Bolsonaro diz que faz o que o povo quiser

O presidente Jair Bolsonaro afirmou a apoiadores na manhã desta quarta-feira(14),  na saída do Palácio da Alvorada, que espera uma sinalização do povo para tomar providências contra o “lockdown”.

“Vai ter escassez. O que é comum quando tem escassez? O preço sobe, inflação. Vão culpar quem? O Brasil está no limite. Pessoal fala que eu devo tomar providência. Estou aguardando o povo dar uma sinalização. Porque a fome, a miséria, o desemprego, está aí (sic). Só não vê quem não quer. Ou quem não está na rua”, disse o presidente agora há pouco.

“Não estou ameaçando ninguém, mas estou achando que brevemente teremos um problema sério no Brasil. Dá tempo de mudar ainda. É só parar de usar menos a caneta e um pouco mais o coração”, disse Bolsonaro.

Perguntado por um correligionário se iria adotar alguma providência, o presidente da República emendou: “Eu vou embora, só digo uma coisa: eu faço o que o povo quiser que eu faça, tá ok?”

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Saudade daquela ‘terra boa e gostosa’, daquele país ‘lindo e trigueiro’

Abra a cortina do passado. Mas não precisa tirar a mãe preta do cerrado nem botar o rei Congo no congado. Basta abrir a cortina e olhar para trás, matar a saudade e nada mais.

Saudade daquela “terra boa e gostosa”, daquele país “lindo e trigueiro”, que foi tão querido, invejado e mitificado mundo afora, não este pária que, por obra e graça de seu presidemente, o planeta inteiro agora deplora e rejeita como um perigo à sobrevivência da própria humanidade, um Hitler sem campos de extermínio oficializados. Um país que não inspira mais samba-exaltação, no máximo um lúgubre cantochão.

Revi, dia desses, duas fotos que marcaram época, dois registros de um outro e fagueiro Brasil: o presidente JK conversando com a atriz Kim Novak, no Palácio do Catete, em 1960, ambos sem sapatos, e o presidente Lula na pista do aeroporto londrino, em 2006, sob o guarda-chuva do príncipe Philip, ambos garbosos e sorridentes. Senti até um aperto no coração.

Na indigência moral, espiritual, econômica, sanitária e alimentar em que nos encontramos, qualquer coisa que me remeta ao País de poucos anos ou cinco décadas atrás me emociona e, ao mesmo tempo, me deprime. Ando a suspirar até por aquele paraíso tropical negativamente estereotipado como um Xangri-Lá de escroques internacionais, que para cá fugiam ou ameaçavam fugir no final dos filmes. E ergo um brinde a Ronald Biggs, o patusco assaltante de trem inglês, e Alexander Sebastian, o hitchcockiano espião nazista imortalizado por Claude Rains em Interlúdio.

Também, dia desses, um internauta escreveu que o Boçalnistão em que se transformou a terra do “mulato inzoneiro” e da “mulata sestrosa” estava muito pior do que a distopia imaginada por Terry Gilliam em Brazil (Brazil: O Filme), já lá se vão 36 anos. Revi o filme, disponível no YouTube, e não serei eu a discordar.

Insisto nas imagens da aquarela de Ary Barroso, não só pelo que expressam do Brasil idílico que se fixou no imaginário universal, mas porque o filme de Gilliam, adrede homônimo da versão internacional de Aquarela do Brasil, faz do nosso samba-exaltação primordial o seu leitmotiv.

Carro-chefe de um modesto musical da Republic, igualmente intitulado Brazil, para o qual Ary compôs outros temas e por um deles (o samba Rio de Janeiro, aquele que proclama que “nossas flores são tão raras, nossas noites são tão claras”) concorreu ao Oscar de “melhor canção” de 1945, Aquarela do Brasil não era interpretado no filme pelo nosso Francisco Alves, mas pelo ator e cantor mexicano Tito Guizar.

Na versão em inglês que lhe deu S.K. Russell, a exaltação às nossas riquezas naturais cedeu lugar a uma canção amorosa, que remói um fugaz romance ao luar e acena com um reencontro “no velho Brasil”. Em sua gravação, na década de 1950, Frank Sinatra enfatiza: “man, it’s old in Brazil”. Nunca entendi a ênfase; o Brasil, afinal, foi descoberto oito anos depois da América do Norte.

Mas isso é irrelevante. O que importa é a fixação de Sam Lowry, o protagonista da comédia de Gilliam, num lugar edênico fantasiado por ele a partir dos primeiros versos de Russell e das dez primeiras notas de uma insossa interpretação de Aquarela do Brasil.

Encarnado por um Jonathan Pryce muito parecido com Stan Laurel e o James Stewart dos anos 1930, Sam é um Walter Mitty orwelliano, que sonha voar como um Ícaro de quadrinhos (Pygar, o anjo cego de Barbarella, por exemplo) e salvar a garota de seus sonhos, Jill Layton (Kim Greist), de monstros que parecem saídos de um pesadelo erótico desenhado por Bosch e Kurosawa e dispersos por ambientes que poderiam ter sido concebidos por Folon, Magritte ou De Chirico.

A fartura de referências visuais, literárias e cinematográficas a que Gilliam recorre é impressionante. Além das já citadas, o mais intelectual gaiato da trupe britânica Monty Python pisca o olho para Stan Lee, os Irmãos Marx, Eisenstein, Escher e Rabelais. Suas imagens convulsivas, sua grotesqueria néon-surrealista, sua trama labiríntica, sua féerie onírica, seu humor negro e desesperado talvez saturem ainda hoje a maioria dos espectadores, mas desconfio que não havia modo mais “simples” e sedutor de submeter a distopia de Blade Runner à anarquia estética dos Monty Python.

Quando, em 1978, buscava locações para seu primeiro filme, no País de Gales, Gilliam foi bater numa praia triste e cinzenta. Antes que uma crise de depressão o tocasse dali às pressas, ouviu no rádio de um banhista uma gravação inglesa de Aquarela do Brasil e, do contraste absoluto entre o que seus olhos viam e a música evocava, sacou o plot de Brazil, que só ficaria pronto na década seguinte.

Distopia futurista sem data nem identidade definidas, sua ação se desenrola “em algum ponto do século 20” (que, aliás, só teria mais 15 anos pela frente), num ambiente que ora lembra Metrópolis, de Fritz Lang, ora o romance 1984. Ao comentar o filme, quando de seu lançamento nestas bandas, falei em purgatório videocrata, Babilônia pós-punk, panoptismo eletrônico e frioleiras que tais. Desta vez, chamaram mais minha atenção os pontos que o aproximam e o distinguem do Brasil real, o Brasil de que todos querem distância.

Ele está lá. No ecossistema degradado pelo lixo industrial, no terrorismo miliciano, na metástase burocrática, no consumismo frenético da população (“Consumidores por Cristo” substituem, com ressonâncias evangélicas, o Exército da Salvação). Ao avistar uma bomba de oxigenação no meio da rua, com transeuntes ventilando os pulmões em cilindros com feitio de orelhão, pensei comigo: só ficou faltando o coronavírus.

Sérgio Augusto

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Não há governabilidade a ser atrapalhada porque não há governo

Tão conhecido como o hábito de usar uma CPI para achacar o inquilino do Palácio do Planato e ampliar o seu escopo de tal forma a que ela não chegue a lugar nenhum, é dizer em público que uma comissão parlamentar de inquérito pode “atrapalhar a governabilidade”. Em geral, trata-se somente de argumento de quem faz coro ao governo que se encontra acuado, para aumentar ainda mais o preço do seu próprio apoio.

No caso da CPI da Covid, a tal governabilidade está sendo colocada sobre uma mesa onde, acredita-se, resta dinheiro a ser ganho. O único dinheiro, na verdade, já está indevidamente comprometido na farsa do Orçamento que, como bem definiu o senador Randolfe Rodrigues, deixou de ser pedalada para se tornar prova de ciclismo. Não há dinheiro, portanto.

Quanto à governabilidade, é palavra sacada sempre que não há governo. Como ação estruturada e coordenada, não há mais governo Bolsonaro. A sociopatia do presidente contaminou de tal forma o enfrentamento da pandemia que não há mais como deter de modo eficiente a propagação do vírus e empreender um programa de vacinação que evite dezenas de milhares de mortes a mais que poderiam ser poupadas, tivéssemos alguém com faculdades mentais inteiramente preservadas na presidência da República. Em relação à economia, o que se tem é um outrora superministro que não consegue fazer frente aos apetites da base de apoio fisiológico que sustenta Jair Bolsonaro. Na área ambiental, que deveria ser o nosso cartão de visitas internacional, inclusive a fim de garantir simpatias inclusive para agilizar a obtenção de vacinas num mercado onde a produção ainda está longe de dar conta das necessidades urgentes, temos um doido passando boiadas e defendendo madeireiras ilegais. No que se refere à educação, não é simplesmente prioridade, afora quando serve para fazer proselitismo ideológico. Milhões de crianças e jovens não têm condição de assistir a aulas remotas, por falta de equipamento e conexão, mas o governo é incapaz de comandar um esforço nacional para tentar equacionar minimamente esse problema gravíssimo. As ilhas de excelência existentes na administração federal estão cada vez menores, consumidas pela erosão do descalabro geral.

A CPI da Covid não afetará, portanto, governabilidade nenhuma. Deveria ser encarada como a oportunidade para tirar logo do cargo um presidente da República de mente doentia e inepto. Mesmo os que acham que ainda têm a ganhar com Bolsonaro só têm a perder. Desse grupo, além dos fisiológicos, fazem parte Lula e o PT, que preferem ter o atual inquilino do Planalto como adversário em 2022. Em algum momento, contudo, o rombo fiscal e o custo em vidas serão cobrados de todos eles, superando qualquer benefício em vil metal ou votos.

Mario Sabino

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Diário da crise CCCLXXXVII

Hoje ando meio cheio de trabalho. Às 18h participo de um seminário sobre o Brasil promovido por estudantes da Universidade de Oxford e chegarei uma hora atrasado ao jornal das 18H. Espero que ainda haja algo para comentar.

Outro dia publiquei um artigo no Globo falando de anticorpos monoclonais. Uma leitora, se espantou com a ausência do tema na grande imprensa. Pois ontem o New York Times publicou uma longa reportagem sobre as pesquisas da Regeneron, aquela empresa que aplicou o remédio em Trump.

Trata do resultado de pesquisas e mostrar que o remédio ajudou também a evitar que as pessoas, em contato com o vírus, contraissem a doença. Funcionou como uma espécie de vacina. O Globo republica a matéria do New York Times e menciona o coquetel de ancicorpos da Lilly sem dizer, entretanto, que está sendo submetido ao exame da Anvisa.

Só se fala hoje nesse diálogo telefônico entre o Presidente Bolsonaro e o Senador Kajuru. De fato, é muito estranho um presidente combinar com um senador processos de cassação contra ministros do supremo.

Nunca tinha ouvido nada semelhante, mas sinceramente está tudo tão confuso que não sei se terá consequências divulgar uma gravação como essa. Digo consequências na vida política do país. O senador Kajuru está sendo denunciado por Flávio Bolsonaro, mas a esta altura ninguém se interessa tanto por quem divulgou, mas sim pelo conteúdo da gravação.

Na mesma conversa, Bolsonaro fala em dar porradas no senador Randolfe Rodrigues. Aliás ele já ameaçou dar porradas num jornalista. Ele se parece com aquele personagem do antigo Casseta e Planeta, o Massaranduba, que saia por aí dando porradas.

Aliás, por falar nisso, no artigo de hoje reproduzi uma frase da abertura do romance de Mario Vargas Llosa, Conversa na Catedral, quando é que o Peru se fudeu. O querido Caio Blinder reproduziu minha citação no twitter, naturalmente com o Brasil no lugar do Peru. Muita gente não gostou, dizendo que estava baixando o nível. Mas meu inspirador é um um grande romancista. Não se pode confiar mais em ninguém.

Avisei ao Caio que era um velhinho bem comportado, mas esses Prêmios Nobel me desencaminham. Vou lê-los com mais cuidado. Gostaria de escrever um pouco mais, mas o trabalho me espera e ainda tenho podcast ao acordar. Nossos temas serão a CPI e o Orçamento, dois consideráveis nós para serem desatados esta semana.

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Um golpezinho militar

Ontem tive que dar o braço a torcer a um militar. O encontro tinha data e local marcados mas certeza que ele estaria lá eu não tinha. Fui de carro, sei lá como ele iria, se de blindado ou tanque. Sei, tanque não é comum sair às ruas, e quando sai até o regime pode mudar. Mas eu estava tranquilo, ele podia estar lá mas não ia querer nada comigo, um civil qualquer. A chance dele e eu ficarmos frente a frente era grande: ele e eu obedecíamos ordens. As dele, mais severas, próprias da disciplina férrea a que ele seus companheiros de farda estão acostumados a cumprir. As minhas, não tão inflexíveis assim, mas se não cumpro essa ordem de agora posso me ferrar, talvez morrer. Ao nos aproximar do local, logo avistamos alguns militares. Mas o encontro decisivo não era ali na entrada.

Certamente ele estaria entrincheirado no interior do prédio imenso. Que não era um quartel. Desde a última vez que estive num quartel, quando fui dispensado do serviço militar por processo de arrimo de família, nunca mais pisei em qualquer ambiente desses. E depois, com o convívio com a ditadura, reforcei meus anticorpos para não me deixar contaminar com mandos e desmandos deles. Agora estava ali, sem receio mas com pé atrás. Passei por mais outros militares, agrupados aqui e ali. Fui barrado e me pediram documento, olhando firme na minha cara. Sem temor, retribuí o olhar com firmeza igual. Adiante, disse ele. Segue, Fraga, disse eu pra mim mesmo. Em seguida notei que outros civis também tinham atendido à mesma ordem. Como podíamos ser muitos invasores, eles também não eram poucos.

Nós e nossos tênis, eles e seus coturnos. Nós e nossas bermudas, eles e suas fardas. Nós e nossos acenos, eles e suas continências. Nós e nossos passeios, eles e suas marchas. Mais alguns trechos delimitados e eu saberia com quem teria o embate. Na grande área, as viaturas deles estacionadas e as nossas num zigue-zague obediente. Ele e seus companheiros de tropa sabem como conduzir a gente, comandos através dos olhos, da boca, até das mãos. Haveria arma? Não haveria? Seria usada comigo? Devagar, Fraga, sem gestos bruscos, sem olhares provocativos.

Segui mais um pouco e outro ajuntamento de militares. Um deles ordenou que apresentasse documento. Retruquei que já havia apresentado antes e de novo um olhar duro foi disparado. Um obus direto da retina dele pra minha. Sorte que a mira dele não era tão boa, passou de raspão. Fui liberado e segui em frente. Enquanto seguia, pensava na rejeição que tenho com militares. Sou um pacifista, eles não. Sou avesso a ordens, eles não. Não gosto de conflito, eles adoram. Eles já torturaram e deram sumiço em muita gente entre 64 e 84; eu, por conta própria, vez em quando apenas sumia de casa por uns tempos. Eles agora estão aos milhares no governo, engessando e dando despesa à democracia, até ministros incompetentes são; eu continuo no meu desgoverno pessoal. Eles têm orgulho do seu estúpido chefe maior; eu sou um dos milhões e milhões que o detestam e querem o impiti dele. Foi aí que esse turbilhão sem sentido parou junto à camuflada figura dele em posição de sentido. Ia ser com ele a batalha, então.

Meu corpo se retesou, apreensivo. Eu estava em desvantagem: ele em pé, eu sentado. Veio mais para perto, se apresentou e disse qual era a missão dele. Mesmo com todo amor à pele, não pude recuar. Logo estava apontando algo pontudo para mim, a menor de todas as baionetas que um militar poderia empunhar. Ia cravar aquilo em mim e eu tive que dar permissão para o ataque dele. Mandou que eu afastasse a roupa do local onde iria me golpear, queria ver minha carne atingida.

Felizmente foi tudo muito rápido, e não houve nem mortos nem feridos nesse entrechoque. Satisfeito em ter cumprido sua missão contra um civil, me dispensou e apontou o caminho para me afastar dele. Com a marca da baionetinha no corpo, saí o mais rápido dali, pra minha vidinha sossegada e distante do verde oliva. Foi assim, no dia da minha 2ª dose da vacina, a única vez que dei o braço a torcer a um milico.

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Imperdível!

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BolsoNero

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Bolsonaro risca o fósforo

O senador Jorge Kajuru divulgou em suas redes sociais uma conversa telefônica na qual o presidente Jair Bolsonaro cobra a inclusão de prefeitos e governadores no escopo da CPI da Covid. Qualquer CPI precisa de fato determinado. Ampliar o foco costuma ser uma tática para não se investigar nada.

Mas, em entrevista ao Papo Antagonista na sexta-feira, Kajuru disse claramente ser contra a ampliação da investigação. Segundo ele, uma CPI com duração de 90 dias não teria tempo para investigar também prefeitos e governadores — e que isso, fundamentalmente, seria responsabilidade de assembleias legislativas e câmaras municipais.

Na conversa com Bolsonaro, porém, Kajuru se mostra favorável à ideia, animando o presidente, que cobra dele, sem pudores, pressão no Supremo para a abertura de impeachment de ministros, começando por Alexandre de Moraes — alvo recente de um abaixo-assinado de bolsonaristas.

“CPI ampla e investigar ministros do Supremo. Ponto final (…) Tem de peticionar o Supremo para colocar em pauta o impeachment também”, diz Bolsonaro na conversa. Kajuru, que defendeu a CPI da Lava Toga abafada por Bolsonaro, responde: “Peticionei ontem.”

O presidente, então, comemora: “Parabéns para você. Você foi dez. Sabe o que é que vai acontecer? Não tem CPI e não tem investigação de ninguém do Supremo.”  A princípio, pode parecer que Bolsonaro queria apenas pressionar os ministros a enterrar a CPI. Mas, em seguida, ele se diz “a favor de botar tudo para frente”. Ou seja, tanto a CPI como o impeachment.

Ministros ouvidos há pouco por O Antagonista avaliaram o caso como uma “tentativa de intimidação bastante grave” do presidente da República ao Supremo e que ele teria incorrido em crime de responsabilidade.

Interlocutores de Arthur Lira disseram ainda que a sensação é a de que o presidente “riscou um fósforo num ambiente saturado de combustível”. Essas mesmas fontes esperam uma possível reação em cadeia, com o Supremo ameaçando retomar o inquérito de Lira, caso o presidente da Câmara não tire da gaveta as dezenas de pedidos de impeachment de Bolsonaro.

Se há poucos dias o ministro Marco Aurélio Mello defendia sozinho que a Câmara tinha “que tocar” a análise dos pedidos de impeachment, o coro agora tende a engrossar.

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Playboy|1970

1970|Jennifer Liano. Playboy Centerfold

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Desmilitarizar o Brasil

O governo BolsoNero é um cabide de empregos para militares, com destaque para vários ministros, o vice-presidente e o próprio presidente, embora este tenha saído corrido das fileiras do Exército há mais de trinta anos. Os números variam, mas sempre apontam mais de 6 mil militares nomeados pelo Executivo Federal, além de ocuparem 30% dos cargos em empresas públicas, como o novo presidente da Petrobras. Seria esse um governo militar ou um governo dos militares?

A militarização, entretanto, não tem relação apenas com o número de fardados no governo. Trata-se de um processo em que valores, modos de vida, princípios e normas que orientam o mundo militar são transferidos para a administração pública, militarizando o Estado. Tão problemático quanto quem faz, é o como faz e por que faz.

O que significa militarizar a sociedade? A guerra como opção social e política não é algo inerente ao ser humano. A militarização da sociedade é o que permite a naturalização do militar, da guerra e das armas como alternativas à resolução de conflitos, seja no âmbito doméstico, seja na geopolítica internacional. Ora, sem a militarização as divergências não desapareceriam, mas a opção pela violência armada como forma de resolvê-las seria considerada repugnante e injusta.

A ditadura implantada em 1964 aprofundou a militarização da sociedade brasileira. Setores de Igrejas apoiaram e tiveram importante papel nesse processo, evocando o “Deus dos exércitos, Senhor da guerra”…

Baseados nessa leitura, valores militarizados se expandiram na sociedade, como a ideia de que vivemos dentro de marcos hierárquicos, e devemos conformar-nos com o lugar que ocupamos na hierarquia social: pobre (resignado), classe média (remediado), rico (desculpabilizado). É a legitimação da desigualdade social, ainda que flagrantemente injusta.

Outro “valor” é obedecer aos superiores (civis, religiosos etc.), sem divergir quanto às normas e regras adotadas. É a ideia de que as coisas sempre foram assim, e assim devem continuar. Em um mundo hostil é necessário competir para ganhar, ser combativo. O triunfo é estimulado em detrimento da relação solidária entre pessoas.

A militarização reforça a noção de que é preciso estar sempre vigilante diante de potenciais riscos e perigos que ameaçam a nossa sobrevivência. Para driblar o medo, é preciso ser agressivo, forte, viril, dominante, mesmo se isso significar ser machista e cruel.

Muitas vezes o adestramento militar atinge um grau de violência que induz à desumanização do outro. Alunos se tornam dispostos a matar seres humanos a partir da ordem de um superior, sem duvidar, discutir ou divergir. O sentimento de empatia com dores e desejos do outro é substituído pela relação amigo x inimigo. O discurso de ódio substitui o da alteridade. O inferno e o inimigo são os outros, daí ser preciso eliminá-los. Assim, a militarização de corações e mentes torna o outro invisível e desprezível, o que justifica a violência. É o perfeito antagonismo à noção de amar ao próximo como a si mesmo.

Desmilitarizar os espíritos e a sociedade requer priorizar a segurança humana com relação à alimentação, saúde, educação, acesso ao trabalho, respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente. É reivindicar horizontalidade diante de relações hierárquicas, particularmente as que vitimam os mais pobres. E incutir solidariedade e respeito pelo diferente, diante do racismo e da xenofobia; senso de igualdade entre homens e mulheres, diante do sexismo das estruturas militares; e internacionalismo e cooperação enquanto valores nacionais.

Há que se retomar a bandeira da justiça e da paz, e da união entre povos próximos e distantes. E ousar olhar nos olhos do outro para perceber, no reflexo, que somos todos humanos, irmãos e irmãs.

Frei Betto

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Celso de Mello diz que Bolsonaro “se comporta como um monarca presidencial”

Para o ex-ministro do STF Celso de Mello, foi “corretíssima” a decisão de Luís Roberto Barroso de abertura da CPI da Covid no Senado.

Ao Estadão, o ex-decano comentou os ataques de Jair Bolsonaro a Barroso e afirmou que o presidente age como um“como monarca presidencial”.

Um presidente da República que não tem o pudor de ocultar suas desprezíveis manifestações de desapreço pela Constituição da República e pelo princípio fundamental da separação de Poderes, que atribui aos seus adversários a condição estigmatizante de inimigos e que se mostra disposto a atingir, levianamente, o patrimônio moral de um dos mais notáveis juízes do Supremo Tribunal Federal, que proferiu corretíssima decisão em tema de CPI, inteiramente legitimada pelo texto constitucional e amplamente sustentada em diversos precedentes firmados pelo plenário de nossa Corte Suprema, revela, em seu comportamento, a face sombria própria de um dirigente político que não admite nem tolera limitações ao seu poder, que não é absoluto, comportando-se como se fosse um paradoxal ‘monarca presidencial’!”, escreveu.

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Sem suingue

Torço para que o sucesso de “Toda poesia”, de Paulo Leminski, faça com que todo o Brasil coloque em prática o refrão de “Curitiba”, canção de Marcos Prado, Antonio Thadeu Wojciechowski e Walmor Góes, gravada pelo grupo de samba “sem suíngue” Maxixe Machine: “Curitiba, Curitiba / você é a única droga / que eu vou admitir / na minha vida”. Fico imaginando como funcionaria o país sob o efeito desse alucinógeno lírico curitibano. Seria prova de fogo para nossos sonhos de identidade nacional, trafegando naqueles ônibus pré-BRT, tiritando no inverno ao som do eletrofunk da MC Mayara. Barato já descrito no primeiro verso de “Filhos de Gdanski”, canção do carioca Antonio Saraiva gravada pelo grupo hardcore-pós-tudo Beijo AA Força (a encarnação elétrica do Maxixe Machine): “Um afoxé muito branco emerge das brumas”.

Pulo na pipoca desse bloco “poloco-nagô” paranaense há tempos. Em 2013, por alguma conjunção astral conectada com as vendas do autor de “Distraídos venceremos”, meu consumo de Curitiba, a droga, passou a ser administrado em doses mais polpudas. Primeiro ganhei de presente “na franja dos dias”, o terceiro livro de Marcelo Sandmann. Releio seus poemas (curtos e com muitos parênteses, como estas minhas colunas) semanalmente. Alguns levam a “genialidade não original” de Leminski para extremos cruéis. Em “Canção de maio” cada verso é manchete paulistana recente. Entre eles: “SP sofre pelo menos 180 ataques criminosos; mortos passam de 80” e “Suspeitos mortos pela polícia em ondas de ataques em SP somam 107”. Há também notícias sobre shows de Frank Zappa, e reflexões sobre a saúde de quem pode tocar a “lira dos cinquent’aninhos”. Como tenho a mesma idade, me identifico especialmente com este big-bang de narcisismo inspirado em Mário Sá-Carneiro: “Quando eu morrer, puxem a rolha / Que veda o ralo do universo. / Escoem tudo. E no reverso, / Pintem um Deus novinho em folha.”

Pelo Sedex chegou também pacote com o DVD “da tamancalha ao sampler – ao vivo em Curitiba” e o livro com partituras do Grupo Fato. Como brinde veio junto o “músicaprageada” (assim tudo escrito junto), também do Fato. Já tinha esse CD (gravado em 2005), mas foi maravilha ouvir novamente suas músicas, agora, pensando nessa possibilidade de Curitiba ocupar (no melhor sentido occupy) lugar mais central em nosso imaginário brasileiro. Pois os curitibanos sempre refletiram profundamente sobre seu deslocamento (lá onde há sempre geada) ou lugar “periférico” no concerto da nação. E ousadamente já deram sua receita de samba danado (canção de Marcelo Sandmann, registrada neste “músicaprageada”): “Samba que é bom tá danado / Samba que é bom não dá pé / Tem que quebrar a cabeça / Tem que entortar logo o pé.”

Então me toquei que deveríamos estar comemorando os 30 anos da criação da Beijo AA Força, banda que entortou nossos pés pela primeira vez em 1983. Para resumir sua história com apenas um lançamento: “Sem suingue”, de 1995, só não ocupa os primeiros lugares nas listas dos melhores discos de todos os tempos da música popular brasileira por causa desse distanciamento torto que o resto do país mantém com a produção cultural de Curitiba, praticamente ignorada fora do Paraná (Leminski ou Trevisan são casos bem excepcionais). Preciso deixar bem claro (a nova audição reconfirmou esta impressão antiga): “Sem suingue” não deixa nada a dever se comparado com “Acabou Chorare” ou com “Samba Esquema Novo”. Na minha humilde opinião leva até vantagens, pois reflete bem minha experiência de geração e meus interesses diante do mundo pop atual. Isso só parece exagero porque quase ninguém ouviu a obra prima curitibana. Quem escutar agora vai pensar que é gravação nova, de tão atual e original (ou não original, já que abusa do sampler).

Tem “Filhos de Gdanski”, mas também “Pedra que rolou”, clássico de Pedro Caetano, e a mulher falando “nossa, como esse Milton Nascimento é engraçado” em “Eu odeio jazz Brasil (more noise, please)”. Tem “Crueldade mental” e sua versão instrumental (com “guitarra Morricone” e “piano Liberace”) precocemente intitulada “Estupidez interativa”. Minha preferida talvez seja a versão de “Negro blues” de Jorge Mautner, com arranjo digno de Jerry Dammers e complemento da letra no encarte com homenagem até para o barulho japonês dos Boredoms (em 1995!). Pode haver disco melhor?

Talvez uma coletânea da Maxixe Machine, com músicas dos CDs “barbabel” e “e seus ritmos elegantes”. Tudo para o Brasil copiar o exemplo da personagem de “Empolacada”: “casei com um polaco depois de cinco uísque / ainda hoje não sei pronunciar meu sobrenome”. Segura mais um refrão: “ê meu negão do avesso / tô sambando com os quadril no gesso”.

17/05/2013

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Fraga

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