Delicinhas da língua; veja um breve compêndio do diminutivo no português

Da contagem do tempo à culinária, passando pelos advérbios de modo, conclui-se que nada é mais gostoso que o gostosinho

O ano já está no finalzinho, disse. E pensei: finalzinho é quando termina o final. Comecinho, não. Comecinho é quando começa o começo. Finalzinho é quando o final tá mais perto do final. Onde eu quero chegar com isso? Não faço ideia. Mas sei que vou devagarinho.

Enquanto quem está pertinho está mais perto, quem está longinho está menos longe. Enquanto a tardinha é no final da tarde, a noitinha fica no começo da noite.

Um minutinho dura mais do que um minuto, talvez uns três ou quatro. Um segundinho pode durar até 30 segundos regulamentares. Devagarinho é mais devagar. Rapidinho é mais rápido. Igualzinho é mais igual.

Pouquinho é mais pouco. Agorinha não é mais agora. Agorinha já foi agora, até que passou. “Ele chegou agorinha” significa que não chegou agora, mas há dois minutinhos.

Moço é o jovem, mocinho é o contrário do vilão. Mocinha só existe na frase “já virou mocinha”, eufemismo pra um aumentativo: menstruação.

Todo o mundo gosta do engraçado, todo o mundo odeia o engraçadinho. O bonito dá inveja, o bonitinho dá pena. Todo o mundo quer ser bom, ninguém quer ser bonzinho. Quem está só pode estar feliz. Quem está sozinho, nunca. A voz só se torna vozinha quando irrita. Ninguém diz: “adoro sua vozinha”, mas “para de fazer vozinha”.

Na contramão: um pássaro pode incomodar. Um passarinho, nunca. Ricardo Araújo Pereira foi quem me alertou: o quente incomoda ou machuca. Diz-se: “cuidado, está quente.” Não se diz: “cuidado, está quentinho.” Diz-se “vou ficar no quentinho”. Não há delícia maior que a delicinha. Nada é mais gostoso que o gostosinho.

A melhor culinária brasileira é toda diminutiva: escondidinho, empadinha, queijadinha. Não gosto muito de caldo, mas adoro um caldinho. Não gosto tanto de caju quanto de cajuzinho. Nunca comi um picado, mas não resisto a um picadinho. Gosto de coxa, mas prefiro a coxinha. Bolo tem sua graça, mas bom mesmo é um bolinho. Um é assado e doce, o outro é salgado e frito. Um serve na festinha, o outro, no barzinho.

Chamamos de soneca um sono curto, mas de soninho um sono gostoso. Sonequinha é um sono ao mesmo tempo curto e gostoso. “Quero estarzinho com ela”, diz Raul Bopp em “Cobra Norato”, e continua: “querzinho de ficar junto”.

A língua portuguesa tem uma palavra pros buraquinhos que surgem no rosto quando se ri, e essa palavra também designa o lugar onde enterramos os mortos. Quando morrer, me enterrem numa covinha.

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Elas

Dominique Sanda, ou, Dominique Marie-Françoise Renée Varaigne, por todos os filmes em que atuou, principalmente O Conformista, de Bernardo Bertolucci, 1970, e O Jardim dos Finzi-Contini, Vittorio de Sica, também de 1970.  © Vogue

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Portrait

© Henrik Kersten|2018

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#ForaBozo!

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Os produtos encolheram e ficaram mais caros?

A batata palha extrafina da Elma Chips teve redução de peso de 16,67%; a aveia em flocos da Yoki, de 15%; os biscoitos da Nesfit, de 20%; a farinha de aveia integral da Quaker, de 17,5%; a sobremesa Creamy, da Batavo, de 10%; e o refil do Omo líquido também diminuiu 10% (Fonte: Idec).

A redução de peso deveria ser ilegal, mas não é, e pela lei essa informação deve estar na embalagem em destaque para que o consumidor não seja induzido a erro.

Contudo, as letras são sempre pequenas e o consumidor nem percebe a cilada.

A mudança feita pelos fabricantes nas embalagens significou em alguns casos um reajuste disfarçado de até 30% nos preços.

Resumindo: no geral, o consumidor paga mais por produtos encolhidos, com redução do peso nas suas embalagens.

Pacote de biscoitos Triunfo de 200 para 170 gramas (g) com embalagem diferente para induzir o consumidor a pensar que se trata de um novo produto. Papel higiênico, Personal, Neve, Nice, Camélia e Sublime, fabricadas pela Klabin, pela Melhoramentos e pela Santher, reduziram em 25% de 40 m x 10 cm para 30 m x 10 cm. Extrato de tomate de 370 g para 350 g. Sardinhas de 135 g para 130 g. Papel -toalha de 70 toalhas para 60 toalhas. O sabão em pó Omo de 1 kg para 900 g, sendo que a Omo criou uma promoção com peso e preço antigos e diz que estava dando 100 g a mais (Fonte: Senado Federal).

Agosto de 2000, 1000 gramas de Omo custavam R$3,43, em agosto de 2001, 900 gramas custavam R$3,51 (aumento no preço em 13,7%). O papel higiênico Personal em julho de 2001, 40 metros, custava R$1,59 e em agosto de 2001, 30 metros saia por R$1,55 com um aumento de preço real em 30% (Fonte: Senado Federal).

Sabonetes de 100 gramas para 90 gramas e fraldas descartáveis; duas fraldas a menos nas embalagens.

A Portaria nº 392/2021 do Ministério da Justiça e Segurança Pública, estabelece que as mudanças de quantidade nos produtos como, por exemplo, biscoitos, refrigerantes, itens de higiene pessoal e limpeza deverão constar nas embalagens pelo prazo mínimo de seis meses e não mais três, como era anteriormente.

Segundo o governo, o objetivo da mudança foi minimizar o risco de o produto ser ofertado ao consumidor, simultaneamente, em duas versões, uma delas sem a devida declaração da redução na quantidade. Na prática, isso não significa nada.

Alguém controla se a redução da embalagem significa a redução do preço?

Não há nenhuma fiscalização a respeito dessa conta paga pelos consumidores, nem as embalagens esclarecem a redução com a prova de que os preços também foram reduzidos proporcionalmente, ou os anúncios de preços nas prateleiras demonstram o preço proporcional de cada grama ou medida os produtos para o consumidor saber qual é o produto mais barato.

O mercado é dominado por poucas marcas, todas multinacionais, que mandam e desmandam, sem fiscalização, sem multas e com muita propaganda, por isso que a mídia não divulga tais expedientes.

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Pacto tardio

Derramou café na mesa. Não conseguiu manter segura a caneca nas mãos trêmulas, quando escutou a repórter dar a notícia no telejornal: Helena morreu! Não resistiu às complicações de uma doença que sofria por anos em silêncio. Tudo nela era quieto. Pessoas mais próximas começaram a perceber os efeitos do progresso dessa chaga em seu mal estar constante e no abatimento físico.

O cansaço vinha consumindo também suas reações e forças emocionais. Nas últimas semanas, como que antevendo aquele desfecho, ela foi se deixando levar, sem impor resistência desesperada. À medida em que as pessoas relembravam detalhes das recentes interações, encontravam também nessas lembranças as pistas das despedidas que a amiga, parente, colega, sutil e docemente, teceu naqueles instantes com disfarçada e gigantesca generosidade.

Pela televisão, Henrique soube que, logo no início daquela manhã, o coração dela, que antes se alternava em movimentos acelerados e fisgadas repentinas de ansiedades e de esperas, parou de bater. Helena era uma figura pública, muito reconhecida no meio profissional, mas também pelos laços familiares e relações sociais estabelecidas. Tivesse nascido homem, seria possível afirmar, sem sombra de dúvidas, que futuramente seu nome batizaria um dos logradouros da cidade. Mesmo um que demandasse às futuras gerações pesquisar na internet para descobrir a história, registros, feitos e vestígios da personalidade homenageada… Uma história da qual ele nunca mais saberia ou lhe fosse permitido acompanhar.

Só conseguiu chorar e o fez convulsivamente diante da surpresa recebida, assim de soco seco na boca do estômago, naquela manhã em que o céu banhava solidário a sua agonia. Era uma dor jamais sentida e que dilacerava toda sua carne. Cortes frios, precisos e profundos riscavam seu corpo, percorrendo todo ele, ao mesmo tempo em que Henrique sentia arderem não só a superfície, a casca, a couraça, como também a própria alma, que gritava de esconderijos que ele nem imaginava possuir para o sufoco de um sofrimento insuportável. Queria ter lhe amparado de alguma maneira, ter segurado sua mão, ouvido suas lamentações, chorado do seu lado; Queria ter lhe animado de alguma forma, caso essa oportunidade se apresentasse, apoiado nas decisões, incentivado seus impulsos corajosos e ajudado ela a encontrar as respostas ou a se conformar e a se resignar diante dos dilemas sem solução. Não estava mais ao seu alcance aquele socorro compartilhado. Outra vez negado.

Caiu de joelhos na frente da TV e afundou o rosto nos dedos pesadamente. Abriria mão de tudo aquilo, das conquistas concretas e das alegrias fantasiadas, da consciência e da mágica daquela conexão, seus sinais e sincronicidades, se essa renúncia tivesse o poder de restituir ao coração dela as batidas, os amores; Ao rosto dela o vigor e o sorriso cativante, de riso contagiante. Faria tal pacto, sim, pedindo a Deus que nem ao menos a conhecesse ou a reconhecesse no caminho percorrido e que o colocasse de volta à rotina medíocre, que o devolvesse a uma vida longa e sem sentido, como a que levava antes de seus olhos se notarem pela primeira vez… Para que ela existisse e ainda pudesse exercitar extrair inúmeras possibilidades da vida. Abriria mão de qualquer sopro de alegria e de paixão, desde o minuto em que abriu os olhos ao nascer, até seu último suspiro, se essa condição patética de existência fosse moeda de barganha na garantia da felicidade e das realizações mais ambiciosas dela. Que tivesse vindo ao mundo para ignorá-la ou para desprezar tudo o que irradiasse de seu sucesso, de seu brilho e dos seus encantos. Preferia isso a suportar sua ausência.

A dor o cegou. Nenhum fundamento ou compreensões o fariam aceitar aquela realidade: Helena se foi! Só soube chorar, pequenino e nu, diante daqueles propósitos absurdos. Por quê? Queria… Nem sabia mais o que querer, pois nada fazia sentido naquele momento. Helena partiu. Ele ficou, ali, prostrado, inútil e desesperado. A chuva enlutou também o dia lá fora e ele se confundiu, perdido, com aquela envolvente escuridão da paisagem ao redor, gritando o nome dela.

Publicado em Thea Tavares - Blog do Zé beto | Deixar um comentário
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Todo dia é dia

© César Marchesini

Samba do Passeio

Já fui lá só pra ver o macaco,
pra ver o pinguim.
Mas confesso que tive meu fraco
por um pedalim.
Fosse o lago o lago que fosse,
o Passeio era doce,
do Pasquale ao Pigalle, Guaratuba ou Berlim.
Começou a ficar mais legal
quando fui pra sacar a batalha campal
de uma tal empregada com um militar e a rival.
Já fui lá pra fumar Caporal Douradinho,
beber muito vinho
e depois, passar mal.
Já fui lá ver o Nireu Teixeira falar e dizer e contar.
Fui também pra espantar a canseira.
Fui também pra beber o luar.
Me passeia, Passeio,
passeia, passeio,
passeia, Passeio, até tudo passar.
Passeia até tudo parar.

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Elas

Maria Cristina Ozzetti, conhecida como Ná Ozzetti, cantora e compositora. Estudou piano na infância e  formou-se em artes plásticas. No final da década de 1970 iniciou sua carreira musical com o grupo Rumo,  com o qual fez muitos espetáculos e gravou 5 LPs e 1 DVD.

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Madá 7.0

Revejo-a. Meio século depois. É muito tempo, hein? Ou, não? Para um morto é pouco, você diria! O rosto chapado, encarquilhado. Como o meu. As coxas inda magníficas (dá pra ver pelo volume do andar). Iguais às minhas, obra e feitio da musculação para macróbios. 

Revejo-a, assim, sem mais nem menos. Esquecida, esquecida estava para sempre. Agora, intacta, incólume, impávida, como é que pode? É isso que se chama física quântica? Numa rua qualquer, num dia, idem, numa tarde única. Aquela chuvinha maldita de Curitiba.

Falta, o quê? Meio segundo para eu reconhecê-la? Rápida no gatilho, ela não se demora nada. Cabelos desarrumados, é o vento sul. Alisei os meus, mais branquelos do que os dela. Devem ser pintados, invejei. O que importa, afinal?

Num primeiro ímpeto, os corpos simularam se grudar ali mesmo. Feito ímã, um tanto gasto, pois não. Mas, antes que algum calor transite entre nós, só leve enrubescimento: alerta vermelho, ora direis! Aliás, mútuo, coadjuvado por uma fisgadinha, alhures. Nem tão alhures, confesso, infelizmente, impossível nomeá-la nesse átimo. Ao nos tocarmos, bingo! A vertigem vira tremor. Ou será temor? É aí que a desfrutável Madalena faz-se a deliciosa Madá do baile de Carnaval de 1958.

Aqueles huge, põe huge nisso, úberes dignos do Museu Erótico de Berlim! Em tempo: úberes é bom demais (não se contém e sai o incontornável autoelogio!). Esquecê-los? Impossível, se eles mantêm-se absolutamente ufanos! Toda vez em que nos encontrávamos, dito e feito, Madá tinha orgasminhos em série. Como se fosse dar um troço nela. A orelha ficava magenta, os lábios, arfantes, olhos de lobisomem. Madá se imolava, era um Kilauea de Eros. Coisa rápida, imperceptível a quem passasse ao largo. Eu, sim, testemunhava fingindo que não. Sabia e mui dadivoso ficava enxugando umas lagriminhas alegrinhas escorrendinho pelas bochechinhas.

Nem preciso dizer que agora o incêndio se reprisa com a mesma intensidade. Tesão não tem idade nem cabimento.

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Donos do próprio nariz

O palhaço Arrelia.  © The Clowns

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Padrelladas

© Lina Faria

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Requiescat in pace

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Síndrome de Messias

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© Ryan McGinley

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Playboy|1970

1979|Dorothy Stratten. Playboy Centerfold

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