Kássio Marques: o STF ganha um ministro com um currículo à altura da instituição

A aprovação do nome de Kássio Marques pelo Senado seguiu à risca o velho modelo de uma instituição que finge que cumpre sua função, mas que todo  mundo sabe que aprova qualquer indicação que o Palácio do Planalto mandar. Vem até a tentação de dizer que é uma desmoralização política uma aprovação como esta — de um sujeito que é um plagiador e que mente sobre seu currículo. Mas pensando melhor: quem é que leva a sério o Senado brasileiro? Até para caso de colega que enfia dinheiro no rabo é preciso que o STF tome uma decisão no lugar deles.

É interessante a coincidência entre o placar desta votação e a de outro indicado que também não tinha os predicados para ser ministro do STF. Aliás, não os tinha para ser juiz de lugar algum, já que havia sido reprovado em dois concursos da magistratura paulista. Estou falando de Dias Toffoli, que tem tudo para fazer uma boa parceria com Marques, até porque ambos subiram na vida graças ao PT.

A indicação de Toffoli foi confirmada em setembro de 2009 por 59 votos a favor, nove contrários e três abstenções. A votação em Marques foi de 57 votos a favor, 10 contra e uma abstenção. E olha que a composição atual do Senado tem uma ligeira diferença com a de 2009.

O indicativo parece ser o de que no Senado só se deve contar com cerca de 10 parlamentares que decidam assuntos importantes tendo em vista ao menos a lógica. Bem, pelo menos fica-se sabendo um motivo essencial do Brasil ir se afundando em um atraso que está próximo do irremediável, que é a falência da classe dirigente. Na vida pública ou na iniciativa privada, em termos de capacidade e de visão, o cenário é de terra arrasada.

Nesta encenação do Senado o que há de se lamentar é que a autorização para Kássio Marques vestir aquela toga cafona não tenha tido também o voto de Chico Rodrigues, aquele nobre colega do dinheiro nas nádegas, impedido neste caso pela suspensão determinada pelo ministro Luís Roberto Barroso. A ausência não permitiu que a confirmação do novo juiz do Supremo se desse em sua completude. O senador que foi pego pela polícia com dinheiro escondido naquele lugar poderia ter dado o voto de honra nesta aprovação.

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Flagrantes da vida real

Maringas Maciel e Iara Teixeira. © João Henrique Le Senechal

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© Nadav Kaender

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© Shiko

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A entrevista de Simone de Beauvoir e outras histórias de Sebastião – final

Terminado o curso, do qual Sebastião saiu com os títulos de diretor e roteirista, começou o drama. Sebastião queria trazer a francesinha e o filho para o Brasil. Ela dizia que não saía de Paris por nada neste mundo. Em desespero, Sebastião foi na sucursal da Manchete em Paris e levou dezenas de revistas para o hotel xexelento. Mostrou Copacabana, o carnaval, o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, a pujança de São Paulo, as cataratas de Foz de Iguaçu, o pelourinho, os canais do Recife, o Teatro Municipal, o Teatro de Manaus. A francesinha via as fotos dizia que eram magníficas, mas não arredava o pé. Não saía de Paris e ponto final. No máximo, nas férias anuais, revezariam. Num ano, ela iria ao Rio com o pimpolho, e no outro, Sebastião viria a Paris.

Não teve jeito e Sebastião embarcou no Charles de Gaulle sozinho. Quando bebia, ele mostrava a foto da francesinha e do piá. O guri era bonitinho, como todo bebê e a francesinha, não falei nada pro Sebastião, achei que era muita areia pro caminhãozinho dele.

Quando veio morar em Curitiba, o Sebastiãozinho já tinha uns 30 anos. Durante todo o período, haviam se visto só três vezes. A última há dez anos. Trocavam cartas e quando a saudade batia forte, Sebastião fazia uma ligação internacional, que custava os olhos da cara, e ficava vários minutos falando com o filho. Nessa altura, a francesinha já havia casado com outro, mas sempre dizia pro filho que seu pai era um jornalista e cineasta brasileiro.

Belo dia, Sebastião recebeu uma carta com o convite de casamento do filho. No convite, aparecia seu nome como pai. Sebastião chorou por dias seguidos. Resolveu que não faltaria às bodas. Lembrou que um velho colega do JB era assessor de imprensa da Air France e lhe telefonou. Expôs a situação e o amigo disse que iria ver o que conseguia. Dois dias depois, o colega ligou e disse que tinha conseguido a passagem grátis. Mas havia um detalhe: se vendessem todos os lugares do voo, o Sebastião teria que esperar pelo outro dia. Se todas as passagens fossem vendidas, iria aguardar até o dia em que vagasse uma poltrona. Sebastião fez os cálculos e percebeu que teria de embarcar, no mínimo, uma semana antes das bodas para tentar garantir o lugar. Fez outros cálculos e constatou que precisaria de 500 dólares para passar uma semana, dez dias em Paris. Foi ao banco e viu que suas economias dariam para comprar, no máximo 100 dólares. Entrou em crise existencial. Ficamos sabendo da história e organizamos uma vaquinha. Arrecadamos 280 dólares e demos pro Sebastião. Faltavam 120. O Dotti ficou sabendo da história e condoído me entregou duas notas de cem dólares, pedindo para que eu não dissesse nada ao Sebastião.

Sebastião embarcaria, se tudo desse certo, num sábado. A Air France não conseguiu lotar o voo e o Sebastião entrou no avião. Antes do embarque ligou para todo mundo. Sábado à noite, só localizou o Sale Wolokita em casa. No domingo, o Sale avisou toda a turma. De terno novo, com direito a cravo na lapela, Sebastião participou das bodas no civil e no religioso. Foi na festa e se divertiu como um pai se diverte quando casa um filho.

Na volta, segunda-feira depois do casamento, o avião da Air France para o Rio estava lotado. Ficou dois dias no Charles de Gaulle dando uma de Tom Hanks em “O Terminal”. Com o dinheiro acabando, viveu 48 horas de baguette com ovo, queijo e presunto. Voltou, enfim, para Curitiba.

Na volta de Paris, Sebastião alugou um outro apartamento na Nossa Senhora de Copacabana. Ficou no JB e nas horas vagas escrevia roteiros de documentários que sonhava dirigir. Quando o Alberto Dines foi demitido do JB, no início de 1974, Sebastião não gostou do novo diretor e, ainda por cima, o editor do caderno B foi promovido. Pediu demissão do jornal e se dedicou full time ao cinema. Dirigiu vários documentários, todos com sucesso de crítica, mas com fracasso de público. Um dia, o dinheiro acabou e o Sebastião foi parar na Embrafilme. Era analista de roteiros quando bateu a saudade de Curitiba e veio falar com o René.

Terminada a gestão do René Dotti, eu voltei para a Procuradoria Geral do Estado e o Sebastião para a Embrafilme. Nunca mais revi o Sebastião. Um dia, anos depois, fui ao Rio e passei na Embrafilme para encontrar o Sebastião. O porteiro me disse que o “Curitiba” havia se aposentado. Sugeriu que eu fosse no departamento pessoal, podia ser que tivessem o endereço. Fui lá e uma atendente muito simpática achou a ficha do Sebastião. O endereço era Nossa Senhora de Copacabana, número tal, apartamento tal. Peguei um táxi e me mandei pro endereço. Como não havia porteiro no prédio, fui entrando, subindo umas escadas e achei o apartamento. Apertei a campainha e atendeu uma senhora muito elegante e bonita. Pensei com os meus botões, o Sebastião casou de novo. Não era nada disso. Morava no apartamento há dois anos e pelo que lembrava, o antigo morador tinha ido morar em Santa Tereza.

Meses antes de morrer, o Aramis Millarch promoveu na Cinemateca, num sábado à tarde, uma mostra com meia dúzia de documentários do Sebastião França. Sebastião não veio, tinha pego a pneumonia que não havia tido na vigília na frente do apartamento do Beckett em Paris, em pleno verão no Rio de Janeiro. Fez bem em não comparecer. Na plateia, o Aramis, três gatos pingados e eu. O filme mais marcante foi o “Beco 23”. Contava a história do Beco da Fome, em Copacabana, onde haviam uns 10 Pés Sujos. O Beco da Fome seria demolido para dar lugar a um prédio residencial de vários andares. Sebastião entrevistou inúmeros frequentadores, garçons, cozinheiras e os donos dos estabelecimentos. Um filme tocante e emocionante.

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Afasta de nós esse Estado!

Esse infeliz Paulo Guedes precisa entender de uma vez por todas que o Estado existe para proteger e servir os cidadãos deste país, e não o contrário. A Constituição Federal do Brasil, aquele livrinho sobre o qual todo mundo fala, mas que muitíssimo pouca gente leu e cumpre, é explícito ao estabelecer, logo no seu introito, que a finalidade da chamada Lei Maior é “instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias”.

Se isso não bastasse, o art. 3º da dita Carta, expressa ser objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento social; erradicar a pobreza e reduzir as desigualdades sociais e regionais e – atenção! – sobretudo, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Reitere-se, pois: o Estado existe para servir o povo e não o povo para servir o Estado. Infelizmente, não pensam assim os governantes, sejam eles quem forem, inclusive e especialmente os atuais.

A preocupação dos gestores públicos, desde sempre, é com a preservação do Estado, mas não para prestar serviços públicos, que seria o natural, mas para garantir o poder dos mandatários, suprir as suas deficiências administrativas e ocultar condutas reprováveis e até criminosas.

Ao contrário de atuar em benefício do público e produzir bens e serviços para a coletividade, propiciando à população condições de saúde, de educação, de segurança e oportunidade de emprego, o Estado tem demonstrado a sua deficiência, incompetência e desinteresse nesses setores.

E aí os gênios de Brasília e os seus correspondentes estaduais e municipais acenam falsamente com as tais “reformas”, sem as quais, garantem, o Brasil não sobreviverá. Não sobreviverão eles. Foi assim com FHC, com Lula, com Dilma e é assim com o capitão da reserva. Reformas verdadeiras talvez fossem aquelas pretendidas por João Goulart. Mas elas o apearam do governo.

Hoje, é tudo embuste, como se viu e está vendo. Tratei disso semanas atrás e agora reafirmo. As “reformas” do outrora sábio “Posto Ipiranga” foram e continuam sendo pífias, mal-intencionadas, e se prestam na verdade para aumentar o tamanho do Estado, com a criação de novos tributos e a retirada de direitos da sociedade. Cada manifestação do comandante da economia nacional é um novo susto na população. Além da acalentada volta da maldita CPMF, a mais recente “ideia” divulgada pela imprensa é o fim do aumento real de piso de professor da educação básica. A lei atual garante um ganho real a cada reajuste. O governo, claro, quer acabar com isso. Ele só não se preocupa, como se sabe, com os verdadeiros privilegiados do serviço público, como os militares, os magistrados, o ministério público, os tribunais de contas, o Itamaraty, os parlamentares e os colecionadores de jetons.

A presença do Estado é asfixiante e manifesta-se de forma arbitrária ao semear impostos, ditar regras e regular salários e ordenados. É também absurdo o monopólio do Estado na administração e utilização de fundos sociais aos quais os beneficiários não tem acesso, como o FGTS e PIS-PASEP.

Já há algum tempo que o sociólogo e professor Wanderley Guilherme dos Santos, do Instituto Universitário do Rio de Janeiro (IUPERJ), prega a libertação da vida política com a diminuição da presença do Estado e a quebra das algemas governamentais e estatais que impedem a sociedade brasileira de se autogovernar e não mais submeter-se ao controle do Estado.

Para tanto, sustenta o prof. Santos que é indispensável, primeiramente, que os grupos sociais rompam a antiga tradição de tudo esperar ou pedir do Estado. Justifica: “O que a sociedade pode decidir e resolver por si mesma não cabe ao Estado antecipar-se paternalisticamente e resolver a questão”. E realça: “O paternalismo estatal termina sempre por obter compromissos da sociedade e, portanto, perda de direitos”.

A reconquista dos direitos de cidadania passa, também e essencialmente, pela capacidade do eleitor de votar conscientemente, de escolher, com critério, coragem e sabedoria, aqueles que irão nos governar. E aí talvez esteja o maior e quase intransponível obstáculo. Desgraçadamente, os eleitores têm preferido eleger falsos salvadores da pátria, demagogos e bandidos ocultados pela farda, pela bandeira religiosa ou por um gracioso apelido.

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Playboy|1980

1980|Liz Glazowski. Playboy Centerfold

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A entrevista de Simone de Beauvoir e outras histórias de Sebastião – V

Em 1942, com a Europa conflagrada pela guerra e sem dinheiro para comprar obras de arte, Salvador Dalí aporta no cais de Nova Iorque com centenas de quadros para vender. Precisava de muito dinheiro para construir o seu castelo na cidade natal. Buñuel o procura no hotel. Dalí deixa o amigo no hall do hotel por duas horas, e após mandar chamar um barbeiro para escanhoar o rosto e aparar seu característico bigode, finalmente manda Buñuel subir. Gala nem dirige a palavra a Buñuel. No meio da conversa, Buñuel, que estava com três meses de aluguel atrasado, pede (dados e não emprestados) 50 dólares a Dalí. Salvador, depois de consultar Gala, nega o dinheiro. Buñuel vai embora puto da vida com o chá de banco e com a negativa do dinheiro. Naquela tarde, na entrevista coletiva, antes mesmo que lhe fizessem a primeira pergunta, Dalí disse que não entendia como o MoMa, um museu tão conceituado, tivesse como um dos seus empregados um comunista como Buñuel. Antes do fim da tarde, pelo alto-falante do Museu, Buñuel foi chamado ao RH. Despejado e desempregado, Buñuel levanta um dinheiro sabe-se Deus lá como e vai para Hollywood. Consegue trabalho como roteirista na Metro-Goldwyn-Mayer. Louis B. Mayer, o poderoso chefão da MGM, não pedia atestado ideológico para seus roteiristas, mesmo no período mais negro do macartismo.

Qualquer problema, mandava-os trabalhar em casa e assinar os roteiros com pseudônimo. Para atores e diretores, por razões óbvias, a coisa era mais embaixo. Mayer elogiava os roteiros de Buñuel, mas não os aprovava. Dizia que não tinham apelo comercial. Buñuel, cansado, depois de um ano de trabalho inútil, pede demissão e com os dólares da indenização se manda com a família para o México. No novo país, consegue filmar os seus roteiros e realiza dezenas de películas, pela Pelmex.

Era esse Dalí que o Sebastião França teria que enfrentar. No dia marcado, Sebastião vai até a empresa dos comes e bebes e sobe num ônibus, devidamente trajado de smoking, gravata borboleta, camisa e luvas brancas e sapatos devidamente engraxados e brilhando, com o cambojano e os outros garçons. Chegam na galeria de arte e entram pela porta de serviço. Ficam esperando o horário da abertura da exposição. Uma hora depois, a porta principal se abre e os convidados entram. Com todos acomodados, Salvador Dalí e Gala adentram a Galeria com a marcha triunfal de Aída ao fundo. Foi a consagração de Salvador e Gala. Enquanto servia os convidados, Sebastião não tirava os olhos de Dalí, sempre cercado por Gala e por um grupo de convidados. De repente, Salvador Dalí se retira do grupo e vai ao banheiro. Sebastião larga a bandeja na mão do cambojano e segue atrás. Não entra e fica esperando Dalí sair. Instantes depois, ainda secando as mãos, Dalí retira-se do banheiro. Sebastião ataca, falando em espanhol: “Dom Dalí, yo soy un periodista del Jornal do Brasil y a mi me gustaria unas preguntas!” Dalí encara Sebastião com o ódio nos olhos e começa a gritar: Yo no hablo para reporteros del tercer mundo. Afuera. Afuera!”. Sai berrando pela segurança. Os seguranças, como Dalí gritava em castelhano, demoraram para perceber o que estava acontecendo. Sebastião, aproveitando a lentidão dos guardas, escapole pela entrada de serviço, entra no primeiro táxi e vai para casa. No outro dia, levou o uniforme completo para a lavanderia e dois dias depois, no Instituto pediu que o cambojano o devolvesse. Nem passou na empresa para receber o pagamento, ficou em dúvida se iriam saldar e não desejou arriscar. Ficou também sem os cem dólares do JB, além do prejuízo com a tinturaria.

No início dos anos sessenta, Buñuel retornou à Espanha e filmou “Viridiana”. Apesar do seu passado, a ditadura de Franco fez que não viu. Ganhou a Palma de Ouro em Cannes. Quando viu o filme, a censura de Franco proibiu a exibição. Buñuel, para evitar problemas, voltou à França, onde dirigiu Catherine Deneuve em “A Bela da Tarde”. A película foi um sucesso mundial. Sebastião França foi entrevistá-lo e ele, simpático, respondeu a todas as perguntas. Mesmo que não tivesse sido pautado, Alberto Dines mandou pagar os cem dólares. Em 1970, voltou à Espanha e realizu “Tristana”, com Fernando Rey e sua nova musa, Catherine Deneuve. Em 1972, emplacou “O Discreto Charme da Burguesia”, de novo com Fernando Rey e sem Catherine, que não se interessou pelo Buñuel, preferiu o Marcello Mastroianni, com quem teve uma filha. A última pauta que Sebastião recebeu, antes de concluir o curso, foi um pedido de entrevista com Friedrich Dürrenmatt, dramaturgo suíço, que havia escrito “A Visita da Velha Senhora”. O filme, baseado na obra de Dürrenmatt, chamado “A Visita”, com Ingrid Bergmann e Anthony Quinn, iria estrear no Brasil. Sebastião sabia que o dramaturgo era suíço, mas não tinha nem ideia de onde morava. Foi mais uma vez ao Le Monde, o editor de cultura, que já era seu chapa, falou que ele morava em Berna. Sebastião naquela noite descobriu de qual gare saia o trem para a citada cidade. Foi na estação, se identificou como correspondente e sacou as passagens de ida e volta. O JB tinha conta corrente na ferrovia francesa. Fez baldeação em Genebra e chegou à Berna de manhã cedo. Foi forrar o estômago e esperou até as dez da manhã para telefonar, tinha descoberto o número na lista telefônica da cidade. O próprio Dürrenmatt atendeu a ligação e falando em francês os dois se acertaram. Dürrenmatt disse que Sebastião, por ter viajado a noite inteira, se hospedasse no hotel na frente da estação, para descansar, e disse que era para anotarem o valor da conta que ela pagava depois. Podia também almoçar às suas expensas. Continue lendo

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Cartão postal

Nude French|1905

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Peso inferior ao que consta na embalagem

1. Uma empresa que venda sardinha em lata estava oferecendo aos consumidores, latinhas de sardinha, com menos sardinhas e mais óleo, com evidente vício no produto e na oferta;

2. Os consumidores perceberam e denunciaram o fato para o Ministério Público do Rio Grande do Sul;

3. A questão foi parar na Justiça e constatou-se que o peso inscrito na embalagem era inferior ao peso real, com perda da qualidade do produto, caracterizando-se crime contra os consumidores;

4. Maquiar produtos, reduzir a quantidade e a qualidade e, obviamente, sem a redução de preços ou sem informar aos consumidores – é ilegal e merece uma indenização em favor dos consumidores;

5. Em 2018, a empresa de sardinhas enlatadas foi condenada por danos morais coletivos em 100 mil reais e teve que publicar em grandes jornais de circulação a conclusão da sentença que a condenou.

6. Por qual razão os supermercados ou estabelecimentos comerciais não tem balanças para que se confira se os produtos realmente pesam o que estampam nas suas embalagens, em balanças regularmente aferidas e disponíveis?

Fonte aqui!

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O senador bolsonarista do dinheiro nas nádegas e as tentativas no Senado de abafar o indefensável

É lamentável, ainda que não cause surpresa, as tentativas de senadores para defender o colega Chico Rodrigues, mas sem tocar no ponto que realmente importa, seu flagrante policial com dinheiro entre as nádegas, que só pode ser dinheiro público roubado ou então o nobre parlamentar encontrou uma forma excêntrica demais de substituir o uso da carteira.

Na tentativa de abafar o caso sem tocar na situação de um político pego pela polícia metendo a mão em verbas de emergência destinadas a uma pandemia que já matou mais de 150 mil brasileiros, colegas seus fazem críticas à decisão de Luís Roberto Barroso da suspensão do mandato, alegando que isso fere a independência entre os poderes. De uma suja ladroagem, vejam só, faz-se um debate institucional.

Ora, parece claro que a decisão do ministro Barroso foi tomada porque se fosse depender do Senado não haveria nenhuma providência para conter os arroubos de Rodrigues. A classe política fez do Congresso Nacional um clube exclusivo, com Câmara e Senado defendendo seus integrantes mesmo quando são descobertas escandalosas barbaridades. Nas duas casas domina o mais baixo espírito corporativista, além de uma grave falta de empenho quanto aos problemas nacionais.

Foi por causa dessa constante prevaricação dos parlamentares que o STF avançou sobre os sérios problemas dos esquemas políticos por detrás das chamadas “fake news”, com os grupos montados para atacar adversários, espalhar calúnias e difamações e acossar as pessoas nas redes sociais. Como foi descoberto depois da abertura do inquérito no STF, tem inclusive lavagem de dinheiro neste esquema nefasto, que até deu sossego aos internautas decentes depois de prisões e a derrubada de páginas que promoviam absurdos nas redes sociais.

É o que ocorre com a suspensão do senador Chico Rodrigues, que não teria sido contido e estaria na ativa até agora se dependesse do Senado. Já existe uma sórdida maquinação entre senadores para esta denúncia ter o andamento de tantas outras, que são roladas com vagareza até que caiam no esquecimento. Mas será difícil fazer esta manipulação, não só pela desmoralização da imagem de uma instituição que já não vai nada bem perante a opinião pública, mas porque este é um caso em que as provas abundam.

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Playboy|1960

196004_Linda_Gamble_08-678x10241960|Linda Gamble. Playboy Centerfold

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Marguerite. © IShotMyself

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A entrevista de Simone de Beauvoir e outras histórias de Sebastião – IV

Se a vida do Sebastião estava boa, a do JB estava terrível. No dia 13 de dezembro, o Costa e Silva editou o AI-5. No dia 14, o JB soltou a mais antológica das capas de um jornal brasileiro em todos os tempos. Para eventuais curiosos, comparecer no site Jornal do Brasil Acervo Digital, digitar a data de 14/12/1968 e ler. Na redação do JB, na manhã do dia 14, as coisas estavam estranhamente calmas. Na hora do almoço, chegaram dezenas de caminhões do Exército, o batalhão invadiu, sob as ordens dum coronel, a redação. O coronel tinha uma lista em ordem alfabética e ia chamando um a um pelo nome. O sujeito se identificava e era imediatamente algemado. O primeiro da lista foi Alberto Dines. O segundo, Antônio Callado. Chamaram mais de trinta e todos foram presos. No dia 24 de dezembro, soltaram metade. No dia 31 de dezembro, soltaram a outra metade. Só Dines, provavelmente por ser judeu, e Callado, por alguma antipatia dum general, ficaram presos no Natal e no Réveillon. Só seriam libertados em meados de janeiro de 1969. O Callado saiu alguns dias antes do Dines. Os coronéis permaneceriam por muito tempo dentro da redação. Com seus lápis vermelhos, censuravam tudo o que não gostavam. Cada redator tinha que reescrever umas cinco vezes cada matéria. Algumas eram vetadas e nem com várias outras redações passavam. Até no caderno B a censura prévia corria solta. Nesta época, o Sebastião descobriu o Chico Buarque de Hollanda em Paris, fez uma reportagem e mandou. A matéria foi integralmente vetada por um coronel. O editor do caderno B, todo encagaçado, mandou um telex para a Sucursal de Paris avisando que Chico, Caetano, Gil e Geraldo Vandré estavam no index. Não era para mandar nada envolvendo o nome deles.  

Uma manhã, o Sebastião chegou para trabalhar no JB, pegou o Le Monde e leu na capa: a mais famosa galeria de arte de Paris iria trazer dezenas de quadros da mais recente produção de Salvador Dalí. Sebastião pensou logo nos cem dólares que ganharia. Horas depois, chegou o esperado telex: o editor do caderno B queria ampla reportagem e se possível uma entrevista exclusiva com o Dalí. O editor tinha ficado educado depois de vários esporros do Dines. As coisas, infelizmente, não iriam sair como o Sebastião imaginava.

Sebastião se apresentou na famosa galeria de arte e pediu uma credencial de imprensa para a vernissage. Negativo, credenciais de imprensa eram apenas para os cinco maiores críticos dos principais jornais de Paris. Nem o correspondente do The Times tinha conseguido uma. Não se dando por vencido, pediu um convite. Negaram de novo. Disseram que os convites eram exclusivos para nobres falidos, banqueiros, capitães de indústria e a alta burguesia de Paris, categorias em que o nosso valoroso repórter não se enquadrava. Os primeiros seriam convidados para dar um charme na vernissage, os demais para preencherem volumosos cheques pelos quadros que comprariam.

Entristecido e lamentando os cem dólares que deixaria de ganhar, Sebastião foi para o Instituto de Cinema sem ao menos almoçar. Na hora do recreio, enquanto mastigava um croissant, comentou com os colegas a lástima que tinha sido a sua manhã. Um cambojano, colega de turma do Sebastião, disse que não havia problema algum. Trabalhava nas horas vagas numa empresa de eventos que serviria o champagne e os canapés na mostra do Dalí. Como era coisa grande, estavam contratando extras. Prontificou-se a levar o Sebastião na manhã seguinte para fazer o contrato e tirar as medidas para o uniforme. Sebastião ergueu os braços para o céu e se lembrou da conferência do Ionesco.

Salvador Dalí adorava dar entrevistas. Homossexual confesso, estava no terceiro casamento. Com a segunda mulher, que era irmã da primeira, teve um filho. A terceira e última mulher era Gala, uma russa refugiada do comunismo, que se chamava, na verdade, Elena Ivanovna Diakonova, quinze anos mais velha que Salvador Dalí. As más línguas diziam que Dalí e Gala jamais tiveram uma relação sexual. As boas diziam que disputavam os mesmos garotos de programa. Quando Gala morreu, Dalí se encerrou no seu castelo em Figueres, sua cidadezinha natal, próxima a Barcelona, e só saiu para ir ao cemitério.

Não pela opção sexual, que isso não tem nada a ver com o caráter das pessoas, mas Dalí deixava muito a desejar sobre as atitudes que tomou na vida. Quem conta é Luís Buñuel, nas suas memórias. Filhos de famílias abastadas, o aragonês Buñuel, o catalão Dalí e o andaluz Lorca foram mandados pelos seus pais para um famoso Ginásio em Madri, dirigido por severos padres jesuítas, em regime de internato. Na primeira semana de aulas, ficaram amicíssimos e mexeram os pauzinhos para ficarem no mesmo dormitório. Na primeira noite, Buñuel, que era, na época, confessadamente homofóbico, descobriu que Dalí e Lorca tinham um caso. Começou a fazer um escândalo. Dalí se deitou na cama pôs o travesseiro no rosto e começou a chorar. Lorca, o mais centrado dos três, mandou Buñuel e Dalí pararem com a confusão. Se alguém ouvisse e contasse para os padres, seria expulsão na certa. Buñuel parou de gritar e Dalí de chorar. Mais calmos, os três confabularam baixinho a madrugada inteira. Chegaram a um acordo: Buñuel, depois da última aula do dia, sairia pra rua, o que era permitido pelos religiosos, e voltaria para o dormitório pouco antes das onze da noite, que era o horário estabelecido pela direção do ginásio para o retorno. Foi nessa época, perambulando pelas ruas de Madri, que Buñuel se viciaria em charutos, álcool e bordéis, não necessariamente nesta ordem, pelo resto da sua existência.

Os três deram certo na vida. Foram os principais expoentes da famosa Geração de 27 das artes espanholas. Buñuel como cineasta, Dalí como pintor e Lorca como poeta e dramaturgo. O primeiro filme de Buñuel chamava-se “Um Cão Andaluz”, roteiro a quatro mãos com Salvador Dalí, tido pela crítica como a película fundadora do cinema surrealista. Com o sucesso do filme, foi viver em Paris. Dalí foi atrás e Lorca continuou em Granada, cidade onde nasceu. Chegando em Paris, Dalí foi procurar Pablo Picasso. Disse, na apresentação, que tinha ido lhe visitar antes de ir ao Louvre. Picasso disse: “Fez bem em vir aqui antes!” Dalí lhe mostrou uns quadros e Picasso ficou vivamente impressionado com a arte do conterrâneo e lhe deu um empurrão na carreira, apresentando-o para as pessoas certas em Paris. Com a eclosão da Guerra Civil espanhola, Buñuel e Lorca tomaram o partido dos republicanos. Dalí, que se dizia comunista ou anarquista, conforme o interlocutor, ficou em cima do muro. Antes da guerra civil terminar, Lorca foi fuzilado pelas tropas de Franco, em Granada. As versões sobre a morte de Lorca variam: uma corrente defende que Lorca foi fuzilado por ser tido como anarquista ou comunista. Outros, dizem que não era verdade. Lorca nunca pegou em armas, era apenas um democrata contra a monarquia, e, eventualmente, escondeu um ou outro amigo anarquista ou comunista. Outra corrente afirma que Lorca foi fuzilado em razão da homossexualidade. Algumas pessoas negam. Os franquistas, pelo menos durante a guerra, não se importavam com isso, alguns soldados e oficiais de suas tropas eram gays. Uma terceira versão, com menos adeptos, sustenta que foi um crime passional. Um dos comandantes da falange de Franco em Granada teria se apaixonado por Lorca. Não correspondido, mandou fuzilar o poeta. No final da guerra, Dalí voltou à Espanha e virou garoto propaganda do franquismo, para desespero de André Breton, principal expoente do surrealismo. Com a invasão da França pelos nazistas, Buñuel fugiu para os Estados Unidos. Já era casado. Conseguiu um trabalho muito mal remunerado no MoMa (Museu de Arte Moderna de Nova Iorque). Quando ficou sabendo que Lorca havia sido fuzilado, Dalí não verteu uma lágrima e ainda disse: “Quem mandou se meter com os vermelhos!”

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