Dias de muita tristeza no país do pior presidente do mundo

O Brasil termina mais um dia em grande tristeza, numa terça-feira com o país registrando mais de mil mortes causadas por Covid-19 — foram 1.179 em 24 horas. Como sabe-se que existe muita subnotificação é preciso preparar o coração para dias ainda mais difíceis que virão pela frente.

Era previsível que este número oficial seria alcançado, no entanto o presidente Jair Bolsonaro passou o dia despreocupado com a dor e o desespero de seus compatriotas. Suas pautas eram outras. Ele anda bastante ocupado com o andamento dos trabalhos da Polícia Federal no Rio de Janeiro e parece que por ora está bem mais satisfeito com o que estão lhe passando.

Enquanto brasileiros morriam — um óbito a cada 73 segundos  — ele almoçava nesse dia com os presidentes do Flamengo, Rodolfo Landim, e do Vasco, Alexandre Campello. Discutiram um modo de driblar a necessidade do isolamento social em estados com gobernadores mais responsáveis, para fazer voltar os campeonatos estaduais.

Claro que não faltou cloroquina. Mais tarde, já de bucho cheio, ele disse que o novo protocolo que amplia o uso de um remédio sobre o qual ainda existem muitas dúvidas científicas será assinado na quarta-feira por Eduardo Pazuello, responsável interino pelo Ministério da Saúde, que teve dois ministros demitidos em menos de um mês.

Em plena pandemia a pasta da Saúde não tem ninguém oficialmente no comando. E o mais recente cotado para o cargo é uma figura amalucada que afirma que o coronavírus é “uma porra de um viruzinho”.

Ah, sim: num dia em que tivemos a terrível notícia de que esta doença já está matando um brasileiro a cada minuto, Bolsonaro não lamentou nenhuma dessas mortes nem mandou uma mensagem de compaixão e solidariedade para seus parentes, os amigos e, claro, para todos nós, que sentimos cada batida dos sinos.

O presidente aproveitou para fazer mais uma piada com a doença. Em live sobre o novo protocolo da cloroquina, Bolsonaro disse o seguinte: “Quem for de direita toma cloroquina. Quem é de esquerda toma Tubaína”.

Publicado em José Pires - Brasil Limpeza | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

“Uma porra de um viruzinho”

O olavista Italo Marsili, sugerido para o Ministério da Saúde por parte dos bolsonaristas, chamou o novo coronavírus, em vídeo gravado em 21 de abril, de “uma porra de um viruzinho”. Marsili fala que o novo coronavírus “não é letal”. Ele disse, ainda, que as pessoas morrem batendo a cabeça. “O Gugu está aí e não deixa a gente mentir.”Por fim, ele pergunta: “Está com medo de quê?”

No vídeo, Marsili também chama o STF de “vagabundo”, “ignorante” e “maldosos”, e acusa os ministros da corte de terem “agenda oculta, para desestabilizar o Brasil”.

Publicado em o antagonista | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Demissão de Queiroz, amigo de Bolsonaro, tem cheiro de vazamento

Ex-assessor foi exonerado após encontro cinematográfico de auxiliares de Flávio com delegado da PF

A entrevista do empresário Paulo Marinho à colunista Mônica Bergamo recolocou no centro da mesa a mesma pergunta: por que o presidente Jair Bolsonaro demitiu seu chevalier servant, o ex-PM Fabrício Queiroz, no dia 15 de outubro de 2018, uma semana depois do primeiro turno da eleição e duas semanas antes do segundo?

No mesmo lance, dispensou também a filha de Queiroz. Se eles fizeram algo de errado, nunca se soube. Ela ganhava R$ 10 mil mensais no gabinete do então deputado Jair Bolsonaro e ele recebia R$ 9.000 servindo ao seu filho Flávio, que acabara de ser eleito senador.

Desde os primeiros dias do governo de Bolsonaro conhecem-se as movimentações financeiras de Queiroz.

Ele nunca explicou suas operações, limitando-se a dizer que “fazia dinheiro” comprando e vendendo carros. Queiroz empregou no gabinete de Flávio Bolsonaro a mãe do ex-PM e miliciano da ativa Adriano da Nóbrega, foragido da Justiça por quase dois anos até que foi morto pela polícia baiana em fevereiro passado.

Paulo Marinho é suplente do senador Bolsonaro e revelou que os Queiroz foram demitidos dias depois do cinematográfico encontro de três colaboradores de Flávio Bolsonaro com um delegado da Polícia Federal na segunda semana de outubro de 2018.

Ele teria revelado que uma investigação apontava para traficâncias de Queiroz. Dias depois, ele e sua filha foram demitidos. O alerta teria mobilizado os Bolsonaros, Marinho, o futuro ministro Gustavo Bebianno e três advogados. O ex-PM assustou-se, temendo ir para a cadeia, chegou a vomitar no banheiro de um escritório e desapareceu.

Quando o Ministério Público investigava suas atividades, Queiroz queixou-se da falta de ajuda, sentindo-se ameaçado. Achava que os procuradores tinham um objeto “do tamanho de um cometa para enterrar na gente”.

O que seria uma história de 2018 juntou-se a uma encrenca de hoje, com a denúncia do ex-ministro Sergio Moro de que Bolsonaro tentou interferir no trabalho da PF do Rio de Janeiro, onde havia servido o delegado Alexandre Ramagem. Ele cuidou da Operação Cadeia Velha, que investigava malfeitorias na Assembleia Legislativa.

Tudo voltou ao ponto de partida: a Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro. Bebianno morreu e Flávio Bolsonaro desqualifica as revelações de seu suplente, mas Marinho colocou na roda pessoas que discutiram a estratégia de defesa de Queiroz. Algumas delas teriam presenciado a conversa com o delegado. Marinho não a presenciou.

Só as investigações do Ministério Público e da PF poderão esclarecer essa questão, mas uma coisa é certa há mais de um ano: a demissão de Queiroz e de sua filha tem cheiro de vazamento.

Paulo Marinho está no PSDB, alinhado com o governador João Doria e é pré-candidato a prefeito do Rio. Durante a campanha abrigou em sua casa do Jardim Botânico o quartel-general do candidato. Lá realizavam-se gravações e reuniões da equipe de Bolsonaro. Nessa relação estreita ele ganhou a suplência do senador Flávio Bolsonaro e perdeu uma cozinheira de várias décadas, levada pelo presidente para Brasília.

Publicado em Elio Gaspari - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Italo Marsili; Um ministro na exata medida da qualidade do governo Bolsonaro

Dizem que Jair Bolsonaro já tem um nome para o Ministério da Saúde. Italo Marsili está sendo cotado para suceder Nelson Teich, que pediu demissão antes de completar um mês no cargo. O sujeito é psiquiatra e tem o apoio de olavistas. Com o surgimento de seu nome como provável ministro, começaram a aparecer trechos de vídeos com suas opiniões, naquele nível de sarjeta que costuma ser o que sai da cabeça de bolsonaristas.

Assisti a trechos de um vídeo onde ele diz que o novo coronavírus “não é letal”. É a mesma conversa de Olavo de Carvalho, o que deve ter causado admiração em Bolsonaro, ainda mais que o jeito de falar do ministeriável é muito parecido ao do amalucado guru do presidente. Ele não só foi aluno de Olavo como morou um período com ele nos Estados Unidos.

A gravação é de 21 de abril, numa conversa do psiquiatra com integrantes do Brasil Paralelo, grupo que tem um nome perfeito: de fato, essa rapaziada vive num mundo paralelo. No bate papo, o provável novo ministro bolsonarista diz o seguinte sobre o Covid-19: “Que covardia é essa? Está falando de uma porra de um viruzinho”.

Claro que ele é contra o isolamento social, que na sua visão é uma conspiração que tem por detrás uma “agenda oculta muito clara” para “desestabilizar o Brasil”, chefiada por governadores e ministros do STF. Para ele, o STF é “vagabundo e ignorante”. Como reforço da sua teoria, ele diz que “para tirar o comandante eles vão abater o avião”. Obviamente o “comandante” é Bolsonaro.

Marsili fala com voz exaltada, com aquela certeza absoluta própria dos fanáticos. Para ele, é covardia temer o vírus. Neste trecho que rola pela internet ele dá até o exemplo da morte acidental do apresentador Gugu para fundamentar sua teoria de que não é necessário haver prevenção contra a contaminação.

“Óbvio que as pessoas morrem. As pessoas morrem engasgadas numa noite de orgia, não sei se você sabe disso”, ele disse, afirmando ainda que as pessoas morrem batendo a cabeça, apontando então o apresentador: “O Gugu está aí e não deixa a gente mentir”.

Outra consideração sua sobre o tema é de causar inveja aos mais doidões entre esses pastores neopentecostais que faturam os tubos explorando a religiosidade popular. Ainda sobre os riscos do coronavírus, vejam a dica que ele dá: “Está tão preocupado assim que vai morrer? Faça um exame de consciência e deixe sua alma preparada para morrer”.

Já está rolando uma indignação nas redes sociais, ainda mais que além dessas barbaridades ditas sobre a terrível crise do coronavírus, este endiabrado bolsonarista afirma também que o direito de voto para as mulheres fez mal para a qualidade da democracia. Bem, eu até entendo a revolta contra tantas idiotices, mas para ministro no governo de Jair Bolsonaro eu acho que Italo Marsili tem todos os predicados.

Publicado em José Pires - Brasil Limpeza | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

O homem certo

Uma porra de virusinho de mortalidade insignificante.

Ítalo Marsili, médico que se declara psiquiatra (o CRM discorda). Candidato da família Bolsonaro para ministro da Saúde. Releve-se a contradição de dizer que o coronavírus (porra de virusinho)  é resistente ao combate (mortalidade insignificante). Não fossem mamãe e papai Marsili, a gente diria que o doutor Marsili é filho de Damares Alves com Abraham Weintraub, concebido e parido na goiabeira.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Diário da crise LVIII

Hoje foi dia de boa notícia no front internacional. Um laboratório chamado Moderna, nos EUA, anunciou os primeiros resultados de sua vacina contra o coronavírus.

A experiência foi feita com um número reduzido de pessoas. Todas apresentaram anticorpos contra o coronavírus. A experiência será estendida a um grupo de 600 voluntários.

Estão em ritmo acelarado. Foi dia de reunião mundial da OMS. Alguns países europeus, França e Alemanha, estão falando na vacina como um bem global, que deverá estar ao alcance de todos.

É preciso combinar com os americanos, como antes precisávamos combinar com os russos.

O general Eduardo Pazuello falou pelo Brasil. É o Ministro da Saúde interino. Ignorou a gravidade da crise nacional, a cloroquina que é o grande tema de debate aqui. Mas falou no apoio do Brasil à cooperação internacional na luta contra a pandemia. É um ponto positivo.

Todo mundo ficou esperando o vídeo da reunião do Conselho de Governo. Aquele vídeo que Sérgio Moro aponta como uma prova de que Bolsonaro queria intervir na Policia Federal.

O vídeo será divulgado? Na íntegra ou em partes? Não sei. É possível que venha até proibido para menores de 14 anos: há muitos palavrões.

Preciso achar tempo para fazer algumas coisas, pesquisas, sair mentalmente do Brasil. É que as vezes, o ritmo nacional me cansa.

Tirei duas horas para ler o que me interessa e acho que vou ver outro filme se sobrar energia à noite.

Não se trata apenas de sair do Brasil. Sair da situação.  Aqui em casa toda manhã reclamamos que isto não é um sonho. Sempre acordamos com a mesma tragédia do coronavírus aqui e no mundo.

Estamos nos transformando no epicentro mas o corona avança na Rússia sobretudo no seu lado asiático.

As primeiras imagens de gente nos parques, de máscaras e mantendo o distanciamento social, já animam, embora isto não seja precisamente o futuro que sonhei. Gosto de cumprimentar e abraçar, isto não acontecerá tão cedo.

Lembro-me dos tempos da política. Nos dias de corpo a corpo, cumprimentava mais de 300 pessoas. Estoquei cumprimentos ao longo da vida. Mas ainda assim sinto falta de tocar em algumas pessoas. Ficaria contente com um racionamento mas nunca com a supressão completa.

18|5|2020

Publicado em Fernando Gabeira - Blog | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Novas pistas

Depoimento de ex-aliado aumenta suspeitas sobre Bolsonaro e impõe investigação

As afirmações feitas pelo empresário Paulo Marinho no fim de semana representam uma contribuição essencial para o aprofundamento das investigações sobre as tentativas de interferência de Jair Bolsonaro na Polícia Federal.

Em entrevista à Folha, o empresário relatou episódio que diz ter ocorrido na campanha eleitoral de 2018 —e que pode ajudar a entender por que o presidente buscou com tanta insistência substituir o superintendente da PF no Rio após chegar ao poder.

Segundo Marinho, o hoje senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) lhe contou que, a poucos dias do segundo turno da eleição, foi avisado por um delegado de que seu assessor Fabrício Queiroz seria atingido por uma operação policial prestes a ser deflagrada.

A ação tinha como objetivo investigar movimentações financeiras extravagantes encontradas nas contas de Queiroz e outros funcionários da Assembleia Legislativa do Rio, onde o filho mais velho de Bolsonaro exercia mandato.

Conforme a narrativa de Marinho, o delegado informou também que a operação só seria deflagrada após o fechamento das urnas, evitando-se assim o desgaste que poderia criar para Flávio e seu pai na reta final da campanha.

Aliado de primeira hora que fez parte do círculo íntimo dos Bolsonaros e depois rompeu com a família, Marinho será chamado a depor e promete apresentar provas do que diz às autoridades.

O adiamento da operação foi decidido em acordo com o Ministério Público Federal em 2018, e é certo que beneficiou outros políticos, como observou o juiz responsável pelo caso, Abel Gomes.

Mas nada pode justificar o suposto vazamento de informações sigilosas da investigação para a família Bolsonaro, que parece ter ganho assim tempo precioso para mobilizar advogados, discutir estratégias e avisar Queiroz antes que a polícia batesse à sua porta.

Se o presidente nunca escondeu o desejo de fazer mudanças na estrutura da PF no Rio, seus motivos permanecem obscuros, e esclarecê-los é tarefa do inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal para escrutinar as acusações do ex-ministro Sergio Moro.

Desde o estrepitoso rompimento do ex-juiz da Operação Lava Jato com o governo, tudo que Bolsonaro tem feito é buscar subterfúgios para contornar perguntas incômodas como as suscitadas pelo vídeo que registra sua reunião com o ministério em 22 de abril.

Ao dizer que nunca se importou com as investigações em curso na PF, o presidente soa pouco convincente. O substancioso relato de Marinho aumenta a desconfiança, e caberá aos investigadores examinar com rigor as novas pistas.

Publicado em Folha de São Paulo | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

As melhores festas (possíveis) da quarentena

Trancados em casa, só nos resta é curtir festas de seriados

Já que não sabemos quando e como poderemos ir a um bom rega-bofe, o que nos resta é curtir as festas de alguns dos melhores seriados das plataformas de streaming.

Na minissérie “Todas as Mulheres do Mundo” (Globoplay), inspirada na obra de Domingos Oliveira, o excelente ator (e gatíssimo) Emílio Dantas faz o protagonista Paulo, um amante compulsivo e serial. O delicioso galanteador – fiquei pensando o que as feministas acharam dessa série – está sempre dando festinhas em casa ou indo a jantares e shows. O primeiro episódio começa em uma animada baderna de Ano Novo na qual ele conhece Maria Alice (Sophie Charlotte), que virá a ser seu grande amor.

Ainda na Globoplay, “Catástrofe” é um bom seriado de casal, com ótimos diálogos e um roteiro frenético. No primeiro episódio, eles se conhecem em um bar cheio de gente. Dá uma saudade danada de conhecer pessoas em lugares lotados.

Em “Mrs. Fletcher” (HBO), a protagonista Eve é uma mãe de 45 anos que se vê perdida e sozinha depois que o filho único babaca vai para a faculdade. Ela cria então dois hobbies: um curso de escrita criativa e muita pornografia quando está em casa. O seriado tem duas boas festas: uma de “body positivity” (estão todos meio pelados) a que o adolescente Brendan, filho de Eve, vai acompanhado de uma garota bem bacana; e uma que a sua mãe organiza em casa para os colegas de classe. Essa última promete ser a mais chata do ano, mas é um dos melhores finais de temporada de todos os tempos. Uma pena que a série talvez não volte.

Quem me lê sabe que “Succession” (HBO) é o meu seriado preferido. Nele acompanhamos a disputa de poder entre os filhos de Logan Roy, dono de um dos maiores conglomerados de mídia e entretenimento do mundo. Eu não lembro de já ter visto um roteiro mais primoroso. O nono episódio da primeira temporada traz uma despedida de solteiro para Tom, o genro bobalhão e deslumbrado. A folia nada mais é do que um espaço “seguro” para ricos transarem à vontade. Uma espécie de “De Olhos Bem Fechados” mais cínico e menos sexy.

“Euphoria” (HBO) é toda uma festa com músicas incríveis e cores tão vivas que pensamos estar tão drogados quanto eles. Sim, todos estão bastante deprimidos e loucos e talvez se matem, mas, para quem está no sofá assistindo, vale a viagem.

Ainda na HBO, “My Brilliant Friend” é uma das mais emocionantes e bem dirigidas do canal. O final da primeira temporada tem o casamento de Lila, e a segunda temporada tem a festa em que Elena vai à casa de sua professora e deixa todos boquiabertos com a sua inteligência. Mas a bagunça mais gostosa é mesmo na praia, durante o verão, quando todas aquelas mocinhas italianas criadas para servir seus homens descobrem a liberdade e o desejo.

Quem quiser revisitar uma festinha do passado, literalmente, pode ir ao aniversário surpresa que Megan prepara para Don Drapper no primeiro episódio da quinta temporada de “Mad Men”. Ela canta um “Zou Bisou Bisou” bem sexy e escandaliza a todos com sua beleza e atitude.

Na Amazon, o lindo e premiado seriado “Transparent” (e que, por incrível que pareça, poucas pessoas conhecem) tem a melhor festa de casamento lésbico com fim trágico. “Eddy” (Netflix) tem música boa toda noite.

Em “Hollywood” (Netflix) tudo começa dando muito errado, mas (atenção: spoiler) acaba dando muito certo. Minorias juntas jamais serão vencidas! Algumas pessoas podem achar a trama inocente, mas em tempos de tantas desgraças, eu achei quase urgente devorar seus episódios. Ao final, na grande festa do Oscar, eu cheguei até mesmo a chorar.

Por último (mas a primeira a que eu escolheria ir), sugiro o sétimo episódio da primeira temporada de “Girls”. Jessa chama as amigas para uma festa com ares de “secreta” em Bushwick, mas ao chegarem lá elas encontram todo o elenco do programa. Shoshanna fica doidona de droga e, de um jeito bastante torto, Adam pede Hannah em namoro.

Ah, só mais uma coisa: se você quiser uma balada que não acaba nunca, tem toda a primeira temporada de “Boneca Russa” (Netflix).

Publicado em Tati Bernardi - Folha de São Paulo | Comentários desativados em As melhores festas (possíveis) da quarentena
Compartilhe Facebook Twitter

As fraudes em contratações em tempos de pandemia

As fraudes mais comuns em contratações com o poder público normalmente contam com a concordância dos agentes da administração que enriquecem com estes recursos quando são liberados.

A fraude mais comum é quando o edital da contratação pública é redigido pela empresa que pretende ser contratada, descrevendo seu objeto.

Pode ocorrer que grupos de empresas se reúnam previamente e simulem a concorrência prevista no edital, daí entram as subcontratações para a divisão dos recursos. Sempre há uma porcentagem maior na obra para contar com atrasos nos pagamentos e as propinas que estão embutidas.

Expediente presente nas licitações são os aditivos que são os acréscimos para o chamado ‘reequilíbrio contratual’, aquele que embute verbas que serão distribuídas aos agentes públicos. Ocorre a contratação em valores impraticáveis e, após, produzem-se aditivos para contemplar esta distribuição de valores – tudo previamente combinado.

A fraude comum é na contratação direta, sem licitação nenhuma. Por uma questão emergencial, o agente público contrata seus parceiros comerciais e fica mais fácil o recebimento dos recursos e o superfaturamento da obra ou serviço.

Na modificação do contrato com a alteração da previsão das obras, incluem-se cláusulas financeiras benignas que embutem valores ao longo do dele. A mais alta geralmente fica no final da empreitada.

Os contratos tendem a ser bianuais, combinando com os ciclos eleitorais.

Em tempos de pandemia, a Medida Provisória 961 de 6 de maio de 2020 aumentou valores para contratação, permitiu o pagamento antecipado de contratos desde que represente condição indispensável para obter o bem ou assegurar a prestação do serviço; ou propicie significativa economia de recursos; e a aplicação do Regime Diferenciado de Contratações Públicas – RDC, para licitações e contratações de quaisquer obras, serviços, compras, alienações e locações.

As exceções não foram para obras relacionadas com o combate da pandemia, mas para todas as obras e contratações. Aproveitou-se o momento para abrir, de forma ampla, as contratações e mais um universo de fraudes.

O resultado da alteração legislativa é que todas as contratações, independentemente das emergências de contratações para combater a pandemia, podem se valer destas cláusulas excepcionais.

Há uma abertura na permissão de pagamento antecipado de contratos desde que represente condição indispensável para obter o bem. Neste aspecto basta a combinação das empresas para que somente forneçam mediante pagamento antecipado, contando a administração com a sorte para que o bem seja realmente entregue e possua as qualidades prometidas.

Nas compras internacionais poderia ter sido prevista a custódia contratual mediante a entrega do bem ou, no plano nacional, a custódia bancária.

Afinal o que é assegurar a prestação do serviço ou propiciar significativa economia de recursos. Qual o percentual disto? Silêncio.

Estes conceitos abertos na contratação em tempos de pandemia, resultam na abertura do leque de fraudes que podem ser perpetradas. Não é por acaso a volta triunfante do grupo político denominado Centrão, repleto de useiros e vezeiros, em práticas nada edificantes.

A utilização de empresas mães e filhas, coligadas, contratadas e subcontratadas com sócios sem patrimônio, desde a terceirização e a quarteirização de serviços são expedientes consagrados nas fraudes e, apesar disto tudo, a legislação nem a jurisprudência avançam para proibir tais práticas, ao contrário, gradativamente as liberaram.

A modalidade de “significativa economia” foi lançada para as contratações de municípios e estados, sem recursos e com escassez técnica para o combate à pandemia, por sua vez, a União lava as mãos, como Pilatos, numa bacia de milhares de vítimas.

Publicado em Claudio Henrique de Castro | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Mural da História

beatles-TV

23 de julho – 2005 

Publicado em Charge Solda Mural | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Pacto antinupcial

TODA SEMANA, mesmo dia e mesma hora, o amigo telefona: “Tudo bem com vocês? Precisando de alguma coisa, é só chamar que eu levo, tem um supermercado aqui na esquina”. Recusa polida, conversa amena e breve. Ele pode sair, está na zona de conforto da pandemia. “Como estão se virando?”

A necessidade é a mãe da invenção, entrega-se tudo em casa, desconfio que será a grande mudança que a quarentena trará ao comércio – além do escracho eterno ao dono do Madero, o empresário que disse que 6 mil mortes não fariam diferença quando ainda não havíamos chegado às 18 mil (e contando).

“Sempre na divisão de tarefas”? O amigo nunca levou a sério o que lhe contei do pacto antenupcial aqui de casa: além dos bens, todos da mulher, passados, presentes e futuros, cada um cuida de uma área. Ela, da educação dos filhos, investimentos, viagens, gastos, até de minhas muitas cirurgias.

“E você, dos grandes problemas?” Lembrou que minha área conjugal sempre foi a política internacional, o Nobel da Paz, a pesquisa da vida extraterrestre, entre outros magnos assuntos. “Então hoje você decide sobre a cloroquina e o isolamento social”. Não, informo ao amigo, o pacto agora é outro: eu lavo, passo, limpo e cozinho.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Gente em tempos sombrios

Dizem que vivemos a maior crise depois da Segunda Guerra. Não conheci a Segunda Guerra: ela é tão antiga que me colheu nos primeiros anos de vida.

Isso não me impede de comparar. Para o Brasil, creio, a Segunda Guerra foi menos devastadora que a pandemia do coronavírus. Perdemos 471 homens e tivemos 12 mil feridos. Nesta semana, a pandemia já alcança 200 mil casos e ultrapassa as 15 mil mortes.

Na Segunda Guerra, Vargas demorou mas acabou encontrando o rumo, e o Brasil se colocou do lado certo no conflito. Bolsonaro subestimou a importância do vírus e, infelizmente, não alterou sua posição diante dos fatos, recusando-se a desenvolver uma política nacional e solidária.

Isso configura uma tempestade perfeita. Tanto na guerra como na pandemia, escolhas erradas nos levam ao pior dos mundos.

Mas não adianta chorar. Sempre me interroguei sobre como sobreviver no pior dos mundos. Não tive respostas definitivas.

Lembro-me de que estava cobrindo a chegada dos refugiados albaneses numa praia italiana, no fim do regime. Na multidão que saía do navio, vi um casal vestido modestamente, mas com muita elegância. Pareciam tranquilos e felizes. Imaginei que eram ligados por um profundo laço amoroso, e isto os ajudou a atravessar o pesadelo do regime autoritário de Enver Hoxha.

Mais tarde li “Homens em tempos sombrios”, de Hannah Arendt. Ali era a coragem intelectual diante do stalinismo e do fascismo que despontava como elemento essencial na sobrevivência.

Finalmente, quando li os escritores cubanos dissidentes, muitos perseguidos e aniquilados, outros resistindo através de sua literatura, cheguei a uma nova conclusão.

Creio que a expressei numa introdução ao livro do poeta Raúl Rivero, cuja saída de Cuba para a Espanha acompanhei, tentando apoiá-lo também do Brasil. Nesse caso, a sensualidade inspirada no cotidiano do próprio povo pareceu-me um fator de sobrevivência e de recusa à mediocridade burocrática.

Apesar de tantas indicações na experiência de vida, a tempestade perfeita me colhe numa situação singular. Será necessário inventar porque, apesar das experiências terríveis dos outros, nenhuma das outras tempestades perfeitas apresenta os ventos, trovões e raios como a nossa. A água que aqui transborda, não transborda como lá.

Estamos diante de um inimigo invisível. Muitos de nós somos do grupo de risco. A energia popular está distante porque fomos confinados. No passado, ouvia bater de panelas. Agora, nem isso. De vez em quando, alguns gritos ao longe, ou mesmo a voz de crianças empinando pipas no sol de outono.

O governo é de extrema direita. Ainda há liberdade de criticá-lo, mas na solidão virtual. Nos anos 60, fervilhavam as assembleias, uma corrente fraternal eletrizava os opositores, amores brotavam no asfalto como as flores do poeta.

Na semana passada, preparando-me para uma live com o embaixador Marcos Azambuja, escrevi um artigo sobre as características gerais dessa tempestade: ecologia, política externa, experiências históricas de negação da realidade.

Ao concluir o artigo preparatório, cheguei à conclusão de que era preciso aos poucos responder para esta época a pergunta que me intrigava em outras épocas e lugares.

Não sou adepto da ideia do novo homem. Fico com Shakespeare e acho que a humanidade com suas misérias e grandezas não muda essencialmente através do tempo. No entanto, não há dúvida de que a pandemia nos coloca a questão da solidariedade. Por menos que seja nosso gesto, sentimos que a resposta específica para esse tempo sombrio passa por aí.

Da mesma forma, a luta pela democracia, o esforço para manter nossos valores culturais e espirituais diante do impulso destruidor da extrema direita e sua política de morte.

Só está faltando talvez a superação dos ressentimentos, a certeza de que é possível formar uma ampla unidade de diferentes, sem veleidades hegemônicas, algo que em outras épocas foi o instrumento decisivo para combater governos extremistas.

Evidentemente, não tenho a fórmula acabada para esta união. Parece-me apenas que discutir, neste momento, quem tem mais culpa na ascensão de Bolsonaro é continuar no pântano.

Publicado em Fernando Gabeira - O Globo | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Brasil, que ‘já foi modelo’, agora é ‘o novo hotspot’ da pandemia

Clarín prevê para o país uma ‘tempestade perfeita: coronavírus, gripe, dengue e sarampo’, com o sistema de saúde à beira do colapso

Final de domingo na home page do financeiro alemão Handelsblatt, com foto do presidente brasileiro: “Brasil se torna o novo hotspot do coronavírus, Bolsonaro fracassa como gerente de crise”.

E na home do argentino Clarín, também com foto de Bolsonaro, “Brasil caminha para tempestade perfeita: coronavírus, gripe, dengue e sarampo”, destacando que o “sistema de saúde está à beira do colapso”.

Na americana Fox News, “Brasil ultrapassa Itália e Espanha” em casos de Covid-19. No tabloide New York Post, “Bolsonaro é visto fora de controle”. No New York Times, com agência Reuters, “Bolsonaro tira foto com crianças em manifestação, desafiando orientação de saúde”.

NYT manteve na home ao longo do domingo, de novo com foto de caixão em cemitério de Manaus, a chamada “Brasil, que já foi líder, se debate para conter vírus”. Logo abaixo, “As respostas pioneiras do país a crises passadas ganharam elogios globais, mas a sua resposta caótica ao coronavírus minou a capacidade do país de lidar” com a pandemia.

MOURÃO LÁ

A semana de “lives” e artigo do vice Hamilton Mourão incluiu “uma entrevista com um pequeno grupo de correspondentes estrangeiros”, no dizer do Financial Times, que no fim de semana abriu foto na home para o general.

Ele defendeu a política que vem implantando na Amazônia, inclusive a operação “Green Brazil Two”, que levou soldados de volta à floresta para tentar conter o desmatamento. “We mean business”, somos determinados na ação, declarou ele.

ARAÚJO E A ARGENTINA

Na quinta (14), ao lado do chanceler Ernesto Araújo, Bolsonaro deu a entender que o Brasil está se saindo melhor na pandemia do que a Argentina, “país que caminha para o socialismo”. Ecoou no Clarín, mostrando como, na verdade, o vizinho está melhor.

No dia seguinte, Araújo deu entrevista ao jornal, publicada no domingo. Sob a manchete, entre aspas, “Brasil tem as portas abertas para Alberto Fernández”, disse que o episódio “não impede o diálogo”. E reclamou que é Fernández quem dá “sinal contrário, quando faz ‘live’ com o ex-presidente Lula, põe no Twitter, ‘Veja, meu grande amigo, o presidente Lula’”.

GENOCÍDIO

Com fotos e o título “Lula teme genocídio no Brasil sob Bolsonaro”, a France Presse despachou longa entrevista de fim de semana com o ex-presidente, veiculada por franceses como Le Parisienalemães como Frankfurter Allgemeineindianos como Hinducanadenses etc., inclusive o portal americano Drudge Report.

Nelson de Sá

Publicado em Sem categoria | Comentários desativados em Brasil, que ‘já foi modelo’, agora é ‘o novo hotspot’ da pandemia
Compartilhe Facebook Twitter

Mural da História

economistas-desorientados7 de novembro, 2008

Publicado em Sem categoria | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

O horror acima de todos

Chegou uma hora em que morriam mil por dia, sem ar, afogados

Eis que, por razões que fogem à razão, num dia agourento de 2018 o pior aluno da escola foi alçado ao cargo de diretor. Zé Peidola, que estava havia 28 anos sem conseguir passar da quinta série, tinha este apelido por conta de sua ocupação favorita: liberar gases durante das aulas. Os amigos do fundão riam muito e diziam que o Zé Peidola era “mó zoeiro!”.

Após ser empossado, a primeira atitude do Zé Peidola foi demitir todos os professores e colocar em seus lugares os amigos do fundão. No lugar da Fátima, professora de física formada pela USP, entrou o Mosca, que era bom de Lego. Gilberto, de geografia, formado pela Unicamp, foi trocado pelo Horroroso, que já tinha viajado pra Disney e pra Bariloche. Chris, a professora de português, com dois livros de poesia publicados, foi trocada pelo Língua Presa porque Zé Peidola achou muito engraçado colocar alguém de língua presa para ensinar uma língua. No lugar do professor de artes não entrou ninguém, porque segundo Zé Peidola arte é coisa de viado. Mó zoeiro, o Zé Peidola!

O único adulto colocado como professor foi o Teles, pra ensinar matemática. Teles tinha feito faculdade nos Estados Unidos 50 anos antes e ainda era membro de uma antiga seita que ninguém mais seguia –nem nos Estados Unidos– segundo a qual a escola não tinha que dar nenhuma orientação, era pra deixar os alunos fazerem o que quisessem e eles se entenderiam.

Depois, Zé Peidola trocou a fruta do lanche por Cheetos sabor churrasco. A média para passar de ano foi de seis e meio para dois. Zé Peidola cortou todas as árvores do pátio e colocou no lugar televisões passando Silvio Santos. Na biblioteca, Zé Peidola instalou TVs passando Tom & Jerry e botou os livros para serem usados como papel higiênico. O laboratório ele e os amigos destruíram a marretadas, salvando só o clorofórmio pra fazer lança-perfume. Mó zoeira!

A escola, sob os desmandos de Zé Peidola, foi se desmilinguindo. Ninguém aprendia nada com aqueles professores. Os bons alunos passaram a sofrer bullying. Por medo, as alunas só iam ao banheiro em bando. Um dia o Zé Peidola viu uma aluna pedindo pras amigas irem ao banheiro com ela e disse que ela não precisava ter medo porque era feia e não merecia ser estuprada. Mó zoeira!

 Então, no começo do segundo ano de Zé Peidola na direção, surgiu na escola uma epidemia. O médico consultor da escola sugeriu algumas medidas profiláticas. Zé Peidola disse que quem mandava ali era ele, demitiu o médico e botou um amigo no lugar.

Os alunos começaram a morrer. Zé Peidola disse, com visível raiva das vítimas, que só morria aluno com problema de saúde. (Ele pensou, satisfeito, mas não disse, que ia morrer muito preto e pobre, também). Morreu um. Morreram dez. Cem. Mil. Dez mil. Quinze mil. Zé Peidola pediu pro amigo médico receitar aos doentes Cheetos sabor churrasco –tinha visto no Twitter que curava a doença. O amigo recusou-se. Zé Peidola o demitiu também.

Chegou uma hora em que morriam mil por dia. Morriam sem ar. Afogados, com os pulmões inundados. Roxos. Sós. Eram enterrados sem velórios, em valas comuns. E os adultos –você se pergunta–, não faziam nada?! Nada. Aqui e ali, publicavam umas notas de repúdio e enquanto viam seus pais morrerem, seus irmãos morrerem, seus filhos morrerem, as paredes da escola ruírem e o teto desabar, diziam que não era o caso de tirar Zé Peidola da direção. Vinte mil. Trinta mil. Cinquenta mil. Cem mil? Mó zoeira!

Publicado em Antonio Prata - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter