Troca de presentes

NA CHINA, Jair Bolsonaro descobriu a pólvora: o país é capitalista. Meia verdade. É capitalista na economia com método estalinista no governo. A estrutura monolítica e centralizada do Partido Comunista mantêm-se no poder sem qualquer possibilidade de pluralismo partidário ou abertura do contraditório dentro do partido. O presidente não descobriu que a China descobriu a pólvora real.

Nesse plano, a China funciona como a Alemanha Nazista, com partido único, autointitulado socialista, e economia de mercado – excluídos o genocídio e as invasões a países vizinhos. Bolsonaro presenteou o presidente da China com camiseta de futebol. Não se exclua a possibilidade de que a retribuição tenha sido o Livro Vermelho dos Pensamentos de Mao Tse Tung. Bolsonaro leva jeito para governar no estilo chinês.

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Num boteco da Romênia…

© Varsan Borda

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The problematizando show

Programa passa 24 h por dia e só termina com extermínio de um dos grupos

A banda toca e o apresentador atravessa o palco numa corridinha serelepe: “Vai começar mais um….” –a plateia responde, em coro, “Pro-ble-ma-ti-zan-doooooo!”.

De vermelho e à esquerda do palco (naturalmente), o time da esquerda. De azul e à direita do palco (naturalmente), o time da direita. O apresentador gira um globo cheio de papeizinhos. “E pra começar, vamos problematizaaaaaaar…..” Abre o papelzinho sorteado: “Chapeuzinho vermelhooooo!”.

As equipes se fecham como times de vôlei num intervalo, confabulando. O time da direita é mais rápido e aperta a campainha: pééééééé! “Começa pelo nome, né? Por que é vermelho esse chapeuzinho? Comunismo! Em segundo lugar, o conselho da mãe: não vá pela floresta. Ou seja: não inove. Não siga seus impulsos individualistas. A mãe é o estado controlador! Opressor! Ir pela floresta é um jeito disruptivo de fazer as coisas. E o que acontece? Ela se ferra! Chapeuzinho Vermelho é uma aula sobre como podar as asas do empreendedorismo e da inovação!” Palmas.

É a vez da esquerda. “A mãe não é o estado! A mãe é a tradição! Chapeuzinho é a juventude! A mãe é Nixon, é Damares! Chapeuzinho é Janis Joplin! O lobo é uma metáfora reacionária para os riscos da subversão. Pra terminar, a menina comete um (aspas manuais) ‘erro’ e é (aspas manuais) ‘salva’ por três caçadores homens brancos héteros cis: precisa falar mais alguma coisa?” Palmas.

Segundo quadro da competição. Objeto inanimado. O apresentador sorteia. “Liquidificador”. Os dois grupos confabulam. A esquerda aperta a campainha: péééééé! “Liquidificador é de direita! Está para culinária como a indústria cultural está para a arte! O capitalismo pega todas as diferenças e transforma num tutti-fruti amorfo!” A direita rebate: “Que que parece ter passado por um liquidificador? Budapeste, Varsóvia, Leningrado de 1965 ou Nova York, Paris, Londres? Liquidificador é a ditadura do proletariado! O capitalismo é o sistema do multiprocessador!”

Terceiro quadro: frases aleatórias. O apresentador lê “The book is on the table”. Pééééée: a direita começa. “Por que ‘book’? Por que não ‘the videogame’ está sobre a mesa ou ‘the ball’ ou ‘the gun’? Tão vendo o viés?! Acham que é inocente esse livro? Daí pra ‘The Paulo Freire’s book is on the table’ ou ‘O Capital is on the table’ é um pulinho. Escola sem partido, já!”

A esquerda rebate: “É uma frase normativa. Metonímia de um mundo em que cada coisa tem seu lugar definido. O livro sobre a mesa. A mesa no meio da sala. A família heterossexual em torno da mesa. O rico no topo, o pobre na base. Por que não ‘the table is on the book? The book is in the sky? The book and the table are in the skies with diamonds?’”

O apresentador espirra. Está resfriado. Mas a esquerda e a direita imediatamente pééééé! Falam ao mesmo tempo. A esquerda: “Espirro é uma reação xenofóbica do corpo/estado! É a tentativa de expulsar o diferente, de barrar a alteridade, é a catapulta por trás do muro trumpista! Hoje a ciência sabe que nosso corpo é uma colônia de milhões de organismos! Há mais células de bactérias dentro da gente do que células com o (aspas manuais) ‘nosso’ DNA. Contra o espirro! Viva o inspiro!”. Direita: “Espirro é a estratégia do vírus da doença comunista! O vírus cria o espirro pra se propagar! A Rússia começou a espirrar em 1917 e em algumas décadas toda a Europa do leste estava tomada pelo muco rubro!”.

O programa é ao vivo, passa 24 horas por dia e só termina com o extermínio de um dos grupos. Ou de ambos. O placar atual é 7×1 para a direita.

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A desistência do 03

Ao abandonar plano de ir para Washington, Eduardo Bolsonaro evita vexame

A desistência na indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ao posto de embaixador em Washington não é garantia de que a diplomacia brasileira seguirá doravante rumos elogiáveis, mas sem dúvida alivia o país de um vexame de proporções internacionais.

É ocioso discutir se a tentativa do presidente Jair Bolsonaro de entregar o posto ao filho poderia ser enquadrada nas regras que vetam o nepotismo na esfera pública. O gesto, independentemente de interpretações do texto, fala por si: explicita um inaceitável avanço do mandatário sobre o caráter republicano das instituições.

A deplorável afirmação de Bolsonaro de que se pudesse serviria sempre filé mignon a seus herdeiros ilustrou, em sua vulgaridade, a natureza personalista e arrogante da escolha do filho ao posto.

Fosse o deputado um reconhecido talento diplomático, uma promessa de Joaquim Nabuco redivivo, opiniões mais flexíveis até poderiam se justificar. Mas não é o caso. Em matéria de credenciais para a função, o assim chamado 03 é pouco mais que um zero à esquerda.

Bastariam para desqualificá-lo as cenas de bajulação explícita ao presidente norte-americano, Donald Trump, por ele patrocinadas.

Ou mesmo o ataque sarcástico que ele desfechou contra a comunidade LGBT ao vestir uma camiseta descaracterizando a sigla num evento conservador em São Paulo –com fundos públicos, diga-se, do PSL.

Além do nepotismo de fato e de tais episódios constrangedores, há uma série de outros motivos para considerar que a indicação seria inapropriada. A índole para o confronto em desfavor do diálogo, a inexperiência e o despreparo faziam de Eduardo um candidato muito aquém da missão.

Embora o Senado, que precisa endossar a proposta do Executivo, pudesse, quem sabe, aprová-la, ficou evidente que a aceitação do nome se tornou insustentável.

A implosão do PSL, em meio a denúncias de falcatruas eleitorais e a uma guerra de acusações torpes no ninho bolsonarista, abriu ao deputado uma porta para a fuga.

Depois de perder a escolha para líder do PSL na Câmara, recuperando-a a seguir, Eduardo anunciou na noite da terça (22) que desistiria dos EUA. Em pronunciamento, reafirmou a convicção de que reúne qualidades para comandar a embaixada e procurou desvincular sua guinada da crise no PSL.

​Teria se convencido de que o melhor é permanecer no Brasil para defender princípios conservadores e “fazer do tsunami que foi a eleição de 2018 uma onda permanente”.

É incerto se conseguirá levar a cabo tais objetivos, mas sem dúvida são mais adequados e estão mais à altura de suas possibilidades.

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A novela continua…

© Myskiciewicz

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Que país foi este?

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A amante argentina

MAURÍCIO MACRI, presidente da Argentina, em debate no qual atribui os problemas da economia de seu país ao governo anterior, de Cristina Kirchner. Macri pode perder a eleição – e talvez a mulher. A frase machista pode tirar-lhe centenas de milhares de votos. Esse clichê de mulher gastadora é injusto. A menos que se fale da famosa “amante argentina” do tempo de nossos avós.

Aqui no Insulto temos o grupo de apoio, Gastadores Compulsivos’, gente casada, amigada ou em união estável. Todos com cartões de crédito confiscados pelas mulheres. Vai do Fatiotinha ao Pintacuda. Do primeiro, penduricalho de grifes, a mulher, frugal e oriental, vendeu metade do guarda roupa no brechó. O outro, em espiral de gastança, acumulava seis automóveis parados; despesa sem prazer.

A mulher do Pintacuda foi a inspiradora do grupo: na primeira intervenção em três dias vendeu os carros e saneou as finanças. O grupo reúne-se uma vez ao mês para beber cerveja e comparar extratos bancários. Quem tiver mais dinheiro sobrando não paga a sua conta. Como vivem da mesada que a mulher entrega, o que recebe menos ganha o prêmio Papagaio de Coleira. Ah, sim, o dinheiro da cerveja é entregue, contadinho, pelas mulheres.

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Desgoverno

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Edward Weston, “Youth and Beauty”.

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Fazendo coraçãozinho

Você manda beijos no coração, acusa alguma coisa de ser um ponto fora da curva ou promete dar o seu melhor?

Há um mês, ao assistir inadvertidamente pela televisão à cerimônia de posse do novo procurador-geral da República, Augusto Aras, vi quando ele juntou os dedos para as câmeras formando um coraçãozinho. No dia seguinte, os jornais deram em primeira página, e com razão —nunca um procurador-geral fizera um coraçãozinho. Os analistas interpretaram o gesto como “um aceno”, uma “sinalização” de um tom talvez conciliador entre os poderes. Mas, neste caso, se Aras tivesse tomado posse com uma venda branca nos olhos, como se retrata a Justiça, o recado não seria mais claro?

Nada contra o coraçãozinho com os dedos. Apesar de meio cafona, ainda é um dos melhores sinais que se podem fazer com eles. Não se compara ao velho polegar em riste indicando aprovação, mas é melhor que o da arminha, que só revela os baixos instintos de quem o comete. O problema é que o coraçãozinho já foi muito vulgarizado. Toda semana, um jogador de futebol, ao marcar um gol, corre para trás das redes e o faz para a câmera, dirigido aos familiares. O próprio presidente Bolsonaro o faz com frequência para seus apoiadores —e quer melhor maneira de tornar um gesto vulgar?

Outro motivo de preocupação é que quem faz o gesto do coraçãozinho certamente se despede das pessoas mandando “um beijo no coração”. Deve haver órgãos mais adequados para beijar. E quem manda “beijos no coração” também classificará algo diferente como “um ponto fora da curva”. Invejo os que conseguem visualizar o dito ponto. Gostaria que alguém me desenhasse um.

Quem define algo como “um ponto fora da curva” certamente acusará alguém de “surfar na popularidade” de fulano. Ou lamentará que beltrano esteja “saindo da sua zona de conforto”. E quem faz tudo isso inevitavelmente prometerá “dar o seu melhor”.

Sob o peso de tantos clichês, este “melhor” pode não ser suficiente.

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Flagrantes da vida real

Marcha das Vadias, Curitiba, 2013.  © Maringas Maciel

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O reaparecimento de Queiroz, o amigão de Flávio e Jair Bolsonaro

E não é que o Queiroz apareceu? E foi em plena ação que ressurgiu o antigo faz-tudo dos tempos em que Flávio Bolsonaro era deputado estadual e seu pai apenas um deputado do baixo clero. Foi em gravação de áudio em que fala em distribuição de cargos no governo de Jair Bolsonaro, citando diretamente o agora senador Flávio Bolsonaro. O ex-assessor é investigado pela apropriação do salário de cargos nomeados no gabinete de Flávio na Assembleia do Rio de Janeiro, a chamada “rachadinha”. O caso era investigado pelo Ministério Público por suspeitas de peculato, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, até o ministro Dias Toffoli mandar suspender as apurações.

O áudio mostrado pelo jornal O Globo mostra que o ex-policial militar Queiroz manteve-se operativo mesmo depois do escândalo da rachadinha. Vamos a ele: “Pô, cara, o gabinete do Flávio faz fila de deputados e senadores lá, pessoal pra conversar com ele. Faz fila. P…, é só chegar, meu irmão: ‘Nomeia fulano aí, para trabalhar contigo’. Salariozinho bom desse aí cara, pra gente que é pai de família, p…, cai como uma uva (sic)”.

É bastante interessante que mesmo com toda repercussão do caso das rachadinhas o antigo assessor ainda esteja falando em distribuição de cargos pelo gabinete de Flávio, agora no Senado. A impressão que dá que alguém pode ter garantido que a investigação sobre ele não vai dar em nada. Se for assim, ele tem razão: “É só chegar, meu irmão”.

O presidente Jair Bolsonaro não gosta dessa história do paradeiro do Queiroz, seu amigo de tantas pescarias. Sobre este assunto, há poucos dias um ciclista passou pelo presidente fazendo a pergunta e Bolsonaro disse que o Queiroz estava “com a sua mãe”. Agora, na reaparição do Queiroz, o presidente disse que “é um áudio bobo”. Bem, em política quando uma autoridade diz que determinado assunto é “bobo” é porque na verdade, como diz a moçada, a coisa pegou.

O senador Flávio Bolsonaro também tentou minimizar o áudio e para isso gravou de imediato uma resposta em vídeo, postado nas redes sociais. Dito assim, pode parecer piada, mas é sério. O sujeito correu para gravar um vídeo para deixar bem claro que o assunto não é importante. Ah, essa família Bolsonaro.

No vídeo, Flávio afirma que não tem contato com o ex-assessor “há quase um ano” e que só teve notícia dele pela imprensa. Vejam que extraordinário, o filho de Bolsonaro deve ser um dos poucos brasileiros sem interesse em saber da vida do Queiroz. Com sua carreira em risco por causa do sujeito, isso é até uma contradição. Pode ser apenas uma diferença de personalidade, mas se tivesse por aí alguém investigado pelo MP pela suspeita de passar dinheiro ilicitamente para mim eu estaria bastante curioso em saber por onde anda essa figura.

Outro deslize do filho de Bolsonaro é o título do vídeo, classificado por ele como “Breve, objetiva e tranquila explicação sobre o áudio atribuído ao ex-assessor Queiroz”. Essa incoerência foi retirada da sua fala, “breve, objetiva e tranquila”, conforme ele mesmo diz. O áudio de Flávio é apenas “breve”, o que evidentemente se deve à discussão com assessores e advogados sobre o que deveria dizer, que resultou em um texto pronto, uma enrolação sem nenhuma objetividade. E ele tampouco está tranquilo, como também não pode estar seu pai, porque se fosse assim eles não estariam nem aí com o que Queiroz anda falando.

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© Tomi Ungerer

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