Avaliando o avaliador

As pessoas estão sendo obrigadas a achar soluções para problemas que não criaram

Até outro dia, sapateiros eram sapateiros, mecânicos eram mecânicos, cientistas eram cientistas. Um mecânico não ia além da sola, um cientista não trocava rebimbocas e um sapateiro não dividia o átomo. Um advogado não se passava por médico, um químico não dava uma de padre e um jogador de futebol não escrevia “Hamlet”. E nenhum deles precisava aprender o ofício de um engenheiro eletrônico. Hoje, todo mundo precisa ser engenheiro eletrônico.

Dei-me conta disso quando ouvi falar que o Telegram de Sergio Moro e Deltan Dallagnol tinha sido invadido e pessoas estavam lendo suas mensagens. Logo imaginei um espião embuçado abrindo os telegramas entre os dois, talvez aproximando-os do vapor para derreter a cola, copiando seus conteúdos e os lambendo para colar de novo. E até me espantei de alguém ainda se comunicar por telegramas. Para minha surpresa, fui informado de que o Telegram era um “serviço de mensagens instantâneas criptografadas fim a fim no modo client-to-client ou client-to-server, baseadas na nuvem”.

Eu disse “Ah, bom!” e, vexado por minha ignorância, perguntei como acontecera. Responderam-me que uma invasão dessas se dá quando o usuário é induzido a fazer um reset de senhas e recebe um arquivo Office ou um app comprometido.

Assustado, quis saber como evitar isto e me disseram que, ao baixar um app, é preciso ativar o aplicativo dentro desta página da web após avaliar a descrição do aplicativo associado à nota de avaliação e considerar a quantidade de downloads efetivos e os comentários dados por estes usuários. Simples.

Ou seja, o cidadão comum está sendo obrigado a achar soluções para problemas que não criou, é isso? Estou fora. Nos últimos cem anos, tenho ganhado a vida lendo, fazendo perguntas e escrevendo. Se, em breve, isso não bastar, vou para a lavoura, feliz da vida.

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Mural da História

Carnaval de 2008

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50 anos de Abbey Road

8 de agosto, Dia Mundial do Pedestre. © Vixe Ian Macmillan 

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Letargia

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Bicho do Paraná

ENGALANADO E EMBEVECIDO, o Paraná assiste o entronizar de um nativo na constelação dos grandes sociólogos do universo. Homem dois palmos mais alto que Émile Durkheim, um dos pais- fundadores da ciência social e na atualidade das convicções gêmeo intelectual de Max Weber. Trata-se de Sergio Moro, Vilfredo Pareto pé-vermelho.

SIM, trata-se de nosso ex-juiz ferrabraz da Lava Jato, hoje pelos azares do temperamento bolsonaro um pálido ministro da Justiça, a buscar protagonismo e substância. Substância política, fique claro, quem sabe a sinecura judiciária cada vez mais longínqua. Mas sempre um homem de ciência, intelectual de obra inédita, agora antecipada.

O DURKHEIM de Maringá, ainda na frustrante curul de ministro da Justiça, durante cerimônia – conjunta e inútil – entre ministérios, revelou a causa da violência contra a mulher. O Insulto poupa os leitores do insulto da prosopopeia morônica e limita-se ao  – longo – topoi desvendado pelo ministro Moro sobre a violência e o feminicídio.

O MORO DE MARINGÁ não é como o Moro de Veneza, Otelo, o ciumento mórbido que matou Desdêmona, a heroína de Shakespeare: “A mulher sofre violência porque é mais forte. O homem comete violência contra ela porque sente-se inferiorizado, amedrontado”. Eis a essência do pensamento, vivo e atual, de nosso Moro.

A DESCOBERTA do sociólogo-ministro, duque da ciência, pois príncipe só FHC, tem apoio do pessoal do Insulto. Em parte. A gente aqui morre de medo de mulher, todas as mulheres, de casa e da rua. De algumas recebemos petelecos, apanhamos em silêncio, culpados ou inocentes. Pelo cara da conje dele, sabe-se onde Moro pesquisou.

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Lava Jato resiste aos ataques e prende Eike Batista, que Gilmar mandara libertar

O empresário Eike Batista foi preso, na manhã desta quinta-feira, em mais uma fase da Operação Lava-Jato que acontece no Rio. A prisão foi determinada pelo juiz Marcelo Bretas, a partir de um pedido do Ministério Público Federal (MPF).

Além da prisão de Eike, os agentes visam a cumprir mandados de busca e apreensão de documentos nas residências dos dois filhos mais velhos do empresário, Thor e Olin. A prisão do empresário ocorre após a recém-homologada delação premiada do banqueiro Eduardo Plass.

Eike já havia sido preso em janeiro de 2017. Na ocasião, a acusação era de de corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Quatro meses depois, Gilmar Mendes o libertou. O empresário — que já foi o homem mais rico do Brasil — foi condenado a 30 anos de prisão, mas continuava solto. As informações são do colunista Lauro Jardim.

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Ernani Ssó

Susana Vieira declarou esses tempos que com ela vai ser assim: direto do baile funk pro cemitério. É ou não é infinitamente melhor que ir pro cemitério direto da frente da televisão que passa a novela das oito? Mas tenho a sensação de que toda essa alegria desfraldada em praça pública, pronta para sair na capa da Caras, se deve a um choque: Susana deu de cara com a melhor idade num beco escuro e tremeu as perninhas. Afinal, durante a juventude, ela era mais discreta.

Há muitos modos de tremer as perninhas. Não sei se uns são melhores que outros. Sei que uns são mais vistosos ou mais divertidos.

Lembro sempre do Jorge Luis Borges nos últimos tempos. Ele dizia que, como o pai, desejava morrer inteiramente. Quer dizer, fim, se acabou, kaputt. Nada de ficar baixando em centro espírita, indo pro paraíso ou pro inferno, ou fazendo alguma outra coisa mais escabrosa ainda. Se a morte não é o fim mesmo, é uma espécie de fraude, não? Mas Borges estava cansado, esperava a morte como um alívio.

Também lembro sempre do meu avô materno. Tremendo gozador, instantes antes de morrer ainda tinha energia pra se divertir às custas dos outros, como com o enfermeiro, no hospital, na hora do banho. Quando o cara lhe segurou o tico para passar a esponja, disse como quem não quer nada: “Te pagam bem pelo serviço?”

Meu avô não queria morrer de jeito nenhum. Apesar de tudo – resumia sua vida, rindo: “Como sofri” – não se sentia cansado. Não tinha medo de morrer, pelo que notei. Simplesmente não queria largar o osso.

Talvez seja muito esperar fugir de um fim melancólico. Mas tem gente que merece. Eu – bem, se eu não pedir penico, já está bom.

Ernani Ssó é escritor, vive em Porto Alegre. Colabora com os sites Coletiva Net e Sul21, é colaborador fixo do Seguinte.

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O homem que ama os gibis

Capa do fanzine Gibilândia nº 4

O paulistano Roberto Guedes é um homem que ama os quadrinhos. Mais do que isso, cultua-os. Jornalista, roteirista, escritor, editor e tradutor e fanzineiro, tem inúmeros livros publicados sobre o tema, entre os quais “Quando Surgem os Super-Heróis”, “A Saga dos Super-Heróis Brasileiros”, “A Era de Bronze dos Super-Heróis”, “Stan Lee – O Reinventor dos Super-Heróis”, “Jack Kirby – O Criador dos Deuses”, “Gedeone: O Guerreiro dos Quadrinhos – Uma biografia autorizada” e “O Incrível Steve Ditko”. Com Gonçalo Júnior, Guedes forma atualmente a dupla mais aplicada e produtiva de pesquisadores da arte quadrinizada no Brasil.

De sua autoria, Roberto Guedes tem apenas dois personagens – super-heróis, por certo: Guepardo (1998) e Meteoro (2002), este publicado na única edição do Almanaque de Quadrinhos, da Opera Graphica. Mas atuou como editor, tradutor e ensaísta não apenas na Opera, mas na Editora Mythos, HQM Editora e na Panini Comics, o que lhe valeu três prêmios: dois Angelo Agostini, de “Melhor Editor”, e o Troféu Jayme Cortez, por sua “Contribuição ao Quadrinho Brasileiro”. Hoje, colabora com a revista Super-Heróis, da Editora Europa.

No entanto, Guedes tem um carinho especial pelos fanzines, através dos quais ingressou no mundo dos quadrinhos em 1988. Criou e manteve alguns, durante algum tempo: Status Quo Comics, Meteoro, Os Protetores, Quartel-General e Gibilândia.

Pois é justamente sobre este último que quero lhes falar. Lançado em 2ª edição em março do corrente ano, focalizando alguns personagens pouco conhecidos do grande público ou meio-esquecidos, mas também os ainda campeões de bilheteria, Gibilândia teve repercussão muito maior do que o esperado pelo editor.

“Era para ser apenas uma brincadeira entre amigos, mas atingiu proporções maiores – confessou Guedes no editorial no nº 2. “Gente de todo o Brasil e até do exterior, se interessou e quis garantir seu exemplar. Não por acaso, tive de imprimir, às pressas, mais uma quantidade considerável de cópias para atender a demanda”.

O exemplar nº 1 encontra-se esgotado. O nº 2, também. Nessa edição, é reeditado O Questão, herói criado por Steve Ditko, com desenhos de Alex Toth; tem uma açucarada produção de Stan Lee, com desenhos de Jim Steranko; a recontagem da origem do Capitão Marvel; um ensaio reflexivo sobre Alan Moore, “o falso profeta dos quadrinhos”; e “O Maníaco Delirante”, a divertida maneira que Stan Lee e Joe Maneely encontraram para criticar Fredric Wertham, o psiquiatra e autor do livro “Sedução do Inocente”, que fez campanha difamatória contra os quadrinhos.

No nº 3, a estrela é o Homem-Aranha, de Stan Lee e Gene Colan e John Romita, acompanhado de ensaio do próprio Roberto Guedes, envolvendo toda a caminhada do Cabeça-de-Teia no Brasil. Mas destaca-se também “Samurai”, um trabalho vigoroso de Gene Day, desenhista do Mestre do Kung Fu, falecido prematuramente em 1982, aos 31 anos. Encontra-se, também, a estreia da Satana, “a Filha do Diabo”, de Roy Thomas e John Romita; e dois momentos do velho Flash Gordon, o primeiro produzido por Mike Zeck, e o segundo em uma bela homenagem de Esteban Moroto (de Cinco por Infinito), com seu estilo único, a Alex Raymond.

Por fim, acaba de sair do forno o nº 4, com data de julho, dedicado ao octagenário Batman, o personagem da DC Comics favorito de Roberto Guedes, que teve o privilégio de editá-lo e traduzi-lo quando passou pela Opera Graphica. E que, também por isso, assina o ensaio “Cuidado! Há um morcego na porta principal”, contando toda a trajetória do Morcegão, inclusive no Brasil. E a edição traz ainda a origem do Homem-Mosca, criado por Joe Simon; nova romântica-açucarada de Stan Lee e John Buscema/John Romita; uma bela criação gráfica de Bill Pearson e Dick Giordano; e o conto “Amanhã eu serei enforcado”, do início da Era de Bronze dos quadrinhos, originalmente publicado na “House of Mystery”, da DC.

Como as publicações são do tipo artesanal e sem fins lucrativos, com objetivo exclusivamente de divulgação jornalística e preservação da memória gráfica, somente poderão ser adquiridas junto à Guedes Manifesto Produções Editoriais (guedesbook@gmail.com).

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João Rubinato, ou, Adoniran Barbosa

© Luiz Carlos Fernandes

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Tempo

Orlando Pedroso e Laerte Coutinho, Vila Madalena, em algum lugar do passado. © Cecília Laszkiewicz

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Excrescência Governamental

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Aborto da ditadura

JAIR BOLSONARO compara-se a Johnny Bravo, o machão troglodita, desajeitado e azarão do desenho infantil. Como JB – que serve para os dois, até para Jair Boboca, Jair Boçal e variadas versões possíveis – bate no peito e repele as críticas que recebe na imprensa: “Eu ganhei, porra!”. A única palavra coerente e com sentido é o ‘porra’, muito frequente na boca de JB.

BRIZOLA CHAMOU Fernando Collor de “filhote da ditadura”. JB é pouco menos, um “aborto da ditadura”. Collor sabia que ser eleito não fazia dele autocrata, senhor absoluto do Brasil. Collor tinha noção, aguentou o impeachment com humildade democrática. JB não sabe nada, considera que a eleição deu-lhe um cheque em branco, que preenche como quiser.

SABE NADA, o apedeuta, não se enxerga. A eleição leva ao mandato, a ser exercido na conformidade da lei e exposto às contingências da democracia, entre elas a crítica, seja da imprensa, seja da oposição, ao impeachment e à camisa de força. Nosso aprendiz de ditador tem a visão turva e a mente entorpecida. Acha que foi eleito monarca absolutista da Idade Média.

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Mills_012. © IShotMyself

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Fraga

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