Mural da História

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Mural da História

1973|2020 – 47 anos – Logo by Rettamoso & Solda

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Passado próximo

NAQUELA ÉPOCA – que o brasileiro imediatista, de memória volátil, acrítica e seletiva agora diz que era feliz e não sabia – Dilma era presidente e Sérgio Moro o poderoso juiz da Lava Jato. Como se diz no cinema, also starring Deltan Dallagnol: o ‘também estrelando’ homenagem à anglofilia do procurador. O cerco se fechava em torno de Lula. E Dilma, para protegê-lo, nomeou-o para o ministério. Não sem antes, como fazem os afoitos e os imprudentes, ter grampeado o telefonema do ‘Bessias’, em que avisava Lula que encaminhava o decreto que o nomeava para a Casa Civil.

O RESTO É HISTÓRIA. A justiça bloqueou a nomeação de Lula: desvio de finalidade para poupá-lo de ser investigado como delinquente comum. Dilma e Lula aceitaram, o estalinismo deles só funcionava no partido; não tentaram reverter a decisão em recurso. O trauma do mensalão ainda era forte. Historiadores e os cientistas políticos ainda não analisaram as causas da inação: respeito à ação institucional; impotência para resistir; inexistência à época de milícia digital, gabinete do ódio, distribuição de fake news, quem sabe uma filha fronteiriça como Carlos Bolsonaro?

AGORA É OUTRA HISTÓRIA, cujo primeiro capítulo foi escrito pelo PT, que na ânsia – estalinismo diet – de se perpetuar no poder tantas fez que elegeu o cacareco Jair Bolsonaro, deputado que por trinta anos não passou de figura caricata, irrelevante. O solo estava fértil: a política tradicional desacreditada temperada pelo escárnio do petrolão, uma bofetada em quem, fora do PT, acreditou no partido; os políticos de sempre, como Ciro Gomes, e aventureiros apocalípticos como Cabo Daciolo e João Amôedo. Mais a faca de Adélio Bispo, que fez de Jair Bolsonaro o mártir improvável.

DAÍ O PASTICHE paranoico de tragédia alagoana. E com ele o maior dos benefícios: poupou dos debates o candidato que não sabia (nunca saberá, a condição é congênita) articular a frase completa, montar o raciocínio elementar. O panorama e o atentado criaram o quadro quase perfeito. Quase porque faltava o fecho, que veio quando o futuro ministro, ainda juiz da Lava Jato, liberou à imprensa, antes do segundo turno, o conteúdo de ato judicial que incriminava Lula, e por extensão o PT. Sérgio Moro fez o papel de tornassol, o ingrediente ácido que elegeu Jair Bolsonaro.

NESTA ÉPOCA a história se repete. O presidente da hora, como o da outra época, acossado pelas investigações que se aproximam dos malfeitos da família, repete com sucesso o que a presidente da outra época fez com insucesso. Não nomeia o investigado pela poupá-lo de investigação, mas nomeia o investigador indicado pelo investigado. O investigado não se chama Lula, chama-se Carlos Bolsonaro. O ato é de gravidade maior que o de nomear Lula, como fez Dilma Rousseff. As instituições nada fazem, embora provocadas por ações e movimentos da sociedade civil. Uma tragédia cívica.

TRAGÉDIA tisnada de vingança poética ao derrubar no seu curso exato o agente que fez da investigação dos notáveis sua alavanca política; que caiu ao tentar com o presidente de hoje o que fizera com o de anteontem; Sérgio Moro recebeu a sanção cármica de perder cargo e timing para reerguer-se com o prestígio da Lava Jato. O que vem não se pode prever nem antecipar, a política é como a nuvem, diziam os antigos. De novidade temos o país dividido em dois antagonismos explícitos. Seus causadores próximos estão aí, sem crédito e autoridade: Lula e Sérgio Moro.

A HISTÓRIA não é linear; reflete o humano e suas circunstâncias, variáveis e movediças. Mas as circunstâncias, mesmo nas revoluções totalitárias, lá no futuro remoto refluem à essência básica, como na Rússia e na China. O Brasil, não; como na gramática italiana, insiste em conjugar o passato prossimo. Nosso passado próximo é o futuro, também próximo. Foi e pode ser a ditadura militar. Futuro de verdade, com a potencialidade da evolução, insistimos em descartar este é nosso destino histórico, essência da raça, traço genético. O passado-futuro próximo se aproxima.

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Razões do fracasso

Não basta desligar o aquecedor da piscina. O importante  é escolher bem o ministério

Um dia, se indagado por que o governo de Jair Bolsonaro saiu-lhe pela culatra, eu direi que tudo se deveu à ingratidão que ele cometeu contra um aliado, apaixonado e capacho: o ex-senador, cantor de pagode gospel e pastor evangélico baiano Magno Malta, a quem ele deve de certo modo a vida.

Você se lembra. Bolsonaro foi esfaqueado num comício em Juiz de Fora. Mal arrancada a faca de Bolsonaro, Magno Malta já estava ao seu lado no quarto, resfolegando sobre sua cicatriz e, como se ele estivesse morto, orando sofregamente por sua ressurreição. O fato de Magno Malta ter adentrado o recinto cercado de aspones, um dos quais gravando o ágape para veiculação nacional, não invalida o caráter tocante da cena. Via-se claramente que Magno Malta, pelas ordens que dava a Jesus Cristo em sua prece, tinha grande influência no além. E Ele não o desapontou —Bolsonaro salvou-se e se elegeu. Quem decepcionou Magno Malta foi Bolsonaro, ao negar-lhe o ministério –qualquer um— de que ele se julgava credor.

Foi um erro de Bolsonaro. Magno Malta teria sido um verdadeiro coringa em seu ministério –apto a assumir qualquer pasta. Afinal, não é mais analfabeto do que vários dos atuais titulares. E, sabe-se agora, seria mais leal do que muitos.

Como ministro da Saúde, por exemplo, Magno Malta teria enfrentado a Covid-19 como Bolsonaro gostaria, sem essa história de gente trancada em casa e lojas fechadas —quem morresse, morresse, paciência, é a vida. Sem falar na liberação geral da cloroquina, que Bolsonaro, travestido de garoto-propaganda ou camelô, tentou vender como se fosse óleo de cobra.

E, como ministro da Justiça, Magno Malta teria franqueado a Bolsonaro passar o rodo nas investigações da Polícia Federal que perigam expor as sujeiras de seus filhos. Magno Malta, que nunca deixou de lhe abrir o coração, o teria ajudado até a desligar o aquecedor da piscina.

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Letícia Sabatella. © Christian Gaul

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Aranha

o bozo está infeliz
perdeu o galã
dos ovos de ouro

(Edson  de Vulcanis)

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1º de Maio: FHC e Lula voltam a dividir um palanque, depois de 31 anos

A ameaça simultânea do coronavírus e do bolsovírus ao emprego, à saúde e à vida dos brasileiros operou o milagre de reunir novamente no mesmo palanque, desta vez virtual, os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso, algo que não se via há 31 anos.

A última vez em que os dois dividiram o mesmo palanque foi na reta final do segundo turno de 1989, quando FHC apoiou Lula contra Fernando Collor, que foi eleito.

Era a primeira eleição direta para presidente depois da ditadura militar. Nas duas eleições seguintes, FHC se elegeu no primeiro turno disputando com Lula. Em 2003, FHC passou a faixa para Lula.

Muitos anos antes, em 1978, Lula já tinha feito campanha para FHC na eleição para o Senado.

Em 1984, os dois juntos participaram da campanha das Diretas Já, comandada pelo amigo comum Ulysses Guimarães, o grande líder da redemocratização do país, que hoje faz tanta falta.

Agora, os dirigentes das seis principais centrais sindicais brasileiras (CUT, Força Sindical, UGT, CTB, Nova Central e CSB) montaram um palanque virtual para as comemorações do Dia do Trabalho, em 1º de Maio, com a participação dos dois ex-presidentes, e mais o ex-ministro Ciro Gomes e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, segundo reportagem de Catia Seabra publicada hoje na Folha.

Também foram convidados o governador do Maranhão, Flávio Dino, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o presidente do STF, José Dias Toffoli.

Ainda deverão falar aos trabalhadores a ex-presidente Dilma Rousseff e os governadores do Rio, Wilson Witzel, e de São Paulo, João Doria, em vídeos que irão ao ar na live do palanque eletrônico no Dia do Trabalho.

A lista de oradores foi ampliada após a participação do presidente Jair Bolsonaro na manifestação golpista do último domingo, em que foi pedida a intervenção militar e a volta do AI-5.

“Está cada vez mais claro que Bolsonaro não tem apreço pela democracia e trabalha o tempo todo para instituir um regime autoritário no país”, justificou Sergio Nobre, presidente da CUT.

Este ano, o lema do ato das centrais sindicais é “saúde, emprego, renda e democracia: um novo mundo é possível com solidariedade”.

Para o presidente da CTB, Adilson Araújo, “a tese do bloco de esquerda se dilui quando a batalha é a defesa da democracia”, o que permitiu a ampliação do palanque. “Tudo que não conseguimos fazer no mundo real podemos fazer agora no mundo virtual”.

Na abertura da transmissão, representantes da OAB, da ABI e da CNBB farão breves depoimentos, entremeados por shows de artistas convidados.

Reunir na mesma manifestação, ainda que virtual, Lula, FHC e Ciro, além de todas as centrais sindicais, num ato unificado, tem um caráter simbólico neste momento em que Bolsonaro está cada vez mais acuado e isolado no Palácio do Planalto, com 24 pedidos de impeachment nas mãos de Rodrigo Maia e várias ações no STF para investigar a atuação do presidente no combate à pandemia.

É a resposta da sociedade civil à escalada autoritária do governo, com a precarização do emprego e a incapacidade de gestão do presidente no enfrentamento da crise, segundo o presidente da UGT, Ricardo Patah. “Mas não é o suficiente para ganhar as ruas”.

O comício golpista do último domingo, em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, pode ter sido a gota d´água para unir novamente as forças políticas e sindicais que se mobilizaram pela redemocratização do país nos estertores da ditadura militar, nos anos 1980.

Quatro décadas depois, com a democracia novamente ameaçada, em meio à pandemia do coronavírus, esse 1º de Maio deverá ficar marcado como um divisor de águas. Vida que segue.

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Nau dos insensatos

RATINHO JÚNIOR telefonou a Sérgio Moro na véspera da demissão do ministro. Disse que o Paraná o receberia “de braços abertos”. Cansa essa mania de político achar que fala pelo povo. Uma vez no governo, fazendo jogadas para se manter vivo no poder, só o eleitor fanático – e por isso cego e tolo – concorda que o político fala em seu, dele eleitor, nome.

O Insulto se exclui do abraço do Paraná. Moro, se quiser ser levado minimamente a sério, que faça aquilo que todos exigem de Lula – e que não veio: a autocrítica. Quem receberá Moro de braços abertos é a mulher dele, com a mesa posta com excesso de talheres e a sopinha “do amor”; mais Álvaro Dias, que sonha um “Moro com ele” no Podemos.

O governador quer levar Moro para seu secretariado? Não dá. Moro é nacional; não figurante do enredo pobre e provinciano desta Quinta Comarca. A menos que Ratinho Júnior, pressentindo o perigo, queira abandonar a nau dos insensatos, agora que Sérgio Moro, um projeto de iceberg, abriu nela um buraco na quilha.

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Carluxo é o novo Ministro da Casa Caiu

Logo após o pedido de demissão de Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro se reuniu com seus 3 principais conselheiros: “Por questão de segurança nacional, não posso revelar os nomes dos Três Conselheiros. Mas vamos chamá-los pelos nomes de guerra: Curly, Larry e Moe”, explicou o presidente. Em seguida, revelou que seu filho Carlos Bolsonaro vai assumir o recém-criado Ministério da Casa Caiu.

De acordo com o planejamento dos Três Conselheiros, este será o único ministério daqui pra frente. “Mato dois coelhos com uma caixa d’água só”, explicou Jair Bolsonaro. “Reduzo drasticamente os Ministérios e os custos públicos, como prometi na campanha. E ainda dou mais um presente pro filhão”, discursou.

Para acabar com todos os boatos de que interviria na Polícia Federal, Bolsonaro resolveu intervir na Polícia Federal.

Com toda lucidez, Caluxo fez seu primeiro pronunciamento. “População, respeitosamente, acordemos. As coisas estão todas invertidas e muitos ainda não percebem. Muitos ainda não percebem que as coisas estão invertidas. As coisas estão invertidas. O problema não é de governo, é de Nação. Mesmo que me custe algo maior, não me preocupa meu futuro político, mas com o que muitos estão caindo e o amanhã livre pode não existir”.

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Moro rejeita a cloroquina

SÉRGIO MORO deixa o governo Bolsonaro. Entre a cloroquina e a quarentena, optou pela segunda, que a primeira significaria permanecer, desmoralizado, no governo. O ex-juiz da Lava Jato entrou no governo com o cacife de ter ajudado, com seu prestigio, a eleger o presidente. Com isso obteve a ampliação de seu ministério e uma autonomia excessiva na escolha de auxiliares, especialmente Maurício Valeixo, diretor da PF e pivô de sua saída.

O agora ex-ministro, por ignorância ou arrogância, desconheceu duas evidências, tanto do ser humano quanto do ser político. O ser humano não tolera dever gratidão. Com o tempo desenvolve ressentimento contra seu credor, ao qual dia a dia reduz o tamanho da dívida, convencendo-se de um crédito maior que a dívida.  O mesmo acontece com o político, a quem se agrega o elemento voto e mandato: uma vez obtidos, estes valem mais que a dívida que ajudou a eleição.

O ministro da Justiça, como o personagem de Garcia Márquez, era a “crônica da morte anunciada”. Estava marcado para morrer desde que a PF exerceu, com a independência reclamada por Sérgio Moro, as investigações que chegaram perto do conúbio entre a família Bolsonaro e a corrupção na assembleia legislativa do Rio. A gota d’água foi a investigação recente, que identifica as digitais de Carlos Bolsonaro nos ataques virtuais ao STF. Isso não pode. O presidente não governa para o Brasil, governa para os filhos.

A queda do ministro resume-se a isso, a um fato da vida de quem apostou alto sem conhecer o jogo, no qual havia alguém que pagou para ver. Simples. Ao demitir Luiz Henrique Mandetta e continuar firme apesar do repúdio de 64% da opinião pública, Jair Bolsonaro viu-se livre para apostar na demissão do chefe da PF. Moro pagou para ver e perdeu. Problema dele, a quem agora resta apenas conferir se o seu capital continua alto até 2022, eleição presidencial, um panorama cheio de incertezas.

Sérgio Moro fez um Getúlio pós-moderno: deixa o governo para entrar na História. Sua história agora será reescrita, primeiro pelos bolsonazis, bolsoignaros e bolsomínios, que inventarão algo podre sobre ele e o diretor da PF para tapar o sol do desvio de finalidade do presidente com a peneira do favoritismo a seus filhos e de governar com o fígado, não com o cérebro. Aos que sempre foram críticos do ministro resta um elogio, ainda que forçado, a seu gesto de dignidade pessoal.

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Mural da História

O Estado do Paraná|20|9|2009

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Política macabra

No Brasil real, os cemitérios se preparam para os terríveis próximos dias

“Sem leitos suficientes nos hospitais, os doentes eram amontoados no chão das enfermarias e nos corredores. Muitos morriam antes de ser atendidos. Os hospitais foram fechados às visitas e, nos enterros, só se permitia a presença dos mais próximos. Os velhos rituais —velório, cortejo e sepultamento— ficaram impraticáveis. Viam-se carros transportando caixões com tábuas mal pregadas, indicando que tinham sido feitos às pressas. Começou a faltar madeira para os caixões e gente para fabricá-los.

“As pessoas morriam e seus corpos ficavam nas portas das casas, esperando pelos caminhões que deviam transportá-los. Os motoristas os recolhiam na calçada e os atiravam nas caçambas, como se fossem sacos de areia. Às vezes descobria-se que alguém dado como morto ainda respirava. Era liquidado ali mesmo, a golpes de pá, mas houve casos de enterrados vivos.

“Nos necrotérios, os corpos jaziam empilhados por dias, sobre as mesas de mármore ou no chão. Os recolhidos nas ruas, sem identificação, eram despejados em valas comuns ou incendiados. Os coveiros também começaram a morrer. O Exército e a Cruz Vermelha os substituíram como voluntários e, por toda a cidade, armaram-se hospitais emergenciais e postos de atendimento. Etc.”.

Os parágrafos acima não são um relato da vida —e da morte— neste momento em Manaus e em outras cidades do Brasil, onde o número de mortes pela Covid-19 já começou a dobrar a cada semana. Mas poderiam ser. Eles estão no prólogo de meu livro “Metrópole à Beira-Mar — O Rio Moderno dos Anos 20”, recém-lançado, e que começa com a gripe espanhola matando 15 mil pessoas no Rio em menos de 30 dias, em 1918.

Nesta semana, irritado, Jair Bolsonaro disse que não é coveiro. Não é mesmo. Os coveiros brasileiros são heróis. Enquanto ele faz política, os cemitérios se preparam para os terríveis próximos dias. Só ontem foram 407 mortes.

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Flagrantes da vida real

Banco 24 horas. © Maringas Maciel

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Todo dia é dia

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Bolsonaro agora tem de dar comida aos porcos, ao som dos asnos ideológicos

No início do seu mandato, há menos de um ano e meio, não dois séculos, Jair Bolsonaro havia encorpado a sigla pela qual se elegera, o PSL, e contava com a força dos 57 milhões de brasileiros que viram na sua plataforma anticorrupção um antídoto ao petismo et caterva. Escudado nessa fortaleza, poderia ter angariado apoios mais consistentes no Legislativo e estar agora bem amparado na Presidência da República neste momento de crise.

Bolsonaro, no entanto, resolveu dar ouvidos aos asnos ideológicos que o rodeiam. Confundiu fazer política com render-se ao toma-lá-dá- cá e entrou em confronto permanente com o parlamento, achando que o apoio das ruas lhe seria suficiente para pressionar deputados e senadores a votar de acordo com a vontade do Planalto. Em pouco tempo, foi enxotado do PSL, tornando-se o caso único de um presidente sem partido, não conseguiu formar a sua própria agremiação, perdeu a sustentação de grande parte dos seus eleitores, irritados com os zurros dos asnos ideológicos, enrolou-se com idiotices, alimentou ainda mais as desconfianças sobre a sua crença na democracia — e foi engolido pelo DEM de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre.

Um ano e meio depois da sua posse, não dois séculos, um fragilizado Jair Bolsonaro abraça a velha política, para cooptar o Centrão e tentar conter o DEM, a um preço bem mais caro do que o inicial, não tivesse ele confundido política com conchavo ilícito. O presidente agora tem de dar comida aos porcos, enquanto finge que não faz o que os seus antecessores fizeram, mas com a diferença da trilha sonora dos asnos que zurram por um golpe.

Enquanto o país padece com a Covid-19, o governo vai sendo infectado pelo vírus do pior tipo de gripe suína: o fisiologismo. E esse vírus não fortalece, só enfraquece.

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