Todo mundo tem um bolsonarista para chamar de seu; eu tenho a minha

Quantos, dos estupefacientes 33% da população fiéis a Messias, continuarão confiantes no governo?

Sergio Moro caiu atirando, munido de um arsenal de provas que promete liberar a conta-gotas, para sangrar o presidente.

Diante das acusações de interferência na Polícia Federal e do adeus do ex-juiz de Curitiba, quantos, dos estupefacientes 33% da população fiéis a Messias, continuarão confiantes no governo?

Todo mundo tem um bolsonarista para chamar de seu. Eu tenho a minha.

P. desenvolveu um ódio incurável ao PT porque acompanhou de perto, por meio do marido engenheiro do setor de energia, a feérica escalada de corrupção dos anos Lula e Dilma. O cônjuge participou de leilões de obras públicas e, sem se corromper, viu o “quem dá mais” levar os contratos. Depois da recessão agravada pela nova matriz econômica, ele amargou o desemprego, acirrando a ojeriza da mulher pelo partido e pela esquerda.

O casal sofreu o achatamento de renda enfrentado por grande parte da classe média e percebeu, na ascensão da chapa Bolso/Guedes, a aliança sonhada entre a repugna que sentia da política e a promessa do menos Brasília e mais Brasil.

P. se engajou nas correntes midiáticas de Jair, repostando fake news no Zap, no Twitter, no Face e no Insta com a ira dos possuídos. Movida a ressentimento, ela acreditou no discurso antissistema da extrema direita, que prometia tanto a concertação do Congresso, do Senado e do Supremo quanto a forca aos comunistas, aos artistas mamadores das tetas e aos assaltantes que a atormentavam pelas esquinas do Leblon.

A eleição de Bolsonaro não diminuiu a frequência de suas postagens. Dois dias depois da vitória, P. repassou uma publicação com a foto de Marcelo Adnet, emoldurado por letras garrafais, acusando o ator de ser o dono da voz que imitara a do então candidato, supostamente gravada no hospital onde ele se recuperava da facada de Adélio. “VAMOS BOICOTAR MARCELO ADNET!”, incitava o post.

Eu convivia com P. havia mais de 20 anos. A publicação mentirosa, pedindo a cabeça de um colega que admiro, bem como a ciência de que a raiva orquestrada tinha como alvo o setor ao qual pertenço, me fez escrever uma mensagem no seu perfil.

“P.”, comentei, “conheço o Adnet, a dublagem de Jair não foi feita por ele. Qual o sentido de perseguir um ator jovem e talentoso? Vocês ganharam a eleição. Por que alimentar o caça às bruxas, agora que o pleito terminou?”.

Ela não me respondeu. Dias depois, repassou mais uma fake, apontando o ex-deputado Jean Wyllys como mentor da tentativa de assassinato de Messias. De pronto, enviei nos comentários o desmentido da Agência Lupa, que faz checagem de notícias fraudulentas.

P. me cancelou no Face e nunca mais nos falamos.

O homem é um animal gregário. Minhas reprimendas roubavam de P. o prazer do pertencimento. Ela se transformara numa das Fúrias que, junto a tantas outras, havia tirado o PT do poder e entronizado o justiceiro. A eleição era só o começo de uma longa vigília. P. movera o tabuleiro graças a uma corrente de engajamento que dera sentido à sua vida e da qual não queria mais se separar.

Desde o meu banimento do seu perfil, pergunto a amigos comuns sobre a resiliência de P., mas nada parece demovê-la do culto ao líder.

O despreparo de Weintraub, o delírio de Goebbels do ex-secretário da Cultura, a vizinhança do Vivendas da Barra, os ataques à China, o filé-mignon dos filhos, as queimadas da Amazônia, o menosprezo do vírus, o boicote ao confinamento, a demissão de Mandetta, o comício antidemocrático do dia do Exército e a aproximação com o velho centrão, nada abalou a sua fé.

Nos raros momentos de desconforto com Jair, havia sempre o ex-ministro da Justiça e o ainda ministro da Economia para reassegurar a idoneidade do governo e o futuro liberal do país.

P. era a alma dos 33%.

Desde a ruidosa renúncia de Sergio Moro, no entanto, sua rede social emudeceu. Dessa vez, as denúncias não partiam da Globo comunista ou da Folha esquerdista, mas do herói da Lava Jato que, não satisfeito, ainda afirmava que o PT, mesmo sob investigação, jamais interferira no trabalho da Polícia Federal.

Difícil saber se P., convencida pelas nuvens bolsonaristas, verá no ídolo um traidor, ou se, em meio à manada, dará as costas para o mito.

E daí? Daí que P., mais uma vez, tem o futuro do país nas mãos.

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Sabujões e intrujões

DEPOIS DE ANO e pico na fase ideológica, Jair Bolsonaro entra na fase fisiológica e passa a distribuir cargos ao Centrão para montar blindagem contra o impeachment. O ideológicos resistem e foram ameaçados de demissão pelo chefe. Será a troca dos sabujões pelos intrujões. Sabujão é o cão fiel, que apanha e lambe a mão do dono. Intrujão é o vigarista, puro e simples – como Valdemar Costa Neto, deputado cassado, condenado, aprisionado e dono do PL.

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O drama do coronavírus no país de um presidente negacionista

É muito triste o desespero que tomou conta de Manaus pela impotência em deter a mortandade causada pelo coronavírus. O prefeito da capital amazonense, Arthur Virgílio Neto (PSDB), disse o seguinte, em entrevista publicada nesta sexta-feira em O Globo: “A gente está vendo cenas de filme de terror”.

O cenário dramático se repete em vários estados. O Pará entrou em estado de alerta depois de o número de mortes ter quadruplicado em apenas uma semana. Somente no dia de ontem foram registradas 68 vítimas fatais do Covid-19. O total de mortes até agora é de 244. Os hospitais do estado estão no limite. Até o governador foi infectado pelo vírus.

O Piauí fechou suas fronteiras com o Ceará, estado que registra maior índice de casos confirmados de Covid-19 no Nordeste. O governo decretou calamidade e criou barreiras sanitárias nas divisas com outros estados. Os piauienses estão em quarentena oficial até 21 de maio.

No Maranhão houve uma corrida aos supermercados depois do anúncio de lockdown no próximo dia 5. A capital São Luís e mais três municípios maranhenses terão todas as atividades suspensas, mantendo aberto apenas o que é essencial.

O desespero faz sentido. Não se pode prever exatamente como a situação do país estará nos próximos dias, mas não resta dúvida de que o pior está por vir. Quando até um sujeito completamente evasivo como este novo ministro da Saúde diz que o número de mortos pode chegar a mil por dia, então é melhor se precaver e não levar a sério de forma alguma o tresloucado presidente Jair Bolsonaro em seus apelos para que se rompa de vez o isolamento social.

Em Manaus, o prefeito Arthur Virgílio Neto disse que na última segunda-feira houve o enterro de 142 pessoas, das quais das quais 28% morreram em casa. É quase um terço.

“Não sei se essas pessoas morreram porque se automedicaram, não tiveram acesso a atendimento ou se porque acharam que, como disse o presidente, era só uma gripezinha”, ele disse, apontando a influência da irresponsabilidade de Bolsonaro no quadro aterrador — “sinistro mesmo”, ele diz — na sua cidade.

Arthur Virgílio disse também que falta o auxílio do governo federal. A capital amazonense está racionando até remédios. Até agora não apareceu nenhuma ajuda do governo Bolsonaro. Ele se queixa também da ausência do Ministério da Saúde, o que não acontecia na época de Luiz Henrique Mandeta, que segundo o prefeito “se fazia presente”.

Em meio a uma dramática pandemia, estados e municípios brasileiros contam apenas com seus próprios meios, enquanto o presidente Jair Bolsonaro, que deveria comandar um esforço nacional no combate ao coronavírus, faz sua bagunça política e tenta jogar a culpa pela crise exatamente sobre os dirigentes públicos que estão mais empenhados na batalha sanitária.

Com a previsão de um agravamento dessa doença e diante de um Governo Federal ausente só vai restar a prefeitos e governadores apelarem pela ajuda de organismos internacionais, como a ONU, ou mesmo para governos estrangeiros.

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Ridendo castigat mores

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Elas

Jessica Chastain. Pirelli Calendar|© Peter Lindbergh

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Pergunte ao Coronavírus

Num momento de ansiedade e incertezas, multiplicam-se as previsões e os cenários sobre o mundo pós-pandemia. Mas todos esses cenários, creio, dependem da evolução da mesma variável que nos pôs nesta situação tão difícil: o coronavírus.

Uma das minhas referências nas previsões sobre o coronavírus é Bill Gates. Ele dedica parte de sua fortuna ao financiamento de projetos de saúde pública. Precisa ser bem informado, no mínimo, para não jogar dinheiro fora. Em curto artigo sobre as perspectivas, Gates acha que uma vacina eficaz contra o coronavírus estará pronta até 2021. Os caminhos da pesquisa indicam duas direções. Uma delas é a vacina tradicional, que utiliza um vírus desativado. A outra, aproveitando os avanços da genética, poderia informar as células para que bloqueiem o vírus.

Existe uma possibilidade mais rápida, anunciada pelos cientistas de Oxford no jornal The New York Times. Eles acham que conseguem lançar sua vacina ainda em setembro de 2020. Fizeram experiências com seis macacos e foram bem-sucedidos. Pretendem agora experimentá-la em 5 mil pessoas e obter a licença.

Nesse cenário, o mais otimista possível, até o final do ano já estaria em circulação uma vacina eficaz contra o coronavírus. Além de algumas centenas de milhares de mortes, apenas o ano de 2020 estaria perdido.

Outra variável que Gates aborda é a dos remédios. Ele considera ter havido um subinvestimento em pesquisas de remédios antivirais, comparadas com os antibacterianos. Acho que vai se mover nesse campo. Não existe hoje uma bala de prata. Como não existiu na luta contra o HIV-aids, para o qual, finalmente, se chegou a um coquetel de drogas.

Talvez as coisas sejam mais promissoras no campo dos testes. A tendência é que evoluam, possam ser vendidos com mais facilidade e ser usados em casa. Como já o são alguns outros testes, como o de gravidez.

Gates acha que, assim como depois de 1945 foi necessário criar uma instituição internacional para garantir a paz, será também necessária uma organização internacional para combater as pandemias, novos vírus que podem vir tanto de morcegos como de pássaros. Esse desdobramento internacional não é fácil. Uma declaração da ONU de cooperação em torno de vacinas, remédios e testes não foi apoiada por EUA, Brasil e mais 12 países.

Imagino que uma das razões da reserva norte-americana seja o direito de exploração conferido pelas patentes. Suas grandes empresas investem milhões de dólares em pesquisas e, naturalmente, querem receber esse investimento de volta, com os devidos lucros.

Esse foi um grande debate travado também no período da aids, quando se questionou o respeito às patentes numa situação excepcional. O Brasil tinha razões para questionar. Adotou uma lei que garantia o coquetel gratuito aos portadores de HIV e isso custava caro ao País. O ministro da Saúde na época era o hoje senador José Serra. Ele defendeu o que me parece ter sido a posição correta de acordo com o interesse nacional.

Hoje, em plena pandemia de coronavírus e diante de outras que podem vir, o Brasil se distancia da ideia de cooperação internacional para se alinhar com os EUA, que têm interesses bem específicos. A julgar pela posição do chanceler Ernesto Araújo, estamos diante de um “comunavírus”, que tende a acentuar a influência internacional sobre os países, reduzindo sua autonomia.

É um raciocínio que se assemelha às posições do Brasil sobre o esforço internacional para atenuar os efeitos do aquecimento planetário. Assim como é difícil, hoje, prever uma nova situação sem levar em conta a trajetória da covid-19, será muito difícil também excluir a variável ambiental de qualquer cenário futuro.

Ao contrário de países como a Nova Zelândia e a Austrália, o Brasil politizou o vírus. Eles foram bem-sucedidos, assim como, de certa forma, Portugal, onde governo e oposição se uniram diante do inimigo comum.

Num dos primeiros artigos que escrevi sobre o vírus, quando ele estava circunscrito a Wuhan, na China, afirmei que para combatê-lo seria necessária uma visão nacional e solidária. Não foi isso o que aconteceu. Assim como pesou para as civilizações antigas na América ter uma visão mítica sobre os invasores, ou deve pesar no Haiti encarar com o vodu os grandes desastres naturais, o Brasil mergulhou na cegueira ideológica.

Durante muito tempo, discutiu-se se era um vírus comunista destinado a enfraquecer o governo. Da mesma forma, discutiu-se se a cloroquina era ou não um remédio de direita.

O vírus é apenas uma proteína envolvida numa capa de gordura. E a cloroquina, uma substância química usada contra malária e outras doenças.

Portanto, quando se escrever a história dessa peste no Brasil, não se pode apenas culpá-la pelos estragos que fez. O governo digeriu mal a tese da imunização pelo amplo contágio e refugiou-se nela na esperança de tocar a economia.

Se continuar se comportando com o meio ambiente com a mesma cegueira ideológica com que encara o coronavírus, os cenários do futuro, não importa quão sofisticado for o seu desenho, terão de contar com o pano de fundo de uma terra arrasada.

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O bolsonarismo na zombaria à dramática crise do coronavírus

Dentre as barbaridades do bolsonarismo sobre o coronavírus destaca-se uma idiotice dita pela deputada Carla Zambelli que em entrevista no programa Pânico, da rádio Jovem Pan, disse que quer logo ser contaminada pelo vírus. Ela disse o seguinte: “Eu queria abraçar alguém com o coronavírus pra pegar logo e tirar isso da minha cabeça”.

Embora seja uma afirmação idiota demais até para alguém da bancada do “E daí?”, do Bolsonaro, ela disse mesmo essa bobagem. Já fui conferir. Carla acredita também que tomaria a cloroquina e logo estaria livre da angústia causada pelo vírus. É sério: foi o que ela falou. Também conferi.

Bem, a deputada bolsonarista poderia resolver sua ansiedade pedindo uma audiência e dando um abraço no governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que voltou a testar positivo para a Covid-19. Witzel havia anunciado no dia 14 de abril que estava infectado pelo novo coronavírus e agora fez outro teste que deu positivo novamente.

A situação de Witzel mostra que esta doença não é tão simples como pensam os insensatos conduzidos por Bolsonaro. Imaginem a angústia — aí sim com uma aflição verdadeira — de alguém que pega este vírus e a doença não passa, como vem acontecendo com o governador e tantos outros brasileiros.

Figuras como a deputada Carla Zambelli e também os otários direitistas que repassam esse descaso do presidente do “E daí?” pelo coronavírus nas redes sociais estão na prática zombando do sofrimento de seres humanos que sofrem com uma doença que não permite nem o consolo ao paciente de ter um apoio pessoal ao lado da cama de hospital e em caso de morte não permite nem a presença de amigos e parentes no enterro.

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Febeapá!

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Ingratidão, essa quimera

O PRESIDENTE critica o ministro Alexandre de Moraes pela liminar contra a posse de Alexandre Ramagem na direção da PF. Diz que Moraes chegou ao STF por “amizade” com Michel Temer. Não foi amizade, foi gratidão. O ministro era secretário da Segurança de S. Paulo quando vazaram nudes da primeira-dama, Marcela. Conduziu a investigação em tempo recorde e sumiu com os nudes (será que contemplou “bela, recatada e do lar” em trajes de vênus calipígia?). Como prêmio, Moraes acabou nomeado ministro da Justiça por Temer, presidente e marido agradecido.

MORAES foi nomeado por gratidão, virtude que Jair Bolsonaro desconhece. Bolsonaro também é desleal na amizade, vide Bebianno, Santos Cruz, Mandetta e Moro. Deles recebeu amizade leal, que pagou com deslealdade e ingratidão. Esquece que os ministros do STF sempre foram escolhidos pela amizade ou pela gratidão dos presidentes. Alguns continuam amigos leais e gratos ao presidente; outros sentem o peso da toga e se transformam em juízes de nascença. Se amizade é problema, então que Bolsonaro mande Sérgio Moro para o STF.

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Presidente-bibelô

Notícias colhidas nos jornais nos últimos dias:  “Hospitais do Rio de Janeiro tem filas de mortos e BO por falta de médicos”.

“Amazonas tem mais mortes por Covid 19 que nove países de América do Sul”. “Com 140 enterros em 24h, Manaus bate recorde desde o início da pandemia”. “Cemitérios entram em colapso”.

“No Pará, 42% dos doentes de Covid 19 são profissionais de saúde. As condições de trabalho são péssimas, a começar pelos equipamentos de proteção individual”.

“Pernambuco registrou mais 460 diagnósticos positivos da infecção pelo coronavírus nas últimas 24h”.

“Em fase de aceleração da pandemia, o Estado de São Paulo chegou a 24.041 casos oficiais e 2.049 mortos – um aumento de 12% no número de infectados que morreram pelo coronavírus nas últimas 24h”.

“Ocupação de leitos de UTIs chegam a 100% no Ceará”. “Amazonas, Pará, Rio de Janeiro e Pernambuco estão com mais de 90% dos leitos ocupados”.

“Por falta de leitos, pacientes com Covid 19 aguardam internação em cadeiras da Unidades de Pronto Atendimento, em hospitais do Estado do Rio”. “Há casos de homens e mulheres infectados amontoados em salas das unidades de saúde”.

“Cemitérios investem em velórios on-line e túmulos biosseguros para sepultar mortos pelo Covid 19 no Grande Recife”. “Em Santo Amaro, no centro da capital pernambucana, são construídos túmulos verticais feitos de bagaço de cana, fibra de coco e sobras de materiais de construção”.

“Centenas de covas são abertas à espera dos mortos pelo Covid 19 no cemitério de Vila Formosa, em São Paulo”. “A média diária de sepultamentos é de 38 a 40. No domingo, foram 62. ‘Nunca se viu coisa igual’, diz o agente sepultador com 20 anos de trabalho”.

“Terror de sepultamentos trocados faz famílias abrirem caixões lacrados em Manaus”.

“Com 466 óbitos pelo Covid 19, o Brasil supera as mortes da China [berço da pandemia]. Em apenas um dia, 6.276 novos pacientes foram comprovadamente infectados, e as mortes somam 449 em 24h. [O total de mortos, até agora, é 5.466]. Com esses dados, o Brasil entrou para a lista dos dez países que mais registraram vítimas da doença”.

– E daí? – pergunta o presidente Jair Messias Bolsonaro, do alto de sua sabedoria e empáfia, completando: “Quer que eu faça o que?”

Se estivéssemos dialogando com uma pessoa normal, sadia e consciente da situação do Brasil e do povo brasileiro, responderíamos:

Governe, excelência. Tome as providências que lhe cabe tomar, que são ditadas pelos especialistas, pelos cientistas, pela Organização Mundial de Saúde e pelo próprio Ministério da Saúde, antes do desmanche promovido por v. exª.

Mas, segundo o capitão-presidente, “a conta” deve ser direcionada para os governadores e prefeitos que adotaram medidas de restrição. E citou em especial João Doria, governador de São Paulo.

No fundo, ele sabe, mas não tem a dignidade de reconhecer, que, se não fossem os governadores e os prefeitos, a situação estaria muitíssimo pior. E que, se não fossem as intervenções do Ministério Público e do Supremo Tribunal Federal, a excelência presidencial já teria acabado com o Brasil.

É uma triste figura que não serve para nada, nem como adorno. Talvez como bibelô, no significado de objeto fútil, de pouco valor. Na verdade, s. exª. só se presta para criar atrito, desavença, confusão. A cada movimento, a cada declaração, é uma nova desgraça – só aplaudida por aquela malta de insanos doutrinados, iludidos ou idiotas, contra os quais nada se pode fazer, até a chegada do camburão que os conduza para o manicômio.

Olha aqui, excelência: não fosse um desrespeito às pobres vítimas do coronavírus e às suas sofridas famílias, era de se sugerir que as urnas mortuárias, enquanto aguardam vagas nos cemitérios do país, fossem remetidas para Brasília e expostas nos jardins dos palácios Alvorada e do Planalto.

Publicado em Célio Heitor Gumarães - Blog do Zé Beto | Deixar um comentário
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Após derrota no Supremo, Bolsonaro desiste de nomear Ramagem para direção da PF

Mais cedo, ministro Alexandre de Moraes (STF) havia cancelado a nomeação, assinada um dia antes pelo presidente

Após decisão do Supremo, o presidente Jair Bolsonaro revogou na tarde desta quarta-feira (29) a nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal.

A desistência de nomear Ramagem para a diretoria-geral da PF foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União. O mesmo documento torna sem efeito também a exoneração dele do cargo de presidente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), que ocupava antes de ser escolhido para o novo posto.

Mais cedo, o ministro Alexandre de Moraes (STF) havia cancelado a nomeação de Ramagem para a diretoria-geral da PF, feita um dia antes pelo presidente. A posse de Ramagem estava marcada para a tarde desta quarta-feira (29), no Palácio do Planalto.

Após o revés no Supremo, auxiliares do campo jurídico de Bolsonaro passaram a estudar qual seria a melhor estratégia, levando em conta também aspectos políticos. O presidente, segundo relatos feitos à Folha, tentou insistir em sua indicação, mas foi informado por sua equipe de que reverter a decisão do STF seria quase impossível.

Foram lembrados casos recentes em que ex-presidentes tiveram algumas de suas nomeações barradas pela Corte, como por exemplo da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) para o Ministério do Trabalho, no governo de Michel Temer, e do ex-presidente Lula para a Casa Civil no governo de Dilma Rousseff.

Essa análise levou a uma desistência do novo de Ramagem e a AGU (Advocacia-Geral da União) decidiu não recorrer da decisão judicial.

O governo começa agora a avaliar novos nomes para o comando da PF e uma possibilidade aventada por uma ala é indicar o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres. Outras possibilidades ainda estão em estudo.

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Da nossa conta

Podemos pagar pelos que não abrem mão do lazer e continuam a sair às ruas

Minha empregada está em casa no subúrbio, com marido, filhos e netos. Amigos meus fecharam seus escritórios, ateliês ou pequenos negócios, e também estão em casa. Atores e músicos que conheço estão igualmente parados, e em severa quarentena. Muitas dessas pessoas vivem em apartamentos modestos, que lhes bastavam quando podiam sair à vontade. Confinadas, as paredes começam a pesar-lhes. Elas gostariam de dar um pulo lá fora. Mas, conscientes que são, sabem que, enquanto as mortes pelo vírus não chegarem ao pico e só então declinarem, não é hora de abrir a guarda.

Em contrapartida, de minha janela, vejo jovens e velhos caminhando no calçadão da praia, pedalando ou correndo na ciclovia e até indo mergulhar. Sei pelo noticiário que em São Paulo também é assim. Uma coisa são os prestadores de certos serviços, que não podem parar de trabalhar. Outra são os que decidiram não abrir mão do lazer –nem querem privar disso seus garotos, a julgar pelos festivos playgrounds que também vejo daqui.

Não conheço a cor política dessas pessoas, mas quem continua a flanar, contra as recomendações dos agentes da saúde, está repetindo, até sem saber, o gesto de Jair Bolsonaro, para quem ninguém cerceará o seu direito de ir e vir. Por mim, Bolsonaro pode ir até para o diabo que o carregue, nem é da minha conta a saúde de quem sai em carreatas ou com ele partilha celulares, abraços e perdigotos.

Mas é da conta de todos nós, que estamos em casa, a saúde dos que continuam nas ruas como se tivessem passaportes de imunidade. O passeio de um deles, hoje, pode render uma internação só daqui a 15 dias. O problema é o que, por uma cadeia perversa, esses 15 dias custarão a quem ficou em casa.

Um amigo paulista, pioneiro da quarentena, está muito mal. Pode ter sido infectado pelo netinho assintomático. Não haverá tragédia maior para uma família.

Em contrapartida, de minha janela, vejo jovens e velhos caminhando no calçadão da praia, pedalando ou correndo na ciclovia e até indo mergulhar. Sei pelo noticiário que em São Paulo também é assim. Uma coisa são os prestadores de certos serviços, que não podem parar de trabalhar. Outra são os que decidiram não abrir mão do lazer –nem querem privar disso seus garotos, a julgar pelos festivos playgrounds que também vejo daqui.

Não conheço a cor política dessas pessoas, mas quem continua a flanar, contra as recomendações dos agentes da saúde, está repetindo, até sem saber, o gesto de Jair Bolsonaro, para quem ninguém cerceará o seu direito de ir e vir. Por mim, Bolsonaro pode ir até para o diabo que o carregue, nem é da minha conta a saúde de quem sai em carreatas ou com ele partilha celulares, abraços e perdigotos.

Mas é da conta de todos nós, que estamos em casa, a saúde dos que continuam nas ruas como se tivessem passaportes de imunidade. O passeio de um deles, hoje, pode render uma internação só daqui a 15 dias. O problema é o que, por uma cadeia perversa, esses 15 dias custarão a quem ficou em casa.

Um amigo paulista, pioneiro da quarentena, está muito mal. Pode ter sido infectado pelo netinho assintomático. Não haverá tragédia maior para uma família.

Publicado em Ruy Castro - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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Esquizonaro

Pacientes com transtorno de personalidade esquizotípica não têm amigos ou confidentes, exceto parentes de 1º grau. Eles não se sentem à vontade em se relacionar com as pessoas. Eles interagem com as pessoas como se fosse uma obrigação, mas preferem não interagir porque acham que são diferentes e não são bem-vindos. Mas eles podem dizer que a falta de relacionamentos torna-os infelizes. Eles ficam muito ansiosos em situações sociais, especialmente aquelas desconhecidas. Passar mais tempo em uma situação não alivia a ansiedade.

Esses pacientes muitas vezes interpretam incorretamente ocorrências comuns como tendo um significado especial para eles (ideias de referência). Eles podem ser supersticiosos ou achar que têm poderes paranormais especiais que lhes permitem detectar eventos antes que aconteçam ou ler a mente das outras pessoas. Eles podem achar que têm controle mágico sobre os outros, achando que podem levar outras pessoas a fazer coisas comuns (p. ex., alimentar o cão), ou que a realização de rituais mágicos pode impedir danos (p. ex., lavar as mãos 3 vezes pode prevenir doenças).

A fala pode ser estranha. Pode ser excessivamente abstrata ou concreta ou conter frases estranhas ou usar frases ou palavras de formas bizarras. Os pacientes com transtorno de personalidade esquizotípica costumam se vestir de maneira estranha ou descuidada (p. ex., usando roupas de tamanho errado ou sujas) e têm maneirismos estranhos. Eles podem ignorar convenções sociais comuns (p. ex., não fazer contato visual) e, como não entendem as dicas sociais habituais, eles podem interagir com os outros de forma inadequada ou rígida.

Pacientes com transtorno de personalidade esquizotípica muitas vezes têm suspeitas e podem achar que os outros estão tentando interferir em suas vidas.

DR. ROBERT SKODOL, Escola de Medicina da Universidade do Arizona, na Wikipedia

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Hoje

© Ivan Cardoso

Poema do Aviso Final

É preciso que haja alguma coisa
alimentando o meu povo;
uma vontade
uma certeza
uma qualquer esperança.
É preciso que alguma coisa atraia
a vida
ou tudo será posto de lado
e na procura da vida
a morte virá na frente
a abrirá caminhos.
É preciso que haja algum respeito,
ao menos um esboço
ou a dignidade humana se afirmará
a machadadas.

Torquato Neto

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