Mural da História

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Compre já!

Livro “Solda”, do cartunista que vos digita. R$30,00, só na Loja Plural. E também livros de Benett, Marco Jacobsen e Pryscila Vieira, sempre livres, leves e laicos. Imperdível!

“(…) ele (Solda) é um cartunista de letras. Nuvens de letras pairam sobre os calungas que desenha, jorram da telinha de TV, se derramam dos chapéus, das gavetas, dos livros entreabertos, de todas as fendas, buracos e orifícios. Seus textos são cáusticos e certeiros, como o de outro cartunista que escrevia primorosamente bem, o Fortuna. São ao mesmo tempo absurdos e lógicos. E vice-versa. E não me pergunte por que, leia o Solda e você vai  saber do que estou falando”. (Jaguar)

Loja Plural

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Daydreamer. © IShotMyself

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PASSA BATIDO. O governador saqueia o tesouro, os desembargadores grilam terras, vendem sentenças – e são punidos com aposentadoria remunerada -, os deputados, senadores e vereadores legislam para si mesmos, os prefeitos transformam o mandato em instrumento de caprichos infantis. O retrato do Brasil. Não é culpa do presidente que faz da própria ignorância um galardão de glória.

ISSO TUDO, mais o pecuarista de Unaí (MG), o cretino ignorante que debocha da humanidade com a suástica, só tem um culpado: é o brasileiro – seja o que aplaude o falso moralismo direitista, seja o cego defensor do mistificador idealismo esquerdista, seja o miserável semialfabetizado ou analfabeto, assim mantido pelo interesse do Estado em não resgatá-lo para a qualidade de vida.

ESSE CULPADO, em resumo, somos nós, contribuintes, eleitores, cidadãos. Nós, que nos emocionamos com a Seleção, temos arrepios com o Hino Nacional, nos lixamos para o meio ambiente e jogamos lixo nas ruas. Nós, verdadeiros, completos, irremediáveis, energúmenos. Não somos os únicos, os EUA nos superam na estupidez. Mas também nos superam naquilo que insistimos em não ser.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Com a tag | Deixar um comentário
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A mesma roupa toda segunda-feira

Não é novidade para ninguém que jornalistas mulheres quando são atacadas o alvo é sempre sua aparência física, seu estado civil e sua sexualidade

Repeti a mesma roupa todas as segundas-feiras dos últimos dois meses, no programa do qual participo no YouTube, o Segunda Chamada, do MyNews. Antes disso, vinha intercalando o mesmo macacão preto com azul escuro com outras poucas peças. A mesma calça e variações de algumas blusas. Resolvi fazer essa experiência depois que recebi uma crítica justamente por me vestir da mesma forma vezes seguidas.

Lembrei-me de experiências contadas por jornalistas estrangeiros, todos homens, sobre a repetição dos trajes. Um deles, o apresentador australiano Karl Stefanovic, contou depois de um ano que havia usado o mesmo terno sem que alguém tivesse notado. Detalhe, o programa era diário. Todos os dias, o cara estava em frente às câmeras com seu terno cinza e ninguém jamais percebeu —ou se importou. Stefanovic disse que fez isso em apoio à colega que recebia regularmente críticas de espectadores e da imprensa em relação às roupas que escolhia. “As mulheres são julgadas de forma muito mais severa e profunda pelo que fazem, pelo que dizem e pelo que vestem”, afirmou o apresentador.

Ele tem razão. Não é novidade para ninguém que jornalistas mulheres quando são atacadas o alvo é sempre sua aparência física, seu estado civil e sua sexualidade. Não importa se o assunto seja energia nuclear ou política internacional. Se a opinião não agrada, a mulher é sempre a porca, a vadia, a encalhada. Tenho uma coleção de impropérios sobre como sou mal-amada, recalcada, velha e já fui chamada de sapatão, como se isso fosse um xingamento. Apenas não entendi até hoje a relação entre ser sapatão e um texto sobre urnas eletrônicas.

No dia em que li a crítica sobre estar com a mesma roupa fiquei incomodada, mas depois pensei, por que não? Não fui convidada para participar do programa por causa do meu guarda-roupa, nunca trabalhei com moda, sou zero referência, não vivo e não me alimento desse universo, apesar de gostar do tema e de fazer umas comprinhas de vez em sempre. Mas investir em roupas para passear é uma coisa, a outra é ter que variar o guarda-roupa para satisfazer a audiência.

Nunca vi o mesmo tipo de julgamento em relação aos meus colegas de programa. Com exceção do jornalista Pedro Doria, que causa furor positivo com suas meias coloridas e chamativas. A audiência ama, mas ele está sempre de calça jeans, camisa e blazer. Uma provocação: quem pode afirmar que não são as mesmas peças?

Havia outra questão. Escolher roupas que tenham bom caimento e fiquem bem num programa em que passo o tempo todo sentada era outro problema. Muitas vezes, em casa, em frente ao espelho, eu ficava apresentável. Mas ao sentar na poltrona que ocupo, a peça acabava me deixando com uma pancinha, com os ombros caídos, ficava curta demais ou muito justa. O resultado no vídeo era sempre uma surpresa, muitas vezes uma surpresa desagradável.

Stefanovic está certo, sou sempre mais julgada que meus colegas homens pelo que faço, pelo que digo, pelo que visto. Darei um exemplo simples: muitas vezes sou interrompida por colegas e por convidados. Em geral, não me incomodo, acho que é do jogo e aprendi a me impor, depois de ter me irritado muito. Mas se sou eu a atravessar a fala de alguém, seja porque preciso fazer uma observação, corrigir um dado, incluir uma pergunta, sou massacrada.

Então, resolvi diminuir as possibilidades de crítica, pelo menos no que diz respeito a roupa. Escolhi algo que veste bem, é confortável, tem cor neutra e não me tira o sono aos domingos. A peça, claro, é lavada e eu vario o top, os brincos e as sandálias. Instituí a “Segunda-Feira Steve Jobs”, em alusão ao fundador da Apple, que vestia rigorosamente a mesma coisa todos os dias: calça jeans, tênis e camiseta preta de manga longa. Os comentários sobre a minha aparência, se não acabaram, diminuíram. É triste constatar que meus maiores algozes nesse sentido sempre são mulheres, exatamente as mais são cobradas. Por que fazemos isso?

Já penso em aposentar o modelo 2019 e encontrar um novo para o primeiro semestre de 2020. Também avalio trocar as sandálias por sapatos fechados. Descobri que existe um tipo de tarado (alguns) que só assiste ao programa para ver meus pés, enquanto estou muito concentrada em criticar o ministro da (des)educação. Tem doido para tudo.

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Fim de ano

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Surto

lápis-desenho

Hoje, quando tive um leve surto de “Febre do Escriba”, uma neurastenia comum entre a elite intelectual deste mundinho onde todo mundo olha pro próprio umbigo, liguei meu “Foda-se” para sempre.

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lescorpshumains_031lescorpshumains 031. © IShotMyself

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Padrelladas

Que gosto tinha a pitanga nas sonhaduras da infância? Que cheiro que tinha a chuva que chovia no jardim? E minha avó catalã me chamando pra jantar, que tinha naquela voz que não consigo lembrar? O sol criava ruídos nas plantações do pomar: uma cigarra gritava como fosse se matar; um passarinho, ora um sapo, ora um cachorro a ladrar eram as vozes antigas de fadas e curupiras trazendo medos ou então toda aquela sinfonia que marcava nossos dias fosse a promessa do hoje quando a criança velhinha pudesse reabraçar a avó que falava estranho e pudesse rotular cada fruta, sapo, flor que medraram no Jardim.

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Abraham Weintraub: mais um ministro no tiroteio olavista das redes sociais

© Fabio Rodrigues Pozzebom|Agência Brasil

A deputada Carla Zambelli convidou Abraham Weintraub para ser padrinho de seu casamento, porém na cerimônia, em fevereiro, ela poderá um ex-ministro como padrinho. Weintraub saiu de férias e pouca gente acredita na sua permanência no ministério da Educação. E mesmo quem aposta nele vai ter dificuldade em apontar onde está sua sustentação.

É geral o descontentamento com o ministro. Ele não criou empatia com a classe política e tampouco conseguiu apoiamento no meio universitário, onde conforme seu repetido discurso de alto teor ideológico, haveria um ferrenho domínio comunista imposto pelo aparelhamento petista da Educação. Pelo jeito, faltou habilidade a Weintraub para cooptar dissidentes deste Gulag liberto e atrair a colaboração dos setores conservadores, entre professores e servidores.

Mas é mesmo muito complicado o relacionamento com Weintraub. O sujeito é tão autoritário que até acredita nisso como um eficiente conceito de gestão. É de se ver seu orgulho em entrevistas a jornalistas, quando diz que com ele as coisas acontecem ou o responsável pela falta de solução é imediatamente demitido. Weintraub exibe com contentamento essa forma de agir em uma das pastas mais complexas do Governo Federal e que, conforme suas próprias denúncias verbais, ele pegou totalmente arruinada.

Deve ser difícil até puxar o saco desse ministro, pois ele mesmo se incumbe dos elogios à sua magnífica capacidade. Com a mesma falta de amparo técnico das suas críticas ou dessa sua absurda tese da pressão contínua e da ameaça do desemprego como estímulo à produtividade, ele afirma que fez uma “revolução” no ministério, o que em tão pouco tempo não seria possível nem para um gênio político e administrativo, mesmo sem levar em conta o alegado cenário de ruínas. Ele nem percebe que com essa lorota desmente a exposição da desastrosa condição deixada por administrações anteriores.

Weintraub é ineficaz até na propaganda de suas supostas qualidades. A carrada de autoelogios não tem referência em informações verificáveis do seu trabalho. É um revolucionário que não apresentou até agora nenhuma vitória em alguma batalha de peso. A precariedade de realizações fica muito clara quando ele se gaba da realização do Enem, como se isso fosse um grande êxito.

Se fosse ministro da Saúde é provável que de forma parecida citaria como uma grande façanha a realização do Calendário Nacional de Vacinação. Mesmo jornalistas favoráveis ao governo ouvem esse tipo de coisa com constrangimento, mas o ministro não se toca. Weintraub é o tipo de sujeito que se encanta com suas próprias palavras, de modo que os elogios à sua própria performance estimulam o andamento acelerado do discurso vazio.

O ministro tem dificuldade de se entender até com o que sobrou da base partidária do governo, no esfacelado PSL. Aparentemente, Weintraub não se apercebe de mudanças determinantes na realidade política, em razão da sua própria posição atual e do reposicionamento que atinge até o partido que elegeu Bolsonaro. E olhem que existem condições práticas muito óbvias, como sua presença na Câmara não mais por convite, mas agora pela obrigatória convocação. Falta-lhe também a lembrança que chegou a ser conduzido de mãos dadas até a mesa pela então amiga de Bolsonaro, deputada Joice Hassellmann, que no último depoimento não estava nem na sua defesa entre os parlamentares.

É tamanha a falta de percepção que sem dúvida também será difícil para Weintraub compreender que não se espera dele o sucesso de um lacrador de redes sociais, muito menos no diálogo sempre difícil com uma oposição que atua em comissões ou audiências públicas sempre para estabelecer um clima de constrangimento e confusão, tarefa a que se dedicam com histeria impressionante, obtendo um sucesso estupendo e até muito fácil com a natural irritabilidade do ministro da Educação.

Passadas suas férias, pode até ser que Weintraub suba ao menos uma vez a rampa do Palácio do Planalto até a sala de Bolsonaro, mas os indicativos são de que deve descer quase de imediato. É impossível detectar apoio ao ministro em qualquer setor relacionado ao seu trabalho, tendo surgido ainda entre a boataria de sua demissão a conversa de que ele já está sendo fritado pela equipe da Economia e a área militar do governo. Pior ainda, não há engajamento a favor dele nem entre a chamada corrente ideológica governista.

Até mesmo no meio olavista, que é de onde ele veio, existe um desentendimento sobre o apoio a Weintraub, tendo o próprio Olavo de Carvalho simplesmente lavando as mãos sobre o assunto, que ele chama de “Caso Weintraub”, em um vídeo postado nas suas redes sociais. Uma ala influente do olavismo já cai de pau em cima do ministro e o adorado guru da Virgínia evitou dar qualquer apoio pessoal, mantendo o clima de críticas, como sempre muito pesadas. Como se vê, Weintraub só conseguiu convencer ele mesmo de que é o homem mais que certo no lugar certo.

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Embasbacados

Em toda a conquista da América repetiu-se a formalidade da leitura do “Requerimento” que proclamava a posse da terra pela Coroa espanhola e a transformação dos nativos em seus súditos

A versão oficial da conquista do Novo Mundo pelos europeus é de que tudo começou com a chegada ao que viria a ser o México do espanhol Hernán Cortez, que embasbacou o império asteca antes de derrotá-lo, facilmente, assoviando, nas armas. Os nativos nunca tinham visto um cavalo, que dirá mosquetes e outros instrumentos de guerra, e sucumbiram ao poder de fogo e ao garbo dos espanhóis. O que explicaria a relativa docilidade do imperador Montezuma diante dos invasores.

Não foi bem assim. Com a esquadra de Cortez viajou, além de um exército, um notário real, cuja função era assegurar que a posse das novas terras pela Espanha obedecesse a todos os trâmites legais – da Espanha. A rendição de Montezuma fez parte do embasbacamento que precedeu a chacina. Uma cultura fundada na cerimônia como a asteca teve seu primeiro encontro com uma cultura legalista e não resistiu. Um império de gestos rígidos mostrou-se impotente diante de um império de palavras maleáveis e foi enrolado pelo jargão jurídico antes de perder a guerra e a terra.

Em toda a conquista da América repetiu-se a formalidade da leitura do “Requerimento” que proclamava a posse da terra pela Coroa espanhola e a transformação dos nativos em seus súditos. Se os nativos não estivessem presentes na leitura do “Requerimento”, não importava: o notário estava lá e daria fé.

Cristóvão Colombo declarou formalmente diante de índios caribenhos que tomava posse das suas ilhas para o rei da Espanha “y no me fué contradicho”, como ele mesmo escreveu depois. Argumentar que ninguém ali poderia contradizê-lo porque nenhum nativo tinha ideia do que ele estava dizendo seria apelar para o bom-senso, algo sem nenhuma majestade histórica. A conquista europeia da América deixou, entre outras, a tradição da lei como instrumento de enrolação.

Em toda a América persiste a mesma divisão entre brancos e índios dos tempos de Cortez e Montezuma. De vez em quando, um se recusa a ser embasbacado e tenta contradizer a hipocrisia reinante, mas nunca vai longe.

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A revolução cultural cristã

Os cristãos emergem na escrita de Nixey como um bando de talibãs fanáticos

A violência é a parteira da história. Essa ideia era comum entre intelectuais de esquerda no século 20. Hoje, a ideia é politicamente incorreta. A esquerda se fez vegana. A expressão Revolução Cultural chinesa era objeto de orgasmo para gente chique como Sartre e Beauvoir: a via maoísta. 

A Revolução Cultural chinesa nos anos 1960 foi um massacre. Uso a expressão revolução cultural cristã aqui como analogia com a Revolução Cultural chinesa.

O cristianismo teve sua revolução cultural principalmente entre os séculos 4º e 6º d.C., após a conversão do imperador Constantino (272 d.C. – 337 d.C.). Foi violenta, sangrenta, boçal e eficaz, como a chinesa. Mas, enquanto pega bem louvar a chinesa, é chique, nos jantares inteligentes, xingar a cristã.

É justamente a revolução cultural cristã que a jornalista britânica Catherine Nixey narra no seu excelente livro “A Chegada das Trevas: Como os Cristãos Destruíram o Mundo Clássico” (pela editora portuguesa Desassossego).

A rigor não há nada de novo no que ele narra, para quem conhece um pouco do traçado, mas o livro tem inúmeros méritos: conciso, elegante, bom aparelho crítico com relação às fontes, oferecendo uma bela síntese do modo como muitos cristãos, entre eles os famosos monges do deserto, chamados por ela de “fedorentos”, destruíram templos, estátuas, pergaminhos (livros) e fontes essenciais do que era a cultura clássica.

Esses cristãos emergem na escrita de Nixey como um bando de talibãs fanáticos e bem distantes da ideia que se tem desses heróis do paliocristianismo. Nomes como João Crisóstomo, Santo Agostinho e Basílio Magno saem bem chamuscados depois das passagens em que ficam claras suas reservas para com a
cultura clássica.

Nixey reconhece que muito foi salvo graças a cristãos cultos, mas, como ela mesma repete, muito, muito, muito mais foi destruído graças às taras da maioria dos idiotas da fé. Filha de pais cristãos, Nixey está longe dos tiques nervosos do anticlericalismo típico de quem conhece pouco do cristianismo em geral.

O mundo clássico era belo, rico, produtivo e com tendências que chamaríamos, anacronicamente, de tolerante, em oposição ao cristianismo, que, com sua marca monoteísta e proselitista, varreu o mundo greco-romano com a sanha do Deus único.

Mas Nixey não é nenhuma idealista do mundo clássico. Por exemplo, sua descrição dos banhos romanos, objeto de ódio dos cristãos “puritanos”, não deixa dúvida: eram imundos, fedorentos, promíscuos. Sua água fedia e a chance de você pegar todo tipo de doença era enorme.

Todavia, a revolução cultural cristã, como a chinesa, devastou a herança clássica. Teríamos mais tesouros, além de Platão, Aristóteles, Sófocles, Marco Aurélio, Sêneca, entre outros, se esses malucos fanáticos não tivessem se posto a destruir as fontes. No que tange à beleza dos templos greco-romanos, a devastação foi monstruosa.

Um dos pontos mais fortes do livro está no desmonte da ideia de que os oficiais romanos eram, na sua maioria, uns tarados pelo sangue inocente cristão.

A análise dos autos em que oficiais romanos tentavam salvar cristãos fanáticos do martírio é excelente. Muito distante da falsa imagem que parte da história oficial do cristianismo e o cinema construíram, a maioria dos oficiais romanos era gente razoável que estava muito longe de querer “rolo” com um bando de fanáticos.

E aqui, vem, a meu ver, o coração da tese da autora. Descrevendo um desses oficiais romanos encarregados de lidar com a sanha fanática dos mártires malucos, Nixey diz algo assim: “Como membro da elite romana, e de toda elite, era um homem bem educado o bastante para não crer na religião, qualquer que fosse ela, mas, também, era bem formado o bastante para não desdenhar de nenhuma delas”.

Aqui reside toda a diferença de uma verdadeira atitude culta em relação às religiões: se, por um lado, a adesão a elas revela uma certa pobreza de espírito, o desprezo para com elas, revela uma certa pobreza de alma. Desdenhar das religiões é um atestado de fraqueza intelectual.

Publicado em Luiz Felipe Pondé - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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A pior das loucuras é tentar ser sensato num mundo de loucos

© Juliana Lopes

“A pior das loucuras é, sem dúvida, pretender ser sensato num mundo de loucos”. Essa colocação – sensata, inclusive – foi feita por Erasmo de Roterdã em seu célebre livro Elogio da Loucura.

Erasmo de Roterdã foi um filósofo e teólogo holandês de formação humanista que viveu na época do Renascimento. Era bastante respeitado pelos eclesiásticos e protestantes, mas profundamente odiado pelos cristãos, pelo fato de ter sido um crítico assíduo da Igreja Católica, instituição detentora de enorme influência política naquela época.

Filho de uma relação ilícita entre um padre e uma moça, Roterdã recebeu forte educação religiosa. Era inquieto e insatisfeito, de temperamento moderado. Falava sempre mais que o necessário, mas, socialmente, evitava ser o centro das atenções – apesar de ter sido conhecido por sua boa retórica e disposição para longevos diálogos.

Em 1484, aos 15 anos de idade, ele se tornou órfão. Seu pai e sua mãe morreram no mesmo ano, com intervalo de poucos meses um do outro.

No ano seguinte, começa a trabalhar como monge no convento de Steyn, não por vocação ou vontade, mas como única saída para um estudante sem dinheiro que deseja prosseguir seus estudos. Após sete anos encubado no convento, e tendo aprendido bastante sobre as práticas, doutrinas, preceitos e valores católicos, Roterdã se forma padre.

O holandês abraçou o sacerdócio, para abandoná-lo logo em seguida. Especializou-se no pensamento clássico e erudito. Viajou e ensinou em vários países como Inglaterra, Espanha e Bélgica.

Ao longo de sua carreira teológica e acadêmica, Roterdã imergiu em manuscritos escolásticos e católicos, o que fez surgir sua percepção crítica sobre as contradições da Igreja. Ele é uma figura importante para se entender as transformações pelas quais passou a fé religiosa da Idade Média à Renascença.

Roterdã não tinha pudores: costumava dizer tudo que lhe vinha à boca, pouco se preocupando com as consequências de suas palavras. Por esse hábito de ser autêntico, excêntrico e, por vezes, desagradável, foi menosprezado por muitos que o desveneravam, ainda que outros o amassem por essas mesmas características.

Como humanista, ele acreditava que a razão deveria estar a serviço do homem, e não o contrário. Criticava com ferocidade teólogos conservadores e alguns filósofos de sua época, alegando que seus raciocínios eram distorcidos, desprovidos de sentido, tendenciosos demais. Era totalmente contra aqueles que perpetuavam o pensamento das trevas e defendiam uma fé superficial e artificial.

Em vida, Roterdã escreveu pouco, mas suas palavras provocaram (e ainda provocam) considerável ressonância, principalmente entre os intelectuais e estudiosos de história e filosofia humanista.

Sua obra mais importante do ponto de vista teológico é Colóquios. Mas sua obra de maior impacto, que o popularizou, é Elogio da Loucura. Continue lendo

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ninguém conhece o teu calibre
teu amigo mais Fidel em cuba libre
a velha bazuca matou Somoza
Stroessner não ficou triste
Pinochet de dedo em riste
Videla entrou de sola
agora sou eu o dono da coca-cola
três porções de Tupamaro azedo
um Montonero ao óleo desde cedo
misture bem com o MR 8
em fogo lento até virar biscoito
bata sandinistas em ponto de neve
ponha tampa e abafe de leve
enfeite tudo com um filho
o cão com os dentes no gatilho
 
Roberto Prado e Antonio Thadeu Wojciechowski

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