Vosso presidente não está se referindo ao Brasil em seu vídeo animalesco. Não existem leões na terra de Iracema. Existiram, sim, trazidos de outros continentes, e eram exibidos em jaulas onde eram apupados pelas crianças que iam ao circo.
Hoje, os leões que conheço nominam ruas, inclusive de Curitiba, em memória de uma família que ajudou a escrever o nome do Paraná. Também considerei estranha a escolha de hienas atacando leão. Primeiro que no vídeo não estão atacando o hoje conhecido Rei da Jaula: estariam tentando alcançar os restos da caça depois que o felino fartou-se.
Vejo a hiena como um animal da limpeza, como os urubus, o rapa, e – de uma forma mais respeitosa – os garis.
Na hora não aguentei e explodi: Você é um machista pleistocênico, canalha misógino, pulha preconceituoso. “O que é isso?”, veio a resposta, “não se fala assim com uma amizade de quarenta anos”. Que pode acabar aqui e agora, respondi. E tinha motivo. Estava cansado das crônicas de pseudo-sedução dele, que contava da última e da penúltima.
Dera o fora na penúltima, o motivo: “Não aguentava o cheiro do KY e fui procurar o produto natural”. O “produto natural” era secretado pela última, agora no último lustro de dispensar o KY. Por esta e pelo conjunto da obra foi a razão da acusação, que repito. ‘Na mulher você vê o sexo, não a essência. Os frentistas de postos de gasolina são mais sensíveis e gentis, tanto com as mulheres quanto com os automóveis: têm carinho com aquelas e aqueles que consomem lubrificantes de alta viscosidade, para motores cansados’.
“Pô, não é assim, eu trato bem as mulheres”, diz-me o inimigo do KY. ‘Sim’, respondo, ‘você trata bem, enche de presentes e troca de dois em dois anos. Não vou dizer que não mereceram ou que foram santas, sabiam onde e com quem estavam deitando’. “Péra aí, eu não sou essa porcaria toda”. ‘Não, você tem o maior dos charmes, é rico, bilionário, bem situado, consagrado na profissão. Mas nem por isso deixa de ser uma bosta’.
Continuo sem absolver suas ex-mulheres – tirando, claro, a santa mãe dos filhos, primeira e pioneira no descarte -, elas também levaram vantagem. Algumas ficam sem jeito quando lembradas de que foram suas mulheres: comprovei com uma delas, em recente jantar. ‘Você não as valoriza: elas são mais bonitas que você, mais inteligentes, têm a cultura que você nunca terá, não usam o palito de dentes para tirar a areia das unhas dos pés durante o almoço na praia’.
Todas serviram a seus propósitos arrivistas e profissionais. O mínimo que merecem nesta altura é respeito e reconhecimento. “Vejo que estou falando com um santo, que não sacaneou mulheres”, foi a estocada dolorida que recebi. Dei razão, fiz isso, mas em grau infinitamente menor. Agora estou curado, respondi. “Como?”, perguntou, “já vi você com duas coroas diferentes”. O lobo perde o pelo e não perde o vício. Não são coroas, são beldades sênior, respondi.
“E você faz o quê com elas? Pelo jeito só elogia”. ‘Faço tudo que você faz, inclusive com o KY, que você reclama nelas mas não sabe o quanto ajuda a na meia bomba do Viagra. Mas faço melhor, faço a transa de avós’. “Transa de avós, o que é isso”. Respondo que é uma transa igual às outras, com a diferença que os parceiros têm netos. Ele não perde oportunidade de conhecer novos domínios da sacanagem. “Como funciona essa transa de avós?”
Igual às outras, respondo. ‘A gente no escuro, para esconder as pelancas; a coisa vai devagar, muitas vezes dispensamos o Viagra e o KY, ficamos ali de conversa fiada e puxamos o arquivo de fotos do celular. Um dia contei a uma avó do filme do Don Juan em que Marlon Brando e Faye Dunaway, os dois na cama, brincavam de cuspir pipoca para o alto’. “Então assistem filmes de sacanagem, veem nudes próprios e alheios?”. Não, respondo, ali, na boa, peladões, só curtindo as gracinhas dos fedelhos.
Desastre ambiental no Nordeste se soma a salto de cerca de 40% na área desmatada
O petróleo derramado em 233 praias de todo o Nordeste como que obliterou o desastre anterior, com as queimadas e o desmatamento que lhes dá origem. Deixar as manchetes, porém, não significa que o governo de Jair Bolsonaro (PSL) tenha controlado a devastação.
É verdade, o número de queimadas caiu. Após o pico de focos detectados por satélite em agosto (53,3 mil) e setembro (53,8 mil), o frenesi incendiário arrefeceu neste mês. Até quinta-feira (24), pouco mais de 16 mil pontos haviam sido registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Não há o que comemorar, contudo. Primeiro, porque ainda houve mais queimadas do que em julho (quase 15 mil). Depois, porque a estação seca se aproxima do fim e os incêndios tendem mesmo a diminuir em quantidade.
O governo Bolsonaro menosprezou as queimadas alegando que ocorrem todos os anos, são práticas de indígenas e não têm relação com desmatamento. Não é verdade: queimam-se pastagens que um dia foram floresta, e um aumento significativo de focos indica o uso do fogo para limpar resíduos em áreas recém-derrubadas.
Não por acaso os recordes de avisos de desmatamento na Amazônia emitidos pelo sistema Deter do Inpe ocorreram em julho e agosto. Nesses dois meses logo anteriores aos picos de queimadas, as áreas devastadas totalizaram respectivamente 2.295 km² e 1.859 km².
O total de alertas do Deter nos últimos 12 meses soma quase 8.600 km². Não é ainda a taxa oficial completa de desmatamento do país, medida para cada ano no período de agosto a julho pelo sistema Prodes, também do Inpe.
O Prodes tem mais precisão e indica sempre uma taxa anual superior à somatória dos avisos do Deter. Dá-se por certo que o ano de 2019 deve ultrapassar os 10 mil km², o que já representaria um salto de 38% sobre os 7.230 km² de 2018 –e a primeira cifra de quatro dígitos desde 2008 (13,3 mil km²).
Com o habitual diversionismo, Bolsonaro chegou a culpar ONGs pelas queimadas (e depois alegou ao Supremo Tribunal Federal não ter feito acusação específica, mas “discurso político”). Reitera agora a denúncia vazia, desta vez insinuando complô da Venezuela.
O BRASIL DE BOLSONARO rompeu com a Venezuela e ainda não reconheceu o resultado da eleição na Bolívia. E com a Argentina, fará o mesmo com a vitória da chapa Fernández-Kirchner, o retorno do peronismo, rejeitado por Jair Bolsonaro? Difícil, senão impossível.
Como diria o pensador Fabrício Queiroz, amigo do presidente, tomador de empréstimo à primeira-dama, sócio do filho 01 e hoje corretor de cargos na bancada do PSL no Congresso, a Argentina “é uma pica do tamanho de um cometa no rabo da gente”. O BRASIL DE BOLSONARO rompeu com a Venezuela e ainda não reconheceu o resultado da eleição na Bolívia. E com a Argentina, fará o mesmo com a vitória da chapa Fernández-Kirchner, o retorno do peronismo, rejeitado por Jair Bolsonaro? Difícil, senão impossível.
Como diria o pensador Fabrício Queiroz, amigo do presidente, tomador de empréstimo à primeira-dama, sócio do filho 01 e hoje corretor de cargos na bancada do PSL no Congresso, a Argentina “é uma pica do tamanho de um cometa no rabo da gente”.
Às vezes, precisamos de alguém de fora para nos revelar quem somos e como somos
Manier Sael, um imigrante haitiano em São Paulo, deu uma tocante entrevista à Folha há alguns dias. Contou que, ao chegar ao Brasil, em 2013, e ao começar a namorar a brasileira que se tornaria sua mulher e mãe de sua filha, disse-lhe que tinha um desejo: beijá-la em público, na rua. “No Haiti, isso não existe”, ele explicou. “É uma coisa que eu nunca tinha visto na vida real, só na televisão. Ela falou que tudo bem. Como eu me senti nessa hora [ao beijá-la]? Me senti brasileiro”.
É interessante como, às vezes, precisamos de que alguém de fora venha nos revelar quem somos ou como somos. Haverá coisa mais corriqueira no Brasil do que beijar em público? Pelo menos, é o que pensamos —e considerando quantas vezes não fizemos isso sem o menor problema, será preciso um exercício intelectual para nos lembrar de que pode ter havido exceções à regra.
Duas progressistas cidades do interior de São Paulo, São Joaquim da Barra e Sorocaba, já tiveram juízes que proibiram beijos em praça pública. E isso não foi no século 19, mas nos anos loucos de, respectivamente, 1980 e 1981. Até a proibição ser revogada por ridícula, vários casais foram parar na cadeia.
Um dos restaurantes mais aconchegantes do Rio, a Adega Flor de Coimbra, desde 1938 na rua Theotonio Regadas, na Lapa, até hoje ostenta na parede um quadro dos velhos tempos: “Proibido beijos ousados”. O quadro continua lá pelo folclore, claro —mesmo porque, tendo pedido sua feijoada à Souza Pinto, com feijão-manteiga, carnes nobres e farofa de torresmo, quem pensará em dar beijos, mesmo ousados?
E uma querida senhora que conheci, ao ver um casal se beijando na novela da TV, deu um profundo suspiro e, do alto de seus 90 anos, exclamou, talvez sem se dar conta de que todos na sala podiam escutá-la: “Eu nunca fui beijada!”. Ali, naquele momento, todos nos conscientizamos da nossa tremenda fragilidade.
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