Morre a escritora, jornalista e tradutora Olga Savary, aos 86 anos

Premiada autora paraense foi a primeira mulher a publicar um livro de poemas eróticos no Brasil

Morreu neste sábado a escritora paraense Olga Savary, aos 86 anos, no Rio de Janeiro. A causa ainda não foi confirmada.

Olga nasceu em Belém do Pará, no dia 21 de maio de 1933. Poeta, contista, romancista, jornalista e tradutora, a autora é conhecida por ser a primeira mulher a publicar uma coletânea de poemas eróticos no Brasil, “Magma”, lançado em 1982. Entre os muitos prêmios que recebeu durante a carreira, destacam-se o Jabuti, em 1971, por “Espelho provisório”, o Prêmio de Poesia da Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1977, por “Sumidouro”, e o Prêmio Artur Sales de Poesia — da Academia de Letras da Bahia — por “Berço esplêndido” (1987).

Admirada por poetas como Carlos Drummond de Andrade e Ferreira Gular, de quem ela também foi amiga próxima, Olga traduziu dezenas de obras de grandes nomes da literatura latino-americana, como Júlio Cortázar, Jorge Luis Borges, Carlos Fuentes, Mario Vargas Llosa e Pablo Neruda.

Durante sua trajetória, a poeta também atuou como colaboradora e correspondente de diversos veículos de imprensa tanto no Brasil quanto no exterior.

O Globo

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“Covarde”, “cretino”, “nojento”, “imbecil”, “analfabeto” e “primata”

Arthur Virgílio Neto chamou Jair Bolsonaro de “assassino indireto”, por “incitar as pessoas a saírem às ruas, violando o isolamento social”. Ele o chamou também, segundo Josias de Souza, de “covarde”, “cretino”, “nojento”, “imbecil”, “analfabeto” e “primata”. Foi uma resposta à frase que Jair Bolsonaro teria dito no encontro ministerial de 22 de abril:

“Aquele vagabundo do prefeito de Manaus está abrindo cova coletiva para enterrar gente e aumentar o índice da Covid.” Arthur Virgílio Neto concluiu: “Ele tem olho de peixe morto, uma cara assustada, típica de pessoa que não sabe ficar quieta. Não sei que outras moléstias esse sujeito tem além da mental. Mas há algo no seu coração perverso, capaz de tocar em feridas que estão sepultadas.”

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Contra negros e pobres, Bolsonaro prefere imunização darwinista

Irresponsabilidade política e moral do presidente na pandemia gera sequência ininterrupta de covas rasas

A morte a todos iguala, diz o ditado, mas isso não é verdade. Cada um que vai carrega o que foi. A morte, como a vida, distingue.

O memorial Inumeráveis, a que O Globo deu voz nesta semana, registra e homenageia os abatidos pela Covid-19. Cada nome se acompanha de uma frase, da pena de um de seus próximos. Soam como minicontos ou haicais das trajetórias interrompidas de pessoas insubstituíveis. É leitura pungente. Ali estão brasileiros de muitas idades, várias profissões, todas as personalidades. Foram amados e farão falta. Produzem um luto privado e solitário. Não há velórios nem despedidas.

É morte asséptica e em larga escala. A pandemia levou ao paroxismo a velocidade dos funerais. O ritual já vinha sendo encurtado. No ritmo alucinado das existências contemporâneas, falta tempo para velar um corpo por 24 horas, como antigamente.

Antes do coronavírus tudo açambarcar, a indústria funerária já provia maneiras cada mais higiênicas de afastar os mortos dos vivos. São banhados, vestidos, maquiados, para se assemelharem ao que deixaram de ser. Almeja-se o finado que parece dormindo, mas não na sua cama.

Aí estão as “funeral homes”, que apenas evocam as casas de família. Há cemitérios-jardins, para que a beleza natural empane a memória da perda, e há a cremação, que anula o túmulo, emblema físico da perda, para salvaguardar na memória a pessoa exuberante.

O sociólogo Norbert Elias trata de tudo isso em “A Solidão dos Moribundos”. Disseca o processo que transfere os agonizantes dos cuidados domésticos para os dos profissionais da saúde.

Vão sendo despedidos da vida, enquanto os sobreviventes se adaptam a um cotidiano sem eles. No Ocidente, esse distanciamento “da indesejada das gentes” começou pelos estratos altos e foi se popularizando em todos os grupos sociais.

A pandemia acelerou o alijamento e produziu a ilusão da morte democrática, ao apartar doentes e corpos contaminantes, tanto de ricos como de pobres, mas o noticiário todo dia escancara que há tantos jeitos de morrer quanto de viver.

agonia amparada em hospital de primeira linha é para poucos. Pouquíssimos. O UOL informa que uma UTI aérea de Belém a Brasília custa R$ 40 mil, e de Manaus a São Paulo são R$ 80 mil. O serviço cresceu 30% no pós-Covid, mas quantos podem busca a salvação de jatinho? A quase totalidade dos brasileiros não pode.

Embora o SUS venha fazendo das tripas coração, é incapaz de atender em simultâneo todos os que o presidente manda circular. Desta irresponsabilidade política e moral do governo nasce sequência ininterrupta de covas rasas.

Enquanto Bolsonaro defende a saúde econômica das barbearias, muitos perecem sem atendimento. Agonizam em ambulâncias, portas, corredores de hospitais, ante médicos e enfermeiros impotentes. E outros tantos voltam a morrer à moda antiga, em casa, nos braços de seus íntimos desesperados por não ter como salvá-los.

Faltam estatísticas completas sobre o perfil dos falecidos, mas é só ligar a TV para saber quem compõe a maioria. São os pobres, são os negros. Nenhuma bravata presidencial pode desmenti-lo. Ao deixar ao deus-dará o controle da pandemia, o governo federal condena um perfil bem específico de brasileiros ao cadafalso.

Não lhe ocorre cuidá-los. Prefere a imunização darwinista, que todos se exponham e sobrevivam os fortes. Se muitos expirarem, que achem quem lhes enterre, porque nem o presidente, nem sua secretária da Cultura têm a dignidade para a tão terrível quanto honrosa ocupação de coveiro.

No 13 de maio, quando o país ultrapassou os 12 mil cidadãos perdidos para a doença, o ministro que xingou o STF (na reunião delatada por Moro) homenageou uma princesa no Twitter. Isabel nada mais fez que assinar medida —pela qual o movimento abolicionista lutou por duas décadas— de cuja produção esteve ausente.

Em 1888, libertaram-se cerca de 700 mil escravos oficiais —afora os ilegais, pois as leis do Ventre Livre e dos Sexagenários nunca se efetivaram completamente. A norma demorou a vigorar e nada proveu para os libertos.

Muitos de seus descendentes estão no mesmo desamparo a que a Monarquia os relegou e no qual a República os mantém. No ano passado, 1.054 pessoas, informa também o UOL, foram encontradas em cativeiro no Brasil. Basta olhar a cor delas e a dos moribundos nas filas hospitalares para ver que este é um país assombrado pelos fantasmas de seu passado. E presidido por um deles.

Angela Alonso

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Todo dia é dia

A um instante das estrelas
E hei de comê-las com um chá
Botar minha calça vermelha
E morrer de amor pelo sabiá
Cortar fundo a artéria
Morrer de dor e espirrar
O grave som da miséria
O perdão que não soube dar
Porque suja é a matéria
E eu só sei respirar
Como a lua em apneia
Como o vasto mundo a girar
Sabe-se do amor quem tem ideia
Da vaga janela de olhar
O mar, a terra molhada
O encanto da vida a sonhar

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Mural da História

8 de agosto, 2011

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Mediocridade e Morte

“O assassino está à solta. Mas ainda faltam olhos de ver e disposições que assumam a dignidade que o tempo exige”

Tenho a obrigação de escrever como educador há 50 anos. Exerço uma profissão evidentemente odiada pelo clã Bolsonaro, talvez por derivação do ódio que nutrem por Paulo Freire e por tudo o que signifique autonomia, emancipação e interação humana. Há algo muito estranho e quase incompreensível a acontecer com parte da população brasileira e com os poderes constituídos, exceto a presidência da República, lugar em que exerce o poder o rei da velha política, Jair Messias.

Apesar do nosso horror contínuo com a perda de vidas pela nova peste que se abate sobre a sociedade global e seus modos antiecológicos de vida, espanta que este senhor assassino direto e indireto da vida brasileira se mantenha no poder por tempo superior ao de Collor de Melo.

E o faz com civis e militares a tiracolo, alguns deles respeitáveis e a maioria oportunista, como foi comum na República desde 1889 e fartamente documentado pelos historiadores e sociólogos da frágil democracia brasileira. Como fazem falta Celso Furtado e Raymundo Faoro!

É verdade que a safra de dirigentes políticos do mundo é medíocre, o que ajuda a compreender sua permanência. Quando este professor-pesquisador entrevistava escritores e intelectuais israelenses, ainda nos anos de 1970, sobre as vocações para a literatura, alguns dos entrevistados disseram que há momentos na história em que as grandes vocações se dirigem para certos campos do saber humano e que a distribuição não é simétrica.

De fato, não é. Com raras exceções, o tempo é de mediocridade na direção política da sociedade de interpenetrações setoriais e tendência globalizante, ainda incompleta, mas a demonstrar todos os seus erros e defeitos. Pior, a mediocridade é criadora de mitos, como demonstraram fartamente Roland Barthes de um lado e Max Weber de outro.

No entanto, é de espantar que um criador de mediocridades diárias à porta do palácio, um produtor insano de folhetins que, direta e indiretamente, estão a matar mais e mais brasileiros e confundir outros, se mantenha na direção de um dos poderes da República. E a produzir divisionismo e sinais de morte nos outros poderes.

Sua saída é urgentíssima. A despeito da reação de setores da população enganados em seu voto e em parte já arrependidos. A despeito do modo clássico de reação legislativa, que espera o fim da pandemia para pensar algo novo, o que não se deu com Collor e Dilma. O divisionista, ao fim e ao cabo, não está “nem aí” para a pandemia; ao contrário, aproveita-se dela a seu favor.

Ora, este senhor é assassino direto pela vociferação, provocadora da divisão e da cizânia, similar ao bafejo da morte. Nenhum outro dirigente do planeta está a fazer como ele. Trata-se do pior dirigente, do mais medíocre entre os medíocres. Então, por que ainda exerce o poder?

Por que os militares e civis sensatos que giram em torno dos palácios ainda se encontram a tiracolo? O que esperam? Ganham altos salários? Ou pensam que estão a fazer algo útil à nação? Coitados! Não tiveram familiares e amigos mortos em quantidade a provocar algum grau de revolta contra o divisionismo provocado pelo senhor de voz e mãos assassinas?

O que esperam os demais poderes, além de demonstrar que Collor e Dilma nada fizeram e tudo o que ocorreu foi um mesquinho jogo de interesses da velha política? Mas agora o que está na balança são os fundamentos da vida do país, pois nenhuma ação em que este senhor pôs as mãos desde janeiro de 2019 foi adiante, avançou ou melhorou, seja economia, saúde, educação. Do mesmo modo, direitos humanos, ecologia, cuidados com as nações indígenas e meio ambiente. Enfim, o nada nonada, para lembrar palavra de Guimarães Rosa. O que é nada não tem razão de prosseguir na direção política da nação.

Todos quebraremos a cara e teremos o todo ou parte de nós assassinada, pois o comportamento pregresso e atualizado da figura citada indica uma personalidade totalmente vinculada aos processos de morte, armamento, baixeza ética, negação do outro e da outra, bipolaridade em cada frase e em cada hora do dia.

Tudo já foi dito e tudo já foi demonstrado; ampliado agora com as últimas revelações, ultimas novelinhas medíocres e folhetins negadores da vida cotidiana deste povo já sofrido em sua história democrática.

Teremos de ser um país sério. O que menos interessa agora é que tenhamos algumas estruturas sociais organizadas, pois não se trata de fazer leitura estruturalista das instituições e sim leitura dialética do que está a morrer continuamente dentro de nós e ao nosso redor.

O assassino está à solta. Mas ainda faltam olhos de ver e disposições que assumam a dignidade que o tempo exige.  Todo tempo mediocrizado pela política e pela espera do que não existe é tempo para perder oportunidades históricas e ampliar sofrimentos.

Luiz Roberto Alves|Revista Forum

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Após ultimato sobre cloroquina, Teich pede demissão do Ministério da Saúde

Nelson Teich, que assumiu há menos de um mês, vinha sofrendo pressão para ampliar uso do remédio

O ministro da Saúde, Nelson Teich, pediu demissão do cargo, informou o próprio ministério. Uma coletiva de imprensa será marcada nesta tarde, de acordo com a pasta.

Há menos de um mês no cargo, Teich teve poder como ministro minimizado pelo presidente Jair Bolsonaro. Na segunda, foi informado pela imprensa de decisão do presidente de aumentar a lista de atividades essenciais com salões de beleza, academias e barbearias e se mostrou surpreso.

Também foi enquadrado por Bolsonaro a ampliar o uso da cloroquina para pacientes com quadros leves da Covid-19, apesar da falta de evidências científicas do medicamento para o novo coronavírus. Estudos recentes internacionais, publicados em revistas científicas de prestígio, não mostraram benefícios da droga em reduzir internações e mortes e mostraram riscos cardíacos.

Em uma teleconferência com grandes empresários organizada a quinta-feira (14) pelo presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, Bolsonaro afirmou que o protocolo “pode e vai mudar”.

“Agora votaram em mim para eu decidir e essa questão da cloroquina passa por mim. Está tudo bem com o ministro da Saúde [Nelson Teich], sem problema nenhum, acredito no trabalho dele. Mas essa questão da cloroquina vamos resolver. Não pode o protocolo —de 31 de março agora, quando estava o ministro da saúde anterior [Luiz Henrique Mandetta]— dizendo que só pode usar em caso grave… Não pode mudar o protocolo agora? Pode mudar e vai mudar”, declarou Bolsonaro.

Teich é o segundo ministro a deixar a Saúde em meio à pandemia. Juntamente com o impasse sobre o isolamento social, divergências sobre a aplicação da cloroquina e da hidroxicloroquina em pacientes da Covid-19 foram um dos principais pontos que levaram à demissão de Mandetta, em 16 de abril.

“Cloroquina hoje ainda é uma incerteza. Houve estudos iniciais que sugeriram benefícios, mas existem estudos hoje que falam o contrário”, afirmou o ministro, em 29 de abril. “Os dados preliminares da China é que teve mortalidade alta e que o remédio não vai ser divisor de águas em relação à doença.”

Internamente, o governo estuda que a pasta seja assumida pelo secretário-executivo, general Eduardo Pazuello.

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A vida numa ‘live’ sobre coronavírus

Nem sempre tenho chance de falar sobre tudo isso que está acontecendo. Quero dizer, limito-me a comentar todos os dias apenas alguns aspectos de uma realidade que me desafia, ou, se quiserem, me atropela.

Nesta semana tive a chance de conversar com o embaixador Marcos Azambuja, num encontro promovido pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais. Além da amizade, partilhamos um certo senso de humor, que sobrevive mesmo nestas horas sombrias.

Trabalho com a questão ambiental desde a década de 1970. Sei que as pessoas têm certa dificuldade em reconhecer um perigo invisível. Foi assim no desastre de Chernobyl. Muitos europeus não acreditavam que o próprio leite que consumiam poderia estar contaminado. Em Goiânia não era tanto a invisibilidade, mas a sedução de uma pedra brilhante (césio-137) que enganava as pessoas na Rua 57.

Com Chernobyl acentuou-se o declínio das classes dirigentes soviéticas. A epidemia de coronavírus não trouxe desgaste do mesmo nível para o PC chinês. Há um vácuo da presença americana, uma vez que o país abandonou suas pretensões de liderança e refugiou-se no lema America first. Coube a uma potência média, a Austrália, com apenas 25 milhões de habitantes, lançar uma iniciativa internacional para apurar a responsabilidade da China.

Quem gostava muito de comparar a Austrália com o Brasil era Lionel Brizola. Não é minha intenção. A Austrália tem um governo conservador e a China como seu maior parceiro comercial. No entanto, encarou o problema e ainda por cima unificou as forças políticas internas, num esforço comum.

O governo brasileiro censura a China nos bastidores e nas redes sociais, algo bastante imaturo. Nesse caso, o melhor seria ficar calado.

Mas o pior foi a incapacidade de encontrar uma resposta nacional e solidária no combate ao coronavírus. A política de negação da extrema direita internacional acabou encontrando no Brasil sua face mais rude.

Bolsonaro negou a importância da pandemia, afirmando que não passava de uma gripezinha. Consequentemente, negou toda a política de isolamento social, estimulando seus seguidores a combatê-la.

Quando surgiram as primeiras mortes e depois elas foram se acumulando, o processo de negação estendeu-se aos próprios mortos. Seria mesmo tanta gente ou estava havendo uma superestimação?

Com as imagens dos caixões vieram novas dúvidas: existe gente dentro ou são caixões cheios de pedras? Em Minas foi divulgado o vídeo de uma testemunha vendo pedras em caixão. Certamente, uma militante paga. Uma deputada federal chegou a afirmar que um caixão no Ceará estava vazio.

Assim como nega o coronavírus em todas as etapas, Bolsonaro quer passar para a nova fase, como se ele não tivesse devastado a saúde dos brasileiros, sem planos de transição. O Brasil tornou-se um caso internacional. Reportagens, memes, comentários escandalizados na TV estrangeira, Bolsonaro aos poucos se transforma em vilão mundial. Essa é uma das razões por que o título da nossa conversa é a tempestade perfeita. O vírus no Brasil metamorfoseou-se em molécula política.

Muitos dizem que a pandemia é o grande drama que vivemos desde a 2.ª Guerra Mundial. Mas, se observamos aquele período, a situação do Brasil é pior. Vargas custou, mas encontrou seu rumo. Bolsonaro simplesmente não consegue sintonia com o esforço nacional na luta contra o coronavírus. O Brasil não era um dos principais protagonistas da guerra, mas está se tornando uma das principais vítimas da pandemia.

Estamos, como todo mundo, sepultando sonhos. Não importa que tipo de futuro o coronavírus nos permitirá, também ficaremos mais pobres.

Pela minha experiência, a pobreza não é tão terrível quando mantemos nossa vida amorosa e intelectual em bom nível. O problema será viver num país em que a pobreza material inevitável é seguida de um debate político desolador, uma permanente troca de insultos. De qualquer maneira, a alegria de se descobrir vivo quando atravessarmos este túnel talvez compense todo o susto e a tristeza.

A ideia de que o coronavírus nos tornaria a todos melhores pessoas é uma ilusão. Todos os grandes problemas do Brasil, incluída a corrupção, estão em vigor neste período. Ao lado de um louvável movimento de solidariedade, é bom lembrar.

O que pode acontecer, entretanto, é uma chance de negociarmos prioridades, uma vez que a pandemia revelou não apenas a profunda desigualdade social, mas como ela bloqueia o futuro. Quem sabe, também, no final do processo, será possível restabelecer o papel da ciência e do esforço intelectual, ambos tão estigmatizados pelo populismo de direita.

Quando digo papel da ciência não estou pensando em mitificá-la ou transformá-la em nova religião, apenas reconhecer sua importância e continuar trabalhando nas esferas em que atuamos, cheias de incertezas e imprecisões.

Somos uma geração de risco, em todos os sentidos. Espero que possamos sair de casa bem rápido, pois ainda há muito que fazer. Sobretudo depois que nos apegamos tanto à vida, “à vida apenas, sem mistificação”, como dizia o poeta.

Dito isso, creio que, por algum tempo, posso voltar aos detalhes cotidianos.

O Estado de São Paulo

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Em ‘História da Violência’ autor francês destrincha o trauma de um estupro

Em ‘História da Violência’ autor francês destrincha o trauma de um estupro

“Em uma semana você dirá a si mesmo: já faz uma semana que aconteceu, vamos lá, e em um ano você se dirá: já faz um ano que aconteceu.” Contando os passos, os minutos, os segundos. Pensando no lençol com perfume de pêssego, que em nada se parece com o cheiro de um pêssego. É com essa mente obsessiva, ininterrupta e genial que o jovem escritor francês Édouard Louis, de 27 anos, consegue sobreviver ao trauma de um estupro (“é como a morte”, ele ouve de uma enfermeira no hospital) para escrever “História da Violência”, certamente um dos melhores livros que li nos últimos anos.

Conhecido pelo best-seller autobiográfico “O Fim de Eddy“, sobre sua juventude povoada de miséria e humilhações, Édouard é um daqueles autores incansáveis na busca pela frase mais honesta, pelo texto mais escancaradamente sincero. A literatura lhe deu tudo o que ele tem: se antes o salvou de um passado sufocante de cuspes na cara, agora afrouxa seu pescoço das lembranças de um enforcamento recente (ele quase foi assassinado pelo rapaz que o estuprou). Por isso o seu compromisso com a escrita é essa entrega tão desenfreada, desnuda e visceral.

Há dois anos, em entrevista a este jornal, declarou que só a verdade lhe interessava: “acho que a verdade tem o seu ritmo, de certa forma. É minha única preocupação”. Também em 2018, o autor disse ao El País não gostar “da literatura que é um mero exercício de estilo”.

Édouard tosse para tirar dos pulmões o ar que pode ainda ser o da respiração de Reda, seu agressor. E se pergunta por que não fugiu quando podia, por que não fez parar a agressão quando achou que tinha esse poder. Ele se pergunta por que, como a personagem Temple, no romance “Santuário”, de William Faulkner, se agarrou à inércia? Sua irmã, que paralelamente narra uma versão da história para o marido, com requintes sensacionalistas e um linguajar típico de uma pessoa grosseira (mas, vez ou outra, mostrando conhecer bem o irmão), confessa que jamais lhe diria “a verdade”, mas acha que sua carência o faz ser assim, “se apega muito rápido”, ou, talvez, ele tenha suportado tudo aquilo por ter “sido educado na dureza”, mesmo querendo mostrar que não pertence mais a ela.

Em itálico, o escritor, que ouvia tudo atrás da porta, registra o monólogo da irmã (o marido motorista de caminhão só escuta, acostumado ao silêncio das estradas). Em seu primeiro livro, ele já havia utilizado esse recurso para destacar sua voz mais livre e confessional.

Formado em ciências sociais e crítico ao sistema carcerário de seu país, Édouard Louis nos descreve uma polícia burra e racista, feliz em classificar Reda como um “tipo magrebino”, não fazendo referência a uma origem geográfica, mas sim adjetivando o sujeito como “ralé, bandido e delinquente” ou insistindo que são sempre os árabes a cometer crimes na França.

No meio do interrogatório, arrependido de estar ali, desejando até mesmo proteger Reda (não acredita em violência contra a violência e tem as piores lembranças de visitar um primo na prisão), ele quer desistir, mas ouve que sua história não mais lhe pertence. Sua resposta veio em forma de obra-prima.

Publicado em Tati Bernardi - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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Embalagem de cloroquina virá com foto de Bolsonaro como alerta

O presidente Jair Bolsonaro teria “exigido” a Nelson Teich que recomendasse a cloroquina no tratamento de Covid-19. Diversos estudos recentes mostraram que a cloroquina não só é ineficaz contra o coronavírus como pode causar graves efeitos colaterais, especialmente no coração.

Por isso, a indústria farmacêutica terá que colocar a foto de Bolsonaro nas embalagens de cloroquina – como é feito com cigarros.

“Quem quiser duvidar da ciência tem que saber que o destino é se tornar um mentiroso autoritário, manipulador, orgulhoso de ser ignorante, potencialmente genocida e, de uma maneira geral, um grande filho da puta”, disse a decisão.

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Elogiozinho da loucura

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Padrelladas

Sou do tempo do colchete, da meia cerzida e da Cafiaspirina. Tempo do Cigarro Beverly, do Sabonete Eucalol e do Gibi Mensal.

Meu pai tinha um “negócio” de secos, molhados e miudezas. Tudo era embrulhado em papel. A cerveja, o sabão em barra, os enlatados, tudo chegava acondicionado em caixas de madeira. Os jornais – O Globo, O Correio da Manhã, O Radical eram volumosos e não raro traziam fascículos com histórias em quadrinhos. E as casas e os móveis e os tamancos, tudo era feito com madeira. E haja árvore para ser derrubada! Naquele tempo os Klabin ainda não tinham inventado reflorestamento. Então, inventaram o plástico e todos os problemas acabaram.

***

Naqueles tempos, na modorrenta Palmeira, todo mundo (todo mundo é modo de dizer) criava seus porcos em chiqueiros.

Isso não impedia que fossem abatidos alhures aves e mamíferos. O caçador voltava com um tateto (porco do mato) e dizia que tinha matado um cateto. Dona Lindamir, nossa professora de Matemática perguntava se não tinha também encontrado uma hipotenusa para ser adicionada à soma dos catetos. Ninguém entendia por que ela dizia isso.

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O fantasma do AI-5

© Luiz Carlos Fernandes

QUEM LER o artigo do vice-presidente Hamilton Mourão, hoje no Estadão, irá terá calafrios pela perspectiva de o general vir a substituir Jair Bolsonaro na hipótese do impeachment. Mourão desfia a retórica, o conteúdo, as ameaças veladas e a alusão a fantasmas das ordens do dia e mensagens de comandantes, ministros e generais presidentes da ditadura.

Trinta e cinco anos passados do fim da ditadura e o pensamento do provável futuro presidente da República reflete a visão de mundo dos anos 1964/1968. Saiu a ameaça comunista, que não mais existe, mas subsiste a leitura da subversão pelos governadores e pelos poderes e a manipulação da opinião pública pela imprensa.

É o Executivo sofrendo interferências do Judiciário e do Legislativo, afirma o general vice-presidente, que finge não ver que quem iniciou a provocação autoritária e a pressão sobre os outros poderes foi exato o Executivo. Pelo artigo depreende-se que o general vice-presidente vê na presidência um messias atacado pelos fariseus.

O general vice-presidente apresenta seu diagnóstico sobre a crise brasileira afirmando que nunca os brasileiros fizeram tanto mal ao seu país. Essa é a tradicional leitura paternal-salvacionista dos militares brasileiros, com a qual justificaram as intervenções na estabilidade institucional desde os primeiros tempos da República.

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Bolsonaro blinda-se contra as mortes

Jair Bolsonaro criou um escudo legal que o exime de qualquer responsabilidade pelas mortes de Covid-19. Diz a MP publicada nesta quinta-feira: “Os agentes públicos somente poderão ser responsabilizados nas esferas civil e administrativa se agirem ou se omitirem com dolo ou erro grosseiro pela prática de atos relacionados, direta ou indiretamente, com as medidas de combate ao coronavírus (…).

O mero nexo de causalidade entre a conduta e o resultado danoso não implica responsabilização do agente público (…).

Na aferição da ocorrência do erro grosseiro serão considerados: os obstáculos e as dificuldades reais do agente público; a complexidade da matéria e das atribuições exercidas pelo agente público; a circunstância de incompletude de informações na situação de urgência ou emergência.”

Os erros grosseiros de Jair Bolsonaro no combate ao novo coronavírus, que já resultaram em milhares de mortes, não serão punidos.

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Ele está de volta!…

Vejo Roberto Jefferson ditando cátedra na televisão e sinto um arrepio. Roberto Jefferson?! De novo?! Pois é, o que há de pior na vida pública brasileira está de volta, como conselheiro do capitão-presidente… Na verdade, ele deveria estar recolhido aos costumes, curtindo o xilindró por tudo o que fez na atividade política, mas continua leve e solto, presidindo o PTB e fazendo negócios.

Para quem não lembra, Roberto Jefferson Monteiro Francisco, natural de Petrópolis, RJ, chegou aos refletores quando, verborrágico e com excesso de peso, foi o general da “turma de choque” do governo Collor, durante o processo de impeachment.

De lá para cá, ele mudou apenas de dimensões físicas: operou o estômago e, com isso, diminuiu de peso e ficou mais lépido.

No mais, continuou o mesmo de sempre: truculento, metido a valentão, e, sobretudo, vocacionado para apoiar o governo, seja qual for, e disso tirar o máximo de proveito possível. Em seis mandatos em Brasília, passou de Collor à base de apoio de FHC e de Lula. Na Câmara Federal, foram 13 anos de toma-lá-dá-cá. Com Lula emplacou, entre outras vantagens, o Ministério do Turismo, a presidência da Infraero, a presidência do Instituto de Resseguros do Brasil (autarquia que movimentava a bagatela de R$ 900 milhões/ano), a Eletronorte, a Delegacia Regional do Trabalho do Rio de Janeiro (base eleitoral do nobre parlamentar) e a diretoria de administração dos Correios.

Nestes últimos, em 2005, envolveu-se em um escândalo de corrupção com fraude a licitações e desvio de dinheiro público. Ante a iminência da instauração de uma CPI, o esperto Jefferson deu uma de bom moço e “denunciou” a prática da compra de deputados federais da base aliada pelo PT de José Dirceu. A prática ficou conhecida como “mensalão“. Quer dizer: depois de haver se locupletado pessoalmente, denunciou o esquema montado pelo PT e abalou o companheiro Lula. Fez um estrago danado e acabou cassado pela Câmara dos Deputados, perdeu os direitos políticos e foi condenado pelo STF a sete anos e alguns dias de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Como fora “colaborador”, ficou pouco no cárcere.

No breve governo Temer, tentou fazer a filha Cristiane Brasil ministra do Trabalho, mas a carreira da moça foi abreviada pela Polícia Federal.

Agora, Roberto aproximou-se de Bolsonaro – aquele que havia prometido afastar-se da velha política do “é dando que se recebe”, dos corruptos e oportunistas. Jefferson que de bobo não tem nada, divulgou em sua rede social uma foto segurando um fuzil e afirmando que se prepara para”combater o bom combate. Contra o comunismo, contra a ditadura, contra a tirania, contra os traidores, contra os vendilhões da Pátria. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos“.

Em seguida, advogou o fechamento do Supremo Tribunal Federal e a perseguição à imprensa: “Bolsonaro, para atender o povo e tomar as rédeas do governo, precisa de duas atitudes inadiáveis: demitir e substituir os 11 ministros do STF, herança maldita. Precisa cassar, agora, todas as concessões de rádio e TV das empresas concessionárias Globo”.

O Messias adorou e Roberto Jefferson virou o novo mentor do presidente e líder do “Centrão” no Congresso Nacional. Caberá a ele mexer os pauzinhos se um novo impeachment for desencadeado.

É assim que a coisa funciona nesta terra de seu Cabral! Sai governo, entra governo e tudo se modifica para ficar na mesma. O baile continua e os mesmos sempre encontram um jeitinho de permanecer no salão. A orquestra segue em frente e nós, os idiotas da planície, sofremos as consequências, em meio a uma pandemia que já matou mais de 13 mil brasileiros e continua crescendo.

Só faltava o vírus Roberto Jefferson. Não falta mais.

Publicado em Célio Heitor Gumarães - Blog do Zé Beto | Deixar um comentário
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