Ridendo castigat mores

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Elas

Jessica Chastain. Pirelli Calendar|© Peter Lindbergh

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Pergunte ao Coronavírus

Num momento de ansiedade e incertezas, multiplicam-se as previsões e os cenários sobre o mundo pós-pandemia. Mas todos esses cenários, creio, dependem da evolução da mesma variável que nos pôs nesta situação tão difícil: o coronavírus.

Uma das minhas referências nas previsões sobre o coronavírus é Bill Gates. Ele dedica parte de sua fortuna ao financiamento de projetos de saúde pública. Precisa ser bem informado, no mínimo, para não jogar dinheiro fora. Em curto artigo sobre as perspectivas, Gates acha que uma vacina eficaz contra o coronavírus estará pronta até 2021. Os caminhos da pesquisa indicam duas direções. Uma delas é a vacina tradicional, que utiliza um vírus desativado. A outra, aproveitando os avanços da genética, poderia informar as células para que bloqueiem o vírus.

Existe uma possibilidade mais rápida, anunciada pelos cientistas de Oxford no jornal The New York Times. Eles acham que conseguem lançar sua vacina ainda em setembro de 2020. Fizeram experiências com seis macacos e foram bem-sucedidos. Pretendem agora experimentá-la em 5 mil pessoas e obter a licença.

Nesse cenário, o mais otimista possível, até o final do ano já estaria em circulação uma vacina eficaz contra o coronavírus. Além de algumas centenas de milhares de mortes, apenas o ano de 2020 estaria perdido.

Outra variável que Gates aborda é a dos remédios. Ele considera ter havido um subinvestimento em pesquisas de remédios antivirais, comparadas com os antibacterianos. Acho que vai se mover nesse campo. Não existe hoje uma bala de prata. Como não existiu na luta contra o HIV-aids, para o qual, finalmente, se chegou a um coquetel de drogas.

Talvez as coisas sejam mais promissoras no campo dos testes. A tendência é que evoluam, possam ser vendidos com mais facilidade e ser usados em casa. Como já o são alguns outros testes, como o de gravidez.

Gates acha que, assim como depois de 1945 foi necessário criar uma instituição internacional para garantir a paz, será também necessária uma organização internacional para combater as pandemias, novos vírus que podem vir tanto de morcegos como de pássaros. Esse desdobramento internacional não é fácil. Uma declaração da ONU de cooperação em torno de vacinas, remédios e testes não foi apoiada por EUA, Brasil e mais 12 países.

Imagino que uma das razões da reserva norte-americana seja o direito de exploração conferido pelas patentes. Suas grandes empresas investem milhões de dólares em pesquisas e, naturalmente, querem receber esse investimento de volta, com os devidos lucros.

Esse foi um grande debate travado também no período da aids, quando se questionou o respeito às patentes numa situação excepcional. O Brasil tinha razões para questionar. Adotou uma lei que garantia o coquetel gratuito aos portadores de HIV e isso custava caro ao País. O ministro da Saúde na época era o hoje senador José Serra. Ele defendeu o que me parece ter sido a posição correta de acordo com o interesse nacional.

Hoje, em plena pandemia de coronavírus e diante de outras que podem vir, o Brasil se distancia da ideia de cooperação internacional para se alinhar com os EUA, que têm interesses bem específicos. A julgar pela posição do chanceler Ernesto Araújo, estamos diante de um “comunavírus”, que tende a acentuar a influência internacional sobre os países, reduzindo sua autonomia.

É um raciocínio que se assemelha às posições do Brasil sobre o esforço internacional para atenuar os efeitos do aquecimento planetário. Assim como é difícil, hoje, prever uma nova situação sem levar em conta a trajetória da covid-19, será muito difícil também excluir a variável ambiental de qualquer cenário futuro.

Ao contrário de países como a Nova Zelândia e a Austrália, o Brasil politizou o vírus. Eles foram bem-sucedidos, assim como, de certa forma, Portugal, onde governo e oposição se uniram diante do inimigo comum.

Num dos primeiros artigos que escrevi sobre o vírus, quando ele estava circunscrito a Wuhan, na China, afirmei que para combatê-lo seria necessária uma visão nacional e solidária. Não foi isso o que aconteceu. Assim como pesou para as civilizações antigas na América ter uma visão mítica sobre os invasores, ou deve pesar no Haiti encarar com o vodu os grandes desastres naturais, o Brasil mergulhou na cegueira ideológica.

Durante muito tempo, discutiu-se se era um vírus comunista destinado a enfraquecer o governo. Da mesma forma, discutiu-se se a cloroquina era ou não um remédio de direita.

O vírus é apenas uma proteína envolvida numa capa de gordura. E a cloroquina, uma substância química usada contra malária e outras doenças.

Portanto, quando se escrever a história dessa peste no Brasil, não se pode apenas culpá-la pelos estragos que fez. O governo digeriu mal a tese da imunização pelo amplo contágio e refugiou-se nela na esperança de tocar a economia.

Se continuar se comportando com o meio ambiente com a mesma cegueira ideológica com que encara o coronavírus, os cenários do futuro, não importa quão sofisticado for o seu desenho, terão de contar com o pano de fundo de uma terra arrasada.

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O bolsonarismo na zombaria à dramática crise do coronavírus

Dentre as barbaridades do bolsonarismo sobre o coronavírus destaca-se uma idiotice dita pela deputada Carla Zambelli que em entrevista no programa Pânico, da rádio Jovem Pan, disse que quer logo ser contaminada pelo vírus. Ela disse o seguinte: “Eu queria abraçar alguém com o coronavírus pra pegar logo e tirar isso da minha cabeça”.

Embora seja uma afirmação idiota demais até para alguém da bancada do “E daí?”, do Bolsonaro, ela disse mesmo essa bobagem. Já fui conferir. Carla acredita também que tomaria a cloroquina e logo estaria livre da angústia causada pelo vírus. É sério: foi o que ela falou. Também conferi.

Bem, a deputada bolsonarista poderia resolver sua ansiedade pedindo uma audiência e dando um abraço no governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que voltou a testar positivo para a Covid-19. Witzel havia anunciado no dia 14 de abril que estava infectado pelo novo coronavírus e agora fez outro teste que deu positivo novamente.

A situação de Witzel mostra que esta doença não é tão simples como pensam os insensatos conduzidos por Bolsonaro. Imaginem a angústia — aí sim com uma aflição verdadeira — de alguém que pega este vírus e a doença não passa, como vem acontecendo com o governador e tantos outros brasileiros.

Figuras como a deputada Carla Zambelli e também os otários direitistas que repassam esse descaso do presidente do “E daí?” pelo coronavírus nas redes sociais estão na prática zombando do sofrimento de seres humanos que sofrem com uma doença que não permite nem o consolo ao paciente de ter um apoio pessoal ao lado da cama de hospital e em caso de morte não permite nem a presença de amigos e parentes no enterro.

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Febeapá!

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Ingratidão, essa quimera

O PRESIDENTE critica o ministro Alexandre de Moraes pela liminar contra a posse de Alexandre Ramagem na direção da PF. Diz que Moraes chegou ao STF por “amizade” com Michel Temer. Não foi amizade, foi gratidão. O ministro era secretário da Segurança de S. Paulo quando vazaram nudes da primeira-dama, Marcela. Conduziu a investigação em tempo recorde e sumiu com os nudes (será que contemplou “bela, recatada e do lar” em trajes de vênus calipígia?). Como prêmio, Moraes acabou nomeado ministro da Justiça por Temer, presidente e marido agradecido.

MORAES foi nomeado por gratidão, virtude que Jair Bolsonaro desconhece. Bolsonaro também é desleal na amizade, vide Bebianno, Santos Cruz, Mandetta e Moro. Deles recebeu amizade leal, que pagou com deslealdade e ingratidão. Esquece que os ministros do STF sempre foram escolhidos pela amizade ou pela gratidão dos presidentes. Alguns continuam amigos leais e gratos ao presidente; outros sentem o peso da toga e se transformam em juízes de nascença. Se amizade é problema, então que Bolsonaro mande Sérgio Moro para o STF.

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Presidente-bibelô

Notícias colhidas nos jornais nos últimos dias:  “Hospitais do Rio de Janeiro tem filas de mortos e BO por falta de médicos”.

“Amazonas tem mais mortes por Covid 19 que nove países de América do Sul”. “Com 140 enterros em 24h, Manaus bate recorde desde o início da pandemia”. “Cemitérios entram em colapso”.

“No Pará, 42% dos doentes de Covid 19 são profissionais de saúde. As condições de trabalho são péssimas, a começar pelos equipamentos de proteção individual”.

“Pernambuco registrou mais 460 diagnósticos positivos da infecção pelo coronavírus nas últimas 24h”.

“Em fase de aceleração da pandemia, o Estado de São Paulo chegou a 24.041 casos oficiais e 2.049 mortos – um aumento de 12% no número de infectados que morreram pelo coronavírus nas últimas 24h”.

“Ocupação de leitos de UTIs chegam a 100% no Ceará”. “Amazonas, Pará, Rio de Janeiro e Pernambuco estão com mais de 90% dos leitos ocupados”.

“Por falta de leitos, pacientes com Covid 19 aguardam internação em cadeiras da Unidades de Pronto Atendimento, em hospitais do Estado do Rio”. “Há casos de homens e mulheres infectados amontoados em salas das unidades de saúde”.

“Cemitérios investem em velórios on-line e túmulos biosseguros para sepultar mortos pelo Covid 19 no Grande Recife”. “Em Santo Amaro, no centro da capital pernambucana, são construídos túmulos verticais feitos de bagaço de cana, fibra de coco e sobras de materiais de construção”.

“Centenas de covas são abertas à espera dos mortos pelo Covid 19 no cemitério de Vila Formosa, em São Paulo”. “A média diária de sepultamentos é de 38 a 40. No domingo, foram 62. ‘Nunca se viu coisa igual’, diz o agente sepultador com 20 anos de trabalho”.

“Terror de sepultamentos trocados faz famílias abrirem caixões lacrados em Manaus”.

“Com 466 óbitos pelo Covid 19, o Brasil supera as mortes da China [berço da pandemia]. Em apenas um dia, 6.276 novos pacientes foram comprovadamente infectados, e as mortes somam 449 em 24h. [O total de mortos, até agora, é 5.466]. Com esses dados, o Brasil entrou para a lista dos dez países que mais registraram vítimas da doença”.

– E daí? – pergunta o presidente Jair Messias Bolsonaro, do alto de sua sabedoria e empáfia, completando: “Quer que eu faça o que?”

Se estivéssemos dialogando com uma pessoa normal, sadia e consciente da situação do Brasil e do povo brasileiro, responderíamos:

Governe, excelência. Tome as providências que lhe cabe tomar, que são ditadas pelos especialistas, pelos cientistas, pela Organização Mundial de Saúde e pelo próprio Ministério da Saúde, antes do desmanche promovido por v. exª.

Mas, segundo o capitão-presidente, “a conta” deve ser direcionada para os governadores e prefeitos que adotaram medidas de restrição. E citou em especial João Doria, governador de São Paulo.

No fundo, ele sabe, mas não tem a dignidade de reconhecer, que, se não fossem os governadores e os prefeitos, a situação estaria muitíssimo pior. E que, se não fossem as intervenções do Ministério Público e do Supremo Tribunal Federal, a excelência presidencial já teria acabado com o Brasil.

É uma triste figura que não serve para nada, nem como adorno. Talvez como bibelô, no significado de objeto fútil, de pouco valor. Na verdade, s. exª. só se presta para criar atrito, desavença, confusão. A cada movimento, a cada declaração, é uma nova desgraça – só aplaudida por aquela malta de insanos doutrinados, iludidos ou idiotas, contra os quais nada se pode fazer, até a chegada do camburão que os conduza para o manicômio.

Olha aqui, excelência: não fosse um desrespeito às pobres vítimas do coronavírus e às suas sofridas famílias, era de se sugerir que as urnas mortuárias, enquanto aguardam vagas nos cemitérios do país, fossem remetidas para Brasília e expostas nos jardins dos palácios Alvorada e do Planalto.

Publicado em Célio Heitor Gumarães - Blog do Zé Beto | Deixar um comentário
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Após derrota no Supremo, Bolsonaro desiste de nomear Ramagem para direção da PF

Mais cedo, ministro Alexandre de Moraes (STF) havia cancelado a nomeação, assinada um dia antes pelo presidente

Após decisão do Supremo, o presidente Jair Bolsonaro revogou na tarde desta quarta-feira (29) a nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal.

A desistência de nomear Ramagem para a diretoria-geral da PF foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União. O mesmo documento torna sem efeito também a exoneração dele do cargo de presidente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), que ocupava antes de ser escolhido para o novo posto.

Mais cedo, o ministro Alexandre de Moraes (STF) havia cancelado a nomeação de Ramagem para a diretoria-geral da PF, feita um dia antes pelo presidente. A posse de Ramagem estava marcada para a tarde desta quarta-feira (29), no Palácio do Planalto.

Após o revés no Supremo, auxiliares do campo jurídico de Bolsonaro passaram a estudar qual seria a melhor estratégia, levando em conta também aspectos políticos. O presidente, segundo relatos feitos à Folha, tentou insistir em sua indicação, mas foi informado por sua equipe de que reverter a decisão do STF seria quase impossível.

Foram lembrados casos recentes em que ex-presidentes tiveram algumas de suas nomeações barradas pela Corte, como por exemplo da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) para o Ministério do Trabalho, no governo de Michel Temer, e do ex-presidente Lula para a Casa Civil no governo de Dilma Rousseff.

Essa análise levou a uma desistência do novo de Ramagem e a AGU (Advocacia-Geral da União) decidiu não recorrer da decisão judicial.

O governo começa agora a avaliar novos nomes para o comando da PF e uma possibilidade aventada por uma ala é indicar o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres. Outras possibilidades ainda estão em estudo.

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Da nossa conta

Podemos pagar pelos que não abrem mão do lazer e continuam a sair às ruas

Minha empregada está em casa no subúrbio, com marido, filhos e netos. Amigos meus fecharam seus escritórios, ateliês ou pequenos negócios, e também estão em casa. Atores e músicos que conheço estão igualmente parados, e em severa quarentena. Muitas dessas pessoas vivem em apartamentos modestos, que lhes bastavam quando podiam sair à vontade. Confinadas, as paredes começam a pesar-lhes. Elas gostariam de dar um pulo lá fora. Mas, conscientes que são, sabem que, enquanto as mortes pelo vírus não chegarem ao pico e só então declinarem, não é hora de abrir a guarda.

Em contrapartida, de minha janela, vejo jovens e velhos caminhando no calçadão da praia, pedalando ou correndo na ciclovia e até indo mergulhar. Sei pelo noticiário que em São Paulo também é assim. Uma coisa são os prestadores de certos serviços, que não podem parar de trabalhar. Outra são os que decidiram não abrir mão do lazer –nem querem privar disso seus garotos, a julgar pelos festivos playgrounds que também vejo daqui.

Não conheço a cor política dessas pessoas, mas quem continua a flanar, contra as recomendações dos agentes da saúde, está repetindo, até sem saber, o gesto de Jair Bolsonaro, para quem ninguém cerceará o seu direito de ir e vir. Por mim, Bolsonaro pode ir até para o diabo que o carregue, nem é da minha conta a saúde de quem sai em carreatas ou com ele partilha celulares, abraços e perdigotos.

Mas é da conta de todos nós, que estamos em casa, a saúde dos que continuam nas ruas como se tivessem passaportes de imunidade. O passeio de um deles, hoje, pode render uma internação só daqui a 15 dias. O problema é o que, por uma cadeia perversa, esses 15 dias custarão a quem ficou em casa.

Um amigo paulista, pioneiro da quarentena, está muito mal. Pode ter sido infectado pelo netinho assintomático. Não haverá tragédia maior para uma família.

Em contrapartida, de minha janela, vejo jovens e velhos caminhando no calçadão da praia, pedalando ou correndo na ciclovia e até indo mergulhar. Sei pelo noticiário que em São Paulo também é assim. Uma coisa são os prestadores de certos serviços, que não podem parar de trabalhar. Outra são os que decidiram não abrir mão do lazer –nem querem privar disso seus garotos, a julgar pelos festivos playgrounds que também vejo daqui.

Não conheço a cor política dessas pessoas, mas quem continua a flanar, contra as recomendações dos agentes da saúde, está repetindo, até sem saber, o gesto de Jair Bolsonaro, para quem ninguém cerceará o seu direito de ir e vir. Por mim, Bolsonaro pode ir até para o diabo que o carregue, nem é da minha conta a saúde de quem sai em carreatas ou com ele partilha celulares, abraços e perdigotos.

Mas é da conta de todos nós, que estamos em casa, a saúde dos que continuam nas ruas como se tivessem passaportes de imunidade. O passeio de um deles, hoje, pode render uma internação só daqui a 15 dias. O problema é o que, por uma cadeia perversa, esses 15 dias custarão a quem ficou em casa.

Um amigo paulista, pioneiro da quarentena, está muito mal. Pode ter sido infectado pelo netinho assintomático. Não haverá tragédia maior para uma família.

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Esquizonaro

Pacientes com transtorno de personalidade esquizotípica não têm amigos ou confidentes, exceto parentes de 1º grau. Eles não se sentem à vontade em se relacionar com as pessoas. Eles interagem com as pessoas como se fosse uma obrigação, mas preferem não interagir porque acham que são diferentes e não são bem-vindos. Mas eles podem dizer que a falta de relacionamentos torna-os infelizes. Eles ficam muito ansiosos em situações sociais, especialmente aquelas desconhecidas. Passar mais tempo em uma situação não alivia a ansiedade.

Esses pacientes muitas vezes interpretam incorretamente ocorrências comuns como tendo um significado especial para eles (ideias de referência). Eles podem ser supersticiosos ou achar que têm poderes paranormais especiais que lhes permitem detectar eventos antes que aconteçam ou ler a mente das outras pessoas. Eles podem achar que têm controle mágico sobre os outros, achando que podem levar outras pessoas a fazer coisas comuns (p. ex., alimentar o cão), ou que a realização de rituais mágicos pode impedir danos (p. ex., lavar as mãos 3 vezes pode prevenir doenças).

A fala pode ser estranha. Pode ser excessivamente abstrata ou concreta ou conter frases estranhas ou usar frases ou palavras de formas bizarras. Os pacientes com transtorno de personalidade esquizotípica costumam se vestir de maneira estranha ou descuidada (p. ex., usando roupas de tamanho errado ou sujas) e têm maneirismos estranhos. Eles podem ignorar convenções sociais comuns (p. ex., não fazer contato visual) e, como não entendem as dicas sociais habituais, eles podem interagir com os outros de forma inadequada ou rígida.

Pacientes com transtorno de personalidade esquizotípica muitas vezes têm suspeitas e podem achar que os outros estão tentando interferir em suas vidas.

DR. ROBERT SKODOL, Escola de Medicina da Universidade do Arizona, na Wikipedia

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Hoje

© Ivan Cardoso

Poema do Aviso Final

É preciso que haja alguma coisa
alimentando o meu povo;
uma vontade
uma certeza
uma qualquer esperança.
É preciso que alguma coisa atraia
a vida
ou tudo será posto de lado
e na procura da vida
a morte virá na frente
a abrirá caminhos.
É preciso que haja algum respeito,
ao menos um esboço
ou a dignidade humana se afirmará
a machadadas.

Torquato Neto

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Os contratos em tempos de pandemia

Há uma tendência legislativa para que se considere a duração da pandemia de 20 de março a 30 de outubro de 2020 – isso nos termos do Projeto de Lei 1179/20 que está tramitando na Câmara Federal e já passou pelo Sendo Federal.

Neste período várias medidas de dirigismo contratual possivelmente serão adotadas, isto é, o poder público interfere nos contratos de massa e disciplina as situações de inadimplência.

Por exemplo: a recente lei estadual 20.187 de 22 de abril de 2020 no seu art. 3º:

Art. 3º. Proíbe que as concessionárias de serviços de energia elétrica, gás, água e de esgoto realizem o corte do fornecimento de serviços, especificamente enquanto durarem as medidas de isolamento social da pandemia do Coronavírus – Covid-19.

§ 1° Poderão usufruir da medida prevista no caput deste artigo:

I – famílias com renda per capita mensal de até ½ (meio) salário mínimo ou três salários mínimos totais;

II – idosos acima de sessenta anos de idade;

III –pessoas diagnosticadas com Coronavírus – Covid-19 ou outras doenças graves ou infectocontagiosas;

IV – pessoas com deficiência;

V – trabalhadores informais;

VI – comerciantes enquadrados pela Lei Federal como Micro e Pequenas Empresas ou Microempreendedor Individual.

§ 2° O Poder Executivo poderá regulamentar o pagamento parcelado das dívidas relativas à prestação dos serviços descritos neste artigo, após o término do período de pandemia.

Dívidas bancárias e registros negativos em razão de inadimplência ainda não estão regulamentados, sequer avizinha-se uma preocupação com este tema. ´É como entrar na arena dos leões para negociar com o pires na mão.

Alguns bancos ofereceram suspensão da cobrança de prestações imobiliárias por 60 dias. Também no Paraná houve o Decreto 4530 de 20 de abril que determinou a suspensão de pagamento de empréstimos consignados.

Para os consumidores que podem entrar em inadimplência em razão da perda de ganhos em razão da quarentena e da paralisação das atividades econômicas, pode se alegar o advento do caso fortuito ou força maior que é previsto no Código Civil,  que pode resultar em reequilíbrio contratual, além da  suspensão de parcelas ou até a extinção do contrato, mas cada caso deve ser examinado de forma pormenorizada mediante a análise de um advogado.

Por enquanto o Congresso Nacional não editou normas protetivas específicas para a defesa dos interesses dos consumidores – e pelo jeito não editará tão cedo, tendo em vista os projetos que tramitam no Senado e na Câmara Federal.

Em tempos de pandemia a corda rompe sempre para a lado do mais frágeis em termos sociais e econômicos. Em resumo, e para variar, é o povo quem mais sofre.

Veja, por exemplo, a impossibilidade de quarentena dos trabalhadores dos serviços essenciais e dos moradores de comunidades que não possuem acesso a água, sabão ou moradia que possibilite o isolamento conforme as recomendações sanitárias.

A pressa em fazer a roda da economia girar pode resultar numa segunda onda de contaminações  em muitos países europeus, com perda de vidas e a nova exaustão dos serviços de saúde, conforme recomendações da OMS e de renomados infectologistas.

Publicado em Claudio Henrique de Castro | Com a tag | Deixar um comentário
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Pensão, só a alimentícia

SÉRGIO MORO negociou com Jair Bolsonaro uma pensão para a família caso fosse morto no cargo de ministro da Justiça. Temia a vingança de condenados do petrolão organizado. Não precisava. Morto em atentado, o Congresso aprovaria a pensão a toque de caixa, dada a comoção nacional. Portanto, não teria problema. No primeiro ano do curso de Direito ensina-se a diferença entre a lei e o privilégio: a lei é geral e impessoal e o privilégio é particular e pessoal. Afinal, na república morto no cargo só o general Carlos Bittencourt, ministro da Guerra que ao reagir ao assassino, recebeu as punhaladas destinadas ao chefe, presidente Prudente de Morais.

MUITA INGENUIDADE isso de pedir pensão ao presidente que mal conhecia e cujo caráter viria a conhecer. Ao falar de faca em casa de esfaqueado, Moro deixou munição estocada, que Bolsonaro usou contra ele ao comentar o pedido. Político usa conservar a maldade no frizer. José Sarney entregou o pedido que Bresser Pereira lhe fez quando nomeado ministro: dispensa às quintas para ir ao analista, em São Paulo. Pedir a pensão lembra as atitudes pequeno-burguesas de Lula no alavancar empresas dos filhos, sítio para a família, triplex para a mulher, como o espírito da boquinha, que Anthony Garotinho identificou nos membros do PT.

O MINISTRO sobreviveu no governo, mas ainda corre risco de vida, não pelos delinquentes que condenou, mas pelos delinquentes com quem trabalhou. O gabinete do ódio começou o assassinato de caráter de Sérgio Moro. Daqui ao bolsonazi armado é um passo. O ex-ministro perdeu a proteção da PF, tomada de assalto por Carlos Bolsonaro, o investigado que nela comandará a investigação de si mesmo, do pai e do irmão. A menos que aceite cargo em governo estadual, Moro vai precisar de segurança particular, serviço muito caro. Ainda pode se filiar ao Podemos, sonho do dono do partido, que pagaria a segurança.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Com a tag | Deixar um comentário
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Alto risco de tragédia

Num momento em que todos reprisam, o governo é pródigo em lançar novelas inéditas. Mal acabou a novela Mandetta, entrou no ar a Sergio Moro, e começaram as filmagens da Paulo Guedes. O que está acontecendo na cabeça do presidente Bolsonaro? Ela foi sacudida pelo impacto do coronavírus.

Muitas mudanças estão sendo determinadas, no fundo, pela política escolhida por Bolsonaro para enfrentar este que é o maior acontecimento trágico no mundo moderno. Onde governos conservadores ou progressistas triunfaram, como é o caso da Austrália e da Nova Zelândia, Bolsonaro afundou.

Desde o princípio, tenho apontado a causa. Bolsonaro aderiu à camada de gordura que cerca o vírus e seus fluidos ideológicos e o transformou num tema da guerra cultural. Exatamente o oposto do que fizeram Scott Morrison, na Austrália, e Jacinda Ardern, na Nova Zelândia: despolitizaram o vírus.

Ainda esta semana, o chanceler Ernesto Araújo escreveu um artigo contra o que chama de comunavírus. Ele ficou impressionado com um livro do pensador de esquerda Slavoj Zizek que previa enfim a chegada do comunismo. Depois de sonhar com a classe operária ou mesmo o lúmpen proletariado, alguns teóricos de esquerda concentram suas esperanças no vírus como agente transformador. E os bolsonaristas acreditam.

Desde o princípio, Bolsonaro viu a chegada do vírus como algo que ameaçava seu governo. A única forma de neutralizar sua importância era adotar uma tese que permitisse neutralizar os impactos econômicos. Esta tese foi a de imunização de rebanho: a maioria vai ser contaminada, é melhor que isso aconteça logo para que nos livremos do vírus.

Bolsonaro jamais considerou seriamente o fato de que, se muitos se contaminarem ao mesmo tempo, o sistema de saúde entraria em colapso, muitas pessoas morreriam na porta dos hospitais ou em casa. Um cenário que, de certa forma, se desenhou na Itália e mais tarde, de forma grotesca, em Guayaquil.

Foi por aí que caiu Mandetta. E indiretamente Moro. Bolsonaro sempre pensou em concentrar poderes. Mas a impossibilidade de determinar sozinho uma política contra o coronavírus condensou seu drama. Os governadores e prefeitos tiveram um papel decisivo. O Congresso os apoiou, o STF chancelou essa autonomia local.

A relação com Moro já sofria um desgaste. Mas Bolsonaro, na sua solidão, reclamou da ausência do ministro em sua cruzada contra o isolamento social. Moro, segundo alguns, não só era favorável à política de Mandetta, como pensou em decretar multas para quem rompesse com o isolamento social. O que, aliás, acontece em muitos países da Europa.

Sem o Congresso, STF, ministro da Saúde e da Justiça, Bolsonaro deu um passo decisivo participando de manifestação antidemocrática diante do QG do Exército. Isso resultou num inquérito que acabou se entrelaçando com outro: o das fake news. Os investigados são os mesmos: apoiadores do presidente e, possivelmente, até familiares de Bolsonaro.

Moro teve uma chance de sair depois daquela manifestação. Possivelmente estava incomodado com a posição temerária de Bolsonaro sobre o coronavírus. Mas agora estava diante de uma posição temerária contra a democracia.

Moro não se pronunciou. Num determinado momento de sua trajetória, a mulher de Moro escreveu numa rede social que ele e Bolsonaro eram a mesma coisa.

Ele pode ter sido salvo agora pela maneira como cai. A tentativa de interferir na autonomia da Polícia Federal é algo que não encontra apenas resistência na corporação, mas em muitos setores conscientes da sociedade. É inconstitucional.

Nesse sentido, Moro cai de pé. Mas, para que sua trajetória política tenha viabilidade, será necessário se distinguir de Bolsonaro, algo que não fez quando esteve no governo. O tom de seu discurso de saída é um indício de que compreendeu isto. Pelo menos se distanciou da visão atrasada de submeter o trabalho da PF aos desígnios de um presidente. O que é no fundo um crime de responsabilidade.

Mas Moro indicou claramente que Bolsonaro teme o inquérito no Supremo. Resta agora ao STF assumir seu papel institucional e não amarelar diante da pressão de Bolsonaro.

É um governo que se aproxima de uma situação limite, como foi o caso de Collor e Dilma. Mas num contexto de pandemia que jogou o planeta na maior crise econômica e social da história contemporânea. Alto risco de tragédia.

Publicado em Fernando Gabeira - O Globo | Deixar um comentário
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Tudo, menos uma estrela

Lee Konitz saiu nos jornais não por ser um grande músico, mas por ter tocado com Miles Davis

O velho jazz está sendo ceifado pela Covid-19. Depois do pianista Ellis Marsalis e do guitarrista Bucky Pizzarelli, foi a vez, na semana passada, do saxofonista Lee Konitz, ainda na ativa aos 92 anos. Os jornais deram a sua morte não por ter sido um grande músico, mas por “ter tocado com Miles Davis“, nos discos de um revolucionário noneto que, em 1949-50, lançou o cool jazz. Era um estilo com raízes na big band de Claude Thornhill, de onde tinham saído, além de Lee, o sax-barítono Gerry Mulligan e o arranjador Gil Evans, todos no noneto. Mas só Miles levou a fama.

Lee foi dos poucos sax-altos nascidos no bebop que não tentaram copiar Charlie Parker. Suas frases longas e sem vibrato eram a antítese de Parker. E, desde então, sempre esteve na contramão do jazz, gravando discos em que tocava sozinho, ou com um trio sem piano ou com uma orquestra de 90 figuras.

Ele era tudo, menos uma estrela do jazz. Nunca teve agente ou assessor de imprensa e, ao morrer, devia ser o único músico do mundo sem email. O incrível é que, avesso a qualquer carreira comercial, tenha gravado tanto. Levantei sua discografia e, de 1949 a 2018, contei 95 álbuns como líder. Somando-se os de que só participou, são mais setenta.

Quem comprava os seus discos? Em 1996, o saxofonista brasileiro Mauro Senise, tocando em Nova York com o grupo Cama de Gato, deu um pulo à famosa loja de discos Tower, na Broadway. Como ia voltar para o Rio aquela noite e tinha uma baganinha de maconha com que não queria embarcar, Mauro depositou-a no escaninho dos CDs de Lee Konitz, seu ídolo. Em 2003, de novo a trabalho em Nova York, voltou à Tower e, ao folhear os CDs de Konitz, encontrou a baganinha que deixara ali sete anos antes.

Não é que ninguém comprasse os discos de Lee Konitz. Seus fãs é que, muito chiques, deviam achar que o baseado pertencia a alguém e não era para ser levado dali

Publicado em Ruy Castro - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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