Vai lá!

Publicado em vai lá! | Com a tag , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Zé da Silva

O grito, de pavor. Um cachorro latiu, lá longe. O gato, perto, pareceu ter levado por um chute. Drácula estava no ar dentro da sala de filme de David Linch. Não havia janela. No sofá verde, sob iluminação fraca, uma mulher não sentia o perigo.

Como eu conseguia me ver, era um mistério como todo o resto. Meu rosto, branco. Mais para Cristopher Lee do que Bela Lugosi. Mas era eu mesmo, com sede de sangue – e sem querer estraçalhar a carótica sob a pela macia e clara. Vício. Tentei evitar. As unhas, mais parecidas com a do Zé do Caixão, arranharam as paredes lisas.

Pousei suave no tapete escuro no meio da sala. Ela olhou pra mim. Todos os traços femininos de uma existência de observação e devoção estavam concentrados ali. Dei um passo. Parei. Havia um jeito de acabar com aquilo. Fiz o sinal da cruz em mim mesmo. Aí, gritei – e acordei com um gosto amargo na boca.

Publicado em Zé da Silva | Com a tag , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

O irritante guru do Méier

Publicado em O irritante guru do Méier | Com a tag , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

A vida dos objetos

Jung tinha um nome pra cada uma de suas panelas

Jung tinha um nome específico pra cada uma de suas panelas. Quem disse foi minha tia Noca, animista como Jung, que acredita na alma dos objetos e das plantas. Tenho certa dificuldade em ver personalidade nas panelas. Mas acho que foi a vida que me estragou.

Depois de ver “A Bela e a Fera”, em que um candelabro já tinha sido um mordomo francês, imaginava quem tinha sido minha poltrona: um ruivo gorducho de pés peludos. O cinzeiro da sala imaginava um doido grisalho, condenado por, em outra encarnação, fumar demais. Tinha me esquecido disso até virar pai.

Minha filha tem um ano, dez meses e uma multidão de amigos inanimados. A sala da nossa casa é uma espécie de Disneylândia particular, onde tudo tem nome, sono, fome. Não pode ver um objeto  —um chinelo, uma colher, um controle remoto— que pega no colo e balança como um bebê. “Shhh”, ela diz. “Tá mimindo.” Outro dia levantou a blusa e deu de mamar a um pato de crochê até constatar, pra si mesma, que ele já não estava acordado: “Dormiu no peito”, disse.

Apesar de muito carinhosa com objetos inanimados, às vezes se irrita com os colegas de carne e osso e acaba mordendo seus bracinhos. Já tentamos ensinar de mil formas. “Não pode morder, tá?”, mas ela não responde. Já tentamos um pouco de psicanálise: “Por que você fez isso?”, e ela obviamente não responde e logo percebemos o ridículo de fazer psicanálise com um bebê.

Outro dia brincava com um coelho de pelúcia e o pato de crochê. De repente vejo que o seu dedo estava em riste. “Por que você isso?”, perguntava pro coelho. E continuava, sem levantar o tom de voz. “Não pode morder, tá?”

Não sei se minha filha já entendeu que não pode morder. Mas o coelho parece ter entendido. E isso é um bom começo. E eu, sentado no sofá, entendi um monte de coisa. Entendi por que a gente põe alma nas coisas, e encena peças, e pra que servem as histórias e os mitos —pra ensinar pros outros o que a gente ainda não sabe.

Meu avô Carlos, analista junguiano, tinha uma coleção enorme de bonecos e deitava no chão pra contar histórias sobre o bem e o mal. Não lembro das histórias, mas lembro dele deitado no chão, rodeado de netos e bonecos, em pé de igualdade.

Meu avô mal conheceu minha filha. Morreu no começo deste ano. Mas acho que teriam muito assunto, os dois. E talvez estejam tendo, vai saber, caso esteja vivo em alguma panela, ou algum pato de crochê.

Publicado em Geral | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

© Nadav Kander

Publicado em tchans! | Com a tag , , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Tempo, tempo, tempo…

Zé Beto no dia em que disse para o Rei Pelé que o melhor time de todos os tempos sempre foi, é e será o do Clube Atlético Paranaense. © Julio Cesar

Publicado em tempo | Com a tag , , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Denise Assunção. © Carlos Neves

Publicado em Geral | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Deputado quebra quadro de exposição na Câmara contra racismo e é alvo de BO de colegas

Quatro deputados federais registraram um boletim de ocorrência contra o parlamentar Coronel Tadeu (PSL-SP), que quebrou uma placa da exposição “Trajetórias Negras Brasileiras”, aberta ontem na Câmara dos Deputados. O evento é uma homeagem ao Dia da Consciência Negra, que é celebrado em 20 de novembro.

Os parlamentares também entrarão com uma representação contra Coronel Tadeu no Conselho de Ética, por quebra de decoro parlamentar.

Tadeu pisou e quebrou uma das peças que estampava uma charge do artista Latuff com um homem negro assassinado por um policial com uma arma na mão. Logo depois, ele foi alvo de críticas de parlamentares do Psol e do PT que o chamaram de racista.

O deputado publicou em suas redes sociais um vídeo que mostra o momento que ele retirou a peça da exposição.

– Isso aqui não vai ficar na parede, isso aqui é contra a polícia. A polícia está aqui para defender a sociedade. Eu vou queimar esse cartaz que não deveria estar aqui – disse ele Tadeu.

No boletim, os deputados David Miranda (Psol-RJ), Talíria Petrone (Psol-RJ), Benedita da Silva (PT-RJ) e Áurea Carolina (Psol-MG) solicitam as imagens do Coronel Tadeu quebrando a placa e a recolocação da mesma. A ocorrência será encaminhada para a corregedoria da Câmara que analisará o caso.

O Globo

Publicado em Geral | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Millôr para Fernanda

Publicado em O irritante guru do Méier | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

CAIU MAL entre os militares o tuíte do ministro da Educação sobre o 15 de novembro. Os generais acham que Abraham Weintraub é o ministro “da falta de educação”. Querem dizer que o ministro é um bronco que não conhece história do Brasil. Em bom brasileiro significa que Weintraub é ignorante. Só esqueceram que o ministro é subordinado ao presidente.

Quem escolhe e mantém ministro ignorante é ignorante em dobro. Fosse um só, como o ministro anterior, não exatamente um cérebro. Agora, com o segundo ignorante no ministério que exige educação em maiúscula e minúscula, quem passa atestado de falta de educação é Jair Bolsonaro, o chefe. Nos dois ítens o presidente tem simplório saber e reputação libada.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Com a tag | Comentários desativados em
Compartilhe Facebook Twitter

Poluicéia Desvairada!

Chuva fina no final da tarde.  © Lee Swain

Publicado em poluicéia desvairada! | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Cadeia para os corruptos?

A sociedade não ganha nada encarcerando pessoas que não representem perigo físico a outros cidadãos

Nunca achei que a cadeia fosse lugar para Lula e fico feliz que ele tenha sido solto. Daí não decorre que o considere inocente. Não dá para aceitar como ético o comportamento do líder político que, com forte influência sobre o governo, aceita de empreiteiros presentes no valor de várias centenas de milhares de reais. Se a lei não inibe esse tipo de atitude, é a lei que está errada.

Meu ponto é que o sistema de Justiça precisa ser capaz de identificar situações como essa e dar-lhes uma resposta jurídica, na forma de condenações. Não creio, porém, que a restrição da liberdade seja a pena adequada para casos de corrupção, lavagem de dinheiro, tráfico de influência ou qualquer outro crime cuja execução não envolva o uso ou a ameaça de violência.

A sociedade não ganha nada encarcerando pessoas que não representem perigo físico a outros cidadãos. Mas, se a minha tese é verdadeira, como acho que é, por que tanta gente fica indignada à simples menção da ideia de que corruptos (e traficantes, estelionatários etc.) não devem ir para a

Um dos problemas mais graves com os quais grupos que dependem da cooperação entre seus membros precisam lidar é o dos “free-riders”, isto é, as pessoas que tentam usufruir dos bens públicos sem dar a sua cota de contribuição. A forma que a evolução encontrou para resolver isso foi instilar em nós uma forte propensão emocional para punir aqueles que identificamos como violadores das normas sociais.

Não dá para dizer que não deu certo. O medo de sofrer sanções do grupo é um dos vetores que levaram à autodomesticação humana, fazendo de nossa espécie uma das mais autocontidas e menos violentas entre os primatas sociais.

É necessário seguir nessa rota civilizacional, o que, no estágio em que nos encontramos, significa refrear nossos impulsos instintivos para abraçar soluções mais racionais, mesmo que pareçam, à primeira vista, fracas demais.

Publicado em Hélio Hélio Schwartsman - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Os novos e poderosos juízes

A ausência de uma lei que regule a imprensa brasileira, tais como canais de televisão, jornalões e mídias sociais faz com que estes segmentos sejam novos atores judiciais. Todos os países civilizados possuem leis que regulamentam a atividade jornalística, o Brasil, para variar, não tem sequer projeto.

A imprensa acusa, julga e condena, tudo ao mesmo tempo. A versão jornalística é uma verdade processual sem processo. Há denunciantes seriais, que maculam a honra dos cidadãos, diariamente, e a verdade processual, isto é, aquela que está sendo discutida no processo judicial é a que menos importa. A versão noticiosa vem antes mesmo da instauração do processo.

Se há uma liminar ou sentença de primeiro grau, e ainda estão discutindo os fatos no processo judicial, não importa, o que vale é a versão noticiosa.

Não se tem uma regulação atualizada da distribuição das concessões dos meios de comunicação que estão nas mãos de oligopólios regionais. Em resumo, os barões milionários da mídia se acostumaram a destruir reputações e, mesmo assim, em regra, permanecem impunes.

A nova lei de abuso de autoridade (13.869/2019), prevê quanto a autoridade pública que “Art. 38. Antecipar o responsável pelas investigações, por meio de comunicação, inclusive rede social, atribuição de culpa, antes de concluídas as apurações e formalizada a acusação: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.”.

Se combinarmos este artigo com a garantia constitucional da presunção de inocência veremos que mesmo após concluídas as apurações e formalizada a acusação, os supostos autores das condutas ilegais, podem no decorrer do processo serem absolvidos, mas terem a mancha eterna da divulgação pelos atores judiciais da mídia.

Ainda, a norma imputa à autoridade pública e não aos meios de comunicação que continuam numa zona cinzenta, da ausência de responsabilização penal ou civil. A elite do direito, que repete autores estrangeiros, para mostrar um verniz de erudição bacharelesca ainda não estudou a realidade das penas antecipadas de caráter moral e social promovidas pela mídia.

Na ausência de regulação, os meios de comunicação, e incluo aqui as mídias sociais que não possuem qualquer simpatia pela legalidade ou pelos direitos, continuam na barbárie da destruição de reputações, por meio das suas versões.

Um processo demora anos, ou décadas para se resolver, já a notícia é instantânea.A repetição e a intensidade das versões também é algo que deve ser discutido, bem como, a pluralidade das ideias que inexiste na mídia brasileira, temos as opiniões únicas.

Consolidamos novos e poderosos juízes, sem compromisso com as garantias constitucionais.

Publicado em Claudio Henrique de Castro | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Nesta quarta, 20, o STF passa a julgar os casos em que o Ministério Público teve acesso às movimentações financeiras junto ao Coaf. Entre elas aquela na qual concedeu liminar para sustar a investigação das contas do então deputado Flávio Bolsonaro e seu assessor Fabrício Queiroz.

EIGER SANCTION, filme de 1975, dirigido e protagonizado por Clint Eastwood. Jonathan
Hemlock, professor e colecionador de arte, alpinista amador e espião aposentado, é  convocado pela CIA para entrar no grupo que vai escalar o pico Eiger para descobrir e matar um traidor. Embora tenha descoberto o traidor, Hemlock acaba matando todos do grupo. Sua eficiência é elogiada pelo diretor da CIA.

O MINISTRO DIAS TOFFOLI, como o personagem de Eastwood, investiga as requisições de movimentação financeira de 600 mil pessoas físicas e jurídicas ao Banco Central. Toffoli quer descobrir quem bisbilhotou as contas dele, da mulher, de Gilmar Mendes e mulher, entre outros 599.996 outros. Caso o traidor não apareça, a punição será no estilo Eiger: Toffoli queima o MPF inteiro.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Kátia Drumond. © Maringas Maciel

Publicado em Clique! | Com a tag , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter