período-eleitoral14 de novembro|2010 

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Diário da crise LXIX

Difícil ver aquelas imagens do assassinato do homem negro George Floyd em Mineápolis sem se indignar. Li que a posição que o matou, o joelho comprimindo a cabeça no chão, já é condenado em muitas policias estaduais norte-americanas.

As imagens são muito fortes. Ele diz que não consegue respirar. Você vê claramente que ele não consegue respirar.

Imagens de um restaurante mostram que ele estava algemado e dominado. Não esboçou nenhuma resistência.

O racismo é uma marca muito profunda na sociedade americana. Um fato desses provoca manifestações ao longo do pais, mobiliza o comissariado de direitos humanos da ONU e repercute na imprensa internacional.

Assassinato de jovens negros são muito comuns no Brasil. Há poucos dias falamos de um, João Pedro Matos, de 14 anos, assassinado em São Gonçalo, numa ação policial.

O impacto da morte de George Floyd mobilizou sua cidade e muitas outras nos Estados Unidos. Aqui, de um modo geral, protestam apenas familiares, vizinhos ou a própria comunidade. Não existe uma reação nacional, exceto em casos mais politizados, como o de Marielle Franco.

Mas as imagens de Floyd sendo assassinado por asfixia tiveram também um peso.

Esse acontecimento internacional tem importância porque revela um lado de Donald Trump bastante ameaçador: ele falou em atirar nos manifestantes e saqueadores.

O twitter fez uma advertência sobre seu post. Ele anda brigando com o twitter que decidiu limitar sua tendência a desinformar, como, por exemplo, na campanha contra o voto pelo correio nos EUA.

Interessante como Trump se fez pelo twitter atacando a imprensa profissional. Agora começa a criar problemas com seu próprio instrumento de comunicação.

Aqui no Brasil é parecido. Bolsonaro já teve post censurado e também é um adversário da imprensa profissional. Hoje ele falava sobre liberdade da imprensa alternativa, que se expressa na rede.

O que não percebeu é que em todas as plataformas existe um combate às fake news. Esse combate levou a PF à casa de muitos dos seus seguidores e pode ser um grande obstáculo à sua política.

Continuo afirmando que é necessário defender a liberdade de expressão. Todos têm direito de expressar suas opiniões, mas não têm direito de criar os seus fatos em choque com a realidade verificável.

Entramos em mais um fim de semana de trabalho. Ainda bem. O trabalho atenua um pouco a ausência do sol. Tenho perseguido o sol mas ele só aparece nos lugares certos nas horas mais impróprias. E ainda há as nuvens.

Vai passar, mas por enquanto estamos no topo da lista de mortes no mundo. O Rio já perdeu mais gente que a China para o coronavírus. Uma ironia, o vírus veio de lá e contávamos com nosso calor para atenuar seu ímpeto.

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Abraham Weintraub, aquele

O ministro Abraham Weintraub ficou em silêncio em seu depoimento à Polícia Federal nesta sexta-feira. Dizem que em combinação com o Planalto ele optou por não falar nada. O assunto é a ameaça feita naquela famosa reunião, quando afirmou: “Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”.

O ministro resolveu fazer uso do direito constitucional de ficar calado, um direito que, cá pra nós, ele deveria usar mais vezes no dia a dia de Brasília, pois assim daria mais tranquilidade ao país. Já basta o Bolsonaro azucrinando o Brasil todos os dias.

Bem, de qualquer modo, foi uma decisão sensata fechar o bico. Um desenvolvimento do assunto poderia trazer mais complicações, tratando-se do inacreditável ministro da Educação, que se expressa de forma tão destrambelhada que é capaz de arrumar encrenca com a comunidade judia e até com o governo de Israel quando presta uma simples solidariedade a conhecidos seus visitados pela polícia em busca de provas sobre fake news.

O ministro parece uma derivação daquele outro bagunceiro, o animador de auditório Chacrinha, que entrava em cena dizendo de forma professoral: “Eu não vim aqui para explicar, eu vim aqui para confundir”. Com Weintraub a lição é ampliada: quando ele explica confunde ainda mais.

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O elogio à loucura

Um trilhão e duzentos e sessenta e cinco bilhões repassado aos bancos pelo Banco Central.

O Poder Executivo remeteu ao Congresso projeto para dar ao povo carente e informal apenas 200 reais, numa única parcela. O Legislativo aumentou para 600, em três parcelas, claro que com o atraso tradicional pela incompetência de quem não quer pagar.

Pretende-se calar o Supremo Tribunal Federal e o Congresso. Não se enganem os estados e os municípios.

Milhares de pequenas empresas falidas e quebradas, sem auxílio nenhum, somente com uma perspectiva de empréstimo e mais endividamento. Diferente dos países europeus, norte-americanos e asiáticos.

O grupo político chamado Centrão ganhando cargos estratégicos e verbas milionárias para barrar um inevitável impeachment.

A economia, como antes, encolhendo.

A pandemia expandindo, com trocas de ministros e não médicos no comando. A franca negação da ciência, da medicina e da infectologia.

A terra plana, o enaltecimento da tortura e os anos de chumbo.

A quarentena sendo quebrada, os hospitais lotados, médicos e enfermeiros mortos e contaminados – e recorde de mortes todos os dias.

O mundo fechando as fronteiras para o Brasil.

Crises diplomáticas semanais por declarações desastrosas de ministros e filhos, cujos nomes se iniciam pelo zero: 01, 02 etc.

O patrimônio nacional sendo torrado, o centenário Banco do Brasil na fila do abate, oito refinarias lucrativas para serem entregues de bandeja às corporações internacionais. A BR Distribuidora vendida por 10% do seu lucro anual, a exemplo da Vale.

Uma tenebrosa reunião de ministros, na qual falou-se abertamente em prejudicar servidores públicos, pequenos comerciantes, beneficiar os grandes grupos econômicos e, essencialmente, destruir o meio ambiente e a Amazônia. Sem dar destaque à devastadora pandemia que assola milhares de vítimas de baixo poder econômico e idosos.

Uma eleição presidencial que pode ter sido ganha com notícias falsas (Fake News), cuja organização pode ter sido realizada pelas bancadas de políticos que, se confirmada, também se elegeram às custas de mentiras e robôs midiáticos.

A franca destruição da arte, da cultura, da pesquisa, das escolas e das universidades públicas.

 Reajustes diferenciados e aposentadoria especial para as forças armadas, um braço que ameaça, abertamente, por alguns de seus integrantes, o estado Democrático de Direito.

Dizer que a difamação, a calúnia e a injúria disparados aos milhares por robôs nas mídias sociais, contra pessoas e instituições, é liberdade de expressão e faz parte da democracia.

Enfim, tudo isto, e muito mais, numa sucessão de ataques e agressões às mulheres, às minorias, aos repórteres, à imprensa, às instituições democráticas, aos indígenas e à Amazônia.

O desprezo pelas vítimas e seus familiares: (…) E daí? (…) Não sou coveiro (…) vai morrer gente mesmo (…) e todo um discurso insensível com tragédia que assola o país

Estamos com um poder Executivo e seus ministros que se auto elogiam.

                O elogio à loucura.

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Mural da História

25 de fevereiro|2010

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Elas

Monica Belucci. © Peter Lindbergh

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Mural da História

inflação-galopante10 de maio|2008 

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Acabou, porra

BOLSONARO ainda encarna um Floriano Peixoto. O segundo presidente enfrentou resistências no governo, algumas no STF, que insistia em conceder habeas corpus aos oficiais generais que ele mandava prender. Um dia Floriano se encheu, aposentou alguns ministros e, para aliar a ofensa ao xingamento nomeou um médico para ministro do STF.

Floriano, homem duro, temperado na Guerra do Paraguai, um dia explodiu. Não disse “acabou, porra”, como o sargento de milícias que ora governa o Brasil. Disse, “daqui a pouco quero ver quem vai conceder habeas corpus aos ministros do STF”. Pelo jeito não será necessário: os ministros logo roem a corda, com medo de nosso Mussolini.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
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Não é possível!!!

Isso não está acontecendo!… É um pesadelo, do qual precisamos acordar! Pior do que aqueles filmes de terror estrelados por Bela Lugosi, Lon Chaney, Boris Karlloff, Vincent Price e Chistopher Lee, que nos faziam tremer na poltrona do cinema.

Um ministro de Estado da Educação (sim, da Educação!!!), vale-se de um reunião de ministros do governo federal, encabeçada pelo Presidente da República, para, de viva voz, chamar os ministros do Supremo Tribunal Federal, a mais elevada Corte de Justiça do País, de “bandidos” e advogar a prisão de todos eles. Fez isso babando fel e espumando de ódio. A cena vem a público, choca a população e deixa a Nação estarrecida.

Como consequência, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determina a oitiva do insigne ministro – é o mínimo que pode fazer na altura dos acontecimentos e em plena consonância com o ditames legais.

Aí entra em cena o sucessor do ministro Sérgio Moro, um tal de André Mendonça, uma figura mirrada física e mentalmente, com aspecto de boneco de ventríloquo e capacho de minúscula dimensão do capitão-presidente. Que faz a desagradável e caricata figura? Ingressa com habeas corpus contra a decisão de audiência. Habeas corpus impetrado por um ministro da Justiça???!!! Contra ato de ministro do Supremo Tribunal Federal???!!! Para impedir a sequência de um processo regular no Excelso Pretório???!!!

Cadê a AGU – a pomposa Advocacia Geral da União, da qual o infeliz e até então anônimo André Mendonça é egresso – que deveria servir para essas coisas?!

Isso só é possível em um país sem governo, sem respeito às instituições públicas, presidido por um insano desqualificado, despido dos mais comezinhos atributos do ser humano, como a sensatez, o raciocínio, a compreensão, o equilíbrio, o respeito e a dignidade.

Sua excelência Jair Messias Bolsonaro envergonha a presidência da República. Há muito já deveria ter sido recolhido ao manicômio para tratamento de choque. Instalou e alimenta no Planalto Central do Brasil um governo de ódio, fratricida, irresponsável e perigoso, que tem como porta-vozes Roberto Jefferson e os irmãos Bolsonaro.

Onde estão os homens de bem deste país? Teriam sido dizimados pelo coronavírus? Por muito menos, fomos às ruas, tomamos praças e jardins, mostramos a nossa voz, exibimos a nossa contrariedade. Onde está todo mundo? Estupefato diante do noticiário, acuado dentro de casa, com medo do bicho-papão?! Não se iluda, é inevitável: ele logo lhe pegará.

Publicado em Célio Heitor Guimarães | Deixar um comentário
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Bolsonaro recebe auxílio de R$ 600 porque não trabalha durante pandemia

O presidente Jair Bolsonaro causou, mais uma vez, tumulto e aglomeração nas ruas. Agora, em frente a uma agência da Caixa Econômica Federal em Brasília, aonde ele foi para sacar os 600 reais do auxílio emergencial por estar encostado durante a crise do coronavírus. Bolsonaro teria ido pessoalmente à sede da CEF para adiantar seu processo: “Se não sair, vou trocar a chefia, não vou esperar f*der a minha conta-corrente”, afirmou.

A situação do presidente estava em análise havia algum tempo. Rodrigo Maia é um dos que analisam e não chegam a conclusão nenhuma — a oposição já cogita entregar um pedido de impeachment disfarçado de nota de repúdio para ver se o presidente da Câmara assina.

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Mural da História

seres-estranhos

15 de agosto|2010

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Morre o jornalista Gilberto Dimenstein

Amigos da família confirmaram o falecimento nesta manhã. Ex-diretor da Folha de São Paulo lutava contra câncer no pâncreas

Amigos do jornalista, colunista e escritor Gilberto Dimenstein, 63 anos, confirmaram seu falecimento na manhã desta sexta-feira (29), em São Paulo. Ele lutava contra um câncer no pâncreas, descoberto no início de 2019. Filho de um pernambucano de origem polonesa e uma paraense morou em Vila Mariana distrito de São Paulo

Formado na Faculdade Cásper Líbero foi colunista da Folha de São Paulo, onde também foi diretor na sucursal de Brasilia.e correspondente em Nova Iorque e na rádio CBN. Atuou no Jornal do Brasil, Correio Braziliense, Última Hora, Visão e Veja e acadêmico visitante do programa de Direitos Humanos na Universidade de Columbia.

Recebeu o  Prêmio Nacional de Direitos Humanos junto com Paulo de Evaristo Arns, o Prêmio Criança e Paz, do Unicef, Menção Honrosa do Prêmio Maria Moors Cabot, da Faculdade de Jornalismo de Columbia, em Nova York.[3] Também ganhou os prêmios Esso (categoria principal) e Prêmio Jabuti, em 1993, de melhor livro de não-ficção, com a obra “Cidadão de Papel”.

Foi um dos criadores da ANDI – Comunicação e Direitos, uma organização não-governamental que tem como objetivo utilizar a mídia em favor de ações sociais. Em 2009, um documento preparado na Escola de Administração de Harvard, apontou-o como um dos exemplos de inovação comunitária, por seu projeto de bairro-escola, desenvolvido inicialmente em São Paulo, através do Projeto Aprendiz. O projeto foi replicado através do mundo via Unicef e Unesco.Criador do site CatacraLiovre considerado o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela tv alemã Deutsche Welle.

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A vaidade e o Direito

Há os delinquentes de rua e os de colarinho branco. Como eles são e onde vivem? Nas grandes fraudes temos o delinquente graúdo. Se for homem, usa sapatos de verniz, impecavelmente engraxados. Se mulher, usa colar de pérolas e um vestido de cor única.

Os de rua não têm vocabulário chique, falam palavrões a cada duas frases, seus cabelos são despenteados, com um certo ar desleixado, como as roupas. Isso são preconceitos sobre delinquentes.

Sabemos que não é bem assim. Ambos roubariam os seiscentos reais do auxílio governamental e sairiam felizes do banco, contando as seis notas de cem ou as doze notas de cinquenta.

São vaidosos e, no fundo, acreditam que são nobres. A vaidade que possuem é o desejo de se diferenciar dos outros, pois não suportam a igualdade.

A vileza e a vaidade são nomes diferentes, mas não fazem diferentes os homens. Por mais que a vaidade finja, invente e dissimule, tudo são imagens supostas e fingidas, tudo são sonhos de homens acordados (Mathias Aires).

Eis o mistério: não sabemos onde eles habitam. Temos uma pista: eles zombam da Constituição, da ciência e das instituições. Atualmente, a zombaria de alguns graúdos é não considerar as medidas sanitárias urgentes que devem ser tomadas em prol da população.

Aí vem a pergunta: até quando o Brasil enterrará milhares de vítimas, sem tomar as medidas de governo, com base na ciência, naquilo que o mundo tem feito e tem dado certo? Quebrar o isolamento com base em álcool em gel e máscaras não aplacou a pandemia nos países que reduziram drasticamente o número de infectados.

Os menos favorecidos, que não conseguem fazer o isolamento, devem ser atendidos prioritariamente pelas políticas de Estado. Os testes em massa devem ser feitos, muito antes do relaxamento da quarentena.

Isto são fatos, constatados cientificamente, não discursos. A pandemia, porém, ainda não está na agenda prioritária. Ela é secundária às vaidades para solapar a República.

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Fãzine

Tamanho não é documento, Editora Gambá do Ano Passado. Editores: Retta & Solda. Curitiba, dezembro, 1990. Edição limitadíssima, xerocada, poemas. Quem procurar, acha.

coisa singular|dois olhos|um só olhar
retta
estremece no varal|a tarde|lenta e gradual
solda
eu no retrato|não sou um|sou 3 x 4
retta
por um instante|o maestro|foi desconcertante
solda
quanto mais eu rezo|mais assombração|me pareço
retta

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Blogueiros governistas, políticos e empresários bolsonaristas

Depois da Polícia Federal bater na porta de blogueiros governistas, políticos e empresários bolsonaristas, à cata de provas para o inquérito das fake news, do STF, um grupo importante de bolsonaristas fez uma live para tratar do assunto. Foi mais um “gabinete de crise”, em época muito apropriada para isso, mas como acontece quando bolsonaristas se juntam, nada foi esclarecido e a crise aumentou, muito em razão dos nomes que se juntaram neste encontro montado às pressas, no final do dia em que a PF visitou olavistas e bolsonaristas.

O grupo se juntou em uma live do site Terça Livre, de Allan dos Santos, um dos investigados que teve materiais apreendidos em sua casa pela polícia. O dono do site, que é muito malfeito, se apresenta como “pai, empresário, jornalista e apresentador do Boletim da Manhã no canal Terça Livre TV”. O “canal” a que ele se refere é uma página no Youtube.

Na verdade, Allan é mais um desses youtubers de direita que grudaram na candidatura de Jair Bolsonaro para depois gravitarem em torno do governo. São ativistas profissionais, que se estabeleceram com prosperidade a partir da subida de Bolsonaro ao poder, de um modo parecido ao que figuras da esquerda fizeram enquanto o PT esteve no poder.

Tendo Allan dos Santos como apresentador e uma espécie de âncora, a live juntou os deputados bolsonaristas Bia Kicis e Eduardo Bolsonaro, mais Olavo de Carvalho e Ítalo Marsili, que recentemente esteve cotado para ser ministro da Saúde, mas parece ter sido descartado depois da imprensa levantar coisas duvidosas que ele andou fazendo. Pelo jeito, terá que colocar no currículo apenas o cargo de “quase ministro do governo Bolsonaro”.

Bem, é uma live que não mereceria atenção se esse grupo não tivesse ligação com o presidente Jair Bolsonaro. Sem essa ligação não haveria como ter disposição para assistir a algo tão grotesco, que serve como demonstração prática da precariedade absoluta de uma das bases essenciais do bolsonarismo, na sua promessa de transformação cultural, no plano geral da vida brasileira. Esta foi uma bandeira importante, que teve certa influência na última eleição.

A sustentação, digamos, intelectual do bolsonarismo está nas figuras desta live. São os cabeças do projeto cultural da direita, ao qual se pode juntar mais uma ou duas dezenas de figuras de qualidade parecida, alguns até de nível intelectual e político mais baixo. Sim, isto é possível: o bolsonarismo é uma pirambeira braba em todos os setores, com uma queda no abismo quando a sustentação depende do ato de pensar.

É tamanha a confusão desse pessoal, que eles não conseguem nem manter uma linha de raciocínio que siga uma pauta de tanta objetividade como a que os empurrou a um debate: o inquérito das fake news, com a conseqüente visita da PF a bolsonaristas investigados pela suspeita de envolvimento com a produção de notícias falsas e outros possíveis crimes. O tema é quente e dele poderia sair uma conversa produtiva, mas eles se perdem em um emaranhado de divagações sem relação com o assunto colocado em pauta pela polícia.

Ameaçam, falam mal da China, contam façanhas, muitas delas, sem deixar também de atacar o Foro de São Paulo, esta teoria da conspiração que Olavo de Carvalho repete sem parar mesmo depois do PT ter sido enxotado do governo — sofrendo um impeachment e com a prisão de Lula — e o Brasil ter atualmente um governo de direita.

Dentre as muitas façanhas, ficamos sabendo que a deputada Bia Kicis acredita até agora no sucesso da sua atuação na CPI das fake news, uma comissão perigosíssima para o governo Bolsonaro, que por sinal se junta ao inquérito do STF. Evidentemente Bia Kicis deveria ter atuado melhor antes, para que a CPI não fosse instalada. A deputada lembra bastante a petista Gleisi Hoffmann, que até hoje acha que falou poucas e boas para a oposição durante o impeachment de Dilma Rousseff.

Ítalo Marsili é outro exemplo de sucesso. Ele não passa de um psiquiatra que precisa de psiquiatra. O sujeito sabe de tudo, com determinação total inclusive em assuntos que não teve tempo de estudar. Mas tem também as façanhas de Allan dos Santos, um sujeito muito distraído, que confunde fatos, esquece nomes, tem dificuldade com datas e muitas vezes lhe fogem palavras essenciais para o que está pretendo falar. Este é o feliz proprietário do Terça Livre. Sobre o ministro Alexandre de Moraes ele tem opiniões firmes. “Moleque, ele é um moleque. Só que mais que isso, ele é um criminoso”, foi sua definição sobre o ministro do STF na espantosa live.

O estilo é muito parecido com o de Olavo de Carvalho, mestre de todos que estavam presentes e guru do presidente. Olavo anda numa fase revolucionária, com ideias de armar o povo e intervir em instituições que na sua visão prejudicam o governo Bolsonaro, como o STF e no Congresso Nacional, se possível com a entrada dos militares nessa briga.

O velho professor anda mesmo violento. Vejam um trecho importante do que ele disse na live: “Pra mim esse senhor Alexandre de Moraes tem que ser posto na cadeia e não ter o direito de falar. Olha, eu sou a favor da pena de morte pra esses casos. Porque isso aí é uma perversão. Com base nessa perversão já se mataram milhões, milhões e milhões de pessoas e continuam matando. Com a sua ajuda, senhor Alexandre de Moraes. Você é um genocida.”

Olavo costuma falar demais em algo que chama de “gramscismo cultural”, mas se comporta, fala e escreve como alguém que desconhece a obra de Antonio Gramsci. Não digo que ele não tenha lido seus livros, no entanto o conteúdo real de Gramsci se perdeu na interpretação mentalmente fechada de Olavo, de uma estreiteza bastante comum no que ele apresenta como filosofia própria, que na verdade é mais um apanhado de suas leituras, com conteúdos que inclusive se contradizem no entremeio do pacote fechado que parece ter sido compactado à marretadas.

Ainda que tenha lido Gramsci, não compreendeu o modo de usar. Contradizendo o que está na obra do pensador italiano, Olavo entra no embate político dando cabeçadas, ao contrário do que se aprende com Gramsci, que demonstra com inteligência que na política a cabeça deve ser usada de outro modo. Olavo tem um plano para o qual ele se empenha brutalmente em construir um contexto. Nisso, Bolsonaro parece seguir o mestre. Tentam criar uma conturbação política grave, usando para isso até mesmo uma ameaça comunista, fantasma que no mundo todo já se sabe que não ronda lugar algum.

É óbvia a tentativa de repetir 1964, ao menos nas alegadas motivações dos militares na época para derrubar João Goulart, com uma diferença nesta imitação pretendida por Olavo, já que agora eles estão no governo: o plano é o de fingir um contragolpe, contra uma conspiração da oposição, que junta o gramscismo, o Foro de São Paulo, George Soros, o STF e o Congresso Nacional, o governo da China e outras ardilosas figuras do Mal, inclusive aquele comunista do João Doria.

É um plano muito louco, convenhamos, para o qual falta inclusive um contexto para ser bem encaixado. Parece improvável, mas não convém fechar os olhos ao risco. Da última vez que os brasileiros descuidaram do perigo, deu nisso que aí está.

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