Mural da História

30 de julho|2011

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Maneiras de morrer

Em vez de agir para que se morra menos, nossos governantes propõem matar mais

Uma recente pesquisa internacional classificou o Brasil em 64º lugar, num universo de 67 países, quanto ao grau de adequação para um estrangeiro viver. Mais um pouco e nem estaríamos entre os países considerados. A enquete se refere a 2018 e foi feita com 14.272 expatriados de 174 nacionalidades, a maioria funcionários de multinacionais e seus familiares. O Brasil recebeu notas vergonhosas em saúde, educação, transportes, segurança pública, estabilidade política e criminalidade.

Uma pesquisa idêntica, apenas entre brasileiros residentes no país, não resultaria muito diferente. No fator criminalidade, por exemplo, os números podem dizer que, entre homicídios dolosos, latrocínios e lesões corporais fatais, o número de mortes violentas intencionais caiu de 64.021 em 2017 para 57.431 em 2018 –mas que país se orgulharia desses números? E as provocadas por intervenção policial subiram de 5,1 mil para 6,1 mil. Você dirá que, não sendo nem policial, nem bandido, essa estatística não o afeta. Só se esquece de que, pela frequência com que os confrontos ocorrem, há sempre a possibilidade de se estar no meio deles.

No Brasil, uma mulher é agredida a cada quatro minutos. As notificações cresceram de 139 mil em 2017 para 145 mil em 2018 e se referem apenas às mulheres que sobreviveram. Entre essas, houve 66 mil casos de violência sexual –180 casos por dia–, dos quais 54% cometidos contra menores de 13 anos. E como saber quantas não notificaram?

No Brasil, morre-se aos 8 anos com um tiro nas costas. Morre-se nas ruas escuras, nas chacinas urbanas, no genocídio rural, nas contendas por terras, por execução, racismo, homofobia e uma miríade de motivos. Em vez de tomar providências para que se morra menos, nossos governantes propõem matar mais. 

Mas o brasileiro não tem, como eles, essa curiosa fixação por homens armados e de farda.

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Padrelladas

Às quatro e meia da manhã sou acordado pelo esporro dos sabiás no quintal. Imagino que seja essa a hora que os machos chegam da gandaia e são recebidos pelas furiosas pássaras, ou então não sei. Ali pelas cinco horas entram em acordo, ou seja, ficam acordados. E eu também.

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Agenda

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Portfólio

Primeira edição do livro Anseios Crípticos, lançado pela Criar Edições, de Roberto Gomes, em algum lugar do passado.

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Luiz Rettamozo e Reynaldo Jardim, em algum lugar do passado. © João Urban

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Lula livre

Não por ele ou pelo PT, mas em defesa de um precioso bem público: o Estado de Direito

STF examinará, logo mais, as condenações impostas a Lula. Hoje sabemos, graças à Vaza Jato, que os processos tinham cartas marcadas. O conluio entre Estado-julgador e Estado-acusador violou as leis que regulam o funcionamento do sistema de Justiça. A corte suprema tem o dever de preservar o Estado de Direito, declarando a nulidade dos julgamentos e colocando o ex-presidente em liberdade.

Lula livre. Evito adicionar o clássico ponto de exclamação porque, sob a minha ótica, Lula é politicamente responsável pela orgia de corrupção que se desenrolou na Petrobras.

A corrupção lulopetista nasce de uma tese política elaborada, em versões paralelas, por José Dirceu e Luiz Gushiken. O PT, no poder, deveria modernizar o capitalismo brasileiro, encampando o programa que uma “burguesia nacional” submissa ao “imperialismo” recusava-se a conduzir. Lula converteu a tese em estratégia, articulando a aliança entre empresas estatais, fundos de pensão e setores do alto empresariado privado que reativaria nosso capitalismo de Estado. Numa segunda volta do parafuso, parte da renda gerada pelo mecanismo financiaria o projeto de poder, assegurando ao lulopetismo uma maioria parlamentar estável e a hegemonia perene na arena eleitoral.

O mecanismo corrupto provocou uma erosão nos alicerces da democracia. Lula e o PT devem ser julgados por isso, mas no tribunal certo, que é o das urnas.

Não creio em bruxas. Do Planalto, Lula avalizou pessoalmente a colonização de diretorias da Petrobras por agentes do PT, do PMDB e do PP que aplicaram as regras do jogo da corrupção, distribuindo contratos ao cartel de empreiteiras e cobrando propinas destinadas tanto a seus amos políticos quanto a formar patrimônios próprios.

A promiscuidade entre o presidente e as empreiteiras estendeu-se para além das fronteiras nacionais, gerando contratos corruptos, financiados pelo BNDES, com governantes amigos na América Latina e na África. Lula beneficiou-se diretamente do mecanismo, por meio de palestras no exterior patrocinadas pelas empreiteiras. Nelas, um ex-presidente que detinha a palavra final no governo da sucessora traficava influência, trocando seus bons ofícios por remunerações milionárias.

Segundo minha convicção, o tribunal dos eleitores não cobre toda a responsabilidade de Lula. Acho que ele deve responder perante a lei por uma cadeia de atos de corrupção que lhe propiciaram benefícios políticos e materiais. Mas, felizmente, na esfera jurídica, o que eu penso —e o que você, leitor, pensa— não tem valor nenhum. No Estado de Direito democrático, juízes independentes ignoram o “clamor popular”, escrevendo sentenças embasadas na lei e informadas por um processo delimitado por formalidades que protegem os direitos do réu. Fora disso, ingressamos no mundo da Justiça politizada, que é o de Putin, Erdogan e Maduro.

Sergio Moro agiu como juiz de instrução italiano, uma espécie de coordenador dos procuradores —mas no Brasil, onde inexiste essa figura, não na Itália, onde um juiz diferente profere a sentença. Batman e Robin. Moro e Dallagnol, comparsas, esculpiram juntos cada passo do processo, nos tabuleiros judicial e midiático. No Partido dos Procuradores, milita também a juíza Gabriela Hardt, que copiou a sentença de Moro para fabricar a do sítio —e que, num trecho original de sua peça plagiária, trata José Aldemário Pinheiro e Leo Pinheiro, nome e apelido da testemunha-chave, como pessoas distintas.

Batman, Robin e cia merecem sentar no banco dos réus sob a acusação de fraudar o sistema de Justiça. Lula livre, não por ele ou pelo PT, mas em defesa de um precioso bem público, de todos nós, ao qual tantos brasileiros pobres precisam ter acesso: o Estado de Direito. Que o ex-presidente seja processado novamente, segundo os ritos legais, e julgado por magistrados sem partido.

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Amazônia!

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Bolsonaro colhendo o que plantou nas relações exteriores

Jair Bolsonaro precisou de pouco tempo para obter os resultados da sua tresloucada política de relações exteriores, que tem seu filho Eduardo como ousado articulador, com poder que parece acima do próprio ministro das Relações Exteriores, o inacreditável Ernesto Araújo. Logo depois de botar na cabeça o boné de campanha da reeleição de Donald Trump para o ano que vem, o filho que Bolsonaro pretende nomear como embaixador nos Estados Unidos fez várias preleções sobre a política internacional. Em poucos meses, movimentações em vários lugares mostram que todas eram furadas.

Os problemas começam com o ídolo máximo da família Bolsonaro, o presidente Donald Trump, que ao contrário do que se pensava não tem uma reeleição garantida. O presidente americano já está tendo que lidar com graves questões econômicas causadas por equívocos de seu governo. Especialistas em economia alertam até para uma recessão nos Estados Unidos, que pode pegar Trump no meio da campanha.

E mesmo um ignorante total em economia como Bolsonaro, conforme ele próprio confessou, já deve estar sabendo do panorama perigoso na economia mundial, causado em grande parte pelos conflitos desastrados e desnecessários que foram sendo armados por seu ídolo americano. Com quem Trump não brigou até agora? Ah, sim: ele mantém uma amizade sólida com Kim Jong-um, da Coréia do Norte. As complicações externas dos Estados Unidos já afetam os negócios de uma parcela importante do eleitorado de Trump, com a queda da exportação agrícola para a China deixando enfezados seus simpatizantes no meio rural americano.

Bolsonaro também acenou com bravatas arriscadas, onde até então o Brasil não entrava em encrencas desnecessárias, como a mudança da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém e a perigosa hostilidade com o governo da Venezuela. O conflito militar que o filho dele e o chanceler Araújo queriam com Nicolás Maduro felizmente foi barrado pelos militares brasileiros, que sabem melhor do custo inclusive em vidas que pode ter uma coisa dessas. Quase o Brasil vira joguete de Trump na América Latina. Mas o moço não se emenda. Há alguns dias o poderoso estrategista dizia que “diplomacia sem armas é como música sem instrumentos”.

No Oriente Médio também ficou configurado um cenário que coloca no ridículo as opiniões de Eduardo Bolsonaro, com a desatinada estratégia dele e do pai para a região. Quando foi questionado sobre os problemas que inevitavelmente seriam criados com a mudança da embaixada brasileira em Israel, o deputado do PSL disse que bastava o governo brasileiro aproveitar-se de desavenças antigas entre os países árabes e o Irã, buscando dessa forma amenizar o problema. Com uma dica muito simples, o gênio deu uma destravada numa questão que é mais antiga que o Brasil.

Na verdade, a base da proposta da mudança vinha da confusa preocupação de políticos evangélicos com a cidade bíblica, além de ter uma forte relação da admiração irrestrita de Eduardo e seu pai pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o Bibi. A tentativa do alinhamento do Brasil de forma praticamente incondicional com este político direitista se deu pela tola convicção de uma política de relações externas tendo como base relações pessoais, quando se sabe que isso ocorre entre Estados. Governos passam, sem falar que “amizades” entre governantes também.

No Oriente Médio em menos de três meses a tese bolsonarista já furou. Havia uma admiração pelo pretenso poder político e eleitoral de Netanyahu, que aos olhos de Bolsonaro era um eterno vitorioso. Pois depois da última eleição em Israel é difícil que o ídolo do governo Bolsonaro se mantenha como premier. E com o ataque com drones em postos petrolíferos da Arábia Saudita, pode-se inclusive fazer um teste mais rigoroso da tese de Eduardo do aproveitamento da inimizade entre os países árabes e o Irã. Porém, acho muito difícil que o filho de Bolsonaro encontre um cabo e um soldado do Exército Brasileiro para irem com ele dar um jeito nesta situação no Oriente Médio.

Bolsonaro não colheu nenhum resultado positivo na reviravolta cretina que deu nas relações externas do nosso país. Com a Argentina possivelmente ele terá más notícias em breve, tendo que se acertar com um presidente que ele chamou de “bandido”. Nosso presidente tem dificuldade até de viajar para o exterior, pois onde colocar os pés, seja na Europa ou nos Estados Unidos, poderá encontrar manifestações de protesto.

Entre os europeus nem é preciso falar das encrencas com o ambientalismo, que na atualidade não tem lado político naquele continente. Depois do insulto à Brigitte Macron, Bolsonaro comprou briga com todo o mulherio daquele continente, também independente de posição política. Só falta Donald Trump não ser reeleito. E não é pequena esta possibilidade.

É difícil saber o que Bolsonaro e seu filho pretendiam lucrar ao comprar brigas com a União Européia, a China, a Argentina e posicionar o Brasil de forma nada diplomática em uma região explosiva, hostilizando o Irã e os países árabes. Mas já dá para ter um conhecimento perfeito sobre as perdas e danos que a dupla de trapalhões criou para o nosso país.

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Hoje!

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Ser ou não ser professor

Alguns não se veem no papel; outros querem ser também senhores e doutores

Jorge Jesus, o vitorioso técnico do Flamengo, não quer ser chamado de “Professor”, a forma com que os jogadores brasileiros se dirigem a seus treinadores. Disse que professor “é quem ensina matemática e filosofia”. Prefere ser chamado de “Mister”, como é comum no futebol europeu —num continente onde os treinadores costumam ser um monsieur, um herr, um signore, o mister facilita tudo. A torcida do Flamengo pegou a deixa e já canta nas arquibancadas: “Olê/ Olê, olê, olê/ Mistêr! Mistêr!”. 

Mas o prestígio da palavra professor é muito forte. Wanderlei Luxemburgo, hoje no Vasco da Gama, não abre mão desse título —que, na sua dicção peculiar, ele pronuncia “profexô”. Dom Pedro 2º dizia que, se um dia deixasse de ser imperador do Brasil, ficaria muito feliz como professor numa das muitas escolas que criara —pena que, em 1889, a República não lhe concedesse essa graça, embarcando-o às pressas para o exílio.

Para Cauby Peixoto, o cantor, todo mundo era “professor”. Em música, professor é uma qualificação que só se dá aos diplomados pelos conservatórios. Mas o generoso Cauby não se limitava a esses —chamava de professores os eletricistas do teatro, os pipoqueiros, os repórteres.

Em 1967, fiz um breve curso de literatura portuguesa na Universidade de Coimbra, em Portugal. Eram classes com mais de cem alunos e, quando um de nós precisava fazer xixi, o protocolo exigia que se erguesse o braço e dissesse em voz alta: “Se me dá licença, senhor doutor professor, posso ir à casa de banhos?”. Os mestres não eram só professores. Exigiam ser também senhores e doutores, mesmo para atender a tão prosaica solicitação.

Às vezes, os porteiros do meu prédio aqui no Rio se dirigem a mim, não como senhor ou doutor, como reza a praxe entre eles, mas como professor. Fico sem jeito, porque não me vejo no papel —também sou nulo em filosofia e matemática.

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Entre dois latifundiários não passa um mugido de boi

Dr. Paul Hammond continuava levando sua vida austera. Nem sabia bem por quê. Era fácil para ele confundir o pôr-do-sol com um litro de rum. Embevecia-se diante de qualquer frase soprada por um vento mais afoito e tinha respeito muito grande pelos bárbaros.

Afagava a humildade sem se importar que ela fosse uma negação a si próprio de uma superioridade que pudesse ter adquirido sobre outrem. Pedia licença para falar quando na presença de irmãos mais afortunados ou apenas mais salientes. Seus gestos eram comedidos e todos provenientes de uma necessidade interior de manifestação. Nada escapava da sua meditativa esperteza. Ó, que história chata! Seria mais fácil agora fazê-lo atravessar uma rua de São Paulo. A Avenida Cidade Jardim, por exemplo, nas proximidades do Jockey Club. Ia virar pasto de urubus em dois minutos. Esse Paul Hammond que vá cantar noutra freguesia! Aparece uma frase salvadora: ‘Pelo menos numa coisa homens e mulheres concordam: nenhum deles confia em mulheres’. É para rir no meio de uma tarde gris com nuvens cinzentas de longas asas aproveitando as correntes aéreas. Ó, tarefa ingrata a dos santos salvadores, a dos mártires do progresso, impávidos colossos de carne e osso. Vamos nos divertir apenas pela diversão. Não se aborreça com esta seriedade toda que vem vestida de doirado feito deusa das ilusões perdidas. Os compostos da bazófia são todos façanhudos e repletos de sucesso. Pavoneie-se sem subtrair do rosto o nariz empinado e da alma, a mais alta orelha. Avalie como é celestial e embalsamadora a beleza relativamente frágil da constituição humana. Como é mal esculpida e toscamente articulada a provocação sexual de uma ovelha diante de um voraz lobo da estepe.

Ah, chega desse masturbatório invólucro que tenta se passar por semântica de alto coturno. Um belo par de pernas é tudo o que pode me tirar do sério, hoje. E me jogar para dentro do Jardim das Delícias. Mesmo que me soltem em cima os cachorros da desilusão da segunda-feira.

RUI-19Não é Bobo Nem Nada

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Playboy – Anos 60

1967|Fran Gerard. Playboy Centerfold

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