Ungidos venceremos, sobre a goiabeira da Damares:
Calma lá. Não é qualquer goiabeira. Tem que ser goiabeira ungida. Nem sei se é possível ungir uma árvore. A gente unge sabonete, vassoura, fronha, tijolo, coisas que se pode vender e faturar.
Ungidos venceremos, sobre a goiabeira da Damares:
Calma lá. Não é qualquer goiabeira. Tem que ser goiabeira ungida. Nem sei se é possível ungir uma árvore. A gente unge sabonete, vassoura, fronha, tijolo, coisas que se pode vender e faturar.
ESSE é o comportamento de quem tem o mandato de por quatro anos decidir os destinos do Brasil. Um homem que sente, apenas isso. Pensar, a faculdade que se exige, imprescindível, ele não usa. A cada dia mostra o porquê: é desprovido dela. A república completa 120 anos com um presidente irracional.
Levar os outros a sentir inveja é uma coisa que as crianças começam a praticar em tenra idade. O celular top de linha, a viagem a Disney, o carro novo do pai. Crianças pobres são humanas como as crianças ricas. Põem-se a praticar o mesmo pecado que as crianças ricas quando exibem suas riquezas. Só que elas não tem celular, a maior viagem que fizeram foi de um bairro a outro, e o carro novo do pai é o mesmo carrinho de catar papel que tinha quebrado e o pai consertou. Mas a pobre criança não podia se dar por vencida. Ela tinha uma coisa que o menino rico jamais teria. Meu pai consegue ficar três dias sem comer e o teu não consegue.
Num dia espalho o sol pelos olhos, palavras, gestos – e me encanto ao ver a luz que transforma em sonho o que é real. Não na flor, mas nos restos espalhados pelo chão na estrada que caminho desde estalido do tapa na bunda sob a luz da sala de parto. Uma pedra, uma figurinha de jogador do álbum do passado, a marmita do guardador de carro com o garfo de plástico e o feijão misturado ao macarrão.
No ponto do ônibus, o vazio, mas com todos que passaram por ali. É vida, penso. Vem a noite, o sono, como se fosse a morte, e ao acordar algo me esfaqueia de dentro pra fora – e não há efeito especial de filme americano que traduza o horror. Então tudo fica pesado – e as notícias ficam muito mais. Elas atraem, como se um olho piscasse para ser vazado por bala dundum e a parte de trás do crânio fosse grudar numa parede, como num conto de Rubem Fonseca, miolos escorrendo até o rodapé.
A podridão das almas humanas. Penadas, mas que parecem vivas, saltitantes e muito coloridas. Antes, isso dava medo. Agora, fico aterrado, mas não aterrorizado. Porque passa. Como aquele bonde onde um dia viajei ao lado do maquinista – e fiquei a olhar o mar, pensando que ele me ensinaria a amar.
Quando uma estultice dita ou feita por s. exª. é contornada por seus explicadores, outra brota imediatamente da língua incontrolável do capitão Jair. É a sina dele. Aguenta, Brasil!
Na segunda-feira, o homem acordou com raiva da OAB – Ordem dos Advogados do Brasil. Acha que a entidade não tem agido como deveria no caso do maluco Adélio Bispo, autor do atentado contra a vida dele, em outubro do ano passado.
Como não encontrou argumento contra o advogado Felipe Santa Cruz, mirou e atirou contra o pai do atual presidente da OAB, Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, desaparecido em fevereiro de 1974, depois de ter sido preso no DOI-Codi, órgão de repressão da ditadura militar.
“Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele” – sapecou Bolsonaro.
Até os aliados do presidente lamentaram a inoportuna e desastrada declaração do capitão da reserva. A principal reação, porém, partiu do filho do desaparecido:
“O mandatário da República deixa patente o seu desconhecimento sobre a diferença entre público e privado, demonstrando mais uma vez traços de caráter graves em um governante: a crueldade e a falta de empatia”. E mais: “Lamentavelmente, temos um presidente que trata a perda de um pai como se fosse assunto corriqueiro – e debocha do assassinato de um jovem aos 26 anos”.
Bolsonaro garante que o pai do presidente da OAB “integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro”, ainda que no relatório da Comissão Nacional da Verdade, responsável pela investigação dos casos de mortos e desaparecidos na ditadura, não haja registro de que Fernando Santa Cruz tenha participado da luta armada.
A Comissão vai pedir explicação a Jair Messias. Para a sua dirigente, Eugênia Augusta Gonzaga, a declaração dele é muito grave. E lamenta que o presidente, se sabe o que aconteceu com o aprisionado Fernando Santa Cruz, em vez de dar informações aos familiares, usa essas informações para “reiterar a tortura dos familiares”.
O que se sabe é que Fernando Santa Cruz, como vários outros ex-integrantes da organização de esquerda Ação Popular, foi assassinado numa operação executada por conhecidos militares da repressão, como então coronel do Exército Paulo Malhães, falecido em 2014. Se o capitão-presidente tem maiores esclarecimentos, está no dever de fornecê-las, apontando, inclusive, onde estão as ossadas do morto, procuradas há 45 anos pela família. Se não tem, e apenas jactou-se de saber para atingir o filho presidente da OAB, em uma de suas costumeiras bravatas, s. exª. enodoou um pouco mais a faixa presidencial e reafirmou não estar à altura de envergá-la.
Os militares têm feito o possível para que sejam esquecidos os desmandos, as torturas e os crimes da ditadura de 1964, mas o capitão reformado Jair Messias Bolsonaro não deixa.
Walter Delgatti Neto revelou que Manuela D’Ávila, ex-candidata a vice do petista Fernando Haddad, foi a intermediária entre ele e Glenn Greenwald. E o que se viu foram bons corações ocupados apenas em fazer justiça. As coisas caem no colo desta esquerda, surgem em telefonemas inesperados. Embora o material seja de difícil captação, com o risco e o tempo exigidos para a devassa nas conversas alheias, além do óbvio custo financeiro, tudo é ofertado sem nenhum pagamento ou qualquer outro compromisso. Foi desse jeito que o material foi do hacker até as mãos de Glenn Greenwald, para a publicação em seu site, o The Intercept. O acerto passou antes pela vice-poste Manuela D´Ávila, ela também uma inocente empenhada na busca pela verdade.
Manuela ainda deu uma escutada em um diálogo de promotores, oferecido pelo hacker para confirmar que tinha uma bomba para oferecer. Com isso, além de intermediária de um crime, ela se comprometeu escutando parte das conversas roubadas. Nem passou pela cabeça dela seu papel de vice-presidente na chapa que perdeu uma eleição para o candidato que obviamente tem seu governo como alvo político nesses vazamentos. Como eu já disse, a Manuela é inocente demais, diria até uma santa, não fosse ela uma líder comunista do partido mais agressivo desta ideologia no Brasil, o notório PCdoB.
O hacker ligou para Manuela, tiveram um rápido lero. Então ela passou o número do telefone de Glenn Greenwald. Fácil, não? E só um sortudo como Greenwald pode ganhar, pautas amarradinhas desse jeito, que chegam até ele na maciota, como se dizia antigamente.
Sorte pode não lhe faltar, mas a verdade é que Greenwald não deixa de ser precavido. Aqui, no Brasil, ele tem gritado alto, exigindo respeito à liberdade de imprensa, dizendo que está sendo perseguindo, dando de dedo na cara de altas autoridade do governo. Seu site é um estimulador desses valentes que vivem chamando os outros de fascistas, sem que existam bandos de fascistas marchando pelas ruas do país e sentando a mão na cara de quem é contra o fascismo. Nunca foi tão fácil ser anti-fascista.
É sobre este “senso de precaução” de Greenwald que chamo a atenção. O dono do The Intercept tem uma ligação antiga com Edward Snowden, amizade que por sinal começou também com um gesto de coração, no oferecimento de documentos secretos do governo americano, que deu o impulso inicial para a fama internacional do dono do The Intercept. Pois bem, depois Snowden teve que fugir dos Estados Unidos. Exilou-se na Rússia, onde isso só é possível se Wladimir Putin estiver de acordo.
O governo de Putin não costuma fazer só cara feia para seus adversários. Na Rússia prendem jornalistas, pressionam pesadamente publicações. Agentes do governo perseguem quem escreve o que o governo não gosta. Sobre o governo de Putin existem acusações bem fundamentadas de assassinatos até no exterior. Por isso, quando Putin acolhe alguém, como fez com Snowden, não é exatamente por seu apreço pela liberdade de expressão ou pela defesa do sigilo da fonte.
Um caso muito conhecido na Rússia é o da jornalista Anna Politkovskaia, morta em outubro de 2006. Ficou conhecida como crítica do governo Putin em seu desrespeito aos direitos humanos, especialmente por suas matérias sobre a província rebelde da Chechênia, onde ocorreram horrores cometidos pelo Kremlin. Foi morta a tiros e até hoje não se sabe quem foi o mandante. Politkovskaia é apenas um dos nomes, de uma extensa lista de jornalistas assassinados ou que sofreram violência — claro que apenas os críticos do governo Putin.
Pois foi exatamente o governo Putin que acolheu e protege até agora Snowden, muito amigo de Greenwald. Snowden até gravou áudio em apoio à campanha do marido de Greenwald para deputado. Na Rússia certamente o dono do The Intercept não poderia atacar Putin ou alguma autoridade do Kremlin, como vem fazendo com o ministro Sergio Moro e os promotores da Lava Jato. Aliás, nem aqui do Brasil ele comenta a má situação dos jornalistas na Rússia. Imaginem o que seria de Greenwald na Rússia, explorando politicamente conversas particulares de autoridades ligadas Kremlin, como faz aqui no Brasil. E faz isso tendo inclusive a liberdade de se dizer perseguido. Bem, mas isso jamais aconteceria. Como eu disse, mais que sortudo, Greenwald é precavido.
– Uma eleição montada sobre fakenews, com milhões de disparos nas redes sociais de forma ilegal, e ainda sem o julgamento da burla às eleições.
– Um juiz que se transforma em ministro numa vitória eleitoral garantida, dentre outras coisas, pela galvanização de notícias de depoimentos e acordos de delação que deveriam ser sigiloso, com a seletiva escolha de notícias para divulgar na mídia às vésperas das eleições.
Para um impeachment do presidente, são necessários alguns elementos políticos.
Primeiro, é necessário um acordo com o vice-presidenter, o que é relativamente fácil. Contudo, a votação é no Congresso e no tapetão no Supremo Tribunal Federal. Isso dificilmente acontecerá tendo em vista o maciço apoio das bancadas evangélicas que, em breve, transformarão o Brasil num estado teocrático.
Outro fator importante é o apoio dos donos da opinião pública brasileira, isto é, dos canais de televisão e dos jornalões. O que também é difícil diante de uma parcela dos proprietários serem da ampla base religiosa.
Uma parte das elites (do atraso) devem também concordar com a deposição do presidente. Isso também é complicado pois há políticas fortes de incentivo a favor do garimpo, do desmatamento e da liberação dos agrotóxicos forma desenfreada para os que são protegidos pela bancada ruralista.
Mais: o forte apoio dos bancos e investidores internacionais que já festejam a reforma da previdência e a venda das estatais brasileiras. Sempre com a garantia, é claro, dos setores militares sob o rótulo de manutenção de lei e da ordem.
Portanto, trata-se de um apoio dos setores evangélicos baseados no congresso nacional, de parte do empresariado rural, dos setores do agronegócio despreocupados com a biodiversidade, das elites dos banqueiros e de grupos internacionais petrolíferos.
Por último, a barreira do Poder Judiciário, que diz amém a várias medidas que estão sendo tomadas.
Passadas essas barreiras institucionais, em nome da moralidade e do combate da corrupção, quais seriam as razões de um possível impedimento?
Consulte-se o art. 4º, incisos I a VIII da Lei 1.079/1950, e de forma, simples vamos aos fatos:
– Encobrimento institucional do caso do assessor Queiroz; reiteradas declarações que atentam contra o livre exercício dos poderes constitucionais do Estado; nomeações nepotistas; uso da máquina pública com fins privados, em desfavor da probidade da administração, declarações abertamente a favor das torturas e crimes realizados no regime militar e, a cada dia, novos devaneios e declarações catastróficas.
Na fragilíssima democracia brasileira, qualquer motivo é um forte motivo.
Contudo, os maganos do andar de cima não permitirão tal investida contra um presidente legitimamente eleito que está transformando o Brasil em algo nunca antes visto, no pior sentido da palavra.
Sobre a declaração do presidente Jair Bolsonaro feita hoje sobre um dos desaparecidos políticos durante o período do Regime Militar, Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, a Diretora Executiva da Anistia Internacional, Jurema Werneck disse:
“É terrível que o filho de um desaparecido pelo Regime Militar tenha que ouvir do presidente do Brasil, que deveria ser o defensor máximo do respeito e da justiça no país, declarações tão duras. O Brasil deve assumir sua responsabilidade, e adotar todas as medidas necessárias para que casos como esses sejam levados à justiça. O direito à memória, justiça, verdade e reparação das vitimas, sobreviventes e suas famílias deve ser defendido e promovido pelo Estado Brasileiro e seus representantes”.
“Defendemos a revogação da Lei de Anistia de 1979, eliminando os dispositivos que impedem a investigação e a sanção de graves violações de direitos humanos, a investigação e responsabilização dos crimes contra a humanidade cometidos por agentes do Estado durante o regime militar”, conclui Jurema Werneck, Diretora Executiva da Anistia Internacional no Brasil.