O sonho acabou

John Winston Ono Lennon – 1940|1980. © Bob Gruen

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Mensagem na garrafa

Se vivêssemos num mundo decente, a carta de Iudin seria a conversa em cada esquina

“Endereçado a quem não tiver preguiça de pescar esta garrafa! Ela foi tomada a despeito de todas as ordens e diretivas do MRKh [Ministério da Pesca da URSS] e do governo por marinheiros de verdade, que observam e se lembram das tradições marítimas no dia de celebração do aniversário do marinheiro emérito e capitão dos mares V. A. Iudin, em 21 de março de 1990. Àquele que encontrar esta missiva, peço informar […] pelo endereço: rua Dmítri Donskôi, cidade de Kaliningrado, 5 […] Serviço de Pesca Ocidental.”

A garrafa foi encontrada quase 30 anos depois, em 20 de setembro de 2019, na praia de Hermenegildo, RS, “onde termina o Brasil e começa o Uruguai”, conforme a reportagem de Paula Sperb, publicada aqui na Folha, domingo.

A repórter não conseguiu encontrar o “marinheiro emérito e capitão dos mares” Victor Adrianovitch Iudin, mas chegou a um amigo dele, Viatcheslav Simonov, segundo o qual Iudin está vivo, bem, já passou dos oitenta e segue na cidade de Kaliningrado.

Se vivêssemos num mundo decente, que não estivesse à beira do colapso climático, durante uma crise política e uma tragédia social, num país em que a polícia mata meninos e meninas insuflada e acobertada pelos mandatários da nação, a garrafa de Iudin seria a manchete de todos os diários, a notícia principal do Jornal Nacional, a conversa em qualquer esquina on e offline.

Durante a semana, em vez de mandar e receber vídeos escabrosos com adolescentes encurralados em vielas, gritando, enquanto são espancados por PMs, abriríamos entrevistas com as crianças que acharam a garrafa, com os internautas que começaram a traduzi-la e com a turma do Laboratório de Conservação e Restauração de Papel da Universidade Federal de Pelotas, que possibilitou a leitura da missiva úmida e apagada.

Num país ao menos razoável, não passaríamos a semana nos indagando por que, ó céus, o governo tem na pasta de Meio Ambiente quem favorece o desmatamento? Na Cultura quem abomina a arte? Na Justiça um justiceiro? Na Economia um “liberal” tranquilo com a cassação das liberdades? Na Educação um chucro –e sobre o inchancelável chanceler, nem comento.

Se vivêssemos num país que não estivesse aparelhando (e desparelhando) o estado com psicóticos em cujos delírios os Beatles são “satanistas”, livro infantil de fada é heresia e a escravidão é um avanço civilizatório, esta semana teria sido dedicada a responder: onde estava o navio BMRT Andrus Johani quando a garrafa foi atirada ao mar? Que bebida continha a garrafa? Quem a bebeu? Alguém se lembra do que conversaram naquela noite de 1990, tão longe de casa, tão perto do fim da União Soviética, numa “expedição científica para coletar informações sobre lulas e peixes”? Descobriram algo sobre lulas e peixes? Há outros casos de mensagens em garrafas encontradas por aí?

Se não estivéssemos ocupados demais defendendo a Constituição de 1988 (!), a Declaração Universal dos Direitos Humanos (!!), a Lei Áurea (!!!), Copérnico e Galileu (!!!!), terminaríamos o domingo vendo os velhos marujos numa reportagem de TV, orgulhosos e circunspectos, brindando numa modesta sala
de estar em Kaliningrado.

Nós aqui, do outro lado do globo e da televisão, com um sorriso meio pasmo no rosto, pensaríamos: que coisa maluca é a vida, que coisa maluca é o acaso, que coisa maluca são os oceanos e os marinheiros e os peixes e as lulas e a ascensão e o declínio dos impérios e sobretudo nós, aqui, olhando e ouvindo e sentindo tudo isso até que mais dia, menos dia.

Depois comeríamos uma pizza com a família, veríamos Robinson Crusoé no streaming e dormiríamos tranquilos.

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O que ontem era escândalo na sociedade, hoje é escada.
Entre coalizões e colisões, o Brasil balança.
Hoje tá fácil ensinar o padre a rezar missa. Nem precisa saber latim.
Deus não joga dados. Joga paciência.
Aforismo é a arte de te extrair um dente da frente pra você rir melhor.
Deus é uma alucinação coletiva em benefício do dízimo.
Tão burro que até grama sintética comia.
Se o homem é um animal político, então eu não sou um animal.
Vivemos numa prisão domicelular.
A vida é um enterro ao contrário. Os mortos seguem o féretro.
Em livro sobre sexo, não passo da introdução.
Comunismo é todo mundo ter casa na praia de frente pro Marx.

Rui Werneck de Capistrano também é descartável

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A barriga mais bonita da cidade

Grávida. © Ellen Tornsten

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Antes, coxinha e mortadela…

E hoje…

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Aparelho cultural

Governo Bolsonaro loteia e macula o setor com nomes de um gueto obscurantista

Assiste-se no atual momento à conjunção de pelo menos dois despropósitos na política cultural do governo Jair Bolsonaro. O primeiro é o aparelhamento ideológico dos órgãos públicos, condenado com estridência na campanha eleitoral bolsonarista como uma deformação característica das administrações petistas.

O segundo é a seleção para cargos relevantes de nomes sem qualificação para o exercício das funções —para dizer o mínimo.

Tome-se a escolha de Dante Mantovani, recém-nomeado presidente da Funarte —entidade, aliás, criada durante o ciclo militar com o objetivo de difundir e fomentar a atividade artística no país.

Em seu canal numa rede social, Mantovani coleciona declarações estapafúrdias, como o “rock ativa as drogas, que ativam o sexo livre, que ativa a indústria do aborto, que ativa o satanismo”. Em seus delírios chegou até mesmo a defender que a Terra seria plana.

A charlatanice intelectual do nomeado encontra eco nas declarações constrangedoras do novo gestor da Biblioteca Nacional, Rafael Nogueira, dedicado devoto do ideólogo Olavo de Carvalho, o guru-mor do bolsonarismo.

Para Nogueira, por exemplo, a presença em livros didáticos de letras de canções de Caetano Veloso ou do grupo Legião Urbana ajudaria a explicar o analfabetismo que persiste na população.

Comanda o aparelhamento cultural o secretário Roberto Alvim, recentemente alçado ao posto. Em seu caso, além de tolices e grosserias conhecidas, investiga-se se buscou beneficiar pecuniariamente sua mulher quando dirigiu a Funarte —esperteza que faz lembrar o bordão pueril “acabou a mamata”, usado na campanha eleitoral.

Em tal cenário, nem chega a surpreender que o novo comando da Ancine tenha determinado a retirada dos mais de cem quadros que, havia quase duas décadas, exibiam pôsteres de filmes em sua sede.

editoriais@grupofolha.com.br

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Bah!

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Imperdível!

Pensando na relação entre arte e poder, o documentário filmado no Museu do Louvre questiona se a arte pode nos ensinar sobre nós mesmo, inclusive nos momentos mais sangrentos do mundo.

Francofonia – Le Louvre sous l’Occupation – Louvre Sob Ocupação, 2016, direção de Alexander Sokurov. França, Alemanha e Holanda.

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VOCÊ ENVERGONHA a classe dos casados, desabafei com o amigo. Temos cinco décadas de intimidade respeitosa, não esse abuso dos jovens a quem mal se concede atenção e começam a perguntar nossa idade. O amigo rende culto e devoção à mulher, por quem faz coisas degradantes para o universo masculino. Toda manhã ela passa-lhe as tarefas, o bilhete na cabeceira – para dormir até tarde. Tarefas vis, degradantes.

AMOR NÃO ESQUEÇA a feira, Vida, pegue a bolsa no sapateiro, Paixão, me traga dinheiro do banco. Teve até o dia com o bilhete e o sutiã: Môr, costure o fecho, arrebentei sem querer. Ele ainda cozinha, lava e passa. Escolhe os sapatos dela e, tenho horror de referir, pinta-lhe as unhas, todas. Se a fulana for uma brastemp, não abri a porta para conferir gavetas e bandejas e molhar o dedo na geleia, essas intervenções no guarda-comida.

ENTENDI QUE ELA paga bem, agradece e promete nos bilhetes: Beijos mil, Uma lambida na orelha, Zilhões de chupões. Ele conta, exibido, mas não explica, a promessa da “bolina com pena de ganso”. A vida dos dois é acompanhada pela diarista, machista até a medula, que adora o patrão. Chega cedo para lhe preparar o café e espera sua chegada para entregar o robe de chambre. Não fosse ele, teria pedido a conta.

A DIARISTA ODEIA a patroa folgada e deseja o patrão desde que leu o bilhete fatal: Te pago com bilhões de boquetes. Desse dia em diante a devotada trabalhadora derrete-se para o patrão, seus olhos, parados, lânguidos, líquidos, de uma ovelha no cio.

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Tiros em Brasília

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Profissões artísticas e culturais são excluídas do MEI

DJs, cantores, professores de música, arte e teatro não poderão mais ser enquadrados como microempreendedores individuais

Uma série de profissões ligadas à cultura não poderão mais ser enquadradas como MEI (Microempreendedor Individual).

Cantor e músico independentes, DJ, VJ, humorista ou contador de histórias, instrutor de artes cênicas, instrutor de arte e cultura, instrutor de música e proprietários de bar com entretenimento estão entre as categorias excluídas do MEI, listadas em resolução feita pelo Comitê Gestor do Simples Nacional e publicada no Diário Oficial da União nesta sexta-feira (6).

As novas regras passam a valer em janeiro de 2020.

O MEI permite ao pequeno empresário com faturamento anual de até R$ 81 mil o pagamento de valores menores para tributos como INSS, ICMS e ISS. Segundo levantamento do Sebrae divulgado em setembro, cerca de um terço dos empresários registrados como MEI atuavam na informalidade anteriormente. Com a formalização, o MEI pode emitir nota fiscal e ter benefícios previdenciários.

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Viajando na maionese

Além de afirmar que o rock leva ao aborto, que John Lennon fez um pacto com o diabo e que um agente comunista infiltrado na CIA distribuía LSD para jovens em Woodstock, o novo presidente da Funarte, Dante Mantovani, também acredita que a Terra é plana. No Facebook, Mantovani zomba dos “terrabolistas” e chama a NASA de “agência de desinformação e propaganda da Guerra Fria”. Pode?

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A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA de São Paulo não resistiu à pancadaria de deputados e protestos populares e vai votar escondido a reforma da previdência estadual. Uma sinuca de bico, pacau de bola sete. Lei que se vota no escuro, na moita, é trama, conspiração.

COMO SÃO PAULO não tem ópera de arame e o Carandiru está fechado, os deputados terão que debater e votar no estilo motel: a assembleia com portas e janelas fechadas, os deputados de almas nuas para fazer sacanagem contra os funcionários.

A MAÇONARIA também funciona de portas fechadas. Ela pode, é sociedade secreta, tem mistérios rituais e só faz o bem. Nu por lá, só o bode mansinho, que, dizem, os maçons adoram em segredo. Perigoso mesmo, só o bode da previdência.

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