Casa da Mãe Joana

O comportamento dos atuais congressistas tem sido deplorável

Fotos de sunga na praia e de cuecas samba-canção motivaram a primeira cassação de um parlamentar, no Brasil. O deputado Edmundo Barreto Pinto (PTB-DF) perdeu o mandato ao ser retratado nesses trajes, no ensaio “Barreto Pinto Sem Máscara”, na revista O Cruzeiro. Isso foi lá em 1949. Eu nem era viva, mas que saudade de um tempo em que quebra de decoro não era apenas levada a sério, mas causada por motivos dessa irrelevância.

O Código de Ética da Câmara, como conhecemos hoje, está em vigor desde 2002. As regras preveem os deveres fundamentais, os atos incompatíveis e os atentatórios ao exercício dos cargos. Basicamente, tem que exercer a função com dignidade, respeitar os coleguinhas, a Constituição, não perturbar a ordem ou infringir as regras de boa conduta, não usar dinheiro público para fins próprios, não tirar proveito do cargo.

Sabemos que nada disso é respeitado por parte deles desde sempre, mas o comportamento dos atuais congressistas tem sido deplorável. Os episódios de racismo desta semana, que envolveram os deputados Coronel Tadeu e Daniel Silveira, do PSL, são só os mais recentes de uma lista de episódios execráveis que deveriam ser severamente punidos. Testemunhamos atos de barbárie todos os dias e não acontece nada. Essa gente sente-se cada vez mais à vontade para fazer o que quiser.

Charge sobre violência policial contra população negra rasgada pelo deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) – © Latuff 2013

Na última legislatura, o Conselho de Ética foi acionado 27 vezes. Vinte e cinco não saíram do período inicial, apenas dois processos resultaram em punição, como aquele que cassou Eduardo Cunha. Nem os casos de parlamentares presos foram em frente. Condenado por falsificar documentos e dispensar licitação, Celso Jacob dava expediente na Câmara e dormia na Papuda. Corporativismo vergonhoso.

Que exemplo o Congresso dá a sociedade quando deixa que seus representantes se comportem como se estivessem na casa da mãe Joana e não sejam punidos nunca? O pior.

Publicado em Mariliz Pereira Jorge - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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Punk

linder-sterlingColagens punks e feministas de Linder Sterling. Para Beijo à Força, Malocabilly, Punk a Vapor et caterva.

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Os bigodes do tigre

Nos noticiários, nas redes sociais, nos canais de televisão, primeiro vem a notícia devastadora contra os acusados. O linchamento moral, criminal ou político e a sua versão “verdadeira” surgem em primeiro lugar.

Aparece na capa dos jornalões e é o destaque na chamada dos telejornais.

A audiência sempre está em primeiro lugar. Por último, o cidadão e os seus direitos.

Primeiro o escândalo, as entrevistas de autoridades policiais e acusadores, a exposição de fatos que atestam a versão divulgada como verdadeira e inatacável.

Depois o outro lado, a voz dos acusados, em tempo muito menor do que todo o bloco das acusações, na proporção de cinco para um, em tempos desiguais e cortes nas falas e rápidas inserções.

A desigualdade no tempo das exposições, da robusta acusação e da minguada defesa, constrói e sustenta este superpoder das mídias em desfavor dos cidadãos e das garantias constitucionais.

As verbas oficiais de publicidade sustentam uma espécie de confiança entre os poderosos de plantão e a mídia.

Isto ocorre também com as corporações financeiras e mercantis que, se acaso tenham escândalos contra si, tais notícias são apequenadas porque quem paga o baile, escolhe as músicas.

O interessado, no exercício do contraditório, deve possuir prazo para elaborar a sua manifestação e não ser pego de surpresa. Em tempos e destaques, rigorosamente iguais. No Brasil nunca foi assim.

A malta de acusadores não deixa espaço para o contraditório e a ampla defesa –  isso é mera formalidade, na maior parte das vezes.

O caso conhecido como Escola Base, ocorrido em 1984, no qual houve a acusação de abuso sexual contra crianças ficou posteriormente arquivado por absoluta falta de provas, é o exemplo clássico. A reputação dos proprietários foi destruída, a escola fechou.

O acusado faleceu, de infarto, em 2014, com 70 anos, e até aquele momento não tinha recebido a sua indenização. O processo judicial é outra fachada, não funciona, é lento e interminável, as indenizações são inexpressivas.

Recentemente a história se repetiu em Minas Gerais, na Escola Magnum. Neste caso foi um auxiliar de educação física, acusado injustamente de abuso sexual. O inquérito foi arquivado, a Polícia Civil concluiu que nenhuma das crianças sofreu qualquer tipo de abuso, nem pelo suspeito nem por funcionários da escola ou por outra pessoa fora dela.

Este esquema é comum em todos os outros planos de notícias.

As poderosas mãos invisíveis da mídia, a pretexto de informar a sociedade, não tem limites nem parâmetros jurídicos neste reino sem regulação. A reputação de acusados e o direito ao contraditório tornam-se um pequeno e desprezível detalhe. E se você tocar nos bigodes do tigre, ele te devora primeiro. Depois você tentará provar que é inocente.

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Maya_G. © IShotMyself

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Vai lá!

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Zé da Silva

O grito, de pavor. Um cachorro latiu, lá longe. O gato, perto, pareceu ter levado por um chute. Drácula estava no ar dentro da sala de filme de David Linch. Não havia janela. No sofá verde, sob iluminação fraca, uma mulher não sentia o perigo.

Como eu conseguia me ver, era um mistério como todo o resto. Meu rosto, branco. Mais para Cristopher Lee do que Bela Lugosi. Mas era eu mesmo, com sede de sangue – e sem querer estraçalhar a carótica sob a pela macia e clara. Vício. Tentei evitar. As unhas, mais parecidas com a do Zé do Caixão, arranharam as paredes lisas.

Pousei suave no tapete escuro no meio da sala. Ela olhou pra mim. Todos os traços femininos de uma existência de observação e devoção estavam concentrados ali. Dei um passo. Parei. Havia um jeito de acabar com aquilo. Fiz o sinal da cruz em mim mesmo. Aí, gritei – e acordei com um gosto amargo na boca.

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O irritante guru do Méier

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A vida dos objetos

Jung tinha um nome pra cada uma de suas panelas

Jung tinha um nome específico pra cada uma de suas panelas. Quem disse foi minha tia Noca, animista como Jung, que acredita na alma dos objetos e das plantas. Tenho certa dificuldade em ver personalidade nas panelas. Mas acho que foi a vida que me estragou.

Depois de ver “A Bela e a Fera”, em que um candelabro já tinha sido um mordomo francês, imaginava quem tinha sido minha poltrona: um ruivo gorducho de pés peludos. O cinzeiro da sala imaginava um doido grisalho, condenado por, em outra encarnação, fumar demais. Tinha me esquecido disso até virar pai.

Minha filha tem um ano, dez meses e uma multidão de amigos inanimados. A sala da nossa casa é uma espécie de Disneylândia particular, onde tudo tem nome, sono, fome. Não pode ver um objeto  —um chinelo, uma colher, um controle remoto— que pega no colo e balança como um bebê. “Shhh”, ela diz. “Tá mimindo.” Outro dia levantou a blusa e deu de mamar a um pato de crochê até constatar, pra si mesma, que ele já não estava acordado: “Dormiu no peito”, disse.

Apesar de muito carinhosa com objetos inanimados, às vezes se irrita com os colegas de carne e osso e acaba mordendo seus bracinhos. Já tentamos ensinar de mil formas. “Não pode morder, tá?”, mas ela não responde. Já tentamos um pouco de psicanálise: “Por que você fez isso?”, e ela obviamente não responde e logo percebemos o ridículo de fazer psicanálise com um bebê.

Outro dia brincava com um coelho de pelúcia e o pato de crochê. De repente vejo que o seu dedo estava em riste. “Por que você isso?”, perguntava pro coelho. E continuava, sem levantar o tom de voz. “Não pode morder, tá?”

Não sei se minha filha já entendeu que não pode morder. Mas o coelho parece ter entendido. E isso é um bom começo. E eu, sentado no sofá, entendi um monte de coisa. Entendi por que a gente põe alma nas coisas, e encena peças, e pra que servem as histórias e os mitos —pra ensinar pros outros o que a gente ainda não sabe.

Meu avô Carlos, analista junguiano, tinha uma coleção enorme de bonecos e deitava no chão pra contar histórias sobre o bem e o mal. Não lembro das histórias, mas lembro dele deitado no chão, rodeado de netos e bonecos, em pé de igualdade.

Meu avô mal conheceu minha filha. Morreu no começo deste ano. Mas acho que teriam muito assunto, os dois. E talvez estejam tendo, vai saber, caso esteja vivo em alguma panela, ou algum pato de crochê.

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© Nadav Kander

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Tempo, tempo, tempo…

Zé Beto no dia em que disse para o Rei Pelé que o melhor time de todos os tempos sempre foi, é e será o do Clube Atlético Paranaense. © Julio Cesar

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Denise Assunção. © Carlos Neves

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Deputado quebra quadro de exposição na Câmara contra racismo e é alvo de BO de colegas

Quatro deputados federais registraram um boletim de ocorrência contra o parlamentar Coronel Tadeu (PSL-SP), que quebrou uma placa da exposição “Trajetórias Negras Brasileiras”, aberta ontem na Câmara dos Deputados. O evento é uma homeagem ao Dia da Consciência Negra, que é celebrado em 20 de novembro.

Os parlamentares também entrarão com uma representação contra Coronel Tadeu no Conselho de Ética, por quebra de decoro parlamentar.

Tadeu pisou e quebrou uma das peças que estampava uma charge do artista Latuff com um homem negro assassinado por um policial com uma arma na mão. Logo depois, ele foi alvo de críticas de parlamentares do Psol e do PT que o chamaram de racista.

O deputado publicou em suas redes sociais um vídeo que mostra o momento que ele retirou a peça da exposição.

– Isso aqui não vai ficar na parede, isso aqui é contra a polícia. A polícia está aqui para defender a sociedade. Eu vou queimar esse cartaz que não deveria estar aqui – disse ele Tadeu.

No boletim, os deputados David Miranda (Psol-RJ), Talíria Petrone (Psol-RJ), Benedita da Silva (PT-RJ) e Áurea Carolina (Psol-MG) solicitam as imagens do Coronel Tadeu quebrando a placa e a recolocação da mesma. A ocorrência será encaminhada para a corregedoria da Câmara que analisará o caso.

O Globo

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Millôr para Fernanda

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CAIU MAL entre os militares o tuíte do ministro da Educação sobre o 15 de novembro. Os generais acham que Abraham Weintraub é o ministro “da falta de educação”. Querem dizer que o ministro é um bronco que não conhece história do Brasil. Em bom brasileiro significa que Weintraub é ignorante. Só esqueceram que o ministro é subordinado ao presidente.

Quem escolhe e mantém ministro ignorante é ignorante em dobro. Fosse um só, como o ministro anterior, não exatamente um cérebro. Agora, com o segundo ignorante no ministério que exige educação em maiúscula e minúscula, quem passa atestado de falta de educação é Jair Bolsonaro, o chefe. Nos dois ítens o presidente tem simplório saber e reputação libada.

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Poluicéia Desvairada!

Chuva fina no final da tarde.  © Lee Swain

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