Os contratos em tempos de pandemia

Há uma tendência legislativa para que se considere a duração da pandemia de 20 de março a 30 de outubro de 2020 – isso nos termos do Projeto de Lei 1179/20 que está tramitando na Câmara Federal e já passou pelo Sendo Federal.

Neste período várias medidas de dirigismo contratual possivelmente serão adotadas, isto é, o poder público interfere nos contratos de massa e disciplina as situações de inadimplência.

Por exemplo: a recente lei estadual 20.187 de 22 de abril de 2020 no seu art. 3º:

Art. 3º. Proíbe que as concessionárias de serviços de energia elétrica, gás, água e de esgoto realizem o corte do fornecimento de serviços, especificamente enquanto durarem as medidas de isolamento social da pandemia do Coronavírus – Covid-19.

§ 1° Poderão usufruir da medida prevista no caput deste artigo:

I – famílias com renda per capita mensal de até ½ (meio) salário mínimo ou três salários mínimos totais;

II – idosos acima de sessenta anos de idade;

III –pessoas diagnosticadas com Coronavírus – Covid-19 ou outras doenças graves ou infectocontagiosas;

IV – pessoas com deficiência;

V – trabalhadores informais;

VI – comerciantes enquadrados pela Lei Federal como Micro e Pequenas Empresas ou Microempreendedor Individual.

§ 2° O Poder Executivo poderá regulamentar o pagamento parcelado das dívidas relativas à prestação dos serviços descritos neste artigo, após o término do período de pandemia.

Dívidas bancárias e registros negativos em razão de inadimplência ainda não estão regulamentados, sequer avizinha-se uma preocupação com este tema. ´É como entrar na arena dos leões para negociar com o pires na mão.

Alguns bancos ofereceram suspensão da cobrança de prestações imobiliárias por 60 dias. Também no Paraná houve o Decreto 4530 de 20 de abril que determinou a suspensão de pagamento de empréstimos consignados.

Para os consumidores que podem entrar em inadimplência em razão da perda de ganhos em razão da quarentena e da paralisação das atividades econômicas, pode se alegar o advento do caso fortuito ou força maior que é previsto no Código Civil,  que pode resultar em reequilíbrio contratual, além da  suspensão de parcelas ou até a extinção do contrato, mas cada caso deve ser examinado de forma pormenorizada mediante a análise de um advogado.

Por enquanto o Congresso Nacional não editou normas protetivas específicas para a defesa dos interesses dos consumidores – e pelo jeito não editará tão cedo, tendo em vista os projetos que tramitam no Senado e na Câmara Federal.

Em tempos de pandemia a corda rompe sempre para a lado do mais frágeis em termos sociais e econômicos. Em resumo, e para variar, é o povo quem mais sofre.

Veja, por exemplo, a impossibilidade de quarentena dos trabalhadores dos serviços essenciais e dos moradores de comunidades que não possuem acesso a água, sabão ou moradia que possibilite o isolamento conforme as recomendações sanitárias.

A pressa em fazer a roda da economia girar pode resultar numa segunda onda de contaminações  em muitos países europeus, com perda de vidas e a nova exaustão dos serviços de saúde, conforme recomendações da OMS e de renomados infectologistas.

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Pensão, só a alimentícia

SÉRGIO MORO negociou com Jair Bolsonaro uma pensão para a família caso fosse morto no cargo de ministro da Justiça. Temia a vingança de condenados do petrolão organizado. Não precisava. Morto em atentado, o Congresso aprovaria a pensão a toque de caixa, dada a comoção nacional. Portanto, não teria problema. No primeiro ano do curso de Direito ensina-se a diferença entre a lei e o privilégio: a lei é geral e impessoal e o privilégio é particular e pessoal. Afinal, na república morto no cargo só o general Carlos Bittencourt, ministro da Guerra que ao reagir ao assassino, recebeu as punhaladas destinadas ao chefe, presidente Prudente de Morais.

MUITA INGENUIDADE isso de pedir pensão ao presidente que mal conhecia e cujo caráter viria a conhecer. Ao falar de faca em casa de esfaqueado, Moro deixou munição estocada, que Bolsonaro usou contra ele ao comentar o pedido. Político usa conservar a maldade no frizer. José Sarney entregou o pedido que Bresser Pereira lhe fez quando nomeado ministro: dispensa às quintas para ir ao analista, em São Paulo. Pedir a pensão lembra as atitudes pequeno-burguesas de Lula no alavancar empresas dos filhos, sítio para a família, triplex para a mulher, como o espírito da boquinha, que Anthony Garotinho identificou nos membros do PT.

O MINISTRO sobreviveu no governo, mas ainda corre risco de vida, não pelos delinquentes que condenou, mas pelos delinquentes com quem trabalhou. O gabinete do ódio começou o assassinato de caráter de Sérgio Moro. Daqui ao bolsonazi armado é um passo. O ex-ministro perdeu a proteção da PF, tomada de assalto por Carlos Bolsonaro, o investigado que nela comandará a investigação de si mesmo, do pai e do irmão. A menos que aceite cargo em governo estadual, Moro vai precisar de segurança particular, serviço muito caro. Ainda pode se filiar ao Podemos, sonho do dono do partido, que pagaria a segurança.

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Alto risco de tragédia

Num momento em que todos reprisam, o governo é pródigo em lançar novelas inéditas. Mal acabou a novela Mandetta, entrou no ar a Sergio Moro, e começaram as filmagens da Paulo Guedes. O que está acontecendo na cabeça do presidente Bolsonaro? Ela foi sacudida pelo impacto do coronavírus.

Muitas mudanças estão sendo determinadas, no fundo, pela política escolhida por Bolsonaro para enfrentar este que é o maior acontecimento trágico no mundo moderno. Onde governos conservadores ou progressistas triunfaram, como é o caso da Austrália e da Nova Zelândia, Bolsonaro afundou.

Desde o princípio, tenho apontado a causa. Bolsonaro aderiu à camada de gordura que cerca o vírus e seus fluidos ideológicos e o transformou num tema da guerra cultural. Exatamente o oposto do que fizeram Scott Morrison, na Austrália, e Jacinda Ardern, na Nova Zelândia: despolitizaram o vírus.

Ainda esta semana, o chanceler Ernesto Araújo escreveu um artigo contra o que chama de comunavírus. Ele ficou impressionado com um livro do pensador de esquerda Slavoj Zizek que previa enfim a chegada do comunismo. Depois de sonhar com a classe operária ou mesmo o lúmpen proletariado, alguns teóricos de esquerda concentram suas esperanças no vírus como agente transformador. E os bolsonaristas acreditam.

Desde o princípio, Bolsonaro viu a chegada do vírus como algo que ameaçava seu governo. A única forma de neutralizar sua importância era adotar uma tese que permitisse neutralizar os impactos econômicos. Esta tese foi a de imunização de rebanho: a maioria vai ser contaminada, é melhor que isso aconteça logo para que nos livremos do vírus.

Bolsonaro jamais considerou seriamente o fato de que, se muitos se contaminarem ao mesmo tempo, o sistema de saúde entraria em colapso, muitas pessoas morreriam na porta dos hospitais ou em casa. Um cenário que, de certa forma, se desenhou na Itália e mais tarde, de forma grotesca, em Guayaquil.

Foi por aí que caiu Mandetta. E indiretamente Moro. Bolsonaro sempre pensou em concentrar poderes. Mas a impossibilidade de determinar sozinho uma política contra o coronavírus condensou seu drama. Os governadores e prefeitos tiveram um papel decisivo. O Congresso os apoiou, o STF chancelou essa autonomia local.

A relação com Moro já sofria um desgaste. Mas Bolsonaro, na sua solidão, reclamou da ausência do ministro em sua cruzada contra o isolamento social. Moro, segundo alguns, não só era favorável à política de Mandetta, como pensou em decretar multas para quem rompesse com o isolamento social. O que, aliás, acontece em muitos países da Europa.

Sem o Congresso, STF, ministro da Saúde e da Justiça, Bolsonaro deu um passo decisivo participando de manifestação antidemocrática diante do QG do Exército. Isso resultou num inquérito que acabou se entrelaçando com outro: o das fake news. Os investigados são os mesmos: apoiadores do presidente e, possivelmente, até familiares de Bolsonaro.

Moro teve uma chance de sair depois daquela manifestação. Possivelmente estava incomodado com a posição temerária de Bolsonaro sobre o coronavírus. Mas agora estava diante de uma posição temerária contra a democracia.

Moro não se pronunciou. Num determinado momento de sua trajetória, a mulher de Moro escreveu numa rede social que ele e Bolsonaro eram a mesma coisa.

Ele pode ter sido salvo agora pela maneira como cai. A tentativa de interferir na autonomia da Polícia Federal é algo que não encontra apenas resistência na corporação, mas em muitos setores conscientes da sociedade. É inconstitucional.

Nesse sentido, Moro cai de pé. Mas, para que sua trajetória política tenha viabilidade, será necessário se distinguir de Bolsonaro, algo que não fez quando esteve no governo. O tom de seu discurso de saída é um indício de que compreendeu isto. Pelo menos se distanciou da visão atrasada de submeter o trabalho da PF aos desígnios de um presidente. O que é no fundo um crime de responsabilidade.

Mas Moro indicou claramente que Bolsonaro teme o inquérito no Supremo. Resta agora ao STF assumir seu papel institucional e não amarelar diante da pressão de Bolsonaro.

É um governo que se aproxima de uma situação limite, como foi o caso de Collor e Dilma. Mas num contexto de pandemia que jogou o planeta na maior crise econômica e social da história contemporânea. Alto risco de tragédia.

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Tudo, menos uma estrela

Lee Konitz saiu nos jornais não por ser um grande músico, mas por ter tocado com Miles Davis

O velho jazz está sendo ceifado pela Covid-19. Depois do pianista Ellis Marsalis e do guitarrista Bucky Pizzarelli, foi a vez, na semana passada, do saxofonista Lee Konitz, ainda na ativa aos 92 anos. Os jornais deram a sua morte não por ter sido um grande músico, mas por “ter tocado com Miles Davis“, nos discos de um revolucionário noneto que, em 1949-50, lançou o cool jazz. Era um estilo com raízes na big band de Claude Thornhill, de onde tinham saído, além de Lee, o sax-barítono Gerry Mulligan e o arranjador Gil Evans, todos no noneto. Mas só Miles levou a fama.

Lee foi dos poucos sax-altos nascidos no bebop que não tentaram copiar Charlie Parker. Suas frases longas e sem vibrato eram a antítese de Parker. E, desde então, sempre esteve na contramão do jazz, gravando discos em que tocava sozinho, ou com um trio sem piano ou com uma orquestra de 90 figuras.

Ele era tudo, menos uma estrela do jazz. Nunca teve agente ou assessor de imprensa e, ao morrer, devia ser o único músico do mundo sem email. O incrível é que, avesso a qualquer carreira comercial, tenha gravado tanto. Levantei sua discografia e, de 1949 a 2018, contei 95 álbuns como líder. Somando-se os de que só participou, são mais setenta.

Quem comprava os seus discos? Em 1996, o saxofonista brasileiro Mauro Senise, tocando em Nova York com o grupo Cama de Gato, deu um pulo à famosa loja de discos Tower, na Broadway. Como ia voltar para o Rio aquela noite e tinha uma baganinha de maconha com que não queria embarcar, Mauro depositou-a no escaninho dos CDs de Lee Konitz, seu ídolo. Em 2003, de novo a trabalho em Nova York, voltou à Tower e, ao folhear os CDs de Konitz, encontrou a baganinha que deixara ali sete anos antes.

Não é que ninguém comprasse os discos de Lee Konitz. Seus fãs é que, muito chiques, deviam achar que o baseado pertencia a alguém e não era para ser levado dali

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Mural da História

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Mural da História

1973|2020 – 47 anos – Logo by Rettamoso & Solda

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Passado próximo

NAQUELA ÉPOCA – que o brasileiro imediatista, de memória volátil, acrítica e seletiva agora diz que era feliz e não sabia – Dilma era presidente e Sérgio Moro o poderoso juiz da Lava Jato. Como se diz no cinema, also starring Deltan Dallagnol: o ‘também estrelando’ homenagem à anglofilia do procurador. O cerco se fechava em torno de Lula. E Dilma, para protegê-lo, nomeou-o para o ministério. Não sem antes, como fazem os afoitos e os imprudentes, ter grampeado o telefonema do ‘Bessias’, em que avisava Lula que encaminhava o decreto que o nomeava para a Casa Civil.

O RESTO É HISTÓRIA. A justiça bloqueou a nomeação de Lula: desvio de finalidade para poupá-lo de ser investigado como delinquente comum. Dilma e Lula aceitaram, o estalinismo deles só funcionava no partido; não tentaram reverter a decisão em recurso. O trauma do mensalão ainda era forte. Historiadores e os cientistas políticos ainda não analisaram as causas da inação: respeito à ação institucional; impotência para resistir; inexistência à época de milícia digital, gabinete do ódio, distribuição de fake news, quem sabe uma filha fronteiriça como Carlos Bolsonaro?

AGORA É OUTRA HISTÓRIA, cujo primeiro capítulo foi escrito pelo PT, que na ânsia – estalinismo diet – de se perpetuar no poder tantas fez que elegeu o cacareco Jair Bolsonaro, deputado que por trinta anos não passou de figura caricata, irrelevante. O solo estava fértil: a política tradicional desacreditada temperada pelo escárnio do petrolão, uma bofetada em quem, fora do PT, acreditou no partido; os políticos de sempre, como Ciro Gomes, e aventureiros apocalípticos como Cabo Daciolo e João Amôedo. Mais a faca de Adélio Bispo, que fez de Jair Bolsonaro o mártir improvável.

DAÍ O PASTICHE paranoico de tragédia alagoana. E com ele o maior dos benefícios: poupou dos debates o candidato que não sabia (nunca saberá, a condição é congênita) articular a frase completa, montar o raciocínio elementar. O panorama e o atentado criaram o quadro quase perfeito. Quase porque faltava o fecho, que veio quando o futuro ministro, ainda juiz da Lava Jato, liberou à imprensa, antes do segundo turno, o conteúdo de ato judicial que incriminava Lula, e por extensão o PT. Sérgio Moro fez o papel de tornassol, o ingrediente ácido que elegeu Jair Bolsonaro.

NESTA ÉPOCA a história se repete. O presidente da hora, como o da outra época, acossado pelas investigações que se aproximam dos malfeitos da família, repete com sucesso o que a presidente da outra época fez com insucesso. Não nomeia o investigado pela poupá-lo de investigação, mas nomeia o investigador indicado pelo investigado. O investigado não se chama Lula, chama-se Carlos Bolsonaro. O ato é de gravidade maior que o de nomear Lula, como fez Dilma Rousseff. As instituições nada fazem, embora provocadas por ações e movimentos da sociedade civil. Uma tragédia cívica.

TRAGÉDIA tisnada de vingança poética ao derrubar no seu curso exato o agente que fez da investigação dos notáveis sua alavanca política; que caiu ao tentar com o presidente de hoje o que fizera com o de anteontem; Sérgio Moro recebeu a sanção cármica de perder cargo e timing para reerguer-se com o prestígio da Lava Jato. O que vem não se pode prever nem antecipar, a política é como a nuvem, diziam os antigos. De novidade temos o país dividido em dois antagonismos explícitos. Seus causadores próximos estão aí, sem crédito e autoridade: Lula e Sérgio Moro.

A HISTÓRIA não é linear; reflete o humano e suas circunstâncias, variáveis e movediças. Mas as circunstâncias, mesmo nas revoluções totalitárias, lá no futuro remoto refluem à essência básica, como na Rússia e na China. O Brasil, não; como na gramática italiana, insiste em conjugar o passato prossimo. Nosso passado próximo é o futuro, também próximo. Foi e pode ser a ditadura militar. Futuro de verdade, com a potencialidade da evolução, insistimos em descartar este é nosso destino histórico, essência da raça, traço genético. O passado-futuro próximo se aproxima.

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Razões do fracasso

Não basta desligar o aquecedor da piscina. O importante  é escolher bem o ministério

Um dia, se indagado por que o governo de Jair Bolsonaro saiu-lhe pela culatra, eu direi que tudo se deveu à ingratidão que ele cometeu contra um aliado, apaixonado e capacho: o ex-senador, cantor de pagode gospel e pastor evangélico baiano Magno Malta, a quem ele deve de certo modo a vida.

Você se lembra. Bolsonaro foi esfaqueado num comício em Juiz de Fora. Mal arrancada a faca de Bolsonaro, Magno Malta já estava ao seu lado no quarto, resfolegando sobre sua cicatriz e, como se ele estivesse morto, orando sofregamente por sua ressurreição. O fato de Magno Malta ter adentrado o recinto cercado de aspones, um dos quais gravando o ágape para veiculação nacional, não invalida o caráter tocante da cena. Via-se claramente que Magno Malta, pelas ordens que dava a Jesus Cristo em sua prece, tinha grande influência no além. E Ele não o desapontou —Bolsonaro salvou-se e se elegeu. Quem decepcionou Magno Malta foi Bolsonaro, ao negar-lhe o ministério –qualquer um— de que ele se julgava credor.

Foi um erro de Bolsonaro. Magno Malta teria sido um verdadeiro coringa em seu ministério –apto a assumir qualquer pasta. Afinal, não é mais analfabeto do que vários dos atuais titulares. E, sabe-se agora, seria mais leal do que muitos.

Como ministro da Saúde, por exemplo, Magno Malta teria enfrentado a Covid-19 como Bolsonaro gostaria, sem essa história de gente trancada em casa e lojas fechadas —quem morresse, morresse, paciência, é a vida. Sem falar na liberação geral da cloroquina, que Bolsonaro, travestido de garoto-propaganda ou camelô, tentou vender como se fosse óleo de cobra.

E, como ministro da Justiça, Magno Malta teria franqueado a Bolsonaro passar o rodo nas investigações da Polícia Federal que perigam expor as sujeiras de seus filhos. Magno Malta, que nunca deixou de lhe abrir o coração, o teria ajudado até a desligar o aquecedor da piscina.

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Letícia Sabatella. © Christian Gaul

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Aranha

o bozo está infeliz
perdeu o galã
dos ovos de ouro

(Edson  de Vulcanis)

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1º de Maio: FHC e Lula voltam a dividir um palanque, depois de 31 anos

A ameaça simultânea do coronavírus e do bolsovírus ao emprego, à saúde e à vida dos brasileiros operou o milagre de reunir novamente no mesmo palanque, desta vez virtual, os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso, algo que não se via há 31 anos.

A última vez em que os dois dividiram o mesmo palanque foi na reta final do segundo turno de 1989, quando FHC apoiou Lula contra Fernando Collor, que foi eleito.

Era a primeira eleição direta para presidente depois da ditadura militar. Nas duas eleições seguintes, FHC se elegeu no primeiro turno disputando com Lula. Em 2003, FHC passou a faixa para Lula.

Muitos anos antes, em 1978, Lula já tinha feito campanha para FHC na eleição para o Senado.

Em 1984, os dois juntos participaram da campanha das Diretas Já, comandada pelo amigo comum Ulysses Guimarães, o grande líder da redemocratização do país, que hoje faz tanta falta.

Agora, os dirigentes das seis principais centrais sindicais brasileiras (CUT, Força Sindical, UGT, CTB, Nova Central e CSB) montaram um palanque virtual para as comemorações do Dia do Trabalho, em 1º de Maio, com a participação dos dois ex-presidentes, e mais o ex-ministro Ciro Gomes e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, segundo reportagem de Catia Seabra publicada hoje na Folha.

Também foram convidados o governador do Maranhão, Flávio Dino, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o presidente do STF, José Dias Toffoli.

Ainda deverão falar aos trabalhadores a ex-presidente Dilma Rousseff e os governadores do Rio, Wilson Witzel, e de São Paulo, João Doria, em vídeos que irão ao ar na live do palanque eletrônico no Dia do Trabalho.

A lista de oradores foi ampliada após a participação do presidente Jair Bolsonaro na manifestação golpista do último domingo, em que foi pedida a intervenção militar e a volta do AI-5.

“Está cada vez mais claro que Bolsonaro não tem apreço pela democracia e trabalha o tempo todo para instituir um regime autoritário no país”, justificou Sergio Nobre, presidente da CUT.

Este ano, o lema do ato das centrais sindicais é “saúde, emprego, renda e democracia: um novo mundo é possível com solidariedade”.

Para o presidente da CTB, Adilson Araújo, “a tese do bloco de esquerda se dilui quando a batalha é a defesa da democracia”, o que permitiu a ampliação do palanque. “Tudo que não conseguimos fazer no mundo real podemos fazer agora no mundo virtual”.

Na abertura da transmissão, representantes da OAB, da ABI e da CNBB farão breves depoimentos, entremeados por shows de artistas convidados.

Reunir na mesma manifestação, ainda que virtual, Lula, FHC e Ciro, além de todas as centrais sindicais, num ato unificado, tem um caráter simbólico neste momento em que Bolsonaro está cada vez mais acuado e isolado no Palácio do Planalto, com 24 pedidos de impeachment nas mãos de Rodrigo Maia e várias ações no STF para investigar a atuação do presidente no combate à pandemia.

É a resposta da sociedade civil à escalada autoritária do governo, com a precarização do emprego e a incapacidade de gestão do presidente no enfrentamento da crise, segundo o presidente da UGT, Ricardo Patah. “Mas não é o suficiente para ganhar as ruas”.

O comício golpista do último domingo, em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, pode ter sido a gota d´água para unir novamente as forças políticas e sindicais que se mobilizaram pela redemocratização do país nos estertores da ditadura militar, nos anos 1980.

Quatro décadas depois, com a democracia novamente ameaçada, em meio à pandemia do coronavírus, esse 1º de Maio deverá ficar marcado como um divisor de águas. Vida que segue.

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Nau dos insensatos

RATINHO JÚNIOR telefonou a Sérgio Moro na véspera da demissão do ministro. Disse que o Paraná o receberia “de braços abertos”. Cansa essa mania de político achar que fala pelo povo. Uma vez no governo, fazendo jogadas para se manter vivo no poder, só o eleitor fanático – e por isso cego e tolo – concorda que o político fala em seu, dele eleitor, nome.

O Insulto se exclui do abraço do Paraná. Moro, se quiser ser levado minimamente a sério, que faça aquilo que todos exigem de Lula – e que não veio: a autocrítica. Quem receberá Moro de braços abertos é a mulher dele, com a mesa posta com excesso de talheres e a sopinha “do amor”; mais Álvaro Dias, que sonha um “Moro com ele” no Podemos.

O governador quer levar Moro para seu secretariado? Não dá. Moro é nacional; não figurante do enredo pobre e provinciano desta Quinta Comarca. A menos que Ratinho Júnior, pressentindo o perigo, queira abandonar a nau dos insensatos, agora que Sérgio Moro, um projeto de iceberg, abriu nela um buraco na quilha.

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Carluxo é o novo Ministro da Casa Caiu

Logo após o pedido de demissão de Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro se reuniu com seus 3 principais conselheiros: “Por questão de segurança nacional, não posso revelar os nomes dos Três Conselheiros. Mas vamos chamá-los pelos nomes de guerra: Curly, Larry e Moe”, explicou o presidente. Em seguida, revelou que seu filho Carlos Bolsonaro vai assumir o recém-criado Ministério da Casa Caiu.

De acordo com o planejamento dos Três Conselheiros, este será o único ministério daqui pra frente. “Mato dois coelhos com uma caixa d’água só”, explicou Jair Bolsonaro. “Reduzo drasticamente os Ministérios e os custos públicos, como prometi na campanha. E ainda dou mais um presente pro filhão”, discursou.

Para acabar com todos os boatos de que interviria na Polícia Federal, Bolsonaro resolveu intervir na Polícia Federal.

Com toda lucidez, Caluxo fez seu primeiro pronunciamento. “População, respeitosamente, acordemos. As coisas estão todas invertidas e muitos ainda não percebem. Muitos ainda não percebem que as coisas estão invertidas. As coisas estão invertidas. O problema não é de governo, é de Nação. Mesmo que me custe algo maior, não me preocupa meu futuro político, mas com o que muitos estão caindo e o amanhã livre pode não existir”.

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Moro rejeita a cloroquina

SÉRGIO MORO deixa o governo Bolsonaro. Entre a cloroquina e a quarentena, optou pela segunda, que a primeira significaria permanecer, desmoralizado, no governo. O ex-juiz da Lava Jato entrou no governo com o cacife de ter ajudado, com seu prestigio, a eleger o presidente. Com isso obteve a ampliação de seu ministério e uma autonomia excessiva na escolha de auxiliares, especialmente Maurício Valeixo, diretor da PF e pivô de sua saída.

O agora ex-ministro, por ignorância ou arrogância, desconheceu duas evidências, tanto do ser humano quanto do ser político. O ser humano não tolera dever gratidão. Com o tempo desenvolve ressentimento contra seu credor, ao qual dia a dia reduz o tamanho da dívida, convencendo-se de um crédito maior que a dívida.  O mesmo acontece com o político, a quem se agrega o elemento voto e mandato: uma vez obtidos, estes valem mais que a dívida que ajudou a eleição.

O ministro da Justiça, como o personagem de Garcia Márquez, era a “crônica da morte anunciada”. Estava marcado para morrer desde que a PF exerceu, com a independência reclamada por Sérgio Moro, as investigações que chegaram perto do conúbio entre a família Bolsonaro e a corrupção na assembleia legislativa do Rio. A gota d’água foi a investigação recente, que identifica as digitais de Carlos Bolsonaro nos ataques virtuais ao STF. Isso não pode. O presidente não governa para o Brasil, governa para os filhos.

A queda do ministro resume-se a isso, a um fato da vida de quem apostou alto sem conhecer o jogo, no qual havia alguém que pagou para ver. Simples. Ao demitir Luiz Henrique Mandetta e continuar firme apesar do repúdio de 64% da opinião pública, Jair Bolsonaro viu-se livre para apostar na demissão do chefe da PF. Moro pagou para ver e perdeu. Problema dele, a quem agora resta apenas conferir se o seu capital continua alto até 2022, eleição presidencial, um panorama cheio de incertezas.

Sérgio Moro fez um Getúlio pós-moderno: deixa o governo para entrar na História. Sua história agora será reescrita, primeiro pelos bolsonazis, bolsoignaros e bolsomínios, que inventarão algo podre sobre ele e o diretor da PF para tapar o sol do desvio de finalidade do presidente com a peneira do favoritismo a seus filhos e de governar com o fígado, não com o cérebro. Aos que sempre foram críticos do ministro resta um elogio, ainda que forçado, a seu gesto de dignidade pessoal.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Comentários desativados em Moro rejeita a cloroquina
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Mural da História

O Estado do Paraná|20|9|2009

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