Mural da História

“Solda: para nós, você sempre estará na Múltipla”. Desidério Pansera, Gilberto Ricardo dos Santos e Airton Pisseti. © Dico Kremer

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Up-grade da grade

As grades, graciosas ou grotescas, grandes ou gigantescas, se aglomeram na paisagem. Erguem-se de gramados ou granitos e esgueiram-se a granel, esguias ou grossas, pelos conglomerados grã-finos, pontiagudas e góticas. Gélidas no inverno, ígneas no verão, as grades gradeiam gente com grana e engalanada, engravatados engomadinhos, grávidas gentis, gurias e guris engraçadinhos. Na grave guerra urbana, desgrudam os condomínios do pandemônio.

Lá dentro, grifes e glows, ágapes, glacês e geléias, gatos angorás e galgos, geladeiras e geradores, gerânios, gardênias e glicínias; lá fora, gatunos e gatilhos, gangues e granadas, as agruras e as amarguras de gerações degeneradas por desgovernos negligentes com a gente indigente. Às grades, agradecem os guarnecidos, longe de gritarias e gemidos. Às grades, se agarram mendigos e logrados pelo progresso, gravitando os ganhos e ganhando engulhos. Os gradis, em frágeis ou galvanizadas filigranas metalúrgicas, agüentam a agressividade gradual da insegurança progressiva.

Configuram ignóbeis gestões governamentais: graças à ganância – gerência egoísta das regiões da Gaia –, a grandiloqüência enganadora da geopolítica é uma ogiva perigosa. Agora, com up-grades que garantem a vigilância, as grades ainda agradam gregos e goianos. Agravando-se a regressão social, vigorará uma aguda viagem às grotas e grutas.

Aí as grades, degringoladas e desengonçadas, degradarão até a desgraça final: a ferrugem.

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Luiz Rettamozo. © Sandra Solda

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Meus arquivos da Ditadura – 1978

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Mural da História – 2022

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Tempo – Bazar da Aldeia 2022

maringas-246545_10200813838765108_797054678_nSabina Petrovsky, Rogério Dias e Otávio Duarte com a colagem mais disputada no bazar, em algum lugar do passado. © Maringas Maciel

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Foto de Alberto Melo Viana, o Baiano. 

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© Lina Faria

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“Hamas cancelou nossos conceitos de direita, esquerda e centro”

Líder da oposição em Israel, Yair Lapid defende governo de reconstrução nacional sem Netanyahu

Líder da oposição a Benjamin Netanyahu em Israel, Yair Lapid declarou que a brutalidade do Hamas cancelou os conceitos israelenses de direita, esquerda e centro, provocando uma reação conjunta que, em sua visão, o primeiro-ministro atrapalha.

“Chegou a hora: precisamos estabelecer um governo de reconstrução nacional”afirmou Lapid no X, ex-Twitter, nesta quinta-feira, 16, defendendo que o partido de Netanyahu escolha um substituto.

“O Likud irá liderá-lo, Netanyahu e os extremistas serão substituídos, mais de 90 MKs [membros do Knesset, o parlamento de Israel] serão parceiros numa coligação de cura e reconexão.

Já se passaram 40 dias desde o terrível massacre de 7 de outubro. O exército recobrou o juízo rapidamente, está operando corretamente e com precisão em Gaza, mantém vigilância no norte e em outras áreas. Nossos oficiais e soldados em campo estão lutando bravamente em condições difíceis.

É claro para todos nós que a luta será longa e complexa, mas o povo israelense está mostrando resiliência e a sociedade civil vem se mobilizando em milhares de manifestações inspiradoras de voluntariado, garantia mútua e assistência civil.

O elo mais fraco é o governo, especialmente o primeiro-ministro. Os fundos da coligação continuam a fluir, o tratamento dos evacuados e dos feridos é um fracasso vergonhoso, ninguém se preocupa em fechar os escritórios governamentais desnecessários, a defesa de direitos é um desastre em desenvolvimento. Netanyahu perdeu a confiança dos seus cidadãos, a confiança da comunidade internacional e, mais gravemente, a confiança do sistema de segurança.

Diante de uma tremenda e maravilhosa onda de unidade israelense, ele continua a tuitar à noite contra os comandantes das FDI e não para por um momento de se envolver na política de divisão e nos orçamentos para sua casa e família, o que causa danos ao esforço de guerra e não pode continuar.

Ouço vozes dizendo que não é o momento. Esperamos 40 dias, não dá mais tempo. O que precisamos agora é de um governo que não lide com nada além da segurança e da economia. Não podemos nos permitir realizar outras eleições no próximo ano, nas quais continuaremos a lutar e a explicar por que o outro lado é um desastre.

Devemos estabelecer no atual Knesset um governo que estará focado em cuidar do cidadão, não na política. Um governo eficiente e decente, com uma base tão ampla quanto possível. Um governo cuja própria estrutura dará início à criação de um novo contrato israelense. O Likud, o maior partido, escolherá quem deverá liderá-lo. Aceitaremos sua escolha e começaremos a trabalhar.

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Canabis ativa

EDUARDO SUPLICY, hoje vereador em São Paulo, trata a Doença de Parkinson com óleo de cannabis de Pernambuco. Que faça efeito, para calar a boca dos que dizem que Suplicy falava como se estivesse chapado. Minha sogra trocou o gin tônica pelo tal óleo e passou dos cem – lucidíssima.

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curtam-cartum-orlandoso-100

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Mural da História – 1993

Poty Lazzarotto e Helena Kolody, Curitiba 300 anos, 1993. Foto de Lina Faria

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sola-sola© Orlando Pedroso

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Os meus amigos “turco” e judeu

A tragédia irracional que se abate, no momento, sobre o Oriente Médio, envolvendo povos irmãos, ambos descendentes do profeta Abraão, remeteu-me, com saudade, a dois bons amigos – um filho de sírio-libaneses, indevidamente chamados “turcos”; outro de judeus – que, infelizmente, já nos deixaram.

O primeiro deles chamava-se José Tadeu Saliba, que viria a ser advogado, mas fora excelente narrador de futebol, torcedor apaixonado pelo esporte (era atleticano, no Paraná; corintiano, em São Paulo; e vascaíno, no Rio, num tempo em que se torcia por um time de cada Estado).

Tadeu foi o meu primeiro amigo, aquele do qual jamais se esquece, ainda que o tempo passe e a vida nos separe. Crescemos juntos e vivemos os melhores anos de nossas vidas numa Araucária tão provinciana quanto acolhedora; de poucas ambições, mas muita cordialidade; de gente comum e ordeira, vizinhos fraternos que não existem mais. Juntos, partilhamos ideias, embalamos sonhos e inventamos moda. Era um convívio diário, de grande afinidade, que começava cedo, nas viagens de ônibus para os colégios, em Curitiba, e terminava no campinho de futebol próximo à casa dele, em peladas que iam até o escurecer, ou em torneios de tamborete, no meio da rua, em frente à loja de tecidos e armarinhos de “seu” Michel, pai de Tadeu.

Nossos heróis estavam nas páginas dos gibis, nos seriados e nos mocinhos & bandidos do velho Cine Império (a TV era ainda um sonho inimaginável) e na equipe do Araucária Futebol Clube. Depois, fomos para o rádio e, ainda juntos, ingressamos na Faculdade de Direito da UFPR. Juntos – com Maria Marta, irmã de Tadeu, e Renato Nascimento –, ainda fizemos, no final dos anos 50, o primeiro jornal araucariense, o minúsculo “A Voz de Araucária”.

Quando vim para Curitiba, Tadeu ficou na Araucária que tanto amava. Ali fez carreira, constituiu família e foi prefeito – o mais jovem que o município teve, com pouco mais de 30 anos de idade – e deu início à mudança da cidade, arredando-a da vocação agrícola para dar-lhe ares de centro industrial. Quando o mandato terminou, voltou-se por inteiro à advocacia, que exerceu sempre com entusiasmo e paixão. No mais, como disse Maria Marta, “um paizão, propenso a abrigar o mundo inteiro no colo”.

Nunca imaginei que José Tadeu fosse embora tão cedo. Mas acho que parte dele já havia morrido, em 1995, quando a tragédia do edifício Continental, em Guaratuba, tirou-lhe, no mesmo golpe, não apenas um filho, mas também a mãe, duas irmãs, dois sobrinhos e um cunhado.

O segundo amigo referido no início deste texto, foi Jaime Stivelberg. Mais do que um competente advogado, estimado e respeitado no foro curitibano, Jaime era um ser humano excepcional, que tinha um talento especial para fazer amigos.

Quando Romeu Felipe Bacellar Filho deixou a administração pública para dedicar-se à advocacia, Jaime Stivelberg abriu-lhe espaço em seu tradicional escritório. Algum tempo depois, quando Romeu convidou-me para auxiliá-lo na nova jornada, fui recebido por Jaime como se fosse um veterano. Não me conhecia, mas o fato de haver sido chamado por Romeu Felipe, a quem ele admirava e respeitava, foi-lhe o suficiente. JS era um homem gentil, cordial, emotivo e com um profundo sentimento humanitário. Tanto que logo passou a considerar-me “um irmão”.

– Eu sou como você, Célio – costumava dizer-me, como se eu pudesse servir de referência. “Não consigo esconder sentimento. Quando não gosto de alguém, vou logo dizendo, sem nenhum constrangimento”. E emendava: “Com certeza fomos irmãos numa encarnação passada”. Quer dizer, um judeu que acreditava no espiritismo.

Nos últimos tempos, Jaime Stivelberg, que chegou a ser juiz do Tribunal Regional Eleitoral, dizia-se cansado da profissão, mesmo antes dos sinais do mal que o consumiria. Mas jamais deixou de comparecer ao seu gabinete de trabalho, no Edifício José Loureiro, na Rua XV de Novembro. Da mesma forma que enfrentou com galhardia os sobressaltos, as dores e as tristezas da caminhada, sem nunca desviar-se da rota inicial. Foi assim até o fim. E como o desembargador Aurélio Feijó, uma de suas principais referências, procurou em vida conciliar a profissão com o coração. Foi um profissional exemplar. Era um homem franco, sem ser rude; amava o chiste, sem perder o respeito; e não perdia a oportunidade de rir – ainda que (ou principalmente quando) a piada tivesse como personagens os descendentes de Abraão, entre os quais ele se incluía.

Não sei se Tadeu e Jaime se conheceram. Acredito que não, embora exercessem a mesma profissão. Se tivessem se conhecido, certamente seriam amigos. Apesar da diferença de etnias. Ou talvez por isso mesmo.

De José Tadeu e de Jaime, restou-me a lembrança e a saudade. E quando isso acontece, como dizia Rubem Alves, inspirado em Guimarães Rosa, não é parte do passado. É sempre presente.

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