiva, mas num país machista e excludente como o nosso, esconde esses tipos de violência que atingem milhões de mães parturientes.
O casal tem direito à indenização, muito embora os tribunais condenem em valores inexpressivos. Essa realidade precisa mudar.
O “deixa para lá” tem que acabar e as mães e pais têm que denunciar esse fato que ocorre em uma em cada quatro mulheres no Brasil.
O estresse pega pelo pescoço
Diz num artigo médico que os animais são atacados pelos predadores, quase sempre, no pescoço. Uma dentada de leão no pescoço de um bisão ou de uma gazela é mortal. Nós, humanos, herdamos dos nossos ancestrais o medo dos predadores e, quando a tensão aumenta, tendemos a retesar a musculatura do pescoço.
É uma forma instintiva de torná-lo mais resistente e fora de alcance dos golpes. Relaxar é difícil nos dias de hoje, apesar dos milhares de incentivos de todos os lados (programas de tevê, artigos em revistas, conselhos de todas as espécies). Não é raro que usemos expressões do tipo ‘tô com a corda no pescoço’, ‘tô com a água pelo pescoço’, ‘querem cortar meu pescoço’, ‘tô por aqui com isso’. Como sair dessa?
Dizem que massagem é bom, que ducha quente diretamente no pescoço faz bem, que alongamento (rotacional do pescoço) é ótimo. O melhor mesmo seria que cada um cuidasse da própria cabeça e não enchesse o saco do outro, seja no trabalho, em casa, na rua. A lição antiga: não ponha obstáculos na frente de um cego. Assim, adeus, estresse!
Publicado em rui werneck de capistrano
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Simples assim
Quantas vezes você já ouviu hoje alguém dizer pontuar, robusto, assertivo, resiliência e empatia?
A todo momento há alguém dizendo na televisão: “Eu só queria pontuar que…”. Apresentadores, repórteres, comentaristas, entrevistados, todos estão freneticamente querendo pontuar. Ninguém está a fim de virgular, exclamar, interrogar e muito menos ponto-virgular. Só de pontuar. É uma das palavras do momento. E, como outras do gênero, desnecessária. Se, em vez de pontuar, a pessoa disser logo aquilo que quer pontuar, sua supressão não fará a menor falta.
Outra mania em curso na praça é “simples assim”. Para mim, o primeiro a usá-la, há mais de 30 anos, foi Paulo Francis. Era tradução de “that simple” e combinava com o jeito de Francis argumentar. Ele morreu em 1997 e, por décadas, não ouvi ninguém dizer “simples assim”. Mas, de há algum tempo, passei a escutá-la no atacado e no varejo —não no sentido original de “não é complicado”, mas no de “Ponto final!”, “Cala a boca!”, “Acabou, porra!” e outras bolsoexcreções. O mesmo se aplica a “Vida que segue”, expressão popularizada no rádio dos anos 60 por João Saldanha. Definia um certo fatalismo, como o singelo “É isso aí”. Hoje é também sinônimo de “Assunto encerrado!”
Há transmigrações semânticas benignas. “Robusto” é o caso. Até há pouco, designava uma pessoa forte, rija, maciça. De repente, passou a definir também um conjunto de provas capazes de condenar alguém —”Provas robustas”, dizem os magistrados. Pois é o que teremos quando aqueles sujeitos musculosos que fazem a tara de Jair Bolsonaro, associados à produção de fake news, enfrentarem as provas robustas que estão se acumulando contra eles.
As palavras vão e vêm. Impossível ficar hoje mais de cinco minutos sem ouvir alguém dizer “assertivo”, “resiliência” e “empatia”. No passado, já foram palavras de 100 dólares e só os intelectualizados as usavam. Agora saem de graça.
Tudo bem. Temo apenas que, assim como entraram, logo saiam da língua —sem saber por quê.
Publicado em Ruy Castro - Folha de São Paulo
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Flagrantes da vida real
Júlia
– Bom dia, Helena!
A presença dela não deixou de acompanhá-lo e de zelar por Henrique. Sentia-se direcionado, a todo instante e com maior intensidade, cada vez que reclamava seu socorro. Sabia que, algum dia, a reencontraria, em sonhos ou visões. Mas, até lá, a lembrança de sua voz, de suas atitudes, seu jeito de caminhar e lidar com as situações, suas ideias, enfim, eram uma espécie de guia e um talismã nos desafios cotidianos. A começar por sair da cama, encarar a lida e ir à luta. A simples descoberta dos motivos a perseguir era animada por seu sorriso. Se contasse para qualquer pessoa, o chamariam de louco. Ele mesmo, por inúmeras vezes, questionou a saúde de sua racionalidade, mas bastava a lembrança de um olhar para que aceitasse sua condição e se rendesse àquela conexão maluca e estimulante. O sorriso dela lhe transmitia a força necessária para seguir adiante, quase como regra de um contrato estabelecido e rigorosamente respeitado. Não apenas guiava nessas poucas realizações mundanas, mas o encorajava a desenvolver e a encarar sua espiritualidade.
Os desencontros da vida residiam nesse descompasso. Textos lidos, vídeos assistidos, todo conteúdo absorvido sobre essa conexão infinita lhe diziam que o caminho evolutivo ainda demandava muitos passos, em muitas estradas, ao lado de outras pessoas, até a união em definitivo daquelas chamas geminadas. O amor que sentia por Helena ainda transbordava de seu peito e precisava ser canalizado para vibrações superiores, focadas não mais em perdas ou tristezas, mas para o auto amor, para a valorização da vida e até um bem querer pela humanidade. Ao que tudo indicava, essa nova visão das coisas agia como um amenizador do luto e das culpas que testavam de tempos em tempos a rigidez dos seus propósitos de enriquecimento espiritual.
Dois sonhos recentes, muito nítidos, apontaram finalmente sua missão de vida no caminho que o encontro com Helena veio sinalizar: exercitar o poder de pronunciar as palavras certas para a mediação e mitigação de conflitos. Não no sentido profissional e técnico, mas apenas pela mágica no uso de vocábulos, frases e gestos espontâneos e verdadeiros. O amor incondicional lhe fora despertado no peito para que aprendesse a orientar aquela energia para um bem coletivo e, embora não soubesse ao certo ainda como cumpriria esse desígnio, as situações vividas nos sonhos e o sorriso que enxergava acordado, estando de olhos abertos ou fechados, tranquilizavam-no: quando as situações se apresentassem, ele saberia o que dizer e como proceder.
Em um devaneio, se via cercado de pessoas desconhecidas, estranhas à sua realidade, mas que devoravam suas orientações e seu conselhos com a sede que o mato seco bebe e se nutre das primeiras gotas de chuva depois de atravessar longos períodos de estiagem; Encantadas pelas soluções claras e pela facilidade com que ele esclarecia as situações colocadas. Viria a estabelecer uma relação sólida de confiança com essas pessoas conhecidas ou desconhecidas que, imediatamente veriam nele uma fonte inesgotável de elucidações também. O dom brotaria espontaneamente, mas vinha rubricado pelas inúmeras experiências, acúmulos de vivências, conhecimentos e informações adquiridos ao longo da vida inteira. Tudo se combinava, fazia sentido e se completava. No fundo, no fundo, ele só precisaria acreditar em si mesmo e ser o mais sincero possível nessa relação com o espelho, sem maquiar com arrogâncias e imposições uma segurança tão naturalmente própria e magnificamente bela. Continue lendo
Publicado em Thea Tavares - Blog do Zé beto
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Nara contagiou os Anos 60 com sua postura desafiadora
Com seu narizinho arrebitado e suas atitudes que às vezes pareciam provocadoras, mas sempre verdadeiras e em busca do novo, desafiou o mundo político e artístico de seu tempo
Mais ou menos aos 9 anos, Nara pegou um violão de verdade pela primeira vez. Naquela época, meados dos anos 1950, havia conseguido umas poucas aulas matinais num apartamento de quarto e sala em Copacabana, seu território livre, com um ex-integrante do grupo “Os oito batutas”, de Pixinguinha. O horário se encaixava perfeitamente com suas idas à praia para encontrar-se com o parceiro Roberto Menescal, que a paquerava. Ou era ela que o seduzia?
Depois, passou a fazer aulas noturnas duas vezes por semana, de forma que não interferia muito em sua rotina. Dormia tarde e acordava por volta das 10 horas, com o mar e o sol entrando pela janelão à sua frente, invadindo a sala. Ela não se lembra de ter frequentado a igreja do Forte nem de ter feito a primeira comunhão. Esse pequeno detalhe escapou do roteiro de O canto livre de Nara Leão, série em cinco episódios de Renato Terra que a Globoplay acaba de lançar.
Importa que tudo que marcou a presença dessa artista revolucionária na arte e na vida está lá no seriado. Um rico e emocionante material audiovisual, de pesquisas e entrevistas, reconstitui a trajetória de uma mulher inquieta, independente, mãe de dois filhos e grande cantora que ela foi. Muito além de ter sido apenas a musa da Bossa Nova, título que rejeitava. Aliás, não queria ser rainha nem musa nem diva de coisa nenhuma.
Com seu narizinho arrebitado e suas atitudes que às vezes pareciam provocadoras, mas sempre verdadeiras e em busca do novo, desafiou o mundo político e artístico de seu tempo. Ela e Leila Diniz morreram muito jovens. Leila teve morte trágica, com apenas 27 anos, num desastre de avião. Juntas, sacudiram hábitos sociais e culturais da sociedade com seus ares atrevidos e suas posturas questionadoras e sem preconceitos. Nara morreu com 47, faria 80 anos dia 19 de janeiro próximo. O sortudo cineasta Ruy Guerra foi casado com ambas.
Sou dessa geração, vivi parte desses anos agitados e inebriantes em Copacabana, quase vizinho de Nara, que morava com os pais num apartamento do Edifício Champs Elysées, em frente ao Posto 4, na Avenida Atlântica. Devo ter passado por ela várias vezes depois de comprar um quibe no árabe da Galeria Menescal, que liga a Barata Ribeiro à Av. N. S. de Copacabana. Em seu apartamento nasceu a Bossa Nova, em 1957, nos intermináveis encontros musicais com Carlos Lyra, Menescal, Chico Feitosa, Ronaldo Bôscoli e tantos outros, pioneiros de uma história pra lá de conhecida.
Há muitas revelações e lindas imagens de arquivo na série de Renato Terra. Cheguei ao último episódio com a nítida sensação de que havia descoberto uma nova Nara. É impressionante como ela sai de cena muito maior do que parecia ser. Uma menina da Zona Sul bonitinha e alienadinha, uma cantora meiga e graciosa que causou impacto e ficou famosa ao vencer o Festival de Música Popular Brasileira da Record, em 1966, com a canção A Banda, de Chico Buarque.
A cantora cresce e adquire substância política e artística ao percorrer caminhos variados, ligar-se a grupos e movimentos musicais aparentemente opostos. Conduz a turma da Zona Sul para se juntar aos negros do samba de protesto, nos morros e nas favelas. Integram seu múltiplo repertório compositores como Chico Buarque, Roberto e Erasmo Carlos, Caetano Veloso, Nelson Cavaquinho, Zé Kéti, Cartola, Sidney Miller, João Donato e Paulinho da Viola. Uma artista de personalidade forte, à frente de seu tempo.
O segundo acontecimento de grande impacto da série dirigida por Renato é a abertura dos portões para uma viagem aos trepidantes anos 60. Uma viagem que põe o telespectador em contato com um país mergulhado num momento de grandes transformações em todos os setores, vivendo um intenso debate cultural, que vê o surgimento de uma nova literatura, um novo cinema, um novo teatro. Em busca de uma nova forma de viver. Continue lendo
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‘Benedetta’ , de Paul Verhoeven, entre a carne e o espírito
Se a relação erótica de Benedetta com outra freira ainda causa escândalo, mais de dois séculos depois da publicação de um romance como A religiosa, de Diderot (filmado lindamente por Jacques Rivette em 1966 e refilmado por Guillaume Nicloux em 2013), isso diz mais sobre a regressão moral de nossa época do que sobre o fato histórico em si ou sobre o filme que o recria ficcionalmente.
Não está, portanto, no suposto e extemporâneo escândalo o interesse de Benedetta, mas no modo como Verhoeven se serve dessa história para explorar questões mais sutis e perenes, como as relações entre a fé e o desejo, o êxtase místico e a histeria, a devoção e a libido, o poder secular e o poder religioso. Entre a carne e o espírito, em suma.
A história, narrada no livro Atos impuros (1986), de Judith C. Brown, começa nos últimos anos do século 16, quando os abastados pais de Benedetta Carlini (Elena Plonka/Virginie Efira) a internam como noviça, ainda criança, num convento na cidadezinha de Pescia, na Toscana. A primeira cena, ainda a caminho do convento, já introduz o tema do milagre: a família é atacada por salteadores e um passarinho defeca no olho de um deles, supostamente por uma intervenção da Virgem, invocada pela pequena Benedetta.
Publicado em Ultrajano
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