Além de contestarem o conteúdo da Medida Provisória que reonera a folha de pagamentos de 17 setores, parlamentares criticaram a forma como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez o anúncio.
O petista não negociou com lideranças do Congresso e passou a marcar agendas para tratar do assunto somente após a entrevista coletiva.
Haddad já havia prometido uma alternativa ao projeto de lei que prorrogou a desoneração da folha de pagamentos, mas até aliados, como mostrou o Bastidor, reconheceram que o ministro demorou demais e que, agora, a MP deve sair mais cara do que se imaginava.
As críticas a Haddad ocorrem em meio a uma disputa de narrativas entre a equipe econômica e a articulação política do governo Lula.
Como a MP pegou muita liderança de surpresa, senadores já defendem a devolução do texto ao Executivo sem apreciação do Congresso.
A articulação política já esperava a reação e vai culpar Haddad caso a MP fracasse.
ESTÁ no Diário Oficial, o protocolo antiassédio das mulheres. Criação da deputada petista Maria do Rosário, o protocolo resume-se na frase “Não é não”. Ou seja, quando a mulher diz não, é não, ponto final, nada de talvez ou quem sabe. Mas como tudo que envolve a língua falada e escrita neste país, com ou sem sotaque petista, a expressão é equívoca, no rigor da ontologia para as expressões de sentidos conflitantes; ao contrário das categóricas – ou unívocas. Portanto, “não é não” também pode ser lido e entendido como “esse meu não não é um não”.
Ainda que o Insulto tenha ojeriza a advérbios – e a petistas salvadores do mundo – esse “Não é não” precisaria de um “mesmo”: “Não, não mesmo”. Mas o que esperar da petista Maria do Rosário que, em cerimônia sobre o Holocausto na sinagoga de Curitiba, enalteceu Jesus Cristo. Rosário era ministra dos Direitos Humanos de Dilma. Sem contar o nome “do Rosário”, com tamanha falta de noção, o governo seria melhor representado pelo ministro da Agricultura, que poderia falar sobre o maná que Deus mandava aos judeus durante o Êxodo.
(Esta crônica é dedicada ao doutor Isaac Ingberman, que, sentado ao meu lado na sinagoga, indignado com o pronunciamento da ministra, contorcia-se na cadeira e me sussurrava em ídiche: “Essa mulher me enfia shpilques im tuches, que mal traduzido significa “agulhas no rabo”.)
A tempestade lá fora aviva tudo o que se move: árvores vergadas ao chão. Schopenhauer ancora a barca Nautikon a um tronco de carvalho e retorna ao Hotel Sunset Boulevard, senta no parapeito do terraço que dá para o mar grosso e franze a testa. O médico lhe deu a notícia dolorosa: só dois dias de vida. Lythia, abalada com o câncer do marido, deita sob o guarda-sol para descansar. Ela, após alguns minutos, lembra a Schopenhauer que não somos nada, nunca fomos nada, e que, apesar disto, podemos guardar na memória todos os jarros de luz que o sol esqueceu à porta dos amantes.
Schopenhauer retorna à varanda deste hotel, à visão do mar. Esqueceu o costume de fazer discursos e, afastando com o gesto a mosca, volta a encarar sem esforço as ondas de salgada branca espuma, as ondas que se destroçam na pedra feito louças. Schopenhauer medita e decide: vai dar um passeio pelo bosque vazio nos arredores da Pacific Coast Highway e assassinar, com soco no ouvido, uma freira carmelita.
No meio do bosque vazio, nesta voltáica cidade de Los Angeles, Schopenhauer encontra a freira. Quando vai desferir o soco, ela reage: — Agora não; você está muito cansado –, e crava um peixe nos ombros de Schopenhauer; um peixe que se debate de forma violenta. — Você conhece este peixe? – pergunta a carmelita. Schopenhauer responde que não. O arpão de um raio acerta a nuca de Schopenhauer, que não morre, antes mistura vocábulos próprios e alheios, paisagens de toda sorte, e ele pergunta a si mesmo como é que um homem, que ia morrer dali a dois dias, podia tratar tão friamente uma freira carmelita, a ponto de querer assassiná-la com soco no ouvido?
Sim, Schopenhauer retorna ao Hotel Sunset Boulevard e encontra Lythia que, ainda sob o guarda-sol, folheia o Livro dos Mortos — o Bardo Todol — que diz que, alguns dias após a morte, tudo em nós vira vento e a primeira coisa que vemos é um cavalo, também de vento, e Lythia percebe que o Schopenhauer que se aproxima não conseguiu matar a freira carmelita e ainda trouxe um peixe cravado nos ombros, um peixe que não pára de se mexer.
Schopenhauer pergunta: — Quanto tempo ficaste ao sol hoje, Lythia? Lythia responde, espreguiçando-se: — Há milênios, milênios. Uma sombra desce ao rosto de Schopenhauer sempre que recorda o prognóstico do médico que lhe disse: — Só dois dias de vida, meu senhor, só dois dias.
Eu estava matutando cá com meus botões. Mas, como a roupa que uso não tem botão, garrei a imaginar se não somos todos um pouco responsáveis pela preservação das obras geniais que cruzam nosso caminho, tanto quanto pelo ar, pela água, pelas plantas, pelos bichos.
Confesso a você – e peço que espalhe – que senti um tantinho de culpa ao verificar a degradação do habitat literário, a imundície jogada na terceira margem do rio, a asfixiante psicosfera que paira sobre a nação zumbi. O frágil ecossistema intelectual nativo virou atoleiro e, nesse brejo das almas, é natural que os tímidos pandas se recolham à sua extinção e os mosquitos da malária reinem absolutos. A gente deste século, assombrada, vê as últimas reservas cercadas de símios, esses, sim, sempre dispostos a bater no peito, arremessar fezes e urinar nos cantos para demarcar seus territórios.
Agora chega desta ladainha: vamos empunhar as bordunas do espírito e defender a biodiversidade humana. Com muito respeito, é claro, pois sem ele você morre atropelado pelo carrinho de sorveteiro – como nos ensinou Nelson Rodrigues.
Para começo de conversa, fim de papo, como disse o Marcos Prado: se eu, que sou eu, de vez em quando coloca um pouco de oxigênio nesta mistura, você, que é muito mais esperto, certamente será capaz de colocar muito mais. A primeira lufada de ar fresco, perfumado de araucária, eu mandei vir do Jamil Snege: “Já inspecionei a proa, / amarrei a carga, / desatei a vela. / O vento sopra forte / e enfuna meu coração de alegria. / Agora é contigo, Senhor. / Toma o leme / e risca o rumo do meu barco / – não penses que irei por este mar sozinho.”
E de Minas Gerais, para as emergências asmáticas da vida, carrego sempre comigo uma bombinha de Affonso Ávila e o ar de sua graça: “dentro da faixa / fora do perigo / dentro da fauna / fora do perigo / dentro da farsa / fora do perigo / dentro do falso / fora do perigo / dentro do fácil / fora do perigo.”
No meio do caminho tinha um Bertolt Brecht e com ele, respirando fundo, a gente aprende que o Brasil é lá e a Alemanha é aqui: “Sento na beira da estrada / Enquanto o motorista troca a roda. / Não gosto do lugar de onde venho. / Não gosto do lugar para onde vou. / Então por que espero essa troca de roda / Com tanta impaciência?”
Da água corrente de uma montanha do Japão veio o Kobayashi Issa, para refrescar nossa pobre alminha com coisas como “o mendigo olha / e reconhecendo-me / devolve a esmola “ e molhar nossos olhos com uma alegria quase extinta: “a neve mexe / no calor das crianças / a aldeia se derrete”.
Bem, isso já é um começo. Agora é com você. Mas eu já vou avisando que participar dessa cruzada pela melhoria da atmosfera mental do país é arrumar para a cabecinha e encarar a ira da massa ensandecida (procedimento que eu sugiro seja realizado com bom humor, malícia e precisão). Portanto, nada de reclamações. A batalha é inglória para quem procura sarna para coçar, chifre em cavalo, cabelo em ovo – coisas que, muitas vezes, achará. Mas, em plena desgrama, garanto que, de vez em quando, ouvirá o Domingos Pellegrini, direto do seu sítio: “Cadê os chinelos / aquele sonho cadê / vou procurar de joelhos / assim já estou pronto para agradecer.”
Leia, espalhe e preserve o que é bom. Numa dessas você encontra por aí, soprando com o vento pelas ruas de Curitiba, os mestres Marcos Prado e Márcio Cobaia Goedert no exato momento em que flagaram e eternizaram um simples freqüentador da birosca de uma periferia qualquer: “o velho e o bar // o velhinho é a alma do negócio / deixa a nota amassada e sai catando cavaco / pensou que via o carlos drummond de andrade / mas era uma valeta no meio do caminho / o pau d’água mergulhou na areia movediça / transformando-se no monstro do pântano”.
E mais não digo, pois os meus botões preferiram guardar a boca pra comer farinha.
Notas: 1) “Apela para a ignorância o ser de alma macaca” – verso emprestado do poema “Todos os lugares a deus” de Marcos Prado e Antonio Thadeu Wojciechowski. 2) Poema de Bertolt Brecht – versão brasileira: Roberto Prado. 3) Poemas de Kobayashi Issa – versão brasileira: Roberto Prado e Antonio Thadeu Wojciechowski
Juvenildo –Jogador de futebol, Brasil, 1926. “Cotovelo de Ouro” era o apelido de Juvenildo Constâncio, criador do gol de cotovelada. Sua habilidade não se restringia ao braço esperto: era hábil e poderoso também nas cabeçadas e na dança do ventre. Apareceu no futebol quando foi escalado pelo técnico Artacherches Fonseca como centro-avante do Frontêra Bagual, no Rio Grande do Sul, em 1943, numa memorável partida em que o time gaúcho goleou o CTFC (Centro de Tradição do Futebol Catarinense) por 6×0, fazendo três gols de cotovelada e um com a barriga milagrosa que espantava a torcida. Nunca chegou à Seleção Brasileira, pois era adepto do “copo de cerveja fatal” que o afastava dos coletivos por intoxicação alimentar. Também era mulherengo e viciado em naftalina. Na derrota do Brasil para o Uruguai, em 1950, chorou copiosamente e morreu afogado nas próprias lágrimas, ao descobrir que a empregada havia limpado as gavetas e jogado fora todas as suas bolinhas de naftalina. Era ainda nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga.
Abbdul Jabar – Atirador de quibes, Brasil, 1947. Abbdul foi o maior atirador de quibes de todos os tempos, superando inclusive o campeão Mão Veloz, atirador de charutinhos de repolho, assassinado cruelmente por um palestino mal alimentado. Abbdul conseguia arremessar quibes a uma distância de mais de 20 metros, sem errar o alvo, geralmente o prato dos fregueses do restaurante, que aplaudiam freneticamente e dobravam a gorjeta.
Derek Mostello –Provador de supositórios, Itália, 1952. Mostello nasceu, literalmente, de cu pra Lua. Foi por isso que conseguiu quebrar a marca mundial de prova de supositório estabelecida por Mallavich Grevnik, búlgara que provou mais de 15 supositórios de menta e hortelã em dez minutos. Derek morreu pobre, no anonimato, como provador de Buscopan na veia, depois de uma carreira meteórica. Bundinha de Prata, como é conhecido até hoje, tem uma estátua de bronze na praça de sua cidade natal, Palermo, naturalmente, de bunda pra Lua.
Arnésio Darlene –Palitador de dentes, Brasil, 1968. Arnésio é considerado, por unanimidade, o maior palitador de dentes de todos os tempos. Não perdoava fiapos de manga, fibras de costela, pedacinhos de azeitona, barba de camarão-abraçadinho e não permitia que resíduos de espécie alguma fossem hóspedes de sua famosa arcada dentária, que ostentava seis poderosos e reluzentes dentes de ouro, acumulados durante sua curta e risonha carreira. Recebeu várias honras, diversos títulos mundiais nas mais variadas categorias, que incluíam mordida a curta distância, espirro sem abrir a boca e bochechos com folhas de malva. Suas 18 vitórias, em 20 competições – três vezes a Maratona de Santa Felicidade, duas vezes a Palitada da Mateus Leme e ainda 12 títulos na categoria Espeto Corrido – mostraram que Arnésio palitava os dentes sem pôr a mão na frente pra disfarçar.
Salamaleke Abebe –Atleta, Costa do Marfim, 1979. Salamaleke, um dos homens mais rápidos do mundo, é o pai da corrida de trás pra frente nos 100 e 200m. Venceu várias provas internacionais, entre elas a famosa Fuga n 18º, de Johann Sebastian Bach. Na prova de Dublin, em 1992, 450m, corrida de soslaio, foi atropelado por um americano parecido com Carl Lewis e quase perdeu as pernas num acidente lamentável. Salamaleke é recordista mundial do salto em distância com colher de xarope e está até hoje correndo atrás do prejuízo.
Deusdete Rocha –Engolidora de sapos, Brasil, 1980. Eleita pela imprensa esportiva como “Engolidora do Ano” em 1997, Deusdete é dona de um público fiel, que coacha e aplaude todas as suas qualidades em campo. Filha do sapólogo Lejambre Taurino, ela desde pequena mostrou talento, engolindo as pererecas que infestavam a casa de campo da família na pequena localidade de Caixa Prego. Dona de invejável pescoço e de uma insaciável disposição para engolir anfíbios anuros, em sua maioria peçonhentos, é capaz de suportar coisas desagradáveis sem revidar, por imposição ou por conveniência. Conquistou a medalha de prata para o Brasil em 1998, em Bruxelas, engolindo sapo-concho, sapo-cururu e sapo-da-areia, um após o outro, sem intervalos. Seu maior desejo é engolir um bufo marinus (da família dos bufonídeos) na próxima Olimpíada, se a vaca não for pro brejo.
Solda, ex-goleiro de futebol de salão em Itararé (SP) tirou o time de campo após ter quebrado a clavícula ao tentar defender um pênalti batido pelo Merege, no Colégio Epaminondas Ferreira Lobo, há séculos.
A aprovação do orçamento da União na semana passada ainda não foi bem digerida pelos líderes do governo no Congresso. O principal ponto de divergência é a fixação de prazos para que o Palácio do Planalto faça os pagamentos das emendas parlamentares, o que não existia até então. Falta decidir, porém, como resolver esse problema.
O vice-líder do governo no Congresso, Lindbergh Farias (PT-RJ), tem dito que a mudança para o próximo ano fere a Lei de Responsabilidade Fiscal. O texto foi aprovado com pressa nas duas casas, depois da demora na aprovação da Reforma Tributária e do Arcabouço Fiscal, as grandes prioridades do governo em 2023.
Para 2024, o governo deverá disponibilizar 54 bilhões de reais em emendas parlamentares, incluindo as individuais, de bancadas e de comissões. Esse montante deve inviabilizar programas nos quais o Palácio do Planalto pretendia investir, depois de aprovadas as novas regras de arrecadação e investimentos.
As lideranças do governo entendem que a medida implementa uma espécie de parlamentarismo no Brasil, sem que a população tenha decidido a respeito. Isso porque as mudanças no orçamento, na prática, reduzem o poder do presidente Lula de decidir sobre políticas públicas.
Além disso, as alterações diminuem o poder de barganha do Planalto sobre os deputados e senadores. Nos últimos anos, a liberação dessas emendas era usada para negociar votos no Congresso. Com a obrigatoriedade de pagamento, essa arma fica reduzida.
Dificuldades à frente
Com menos poder de fogo, o governo poderá enfrentar dificuldades para avançar nas pautas que pretende, sobretudo em 2024. No próximo ano, o principal objetivo das lideranças é focar nas leis complementares que são necessárias para que a Reforma Tributária possa entrar efetivamente em vigor.
Eles também querem focar nas agendas sociais, o que dependerá da boa vontade do Centrão, já que não há maioria plena que possa garantir a aprovação dos temas caros a Lula a partir de agora.
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