Quanto mais eu caminho, mais aprendo sobre a interdependência. Aprendizado que hoje ressoa como uma gota que caiu no copo cheio d’água e transbordou na sutil beleza da fluidez da vida. Fazer ao outro o que se gostaria que se fizesse a nós mesmos. Uma rede invisível de compaixão. Uma sabedoria que elimina o fantasma da projeção.

O outro é apenas o outro. Sem discriminação, sem comparação, sem distanciamentos ou aproximações que nos trazem dor e sofrimento. Aprender a trocar as urgências da alma e dar passagem ao que urge: a vida. Dançar na roda da vida e fazer da ferida uma irmã sábia. Aceitar e honrar. Libertar e sintonizar as batidas do coração. Ventos de inspiração que me levam ao paraíso. Inebriada que fico aos pés do abismo. Sorriso fecundo da conclusão. Final feliz de uma aprendiz da magia dos instantes.

Vida que ilumina e sintetiza o adeus em Deuses do alvorecer. Pura sintonia de lembranças do entardecer na retina enluarada.Verdade maior. Liberdade que corrói. A sorte de uma pequenina libélula ao nascer. Feminina e fleumática. Prática na astúcia da razão. Pura sobriedade alada. A madrugada a me chamar. E, eu, a me embriagar.

Não sou uma. Sou duas primaveras na matéria da insensatez. Ao erguer o ritmo contínuo do mar na poesia a se transmutar, voo ao encontro do saudar. O sol, na hora do deitar.

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O pastor da falsa virtude

O DEPUTADO MARCO FELICIANO, da bancada evangélico-bolsonara, justifica as grosserias do presidente e de alguns ministros: “o Brasil era governado por gente de bons modos e maus princípios”; agora são maus modos compensados por bons princípios.

FELICIANO destrói a mais sofisticada lição de relações humanas, vinda do Duque de La Rochefoucauld, lá nos idos do século XVII: “A hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude”. O deputado não teve o “bom princípio” de conhecer o Duque.

OS MAUS MODOS do presidente da República, que induzem igual comportamento aos ministros, têm a justificação de seus bons princípios. A hipocrisia de La Rochefoucauld são os maus princípios escondidos sob bons modos porque respeitam a força dos bons princípios.

DIFÍCIL, abstrato e sofisticado demais. Difícil mudar o comportamento bolsonárico, dos maus para os bons modos? Não, se os bons princípios estão sempre lá, o que custa associá-los a bons modos? Não tira pedaço, não faz mal; ao contrário, faz bem a todos.

O ARGUMENTO do deputado é tolo, como tolos os do mesmo naipe e origem (menino de azul, menina de rosa, etc). Não merece os quatro parágrafos acima, pois só convencem os que estão convencidos de que a grosseria fortalece os bons princípios.

DISSE ACIMA que o deputado é daqueles pastores evangélicos que só entendem o Velho Testamento com as ameaças de Deus. Quando no púlpito deve ter ignorado o Sermão da Montanha, das palavras de Cristo, presentes nos Evangelhos.

O SERMÃO DA MONTANHA traz as ‘Bem Aventuranças’ proclamadas pelo Filho de Deus. E nelas não se vê em momento algum a valorização dos maus modos. O Sermão ensina o exato contrário, a tolerância e a mansidão. Vamos conferir algumas:

Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.

Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus. Bem-aventurados os Defensores da Paz, porque serão chamados filhos de Deus.

O QUE CONCLUIR da tosca e mistificadora lucubração do deputado-pastor Marco Feliciano. Primeiro, é um falso pastor, que renega as verdades e lições de seu ministério. Segundo, é um hipócrita que homenageia o vício como virtude.

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Playboy

Em 1953, aos 27 anos, o americano Hugh Hefner era diretor de circulação da revista Children’s Activities. Ele acreditava que havia mercado para uma revista de jovens adultos, mas as publicações masculinas eram sobre caçadas, armas, carros, etc., e ignoravam os assunto que mais preocupava os homens: mulheres. Por 500 dólares, comprou os direitos de fotos que Marilyn Monroe tirou para um calendário no início de carreira, emprestou dinheiro com amigos e parentes e criou uma revista. O nome seria Stag Party (em português, farra) e o símbolo, um veado fumando e à espera de uma companhia feminina.

Na véspera do lançamento, porém, Hefner descobriu que havia uma publicação com esse nome. Pensou em vários outros – Top Hat, Bachelor, Gentlemen – até que um amigo sugeriu Playboy, nome de uma fábrica de carros falida. E Hefner encomendou ao desenhista Arthur Paul uma nova mascote. O coelho foi adotado e hoje é uma marca mundialmente conhecida. Em outubro de 1953, dos 69.500 exemplares do primeiro número, 54.175 foram vendidos.

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O Brasil atolado na estrada com Bolsonaro e seu Posto Ipiranga

O governo Bolsonaro já tem uma marca histórica. Um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da FGV aponta que a recuperação da economia brasileira é a mais fraca em 40 anos. Segundo o estudo, divulgado nesta quinta-feira pelo Estadão, o país só recuperou 30% das perdas da última recessão econômica, que foi de 2014 a 2016, período em que a perda foi de cerca de R$ 486 bilhões. Faltam R$ 338 bilhões para que o PIB volte ao patamar pré-crise. Ou seja: falta muito para que o Brasil volte a uma situação que já não era boa, para daí então começar a tentar melhorar de vida.

O resultado até agora seria decepcionante para qualquer governo, mas é muito pior para um presidente que se gabava de ter um “Posto Ipiranga” para cuidar da economia. O problema é ainda mais grave porque esses 30% recuperados vêm desde a retomada muito lenta iniciada em 2017, com o governo de Michel Temer. Eleito para consertar o país, Jair Bolsonaro é incapaz de atender às expectativas.

É tão grande a dificuldade desse governo para fazer a economia entrar em funcionamento que até má notícia é recebida com alívio. Outra informação é que o PIB brasileiro cresceu 0,4% no segundo trimestre. E por que este número mixuruca atenua o desespero? O resultado é ligeiramente acima do que era esperado, o que afastou o risco de entrada do país em recessão técnica.

É preciso ser otimista, pois ainda dá para respirar se pondo na ponta dos pés e mantendo o nariz pra fora d’água. O problema é que tudo indica que o tal do “Posto Ipiranga” está com sérias dificuldades para começar a funcionar.

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Obrigado, professor

Esta semana, por acaso, descobri o comentário do jornalista e professor Aroldo Murá Haygert, publicado no Diário Indústria & Comércio, sobre o meu livrinho “Com todo o respeito, Excelências!”. Levei um susto e fiquei emocionado. E não contenho a imodéstia de dividi-lo com os leitores. Escreveu o Murá, do alto de sua cátedra:

“Demorei além do habitual a me pronunciar sobre o livro ‘Com todo respeito, excelências’, de Célio Heitor Guimarães, trabalho que considero imprescindível na estante de quem queira rever, analisar e pesquisar os últimos dez anos da política brasileira. E paranaense, de modo especial.

“TEMPOS DE UH – Conheço Célio desde os tempos em que ele trabalhava em Última Hora, em Curitiba, e aprofundei meu conhecimento de sua competência e capacidade crítica quando ele passou a ser capital na primeira revista brasileira importante dedicada à televisão, a TV Programas, anos 1970/80, criada por Luiz Renato Ribas, outro heroico sobrevivente de nossos meios de comunicação.

“JORNALÍSTICO – Nunca entendi porque gente do perfil jornalístico de Célio nunca se aprofundou mais em nossos jornais, com colaboração diária. Mas, mesmo assim, ele fez um bom papel de analista da sociedade abrangente em O Estado do Paraná, quando se colocou sob a melhor orientação que alguém poderia ter – Mussa José de Assis.

“CASTIGANDO O ERRO – No livro, que não está disponível na web, Célio distribui cutucões e olhares de reprovação a todos os que, na vida pública, ferem a ética.

“Nesse exercício não perdoou nem alguns magistrados. E ele passou 30 anos como advogado, funcionário do TJPR…

“PREMONIÇÃO – Algumas das crônicas de Célio têm sentido premonitório, indicando seu feeling sobre ‘roubadas’ em que os brasileiros iriam cair. Também faz o seu ‘confiteor’, ao mostrar arrependimento em ter, num momento, apoiado e votado no PT.

“NÃO É TURISTA – O texto de Célio é jornalístico, sinal de que as lições de Mussa ficaram. Poderia ter-se traído pelo tom bacharelesco. Não caiu nessa.

“Resumo: ler o livro e guardá-lo, para consultas oportunas, é obrigação de quem queira manter-se atualizado com o país dos últimos anos.

“O talento de Célio habita um universo raro: o dos cidadãos que nasceram para não passar pela vida como turistas. Por isso mesmo, e também por incomodar as excelências, é obra de todo essencial.”

Aroldo Murá é um dos monstros sagrados do jornalismo paranaense ainda em plena atividade. É professor da PUC/PR, preside o Instituto Ciência e Fé, de Curitiba, mantém coluna diária no DI&C, integra o conselho editorial da revista Ideias e é coordenador do projeto Memória Paranaense, do grupo educacional Uninter. Já integrou a Fundação Cultural de Curitiba e foi o restaurador e editor do jornal católico Voz do Paraná. Desde 2008, publica a série de livros “Vozes do Paraná – Retratos Paranaenses”, com 11 volumes já lançados.

Eu já conhecia o talento, a competência e a inteligência de Murá. A generosidade, fiquei conhecendo agora. Parafraseando o sempre lembrado amigo, o pensador Rubem Alves, a inteligência nos dá os meios para viver, mas somente a generosidade é capaz de nos dar razões para viver.

Estive com Aroldo Murá, por um tempo, na TV Programas, de Luiz Renato Ribas e Rubens Hoffmann, mas nem sempre caminhamos juntos. Seguimos caminhos diversos ideologicamente, ainda que eu, à distância, admirasse a sua postura e a sua coerência.

No entanto, ao referir-se aos meus escritos, Murá relevou toda a diferença eventualmente existente e elevou-me a um patamar que eu não tenho, comparando-me ao que melhor possa ter existido na imprensa paranaense, um exagero evidentemente.

Em um ponto, porém, Murá e eu somos iguais: somos ambos homens de fé. E sabemos que não poderíamos passar por este mundo sem deixar rastros. Afinal, como ele bem diz, não estamos aqui como turistas.

Murá captou como poucos o espírito da coisa. O objetivo do livro foi oferecer o retrato de uma época, segundo a ótica do autor, exposto em artigos jornalísticos publicados em uma imprensa costumeiramente sem opinião.

A minha gratidão e o meu abraço ao gaúcho Aroldo Murá Haygert, que o Paraná em boa hora acolheu. Saúde, paz e sucesso a ele.

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1ª Mostra Curitiba de Cinema

O cineasta Sylvio Back é o convidado de honra do bate-papo de abertura da 1ª Mostra Curitiba de Cinema, nesta quinta-feira, às 19h, no Cine Passeio. Diretor do primeiro longa-metragem de repercussão nacional rodado em Curitiba (“Lance Maior”, de 1968) e presidente da DBCA – a entidade nacional que congrega diretores de cinema e audiovisual – Back estará no evento em que realizadores locais discutirão sobre como filmar na cidade. “Lance Maior” será exibido às 20h30, na Sala Luz.

Organizada pelos curadores do Cine Passeio, Marcos Jorge e Marden Machado, a Mostra Curitiba de Cinema promove uma homenagem ao cinema paranaense e curitibano, uma vez que todos os títulos têm Curitiba como cenário. Entre os selecionados estão 21 filmes de animação, dramas, comédias, ficção e terror, sendo nove longas-metragens e 12 curtas-metragens, que poderão ser vistos até 11 de setembro. A entrada é gratuita.

A mostra também vai dar uma ideia da explosão de qualidade e variedade das produções locais a partir da virada do século 21, com a política de fomento da Prefeitura”, observa Marcos Jorge. Um exemplo é o curta-metragem de animação “Apneia”, premiado no Festival de Cinema de Gramado deste ano e selecionado para a mostra curitibana antes do resultado do festival gaúcho.

As sessões regulares começam às 20h30, nas salas Luz e Ritz. As exceções são para os títulos selecionados para a Sessão da Meia-Noite (sábado, à 0h) e as da Sessão Matinê (domingo, às 10h30). A entrada é gratuita e os ingressos serão distribuídos uma hora antes do início da exibição.

PROGRAMAÇÃO – Na noite de abertura, às 20h, “Lance Maior” será precedido de outro clássico do cinema curitibano: o premiado curta “Carta a Fellini” (também conhecido por “Caro Signore Fellini”). Dirigido por Valêncio Xavier em 1979, o filme foi encomendado pelo então prefeito Jaime Lerner com o propósito de funcionar como um convite para o mestre do cinema italiano visitar Curitiba. O “convite” foi feito e entregue, mas Fellini nunca veio a Curitiba.

Os demais filmes das sessões regulares da Mostra Curitiba de Cinema são “Corpos Celestes” (de Fernando Severo e Marcos Jorge), “Para Minha Amada Morta” (de Aly Muritiba), “Mystérios” (de Beto Carminatti e Pedro Merege), “Curitiba Zero Grau” (de Eloi Pires Ferreira) e “Circular” (de Adriano Esturilho e outros nove cineastas). Para a Sessão da Meia-Noite, o escolhido é o terror “Nervo Craniano Zero” (de Paulo Biscaia Filho)

Além de “Carta para Fellini”, os curtas-metragens que serão exibidos na mostra são “Do Tempo Que Eu Comia Pipoca” (de Heloísa Passos e Catherine Agniez); “Ovos de Dinossauro na Sala de Estar” (de Rafael Urban); “Cercados Pela Morte” (de João Ferian); “Fabulário Geral de Um Delírio Curitibano” (de Juliana Sanson); “Curitiba: A Maior e Melhor Cidade do Mundo” (de William Biagioli); “Medo de Sangue” (de Luciano Coelho); “Apneia” (de Carol Sakura e Walkir Fernandes); “Em Busca de Curitiba Perdida” (de Estevan Silvera) e “Infinitamente Maio” (de Marcos Jorge e Cacau Rhoden).

Para as crianças, serão exibidos quatro filmes no dia 1º de setembro: a animação stop motion “A Velha e O Mar”, “A Batedeira” (de Rosana Van Der Meer e Fabrício Tacahashi); “Brichos e Brichos 2” (de Paulo Munhoz) e “Elegia” (de Ulisses Candal).

O Cine Passeio fica na Rua Riachuelo, 410, Centro. Mais informações pelo telefone 3323-1979, de terça a domingo, das 10h às 22h, ou no site www.cinepasseio.org.

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Moro moron?

Sérgio Moro, entrevistado na Globonews, sobre sua possível saída do governo. Bem feito pra mim. Estava quase dormindo, mas teimoso insistia na leitura do ‘As palavras e as coisas’, de M. Foucault. Chegava na página 200 e não queria entregar os pontos. O livro é chato, irritante, uma viagem de LSD. Mas como dizem que é leitura indispensável, volto a ele duas vezes por semana. De higiene mental abro o Globo e caio na entrevista do ministro Moro.

Não deixei Foucault por ser escuro para ir a Moro à procura de luz. Continuo confuso. Moro não chega aos pés de Foucault, cuja obscuridade é resultado da erudição transbordante e do talento excepcional de extrair conclusões que ao leitor comum parecem incongruentes e arbitrárias . Mas Moro, por favor, aquela cabeça está confusa demais. Começo a pensar que sempre foi confusa. Quanto ele tenta ser habilidoso e inteligente, faz exato o contrário.

“Não entrei no governo para sair” parece revolução metafísica, picada aberta na floresta semiótica. Quem entra num lugar um dia vai sair, é da natureza das coisas. Sai-se até dos braços da mulher amada. Tem que sair – precisa, quer, a natureza manda, assim exige quem põe lá. Admito que a frase representa a quintessência do melhor discurso bolsoignaro. Mas tem sido exclusividade dos ignaros de um neurônio – morons, idiotas, em inglês de Dallagnol. Como o Mito, como Damares. Mas Moro, moron?

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Os preguiçosos

Há a impressão de que estamos sendo governados pelos últimos da classe

Nos anos 1950 e 1960, os alunos que não estudavam, não prestavam atenção, não faziam os deveres de casa etc. eram, obviamente uns baita preguiçosos. Eram chamados “os últimos” da classe —últimos nas notas e sentados na última fileira da sala.

Bagunçavam as aulas, mandavam os professores à merda, iam para a direção zombando e falavam de sexo (desafiando o pudor de meninas e meninos). Muitos eram repetentes (na época, não se avançava de ano por senioridade).

Eles inspiravam em nós (das primeiras fileiras da classe) uma ponta de admiração porque pareciam não sentir culpa alguma. Desde o fim dos anos 1960, não há mais jovens “preguiçosos”.

A “preguiça”, se existe, não é mais um defeito moral, ela deve ser o efeito de dificuldades cognitivas, familiares ou sociais.

Ao redor da questão da preguiça, seria possível dividir esquerda e direita. Para a esquerda, em tese, os preguiçosos são só vítimas, paralisadas por injustiças e violências. Para a direita, injustiças etc. são desculpas para vagabundo fugir do pé na bunda, que é a única coisa da qual ele precisaria.

Nesse debate, não é preciso tomar uma posição firme. Já diagnostiquei uma dislexia onde os pais e a escola só viam a prova de que o filho era vagabundo. Conheci crianças supostamente “desatentas”, mas que, de fato, não enxergavam a lousa porque eram míopes. Também é óbvio que crescer numa casa em que todos leem e trabalham é muito melhor do que crescer numa casa em que ninguém lê e o pai dorme até tarde porque vira a noite jogando videogames.

Já mencionei que “os últimos” da minha classe pareciam não sentir culpa alguma. A preguiça escolar deles era possível porque eles não internalizavam a lei, ou seja, porque tinham uma dose precoce de psicopatia.

Injustiças sofridas ou psicopatia, nada disso suprime a responsabilidade do indivíduo, que estuda ou não, faz a lição de casa ou não, respeita a lei ou não.

Um aparte antes de avançar: entre os séculos 19 e 20, a preguiça foi elogiada como um valor oposto à ética do trabalho, que triunfava no capitalismo e triunfaria, logo depois, no socialismo. Os que elogiaram a preguiça, desde a antiguidade grega ou latina até Paul Lafargue (“O Direito à Preguiça”), não tinham simpatia alguma pelos últimos da classe. O lazer que eles defendiam era o do Jardim de Epicuro: lazer significava tempo para focar o que importa, tempo para ler, escrever, pensar…

Volto aos meus preguiçosos. Aprendi com eles que a preguiça é seletiva: ela não se confunde com uma depressão que deixaria qualquer um na incapacidade de sair da cama.

Os últimos da classe não eram deprimidos nem inertes. Ao contrário, numa atividade incessante, eram implacáveis na invenção de estupidezes e boçalidades assim como na composição de alianças e inimizades. Sua vida social era a razão de um empenho constante.

Por exemplo, na própria sala de aula, eles mantinham um show permanente; era só se virar, e havia um com o membro na mão (tentando chamar a atenção de uma menina) ou outro mostrando a bunda enquanto um professor escrevia na lousa. Nos corredores ou na rua, bullying e gozações eram os instrumentos de uma incessante política de alianças e rompimentos.

Por isso, eles eram irremediavelmente medíocres, mas desenvoltos, soltos e, aos olhos de alguns, invejáveis.

Mas por que, logo hoje, penso nos últimos da classe? É por causa da Amazônia. Cada dia mais, se confirma a impressão de que estamos sendo governados pelos últimos da classe, os preguiçosos seletivos que se dedicam a uma atividade incessante de provocações, declarações, contradeclarações, reuniões, alianças e rompimentos sem nenhum interesse pelo que seria preciso estudar. No caso, o que seria preciso estudar são os relatórios, que apodrecem em cima das mesas dos preguiçosos e que são  desmentidos e recusados antes de serem lidos.

Para os preguiçosos, qualquer esforço político (aliança com os grileiros, as mineradoras ou os ongueiros?) ou retórico (a Amazônia é nossa, taratatá!) parece preferível ao suplício de ler e pensar. Aliás, para evitar ler e pensar, melhor desacreditar as próprias agências do Estado que fornecem dados técnicos básicos sobre fogo e desmatamento.

Cristo disse que os últimos seriam os primeiros. Ora, 1) isso está previsto para o reino dos céus, não para o Brasil, 2) tudo indica que ele pensava nos humildes, não nos últimos da classe.

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Fraga

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Como yo soy. © IShotMySelf

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Jornal do Cínico

Do Filósofo do Centro Cínico

– Bolsonaro assinou decreto que proíbe queimadas por 60 dias. As queimadas se reuniram e concordaram com a trégua, mas só se chover sem parar em todo o país pelo mesmo prazo.

– Delator da Lava Jato confessou ter lavado milhões e milhões para o Grupo Silvio Santos. A revelação só apareceu agora nas mensagens publicadas pelo Intercept Brasil porque todos os envolvidos ganharam carnês quitados do Baú da Felicidade e a promessa de participar e faturar alguma coisa na Porta da Esperança.

– Lula da Silva, Zé Dirceu e Sergio Cabral podem ser beneficiados com a decisão do STF de anular a condenação de Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras. Soltos e livres de todas as acusações, o trio vai pedir indenização por danos morais e a prisão de Sergio Moro e Deltan Dellagnol e sua turma da Lava Jato.

– Os Estados Unidos ofereceram anistia geral e irrestrita a Nicolas Maduro se ele deixar a presidência da Venezuela. O ditador disse que concorda, desde que a generosidade se estenda ao passarinho que lhe passa ordens de Hugo Chávez e que Jair Bolsonaro nomeie Roberto Requião embaixador do Brasil naquele país.

– Deus mandou avisar que está cansado e suspendeu, por tempo indeterminado, a função de ser brasileiro.

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Na cota do azul

© Roberto José da Silva

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Elas

Carla Bigatto, formada pela Universidade Estadual Paulista, iniciou a carreira como repórter no jornal A Cidade, de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. De volta à capital paulista, trabalhou por três anos na reportagem do jornal “Agora São Paulo”, nas editorias Cidades e Polícia.

Na BandNews FM desde 2008, passou por diversas funções, como a edição de reportagens, além da coordenação de rede. Apresenta atualmente o Jornal BandNews, ao lado de André Coutinho e Eduardo Barão e o BandNews No Meio Do Dia, com Eduardo Oinegue e Felipe Bueno.

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Mural da História

Em algum lugar do passado

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