Todo dia é dia

© Jean Jacques Lartigue

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Weintraub, acepipe do Capitão

“Tranquilizo os ‘guerreiros’ do PT e de seus acepipes: o responsável pelos 39 kg de cocaína NADA tem a ver com o Governo Bolsonaro. Ele irá para a cadeia e ninguém de nosso lado defenderá o criminoso. Vocês continuam com a exclusividade de serem amigos de traficantes como as FARC”

O MINISTRO DA EDUCAÇÃO rebate críticos do PT sobre a cocaína encontrada em aeronave da comitiva de Jair Bolsonaro. O que diz ou deixa de dizer não nos interessa, pois é resposta ao que foi dito pelo adversário. De um ministro da Educação interessa ao cidadão o modo de dizer, como isso de confundir asseclas com acepipes, o cúmplice com o tiragosto, o aperitivo. Também o barbarismo do “…continuam com a exclusividade de serem…”.

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Na agenda!

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Do not touch

© Arthuer Steel

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O sargento aviãozinho

O presidente Jair Bolsonaro sempre alardeou a narrativa de que os militares brasileiros são os paladinos da justiça e da moralidade, típicos “cidadãos de bem”. Mas no que tange ao aspecto simbólico, o meio militar está maculado. A prisão por tráfico de drogas do 2º sargento Manoel Silva Rodrigues, 38, é uma pequena desgraça.

Rodrigues fazia parte da equipe avançada de transporte que dava apoio à comitiva presidencial que se dirigia para o Japão, onde o presidente participa do encontro do G-20. Acabou detido em flagrante, acusado de crime contra a saúde pública espanhola. Uma simples inspeção da Guarda Civil local descobriu pelo raio-X que havia 37 tabletes com 39 quilos de cocaína na bagagem do militar. Ele foi pego quando saía tranquilamente do avião com suas malas carregadas de droga. IstoÉ

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Weintraub e suas tuitadas do barulho

O ministro Abraham Weintraub faz tanta besteira que nos força até a perguntar que raios de coisa esse sujeito usa para vir com suas gracinhas totalmente fora do decoro do cargo. Calma, não há uma insinuação de que Weintraub faça uso de drogas ilícitas. Nada disso. Ele pode ser um cachaceiro, por exemplo e ter suas geniais ideias enquanto enche a cara com colegas.

O próprio Lula bebia além da conta, pelo menos antes do retiro forçado em Curitiba. Francamente, não vejo problema nisso, a não ser que haja excesso e quando o sujeito procura esconder, como era o caso do chefão petista, que teve até que ser impedido pelo STF de expulsar um jornalista estrangeiro que escreveu sobre seu hábito etílico. E em muitas ocasiões públicas era evidente o abuso da branquinha.

Mas o problema de Weintraub pode ser mesmo de personalidade. E personalidade incorrigível, porque é evidente que ele pensa que suas atitudes idiotas são um diferencial de imagem que pode reforçar politicamente sua atividade e ajudar o governo. Desde o início desse governo os brasileiros esperam que se dê no mínimo uma ordem básica no Ministério da Educação, pois Bolsonaro arrumou um sujeito que parece que pensa que lacração nas redes sociais é política pública.

O ministro correu para o Twitter nesta quinta-feira para dar um pitaco sobre a prisão do militar da Aeronáutica, flagrado pela polícia na Espanha com uma maleta cheia de cocaína. A tuitada de Weintraub: “No passado, o avião presidencial já transportou drogas em maior quantidade. Alguém sabe o peso do Lula ou da Dilma?”.

Bem, o que se sabe mesmo é que Bolsonaro não conseguiu montar um governo com quadros qualificados, mas Weintraub extrapola o limite desta baixa qualidade. Essa tuitada irresponsável demonstra seu despreparo. Ele sequer compreende a gravidade dessa prisão, com a óbvia necessidade do governo administrar com todo cuidado este incidente para amenizar a repercussão mundial, além de evitar que o problema político cresça na proporção do desejo da oposição de esquerda.

Ora, um sujeito que não tem noção da complicação política dessa prisão de repercussão internacional não serve para ocupar um cargo de primeiro escalão e muito menos para estar no comando de um ministério. Parece que já passou da hora de Bolsonaro dar uma canetada para Weintraub dispor de mais tempo vago para tentar suas lacraçõezinhas nas redes sociais.

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Model Good_04. © IShotMyself

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Com o nosso dinheiro

Cada decreto estapafúrdio mobiliza um pelotão de gente em Brasília

Até parece que o presidente Jair Bolsonaro recebeu de seus antecessores um país tranquilo, próspero e equilibrado, com a população desfrutando do pleno emprego e os investidores competindo para botar seu dinheiro aqui. Um país tão bem resolvido que o presidente pode dar-se ao luxo de, entre vários disparates diários, concentrar-se numa medida que, por mais rejeitada, ele adora trazer de volta com variações.

É a questão das armas. O jornal O Estado de S. Paulo fez, nesta quarta (26), um levantamento dos decretos de Bolsonaro sobre o assunto. No dia 15 de janeiro, quase que ainda de faixa presidencial, e como se a nação não pensasse em outra coisa, Bolsonaro “flexibilizou” —facilitou— a aquisição de armas de fogo pelos cidadãos, desde que as mantivessem em casa ou em seu comércio.

No dia 7 de maio, insatisfeito, revogou o decreto e soltou outro,garantindo a 19 categorias andarem armadas nas ruas por, segundo ele, se sentirem em risco —caminhoneiros, advogados, políticos, jornalistas, passeadores de cachorro. Abriu também a possibilidade de o cidadão comum adquirir um fuzil e de entrar armado em aviões. No dia 22 de maio, diante da grita, restringiu o porte do fuzil e o de armas em aviões, mas manteve o das 19 categorias, além de permitir que atiradores esportivos —inclusive vizinhos de milicianos nos condomínios da Barra— comprassem milhares de balas por ano.

No dia 18 último, tendo o Senado derrubado os decretos por inconstitucionais, Bolsonaro, prevendo novas derrotas, revogou-os, mas, nesta terça (25), reeditou-os fatiados, esperando que alguns passem, e na quarta (26), outro.

Cada decreto mobiliza um pelotão de homens-hora —assessores, ministros, constitucionalistas, juízes, congressistas— que poderiam estar tratando de assuntos mais urgentes. E tudo isso, como dizem os fãs de Bolsonaro, com “o nosso dinheiro”.

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Playboy – Anos 70

1976|Whitney Kaine. Playboy Centerfold

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Da nobreza às laranjas

O meu querido amigo Rubem Alves, educador, poeta, escritor, psicanalista e ex-pastor presbiterano, que no próximo dia 19 completará cinco anos de “encantamento”, tinha uma fórmula infalível para descobrir a origem nobre das pessoas: basta observar o tratamento que é dado a elas. Dizia ele que, na sua Campinas, em São Paulo, quando ouvia dizer “a casa de Aurélia”, “o livro de Pedro”, “o aniversário de Margarida”, já sabia que se trata de pessoa ligada à nobreza dos grandes barões do café. “É nesse insignificante de que se encontra a revelação” – assinalava.

Outra maneira, ainda segundo Rubem, está no “insignificante e banalíssimo ato de chupar laranjas”. Ou “vocês pensavam que uma laranja é simplesmente uma laranja”? – indagava ele. E sustentava que laranjas de um mesmo pé podem ser nobres e plebeias. “Depende do jeito como são comidas”. E revelava a diferença, encontrada em sua própria casa: “A família de minha mãe chupava laranja de gomo; a família do meu pai chupava laranja de tampa”. O primeiro modo seria educado e elegante; o segundo, gostoso e descontraído.

Aliás, havia todo um trabalhoso ritual para comer-se laranja de gomo: primeiro, o cuidadoso ato de descascar a fruta. Segue-se a operação de retirar-lhe a película branca abaixo da casca. Depois, a laranja é aberta em duas metades e separam-se os gomos. “Tomam-se, então, os gomos, um a um, e vagarosamente se executa a operação cirúrgica de retirar a pele translúcida em que vêm revestidos”. Com a ponta da faca, extrai-se as sementes e, finalmente, pode-se comer os gomos. Ou o que deles restou.

Ao comer as laranjas pelo gomo as famílias anunciavam as suas origens nobres.

Suponho que a coisa não era muito diferente no restante do Brasil. Aqui no Paraná, por exemplo, era exatamente igual. Digo era porque creio que não é mais. Certas regras vão sendo mudadas ou esquecidas com o passar do tempo. Sobretudo quando a nobreza recolhe-se aos museus e aos livros de história, e os emergentes assumem o comando.

Quando comecei a namorar minha mulher e passei a frequentar a família dela, por parte de mãe, de origem nobre e educação esmerada, onde todo mundo falava baixo e jamais se dava gargalhada, pude constatar isso de perto. Ali, como na Campinas nobre de Rubem, era só “casa de Aní”, carro de João Cid”, “aniversário de Therezinha”. E não só as laranjas eram comidas em gomos, como o pão em pedaços, cuidadosamente fatiado antes de ser levado à boca.

Na família de minha mãe, na velha Lapa dos heróis, também era mais ou menos assim, embora se origem nobre houvesse tinha ficado do outro lado do oceano, nas terras geladas da Alemanha, Prússia e Dinamarca. Mas ali ninguém saía de casa sem “arrumar-se”, mudar de roupa, calçar sapatos e dar uma ajeitada nos cabelos. Ainda que fosse para ir fazer uma comprinha de última hora no armazém da esquina.

Tudo isso não tinha grande importância na família de meu pai, embora ela também fosse civilizada. Ali, a vaidade era outra: a correção, o respeito aos princípios, a ojeriza à mentira e aos farsantes. Ali, prevalecia a sinceridade e a franqueza, ainda que isso nem sempre fosse agradável. Ou educado. Todo mundo era recebido na cozinha, ao lado do fogão de lenha, quase sempre aceso, onde a conversa era animada e proveitosa; na sala principal, que não sei por que era chamada de “varanda”, apenas visitas de cerimônia.

Velhos tempos, em que se era feliz e não sabia…

(Texto integrante do livrinho “Como diz Rubem Alves”, do acima assinado, edição caseira, de poucos exemplares. Um deles entregue ao saudoso Rubem Alves) 

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O consumidor e as cobranças indevidas

No decorrer do contrato o consumidor pode ser surpreendido com valores que são cobrados pelo prestador do serviço, mas que não foram combinados inicialmente.

É o caso de um contrato de serviço de canal de televisão a cabo no qual a operadora começa a cobrar por um determinado canal que, no momento inicial do contrato, estava no pacote e não era cobrado, ou melhor, nem estava no pacote, mas era liberado sem o aviso da promoção.

Um exemplo mais simples é do consumidor que compra um cachorro quente e no decorrente da refeição o estabelecimento pretende lhe cobrar os guardanapos.

O raciocínio é simples, se no início ou no decorrer do contrato aquela parcela não era cobrada, o prestador de serviços não pode surpreender o consumidor usuário. Este proceder fere a boa-fé contratual.

Outra situação é a o benefício que no decorrer do contrato passou a integrá-lo, por exemplo, aquele determinado serviço não era previsto ou se era previsto, não era cobrado, neste caso, a gratuidade passou a integrar o contrato e não pode, repentinamente, ser retirada.

Neste caso, o serviço permanece não sendo cobrado para os clientes antigos e os novos consumidores devem ser alertados desta cobrança.

Na hipótese de um clube de futebol não cobrar pelos jogos amistosos aos seus sócios, por exemplo, no início do ano, e surpreender os sócios consumidores com a cobrança na metade do ano, alegando que é clausula contratual, a lógica contratual é a mesma.

Não podem ser cobrados os jogos amistosos, pois se havia a previsão contratual e ela não foi exercida, esta perdeu o valor contratual e alterou expressamente as condições contratuais. Em outras palavras, vale a prática comercial estabelecida no contrato de adesão do sócio consumidor.

No caso da cobrança indevida, deve ser ressarcido o valor em dobro do que foi cobrado do consumidor, mais eventuais danos morais, conforme a situação.

A boa-fé (bona fides) é um dos mais antigos princípios do direito, a fides era uma deusa que morava na palma das mãos das pessoas, por isto o aperto das mãos. Lembremos que por séculos as pessoas não assinavam contratos, nem sequer existia papel, as palavras eram maiores do que um contrato assinado.

A boa fé contratual no caso do direito do consumidor, está no cimo da relação contratual.

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Fajutos

Se você não leu na adolescência as desventuras de Holden Caulfield não pense que perdeu o bonde

A convite da editora Todavia, participei do relançamento da obra “O Apanhador no Campo de Centeio”. Se você não leu na adolescência as desventuras vertiginosas de Holden Caulfield (ele está sempre prestes a desmaiar porque se alimenta mal, bebe muito e percebe o mundo como se não tivesse pele), não pense que perdeu o bonde.

Eu reli agora, aos 40 anos, e senti todo aquele turbilhão de verdades eclodir novamente dentro da cabeça.

A busca por pessoas mais reais, por diálogos mais honestos e por ambientes menos afetados não tem idade. Aliás, o anseio por interlocutores mais fiéis à nossa sensibilidade e neurose só piora com o tempo.

O que continua me emocionando neste célebre livro de J. D. Salinger é uma imensa e incansável lista de FAJUTOS (adorei a escolha dessa palavra na nova tradução do mestre Caetano W. Galindo) que deprimem o protagonista pra diabo: garotos com roupinhas “estudo em uma escola de elite”; pessoas que falam “claro que passa”; atores ou músicos que são tão bons que sabem que são muito bons e por isso perdem a graça; pessoas que vivem preocupadas se o carro tem um arranhão, pessoas fechadas em grupos e incapazes de uma conversa inteligente.

Durante a leitura e nos dias seguintes, me tornei compulsiva em elaborar a minha lista de fajutos. Não foi exatamente prazeroso lidar com minhas idiossincrasias sociais, mas foi o efeito inevitável deste que é uma das mais importantes obras da minha formação como escritora (que busca muito mais uma voz sincera e humana do que uma boa história).

O primeiro item sou eu mesma. Já deveria ter entregado meu livro para a Companhia das Letras há anos. Penso nisso o dia todo. Não durmo direito. Estou com gastrite, e a colite nervosa voltou. No entanto, me distraio com vidas vazias de Instagram, planos de fama e riqueza e freelas tolos.

Sou tão fajuta quanto a pessoa que tem, na mesa de centro da sala, livros que ostentam hotéis de luxo em vez de literatura. Neto de rico que não trabalha porque é contra o sistema e produz a própria kombucha. Gente que faz chá de lingerie, de bebê, de fralda, de panela, de bodas… Parem de querer que os outros comprem todos os utensílios da sua casa, amigos! O cara que vendeu o carro porque é supercontra os carros, mas pede carona pra todo mundo. Eduardo, o rapaz que me prometeu sexo tântrico mas me deu o mesmo prazer demorado que uma fila pra tirar Visto americano. Garota que afrescalha a voz para mostrar que já nasceu com conta bancária. Mulher que faz o parto toda maquiada e com o cabelo arrumado. Moça que não toma anestesia no parto, porque acha que sentir dor faz dela uma mãe melhor.

Pessoas que usam termos como “roubalheira louca” e acham que estão arrasando na conversa sobre política. Pessoas que se fazem de misteriosas. Quando bota de neve entra na moda no Rio de Janeiro. Homem que prefere mulher sonsa, porque essa não dá trabalho. Mulher que prefere homem que prefere mulher sonsa e se faz de sonsa e de mulher que não dá trabalho. Pessoas que falam a grande e a quente e, sobretudo, que falam linha tênue, distopia, mais potência, lúdico e “o brincar”.

Gente que leva a língua até a comida antes de levar a comida até a boca. Que faz barulho com chiclete e com bala. Que espirra gritando, boceja cantando e explica o filme inteiro no cinema. Gente que não faz porra nenhuma o dia inteiro, mas sempre responde que está em reunião ou precisava resolver coisas “no banco”.

Ele, os filhos dele, a mulher dele, seus ministros, seu guru, seus eleitores.

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Portfólio

Disco “Curitiba. Cidade da Gente”. Os meninos da capa são Francisco Destéfanis Vítola e Zoltan Gallera, aos 3 anos de idade. A foto é de Márcio Santos. Criação de Paulo Vitola e Solda. Múltipla Propaganda, década de 1980.

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Elzie_04. © IShotMyself

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Há algo mais no ar…

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