O pessoal em torno do presidente Jair Bolsonaro vem fazendo um esforço para justificar sua nomeação do filho Eduardo Bolsonaro como embaixador nos Estados Unidos, mas não tem jeito: o estrago político é enorme. Já não está fácil para bolsonaristas falarem em ética, probidade e todos os adjetivos que a direita usa para se auto-elogiar, aproveitando para atacar adversários, acusando-os de defeitos que a eleição de Bolsonaro teria vindo para sanar.
Como é que vai ficar aquela palavrinha muito falada pela direita, a tal da “meritocracia”? Depois dessa, ficará difícil para algum seguidor de Bolsonaro repeti-la sem que todo mundo caia na gargalhada.
O bolsonarismo vem tentado o impossível. Querem convencer a opinião pública de que não há nepotismo nesta nomeação. Para isso apelam para a citação de decretos, súmulas vinculantes e outras manobras. Foi o que fez em nota, nesta sexta-feira, a Controladoria-Geral da União. Mas acontece que certas imoralidades do poder podem muito bem ser cometidas dentro da legalidade.
O nepotismo não tem nenhum impedimento legal em ditaduras africanas, por exemplo, onde por favorecer a parentada não há nenhum perigo de alguém ir para a cadeia ou perder o mandato. Por sinal, com coisas como esta o Brasil vai ficando com fama parecida aos olhos do mundo.
O que vale não é apenas a letra da lei, mas o respeito à moralidade pública. Faz muito tempo que o entendimento desta palavra — que por sinal costuma vir acompanhada do termo “filhotismo” — já está até dicionarizado. Está lá no velho Aurélio, no Michaelis, também no Aulete, no Houaiss e em tantos outros a definição dessa sem-vergonhice.
Não há lei que derrube a compreensão deste conceito. Esta é a definição do dicionário Aulete: “Nepotismo: Favorecimento de amigos e parentes por parte de quem ocupa cargos públicos”.
Outra definição muito interessante é do Michaelis, que diz exatamente isto: “Favoritismo de certos governantes aos seus parentes e familiares, facilitando-lhes a ascensão social, independentemente de suas aptidões”. Reparem que é exatamente o que Bolsonaro vem fazendo há trinta anos com seus filhos e outros parentes. Na família Bolsonaro o nepotismo é uma tradição.
NA SUA CRUZADA contra a ideologia de gênero, Jair Bolsonaro decide que o registro civil de nascimentos (e o registro de identidade, o de casamentos, etc) substituirá o vocábulo genitor pelos de pai e mãe. Em bom bolsonarês significa acabar com essa pouca vergonha de casamentos, filiação e parturição de casais homossexuais.
Tais situações estão consolidadas, constituem realidades sociais e decorrem da crescente e intensa definição de identidades de gênero – em todo o mundo, excetuados países islâmicos, radicais ou não. O Brasil já atua nessa direção com o alinhamento recente de nossa diplomacia na ONU exatamente na questão de gênero e não por acaso com os estados fundamentalistas.
O humano para Jair Bolsonaro e as trevas pentecostais que o seguem divide-se entre masculino e feminino. Não há meio termo possível, crise de identidade de gênero, transsexualidade, essas coisas a quem as correntes evangélicas radicais já propuseram a absurda cura gay. Aliás, apesar das contraindicações científicas, não é impossível que o presidente Bolsonaro inclua a cura entre as prestações ofertadas pelo SUS.
Bolsonaro já deve ter aprendido na presidência aquilo que não aprendeu nas três décadas como deputado: terá que fazer lei para estabelecer os dois sexos oficiais – e para ele conformes à natureza – e reprimir as tendências – já consolidadas – em sentido contrário.
Pior que isso pode acontecer, levando o Brasil ao ridículo do mundo civilizado. Mas não é impossível, considerando que Bolsonaro foi eleito por aqueles que não ignoravam sua natureza obscurantista, regressista, retrógrada. Com ele uma maioria de igual natureza e qualidade no Congresso, que pode convalidar esse ponto da pauta do atraso.
– Quando se pensava ter visto tudo, vem o presidente Bolsonaro e anuncia que pode nomear o filho Eduardo para a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos. Definitivamente, este é um governo surpreendente. Ou seria transparente? Pensando melhor, traz parente…
– Para defender a escolha de Eduardo, o pai diz que ele tem várias credenciais, como ser “amigo dos filhos do Trump” e falar “inglês e espanhol”. Pelo andar da carruagem, o pai mostra que é cada vez mais Bolsonaro e menos presidente…
Como depilar-se, fazer sobrancelhas, branquear os dentes e treinar ao mesmo tempo
A vitória do Brasil na Copa América é a prova de que se pode jogar futebol e cuidar da cútis ao mesmo tempo. Basta haver organização. Para isso, a CBF faz um organograma de treinos adequado às visitas dos maquiadores, cabeleireiros e tatuadores à concentração. Como cada jogador tem o seu homem de confiança para certas tarefas, não é uma logística simples. O modelo, design e contorno da sobrancelha de Gabriel Jesus, por exemplo, é resultado de horas de micropigmentação, só ao alcance de um especialista.
Outra operação complexa é a depilação. Foi-se o tempo em que os craques se passavam pelos velhos presto-barba, máquina de barbeiro ou cera quente no salão da Jéssica. Hoje se usa a pistola de laser, e não se limita ao púbis e axilas —cobre todo o corpo e leva tempo. O mesmo quanto ao cabelo. Só um profissional sabe a musse adequada ao cabelo de Fagner ou Willian. E, embora a CBF forneça os podólogos, para lhes cuidar das unhas dos pés, os manicuros —não manicures— são de escolha exclusiva deles. Não é qualquer um que pode cortar, lixar e pintar as unhas das mãos de Daniel Alves, nem cuidar de seus hiponíquios, que é como passaram a se chamar as cutículas.
O branqueamento dos dentes, que pena, só pode ser feito no consultório. Mas, depois de pronto o trabalho, basta escovar os dentes com Omo, como fazem Casemiro e Firmino. E há também o problema dos brincos e piercings. Se a aplicação é simples, o difícil é o design —ouro ou prata?—, só decidido depois de muitas reuniões com os ourives da H. Stern.
Sem falar nas visitas dos alfaiates, para medir, cortar e alinhavar ternos que combinem com os bonés, tênis e mochilas que eles são obrigados a usar, por seus contratos pessoais. E dos dermatologistas, com suas receitas de hidratantes para cada tipo de pele. Etc.
Quem ficou com um grande pepino depois dessa votação da reforma da Previdência foi Ciro Gomes. O PDT fechou questão contra a reforma, mas oito deputados do partido votaram a favor da proposta, inclusive a revelação nacional da bancada, a deputada Tabata Amaral. O partido tem 27 deputados.
O problema de Ciro é ainda mais grave porque ele vem conduzindo este debate partidário bem a seu modo, sem respeito às opiniões contrárias. Também o presidente do PDT, o notório Carlos Lupi, tentou atropelar as vozes divergentes, afirmando que “quem quiser o lado dos banqueiros, que vá para o lado de lá”. Bem, ele só pode estar falando com certo atraso da proposta de Paulo Guedes, do sistema de capitalização, que não entrou no projeto votado pela Câmara. Os brucutus pedetistas trataram os próprios colegas de partido como políticos que trocam o voto pela verba de emendas do governo.
O debate sobre esta questão deveria ter sido encaminhado nos processos internos de discussão partidária, se é que o PDT tem isso, mas o encaminhamento que se impôs foi no estilão de Ciro Gomes, com ameaça de expulsão e achincalhamento público de quem propunha o voto favorável. Claro que isso dificulta bastante a negociação agora com os dissidentes para encontrar uma solução de consenso, sem o desgaste da ruptura.
Imaginem o clima para a convivência partidária depois das ameaças públicas de expulsão, além de que mais pra frente Ciro vai com certeza pegar o microfone e voltar a xingar companheiros que divergirem dele em outros assuntos. A decisão mais sensata para Tabata Amaral é sair logo desse partido ou vai prejudicar sua carreira, iluminada espontaneamente pela atenção da opinião pública.
Ainda na metade do ano, Ciro Gomes já foi reprovado ao enfrentar uma situação na qual um candidato derrotado à Presidência da República tem a obrigação de se sair bem. Ele mostrou que é incapaz de organizar politicamente, administrar e definir rumos até de um partido pequeno.
Essa minha secura essa falta de sentimento não tem ninguém que segure, vem de dentro. Vem da zona escura donde vem o que sinto. Sinto muito, sentir é muito lento.
JOSÉ SARNEY resolveu os problemas do Brasil com seus fiscais do congelamento de preços e com o Plano do ministro Bresser Pereira. Fernando Collor trouxe o paraíso com o confisco de depósitos bancários e da poupança com seu Plano Collor, formulado por Zélia Cardoso de Mello – que ao deixar o ministério montou bufê de festas infantis.
A coisa andou bem no primeiro FHC e no primeiro Lula, mas logo veio Dilma Rousseff, que desmontou a economia com a contabilidade criativa e as improvisações desajeitadas, ela ministra de sua própria Fazenda. Temos agora Jair Bolsonaro e o Plano Paulo Guedes, que identificou a Previdência como pernicioso câncer cívico.
Não sei o que acontece nesse país, que sempre tem presidentes providenciais, iluminados e milagrosos, que nos salvaram da pobreza e do atraso, mas logo o Brasil desanda de novo. Esperemos que com Jair Bolsonaro seja diferente, pois com ele Deus é fiel e tudo pode aquele que tem Jesus ao lado.
Acabara de escrever um artigo sobre esses estranhos seis meses em que o Brasil é conduzido pela direita. Pensei em mudar de assunto, mas surgiu a notícia da prisão de um sargento da Aeronáutica em Sevilha.
Trinta e nove quilos de cocaína num avião de apoio à comitiva presidencial. Segundo os jornais, o sargento Manoel Silva Rodrigues fez várias viagens oficiais, inclusive com outros presidentes. Aparentemente, era uma prática antiga. Mas foi descoberta na viagem de Bolsonaro. Isso significa um arranhão em sua imagem internacional. É inevitável.
Internamente, a repercussão num país polarizado transforma-se logo numa troca de acusações que dificulta uma abordagem mais séria do problema. Sem dúvida, por partir também de um ministro da Educação, a frase de Abraham Weintraub foi a mais infeliz. Ele sugere que os aviões de Dilma e Lula eram mais pesados.
Além de não se basear em nenhuma evidência (portanto, uma acusação falsa), Weintraub passa uma terrível impressão ao mundo exterior. Um ministro sugere que os aviões do passado levavam mais cocaína, e o Brasil conseguiu reduzir a carga para 39 quilos. Uma ética medida em peso.
Tudo isso acontece no momento em que Bolsonaro, à frente de uma política ambiental desastrosa, afirma que o Brasil pode dar lições à Alemanha.
Nós sabemos que Bolsonaro ignora os esforços que a Alemanha faz nesse campo, seu avanço tecnológico, e jamais visitou as florestas do país. Mas e os outros, o que pensarão dessa abordagem agressiva e tosca? Num tema que obriga à cooperação, internacional, Bolsonaro quer competir.
Na conclusão do artigo em que analisava alguns pontos dos seis meses de governo, afirmei que Bolsonaro está inspirando uma oposição que envolve mais que a democracia. Uma frente pela vida.
As pesquisas já indicam como o capital político de Bolsonaro escorre pelos dedos. Ele está longe de perceber como a extrema direita é minoritária.
No momento, sua agenda espontânea já indica uma linha condutora. É um flerte com a morte: das armas ao agrotóxicos, estradas sem radares, leis mais frouxas no trânsito.
Na Espanha da Guerra Civil, os adeptos de Franco expressavam essa tendência de uma forma mais nítida: “Viva la muerte.”
É uma luta inglória, um programa sob o signo de Tânatos. Suas manifestações não se limitam à destruição das espécies. Mas também da diversidade humana.
Na Rio-92 houve dois focos: a defesa da diversidade das espécies e, num outro palco, da diversidade cultural. São interligadas.
Para completar a semana, a notícia de que, recuando de nossas posições internacionais, o Brasil deixa de reconhecer as pessoas que se sentem mulheres, apesar do órgão sexual masculino, ou homens, apesar do órgão feminino. É uma visão de mundo que despreza a felicidade humana em nome de suas rígidas regras de vida.
Nosso consolo é que Tânatos, o deus da morte, inspira apenas uma política de governo. A sociedade é cheia de vida, diversa; dentro das limitações, centenas de experiências ambientais se desenvolvem no Brasil.
De fato, temos uma grande floresta em pé, por razões históricas e econômicas. Parte da destruição de nossas matas conseguimos conter com a legislação. Isso talvez seja uma conquista.
Bolsonaro deveria se lembrar de que foi contra muitas dessas leis. Participei delas, sinto desapontá-lo: em vários temas, nos inspiramos na Alemanha e outros países europeus aos quais ele quer dar lições.
Finalmente, o caso da cocaína merece uma investigação profunda e transparente. É uma questão nacional. O que o general Heleno disse também é um espanto: foi falta de sorte a droga ter sido descoberta numa viagem para a reunião do G-20. Segundo o jornal “El País”, a mala de cocaína sequer estava escondida junto à roupa. Droga nua. Não era falta de sorte, mas de controle.
Em qualquer circunstância que uma carga dessas fosse descoberta num avião presidencial, seria um grande azar para o Brasil. Em matéria de sorte, a gente vai levando, mas a fase, francamente, é de fechar o corpo, enquanto ainda temos nossos pais e mães de santo.
Os músicos de metrô já perdemos por inspiração de um dos filhos de Bolsonaro. Gostava de ouvi-los na Praça Nossa Senhora da Paz tocando “There Will Never Be Another You”.
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