Fraga

Bons tempos das fogueiras de São João,
não dessa ardendo ao nosso redor 24h,
acesa por esse deprimente da república.

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Tempo – Terceira idade

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Monica Bellucci. ©Getty Images

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Padrelladas

Fui testemunha, há algumas décadas, de um espetáculo surpreendente e trágico ocorrido no município de Serro Azul. O céu escureceu no meio da tarde, encoberto pela nuvem de gafanhotos que caiam sobre as plantações.

Devoravam tudo numa velocidade espantosa, tanto que em pouco tempo já não se via nenhuma folha verde, apenas tocos do que fora até um momento atrás arbustos frondosos. A população, hipnotizada, olhava aquela devastação sabendo que nada havia a ser feito para salvar suas colheitas. Muitos choravam em silêncio.

Assim como chegaram, aqueles insetos desapareceram. Diz o povo que se haviam enterrado para procriar e dali alguns anos voltariam a atacar, mas nunca mais soubemos deles.

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Só não está louco quem interrompeu o isolamento

Mesmo sem fazer quase nada, a não ser trabalhar, falta energia para fazer qualquer coisa

Ao ouvir um colega jornalista contar sobre sua quarentena, percebi que a minha tem sido um fracasso. Assim, no particípio passado, porque continuo trancada em casa e lá se vão mais de cem dias. Cem dias de solidão sem o realismo fantástico de García Márquez, apenas com os sonhos que não fazem o menor sentido, uma epidemia dentro da pandemia. Todo mundo tem sonhado. Os meus são quase sempre uma mistura de Salvador Dalí com “Matrix” e uma pitada de “O Iluminado”. Não sei se são efeito do confinamento, das muitas horas de noticiários, da falta de vento na cara. Não recomendo.

Psicólogos dizem que precisamos de rotina pra não enlouquecer de saudade da velha rotina. O meu colega parece uma fábrica japonesa. Às 10h30 da manhã, quando ainda estou de pijama, decidindo se tomo café da manhã ou espero pelo almoço, ele já escreveu algumas páginas de um livro de ficção. Depois, o workaholic sai para andar com o cachorro, lê durante duas horas tomando um solzinho para garantir a vitamina D, almoça, parte para o segundo turno de trabalho e escreve reportagens. Não sei se tenho inveja ou raiva de gente assim.

Ele não contou, mas certamente entrou em todas as ondas que apareceram desde que nos trancamos em casa. Primeiro veio a ioga. Na sequência, exercícios de respiração, corda, cama elástica, live, Zoom, bolo, pão e agora chegamos ao momento tie dye, aquela técnica de pintar roupas, que só fica bonita quando pagamos uma fortuna numa loja. Feito em casa, por gente sem talento, o visual é de um mendigo que tropeçou numa lata de tinta.

Não aguento mais ficar em casa. Mesmo sem fazer quase nada, a não ser trabalhar, falta energia para fazer qualquer coisa. Tenho a impressão que só não ficou louco quem interrompeu o isolamento. Vejo fotos e imagens de gente nas praias, lotando a calçadas de bares, andando para lá e para cá sem máscara, enquanto cravamos mais de um milhão de casos da Covid-19 e 1.364 mortes nas últimas 24 horas. Quem mesmo está louco?

Publicado em Mariliz Pereira Jorge - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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Carla Zambelli

A deputada Carla Zambelli é a pensadora que a direita merece, aliás com uma grande vantagem sobre aquele mestre-cuca das gororobas da direita brasileira, o guru de Jair Bolsonaro. A dona Zambelli tem até dons proféticos. É conhecida como a Mãe Dinah do governo Bolsonaro, por causa da sua capacidade de prever operações da Polícia Federal.

Mas o que interessa agora é a filósofa Zambelli. Em entrevista à rádio Jovem Pan, a deputada foi de uma incrível precisão ao definir a razão de não se decepcionar com Jair Bolsonaro: é porque não tem nenhuma expectativa em relação a ele. Muito simples, não é mesmo? Esta motivação serve como explicação para todos que ainda mantêm a fidelidade ao presidente, mesmo depois de tanta coisa ter sido descoberta sobre ele, quanto à impressionante desonestidade e a incorrigível incompetência.

A deputada revelou sua sábia conclusão a partir de uma comparação entre Bolsonaro e Sergio Moro. Veja que ela disse à Jovem Pan: “O Moro era realmente um herói para a gente, a gente não via defeitos nele. Quanto mais alto você coloca a pessoa na expectativa, maior é a queda, né? Com o Bolsonaro é diferente. O Bolsonaro a gente sabe dos defeitos dele, então a gente não corre esse mesmo risco de se decepcionar”.

Ora, vejam só: a gente esquentando a cabeça para tentar compreender o motivo de alguns idiotas ainda acreditarem em Bolsonaro e a resposta era muito simples. Basta não esperar dele qualidade alguma. A sábia deputada acaba de tomar o posto do engruvinhado guru da Virgínia. Que Olavo, qual nada. Carla Zambelli é que tem razão.

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Jornal do Cínico

Do Filósofo do Centro Cínico

Os curitibanos também acreditaram que o coronga não passava de uma gripezinha – e como são diferentes dos brasileiros do resto do país, cantaram sem parar o clássico “tô nem aí”. Agora que se ouve vírus entoar o “quando eu estou aqui, vivendo este momento lindo…”, o povo pede proteção ao prefeito e ao presidente da associação comercial.

Publicado em Roberto José da Silva - Blog do Zé Beto | Com a tag , | Deixar um comentário
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Carta de recomendação para Weintraub ao Banco Mundial

Não atentem para quem o tachou de pior ministro da Educação da história

Caro Banco Mundial, pela presente carta, declaro que o sr. Abraham Weintraub trabalhou durante mais de um ano na empresa Brasil. Adianto que recomendo veementemente sua contratação, e reitero pra que o façam o mais rápido possível.

Peço que não atentem para o noticiário maldoso, que o tachou de o pior ministro da Educação da história, visto que esse cargo era de fachada. Weintraub trabalhava, em realidade, no Ministério do Vexame, onde se destacou pela inventividade e dedicação, fazendo muito mais do que lhe era pedido.

O ministro conseguiu superar cada escândalo de corrupção do governo com uma estupidez espetacular ou uma gafe de proporções homéricas. Não estou falando de um mero deslize na norma culta, um erro de cálculo, não estou falando de confundir autor tcheco com prato persa, estou falando na invalidação do Enem de milhares de estudantes, estou falando de nomear criacionista pra presidência da
Capes, estou falando de querer prender ministro do STF.

 E isso sempre em datas estratégicas: quando o governo iria divulgar o resultado medíocre do PIB, por exemplo, ele conseguiu criar uma crise diplomática com a China, nosso principal parceiro comercial, com um tuíte racista. Resultado: ninguém mais falou do “Pibinho”. Coisa de gênio.

Caso estejam trabalhando com energia renovável, vale lembrar que sua boca é um manancial, levando em conta que Bill Gates já transformou fezes em combustível. Bastaria conectar seus lábios a um gerador para abastecer toda a estrutura do banco. Caso precisem que ele continue falando, basta microfonar o seu traseiro, que fará um trabalho muito melhor do que a boca.

O ministro ainda pode ajudar as pessoas a respeitarem a quarentena. O sr. Weintraub toca gaita que nem sua cara. Um breve concerto ao ar livre fará com que todos fiquem em casa. A partir do momento em que começar a frequentar o escritório, muitos funcionários vão optar pelo home office.

O ministro tem ampla experiência com máquinas, sobretudo robôs —que lamentaram muito sua partida e inclusive subiram uma hashtag no Twitter. Nunca um ministro foi tão querido pela população androide.

Concluindo, temos certeza que Weintraub é perfeito pro cargo, seja ele qual for, desde que não precise trabalhar de fato. Ou ler. Ou escrever. Ou interagir com pessoas. Espero que isso não seja um impedimento.

Caso a indicação seja negada, pedimos, por favor, que não o mandem de volta, afinal os presídios estão lotados.

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Vista grossa e continência

É reconfortante saber que Bolsonaro se comoveu com a morte de um cidadão brasileiro, a ponto de requisitar avião, gasolina e tripulação oficiais e voar 935 km para homenageá-lo. Já poderia ter feito o mesmo com pelo menos um dos 52 mil brasileiros mortos pela Covid-19 e sem deslocamento tão dispendioso. Bastaria acionar a equipe que filma suas lives em palácio. Mas não o fez, talvez porque tais mortos —de quem não se sabe quantos são homens ou mulheres, brancos ou pretos, velhos ou jovens— sejam, para ele, brasileiros de 2ª classe.

Esta é uma das características menos percebidas de Bolsonaro: sua aberta adesão aos assuntos da caserna, em detrimento dos interesses de um contingente que deve compor 90 por cento da população —o nosso, o dos reles paisanos.

É assim que, enquanto seu governo se dedica a arrasar a educação, a saúde, o meio ambiente, os indígenas, o patrimônio histórico, a cultura e as relações internacionais, os militares —que, no passado, costumavam ser atentos a tais problemas— não têm do que se queixar.

Não são só os 3.000 fardados infiltrados no Executivo, a maioria em cargos para os quais são tão preparados quanto um civil para lubrificar canhão. São também os soldos bem protegidos pelas reformas econômicas, os quartéis nos trinques, as espadas tinindo nas recepções. Em troca disso, Bolsonaro só lhes exige vista grossa e continência.

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Escafedente ou escafedido

JAIR BOLSONARO deu um tempo antes de nomear o secretário Renato Feder ministro da Educação. Até os loucos têm momentos de lucidez e foi num desses que ele percebeu que o Feder vai chegar causando. Causando encrenca, inspirando trocadilhos infames com o nome.

Já correm na rede os absurdos extraídos do livro que o moço escreveu sobre a educação brasileira. Tipo: os alunos de escolas públicas são alfabetizados por professores analfabetos; o universitário que não serve para outra coisa estuda História e Pedagogia.

Ao contrário dos antecessores, o ministro Feder chegaria com o alvo na frente e nas costas. Volta ao Paraná e na falta de alguém pior para Brasília, aqui permanecerá. Porque no Paraná ele não faz diferença. O Paraná, como o rio do poeta, corre bem ou mal sem secretário original.

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Fraga

Além do Weintraub e da mulher do Queiroz,
o Brasil tem outros milhões de foragidos:
gente que todo dia foge do isolamento social.

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Mural da História

6 de janeiro|2011

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A moda tem dois lados

Clarah Averbuck – © Celso Tavares

A moda tem dois lados. Não, acho que dois é pouco. Deve ter mais, bem mais, mas eu não conheço o assunto profundamente e acho que foi uma boa maneira de começar. Vamos de novo, então.

A moda tem dois lados: a arte e a escravidão. A arte quando vemos todas aquelas belas criações, explosões de cores e criatividade e uma inspiraçãozinha roubada da rua, que ninguém inventa do nada, umas boas idéias e todos aqueles tecidos e aqueles saltos, uma perna atrás da outra, um, dois, flashes, todos aqueles paetês – porque eu gosto de paetês, não sei se nesta estação existem paetês, mas dane-se, porque eu uso paetês quando quero, não quando mandam.

Quando mandam é a escravidão, a parte ruim. Pode, não pode. In, out. Peso, cabelo, maquiagem.

Não, obrigada, eu sei me vestir, ninguém precisa me dizer o que fazer. Estilo e moda, na minha cabecinha de roqueira retrógrada, são duas coisas bem diferentes. Às vezes andam juntas, e é quando funciona. Afinal, os criadores se chamam estilistas, certo? Não modistas. Estilistas. Estilo não sai de moda. Eu acho. Eu acho também que chamaram a pessoa errada para escrever sobre o assunto, mas agora é tarde.

É que eu tenho uma concepção sobre estilo que não combina muito bem com esse negócio de moda por estação. Estilo é algo que engloba a sua cultura, sua personalidade e o seu modo de vida refletidos na maneira como você se veste, e sua cultura e sua personalidade não mudam de seis em seis meses, certo? Isso se você tem uma. Como, vá lá, os hippies, que são péssimos, mas vamos admitir que tinham estilo. Isso lá na época deles, porque hippie fora de época não dá. Não me entenda mal, não quero dizer que uma vez hippie, hippie para sempre. Claro que as coisas passam, mas não tão rápido quanto ditam: elas passam quando passam. Vamos mudar de exemplo, isso tudo está muito confuso. Veja os punks; quando o estilo segue um movimento, um acontecimento cultural e histórico, as coisas fazem sentido.

Mas quando alguém decide, assim, out of the blue, que é hora de usar as polainas dos anos 80, aí eu já não entendo nada. Como não entendo chegar em uma loja e escutar “olha, essa aqui está saindo muito”. Moça, se está saindo muito eu não quero! Por que eu vou querer algo que todo mundo tem? Não, obrigada.

No mundo onde peças exclusivas custam uma grana absurda, prefiro inventar minhas roupas aqui em casa, que é mais barato e menos perigoso, além de muito mais divertido. Porque aqui em casa, a moda só tem um lado: o meu. E é assim que vai ser até o fim dos meus dias, amém.

*Clarah Averbuck, escritora, gosta de estampa de oncinha, tachinhas e olheiras (Somewhere over the rainbow).

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© Tomas Rucker

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O livro que ensina mães a não lerem livros

“Bebês e Suas Mães”, de Winnicott, mostra importância de seguir a intuição materna

“Quando vejo alguém que claramente está prestes a ter um bebê, sou tomado pela mesma sensação que tinha durante a guerra, quando me encontrava com pilotos da Força Aérea[…]”. Essa é uma das muitas afirmações que comprovam como o famoso psicanalista e pediatra Donald W. Winnicott, referência mundial em questões da infância, conseguia dimensionar a mudança ocasionada pela maternidade na vida de uma mulher.

“Bebês e Suas Mães”, por exemplo, é um livro que todas as grávidas e mães (e qualquer pessoa interessada no despertar da vida humana, em criar crianças e em psicanálise) deveriam ler. E, o mais curioso, trata-se de uma obra que tem como tema central a seguinte lei: não leia livros, não escute os outros, toda genitora bem conectada ao seu filho sabe o que deve ser feito.

O livro teve origem nas emissões da rádio BBC, em que Winnicott tratava de questões fundamentais da primeira infância. Em boa parte das suas falas, se dirige a enfermeiras que se metiam demais na vida das puérperas. O autor chega a dizer, décadas antes do surgimento do termo “violência obstétrica”, que nos hospitais, ou mesmo nos partos em casa, eram cometidas atrocidades com as mulheres, o que dificultava tremendamente a relação delas com seus filhos.

Ele tem resposta para tudo. Até para as zelosas e culpadas, que tratam seus reizinhos como divindades absolutas e temem que eles se tornem jovens com dificuldade para frustrações, o psicanalista diz: “Não é só depois de ser Deus que os seres humanos encontram a humildade própria da individualidade humana?”.

Se mesmo depois de Winnicott dizer que não precisa ler livros, você achar importante ler este, que é um dos melhores sobre o tema, ficam aqui alguns dos fabulosos ensinamentos (só pra te dar um gostinho):

O bebê necessita de um ambiente suficientemente bom para que seu crescimento seja contínuo. Falhas no ambiente nesse estágio acarretam problemas psíquicos que podem durar por toda a vida.

A mãe sabe o que fazer com o seu rebento porque está identificada com ele e também porque já foi uma recém-nascida (e guarda essa lembrança em seu inconsciente). O inconsciente do bebê é o inconsciente da mãe.

O bebê se sustenta psiquicamente através do suporte egoico materno. O bebê se comunica através do seu desamparo. O bebê pensa no seio da mãe e o seio da mãe aparece; ele então acha que criou uma demanda a partir do seu desejo e aprende a confiar na mãe e, posteriormente, no mundo e na vida.

Quando o bebê bate ou chuta a mãe, ele precisa compreender que ela sobrevive à sua violência. A mãe vai falhar o tempo todo e reparar essa falha. Isso é humano e suficientemente bom. A falta é importante para que a criança saiba fantasiar. Mas, se a reparação demorar a acontecer, a intensidade do pânico da criança na fase da dependência absoluta (sensação de desintegração e ansiedade desmedida) pode ser traumática.

Mães, apostem em seu bom senso e em sua capacidade de amar! Isso deveria bastar.

Publicado em Tati Bernardi - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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