NÃO HÁ quem resista ao seu encanto. Culta, inteligente, tolerante como o papa Francisco. Elegante, pela unânime aclamação dos povos (uma voz critica-lhe os sapatos, 72 pares, e contando), foi votada como a mulher da ‘roupa apropriada nos enterros’. O que significa: ali impera o desmazelo.
RICA de nascência, diziam dela os amigos do muquifo do bairro, surpreendia os colegas esquerdistas que escondia durante a ditadura. A família conservadora dizia que ela operava no Partido Proletário Fiorucci ao volante do Impala paterno.
BEM ANTES das tatuagens que igualam as mulheres na vulgaridade, adolescente da Aliança Francesa, fez a sua, a única que teve e terá: je suis gauche. Não é Drummond, que ela é mais Baudelaire. Coisa da política: “sou de esquerda”, sob o seio esquerdo, ainda visível a olho e corpo nus.
MADURA, sazonada, mantém o frescor idealista da esquerda. Que não se abalou diante do Mensalão, quando perdeu a ilusão sobre Lula/PT. Bolsonaros, ela esconjura com o No pasarán de La Pasionaria, a comunista que combateu o fascismo na guerra civil da Espanha.
Deus e o Brasil não demoram a pedir demissão do slogan de Bolsonaro
Cristo falava por parábolas. Bolsonaro fala por slogans. Uma parábola é um relato alegórico, destinado a fazer pensar e extrair de sua narrativa uma moral. É um instrumento que se dirige, ao mesmo tempo, à fé e à razão. Já um slogan é uma afirmação categórica, acachapante, disparada para ser aceita pelo receptor sem passar necessariamente por seu cérebro. É uma arma dos publicitários, dos políticos e dos autoritários.
Uma das grandes parábolas de Cristo está em Mateus 7:15-20: “Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós com vestes de ovelha, mas que por dentro são lobos vorazes. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se porventura uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Toda árvore boa dá bons frutos, mas a árvore má dá maus frutos. Uma árvore boa não pode dar maus frutos, nem uma árvore má pode dar bons frutos. Toda árvore que não dá bons frutos deve ser cortada e queimada”.
Por falar em frutos, digo, bolsonaros, digo, slogans, o slogan favorito de Bolsonaro é o martelado “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”. O “Brasil acima de tudo” cheira ao slogan nazista “Deutschland über alles” —”A Alemanha acima de tudo”—, mas isso não lhe provoca desconforto. Com slogans não se discute.
O Brasil de que fala Bolsonaro deve ser o nosso, que ele reduziu a seu condomínio. Mas a que Deus Bolsonaro se refere? Ao Deus dos católicos, o velhinho bonachão, de barbas e camisolão, síndico do Céu? Ou ao Deus protestante, incorpóreo, rigoroso, fiscal de nossos malfeitos aqui na Terra? A pergunta procede, porque Bolsonaro se diz católico, embora nunca seja visto com padres ou em seus rituais. Ao contrário, seu território são os templos evangélicos e seus aliados, os “bispos” de televisão. Bolsonaro servirá a dois senhores?
Pelos frutos que estão começando a despencar da árvore, Deus e o Brasil não demoram a pedir dispensa do tal slogan.
O PRESIDENTE reafirma que o ministro Abraham Weintraub, da Educação, é “excelente” e permanece no governo. Põe apenas um reparo no auxiliar: [ele] precisa dar uma calibrada no discurso”. O presidente sabe tudo sobre calibres – de armas. Mas no discurso presidente e ministro detonam canhão para matar pernilongo. E sempre erram.
Seis meses sem beber me mostraram que não gosto de festa
Por motivo de crise-de-meia-idade-e-busca-por-saúde-e-algum-sentido-nesta-coisa-louca-que-é-a-vida-e-talvez-acima-de-tudo-na-esperança-de-perder-a-sempiterna-pochetinha-lipídica-que-há-décadas-trago-atada-à-cintura, passei o segundo semestre de 2019 sem beber.
Constato que cheguei a dezembro sem qualquer luz sobre meu papel na grande sinfonia do cosmos, sem maiores avanços na crise de meia idade —talvez eu compre uma jaqueta de couro—, porém bem mais saudável e, se não completamente livre da barriga, ao menos com um volume menos ostrogodo a fazer sombra na sunga.
Para não dizer que passei ao largo de qualquer insight nesses seis meses de abstinência, análise e treinamento funcional, compartilho aqui o mais próximo que cheguei de uma descoberta sobre o âmago do meu eu: percebi que não gosto de festa.
Dei-me conta de que passei as últimas décadas achando que gostava de festa porque nelas estava sempre mais ou menos bêbado —e o leitor há de convir que qualquer programa do qual o desfrute dependa de que os participantes estejam mais ou menos bêbados só pode ser um programa ruim.
Depois de algumas cervejas, a pessoa acha divertidíssimo até um pneu furado. É por isso, aliás, que a pessoa bebe. Mas nem por isso a pessoa fura o pneu do carro. Festa é tipo um pneu furado coletivo.
“Ah, mas é cheio de gente legal!”, diz um amigo, receoso da influência misantropa que a água com gás pode exercer sobre mim.
Sim, é cheio de gente legal, mas ninguém se ouve. Parece um castigo bíblico: “Cercado de amigos queridos estareis, porém deles nada ouvireis e tampouco a vós eles hão de ouvir; e como cabras balindo sem rumo na noite escura movimentar-vos-eis, a lançar perdigotos nos rostos; e os perdigotos hão de brilhar sob a luz estrobo como as gotas sob os relâmpagos do dilúvio” —Bukowski, 4:20.
Se você quer conversar com gente legal, convida pra jantar, pra ir a um bar, à praça ou a qualquer lugar onde se possa ouvir uma observação sobre o futebol de Jorge Jesus, especulações sobre as razões da lavada conservadora na Inglaterra ou ao menos uma boa piada de papagaio, do começo ao fim.
Nada disso é possível sob a luz estroboscópica e com Village People no talo —o que não significa, obviamente, que as pessoas não tentem. O ébrio amigo te agarra pelos ombros e ignorando solenemente o fato de estar tocando “YMCA” e de haver uma ruiva com os peitos de fora e de cabeça pra baixo fazendo pole dance, urra: “Brother, o problema dos trabalhistas, desde o brexit, é o seguinte…”
A gritaria sobre o brexit ao som de “YMCA” é até um bom momento da festa, comparada a outros em que conversa com pessoas que você não tem a menor ideia de quem sejam, apesar da certeza absoluta de as conhecer.
O que nem vem a ser tão ruim, é verdade, quando lembra das passagens em que encontrou alguém que você de fato sabia quem era, mas, pego de surpresa e sem a lubrificação social etílica, só foi capaz de falar “Pô, quanto tempo! E aí? Trabalhando muito?”.
Todos esses argumentos exponho à minha mulher, que chega animada de uma festa às três e meia da manhã de domingo e me encontra lendo no sofá. Ela me ouve com um olhar piedoso, quase maternal:
“Antonio, ninguém vai numa festa pra conversar. A gente vai na festa pra dançar”. Embasbacado diante do óbvio, tenho, talvez, minha primeira iluminação em seis meses de ascetismo: desejo a todos nós que possamos, em 2020, ver o mundo, ao menos um pouco, sob a perspectiva da ruiva com os peitos de fora e de cabeça pra baixo, fazendo pole dance. Saravá!
No final de ano, temos o Natal e as festas de amigos secretos, isso tudo aquece o comércio, mas o consumidor tem que ficar atento com a política de troca de produtos das lojas.
O tamanho, a cor ou o modelo podem não agradarem ou servirem para os consumidores presenteados. O Código de Defesa do Consumidor não assegura o direito à troca do produto, diferente dos países juridicamente civilizados, ocorre que muitos estabelecimentos a permitem, desde que não se retire ou viole a etiqueta, no prazo de 30 dias.
Essa garantia é contratual, isto é, depende de cada loja. Para objetos que apresentam algum tipo de defeito, o prazo para reclamação é de 30 dias para mercadorias não duráveis e 90 dias para os duráveis, contados a partir da data da compra, se há vício oculto, os prazos são os mesmos, mas começam a valer no momento em que o defeito é detectado pelo consumidor.
O importante é verificar na hora da compra se a loja possibilita a troca do produto, se está escrito isto na nota fiscal ou outro instrumento legal, e o prazo para fazê-la. Assim se o presente não agradar, o consumidor pode fazer a troca, desde que se acautele no momento da compra e garanta a possiblidade da troca e o seu prazo.
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