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A poesia de Luci Collin continua alta. Melhor: continua crescendo. Melhor ainda: continua séria. O que oferece aos leitores é uma notável sequência de poemas, escrita com ponta fina, digitada firmemente. Se bem me lembro do que eu senti anteriormente, a coesão de sua poética mantém o equilíbrio perfeito de uma progressão exata de uma carreira contínua. A prova disso está nos poemas, cito alguns ou poderia citar todos, pois é difícil preferir uns e deixar de lado outros: “Alinho”, “Incombinado”, “Traço”, “Lida”, “Rogativa”, “Acontecido”, “De se fazer”, “Cinzel”, “Manto”, “Shikantaza”, “Lembrete”, “Remissivo”, “Raso”.  

Paro por aqui para deixar, no meio do livro, esse jogo de escolha, que volta e meia, tende a adicionar outros títulos, que foram deixados para trás, cometendo injustiças, sem sombra de dúvida. Pois em Rosa que está nenhuma pétala deve ser esquecida e não querida. Trata-se de um livro completo, de A a Z. E a cada leitura (já que ele pede releituras) vamos descobrir novas nuanças das suas rosas reunidas num buquê que não se despetala.

Armando Freitas Filho

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A goiaba de Newton

COERENTE com a linha programática do governo Bolsonaro, o ministério da Educação prepara mudanças nos livros escolares. Uma delas sobre a lei da gravidade. Coisa de somenos na física, coisa de somuitos no regime bolsoignaro: Isaac Newton não terá descoberto a lei quando lhe caiu a maçã na cabeça; as crianças brasileiras aprenderão que foi a goiaba, não a maçã – e ela não caiu, foi Jesus quem lançou do alto da goiabeira.

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O direito de suspender serviços

A Agência Nacional de Telecomunicações regula a suspensão do serviço de telefonia fixa e celular, internet e tv por assinatura.

O consumidor deve estar em dia com seu contrato para, assim, poder solicitar a suspensão a cada 12 meses, uma única vez, no prazo mínimo de 30 dias e no máximo 120 dias. Não pode ser cobrada taxa de suspensão ou de religamento (Res. 477/2007).

Essa regra é vantajosa para as operadoras, pois desconsidera que é garantido ao consumidor a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral – e a telefonia é um serviço público.

Por exemplo, para os serviços de assinatura de jornais e revistas e serviços de academia é necessário se verificar o contrato. Todas as tratativas devem conter protocolo para que o consumidor não pague indevidamente por serviço suspenso.

Esta regra da Anatel é ótima para as operadoras, e a regra nos contratos assinados pelos consumidores certamente é excelente para as empresas contratadas.

E os interesses dos consumidores?

Por quais motivos se chegou a 30 (trinta) dias no mínimo e 120 (cento e vinte dias) no máximo da suspensão?

E se o consumidor viajar duas vezes ou mais ao ano? Paga pelo serviço que não utilizou. Neste caso, temos o enriquecimento sem causa para as operadoras.

Estes prazos deveriam ser flexíveis e adequados à realidade dos consumidores. Um exemplo: se o consumidor fica desempregado e pede a suspensão para depois não ter que pagar novamente a assinatura e a instalação.

Ou, ainda, no caso de enfermidade do consumidor, cobra-se o período integral, dificulta-se o cancelamento e, novamente, as operadoras ganham pelos serviços que não foram usufruídos.

As Agências que regulam a matéria, que deveriam proteger os consumidores, normalmente fazem arranjos legais para o bem das prestadoras.

Enquanto isto o Congresso Nacional dorme em berço esplêndido e o direito à suspensão dos serviços não é debatido. Ao final, como sempre, quem paga a conta são os consumidores.

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92 Graus

Imperdível!

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Tutorial para ressonância magnética

Horas dentro de um tubo de ensaio, ouvindo um mix de obra de shopping com balada techno

No carro, fui me convencendo de que o exame não duraria mais do que 30 minutos. Dez para a cervical, dez para o ombro e dez para a escápula. Meia hora passa voando. Meia hora é menos do que aquela ponte aérea com chuva de granizo que fez o avião arremeter chegando a São Paulo. Meia hora é menos do que aquela vez que a anestesia não pegou e o dentista continuou serrando meu osso para arrancar o siso lá de dentro. Meia hora é menos do que fiquei na casa do Edu, o pior sexo da minha vida. Meia hora dá para aturar.

O médico já tinha avisado que cada uma das três ressonâncias demandaria bastante tempo, mas eu não quis acreditar. Ninguém faria um ser humano ficar horas dentro de um tubo escuro, apertado e com apitos ensurdecedores na orelha.

Você tem tatuagem? Tenho. Você tem alguma maquiagem definitiva? Tenho. Você tem alguma cicatriz de cirurgia? Tenho. Você tem piercing? Tenho. Você tem claustrofobia? Tenho. Ok, podemos começar o exame. Não, espera, o que significa ter tudo isso? Nada, senhora. Como assim nada? Tá tudo bem, senhora.

Tudo bem não estava. Eu queria poder ler, brincar com a minha filha, trabalhar, fazer exercícios, andar e dormir sem sentir tanta dor. Minhas costas doem ininterruptamente há mais de 15 anos. E doem tanto que eu estava prestes a ficar horas dentro de um tubo de ensaio, ouvindo um mix de obra de shopping com balada techno, para tentar obter alguma nova pista do que fazer.

Na sala, muitos quadros com fotos de palmeiras verdinhas e ensolaradas. Colocaram uma campainha na minha mão: “Qualquer coisa é só apertar”. Colocaram um fone com música clássica nos meus ouvidos: “Se quiser outro estilo, é só falar”. Colocaram uma manta bem quentinha nas minhas pernas: “Se continuar frio, a gente coloca outra”. Na última vez que me trataram tão bem, eu entrei num casamento e nele estou há sete anos. Isso só podia ser sinal de que o exame demoraria muito.

Pobre do Vivaldi, que nem no volume máximo das Quatro Estações foi páreo para a britadeira tecnológica. Pobre de mim, que, contrariando o conselho de amigos, resolvi abrir os olhos e vi que o “teto”, de fato, estava a dois centímetros do meu nariz. Parece um caixão essa porra. Cacete, essa porra parece um caixão. Seria a minha cremação? Me velaram por horas, choraram, lamentaram “ela estava no auge da vida”, e eu estava apenas desacordada? Teria eu abusado do Dramin? Das cinco opções de música disponíveis no crematório, meteram um Vivaldi porque é quase animadinho e dá uma esperança para os que ficam? Estou sentindo esquentar.

Pensei em gritar: “Para tudo, eu não morri!”, mas me lembrei da campainha na minha mão. Eu estava fazendo ressonância! Era isso! Entendi finalmente para o que servia aquela campainha. Não é para você apertar, parar o exame no meio e pagar de descontrolado na frente de vários médicos; é apenas para lhe recordar que ninguém daria uma campainha a um morto.

Vamos para as listas. Sim! Elas sempre me acalmam. As dez piores crises de pânico que já tive na vida. Não. As dez vezes em que achei que ia morrer, e não era nada. Não. As dez vezes em que meu coração batia tão forte que eu achei que ia enfartar, mas passou. Não. As cem listas horríveis para não se pensar dentro de uma ressonância magnética de duas horas. Sim. Aos poucos, a luz, os quadros de palmeiras verdinhas e ensolaradas, a cara redonda da médica. Sento, me alongo e, profundamente feliz e emocionada, sinto uma dor insuportável nas costas.

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Que país é este?

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O irritante guru do Méier

© Jornal do Brasil

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Todo mundo lá!

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Apoio

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‘Vem aí um jornal’, disse Francis

O jornal era o Pasquim, seis meses depois do Ato Institucional nº 5

Foi há 50 anos. Paulo Francis me falou: “Vem aí um jornal. Um semanário. Meio sério, meio de humor. É coisa do Tarso de Castro, do Jaguar e do Sérgio Cabral. Vai se chamar O Pasquim. Quer colaborar nele?”. “Se quero!”, respondi. “Vou falar com o Tarso”, prometeu. O jornal saiu. Seis ou sete números depois, Tarso me chamou. Fui. A Redação ficava na rua do Resende, na Lapa —o que era curioso, porque o jornal tinha todo um sabor de Ipanema. Tarso foi claro: “Para colaborar no Pasquim, tem duas condições. Você é contra ou a favor da ditadura?”. Eu: “Que pergunta. Contra, claro”. Ele: “Qual é o seu time?”. E eu: “Flamengo”. “OK, vai colaborar”, decretou Tarso. E assim foi. 

Era uma brincadeira, porque ele me conhecia dos artigos no Correio da Manhã e na revista Diners, onde eu trabalhara em 1968 sob Paulo Francis. Mas assim era o Pasquim —desde já, fingindo não se levar a sério.

Um jornal independente, sem patrões, era um velho sonho dos jornalistas. Tentado várias vezes, nunca dera certo por muito tempo. O Pasquim deu, e sob as piores condições. O Ato 5 fora decretado seis meses antes e parte da imprensa estava sob censura. O Pasquim, não —os homens não sabiam o que pensar daquele deboche que parecia apolítico. Quando acordaram, mais de um ano depois, mandaram um censor. Mas quem? O general Juarez, pai de Helô Pinheiro, a garota de Ipanema, e que adorava ser tapeado.

O Pasquim tirou a gravata da imprensa, entrevistou todo mundo que valia a pena e lançou modas. Teve colaboradores presos e inúmeras edições apreendidas. Durou 22 anos, embora, em minha opinião, só os primeiros dez tenham sido para valer —o começo da abertura, em 1979, cegou o seu gume.

Fui um colaborador bissexto, mas tenho uma medalha. No Pasquim mais famoso, o nº 22, com a entrevista de Leila Diniz, meu nome está nas chamadas de capa. E sem nenhum artigo meu naquele número.

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A demissão de Joaquim Levy e um presidente desgovernado

Joaquim Levy já está fora da presidência do BNDES. Ele formalizou sua demissão neste domingo ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Vai entregar o cargo na manhã de segunda-feira a Guedes e depois falará com a imprensa. No sábado, Levy foi tratado com desrespeito pelo presidente Jair Bolsonaro em entrevista. Estava zangado com a nomeação de Marcos Barbosa Pinto como novo diretor de Mercado do banco estatal.

Costuma-se dizer que o estilo é o homem. No caso de Bolsonaro é também um modelo de gestão. Ele é capaz de ser escandaloso com uma simples discordância como presidente da República, que poderia ser resolvida numa reunião de trabalho com o mínimo de prejuízo político e profissional para as partes envolvidas. Imaginem a dificuldade agora para Guedes arrumar um bom substituto para Levy. Seja quem for o novo presidente do BNDES, o sujeito terá de enfrentar um clima de baixeza moral e insegurança. Ao aceitar o cargo, ele próprio já começa em um papel de pouco respeito próprio.

Na noite de sábado, Marcos Barbosa Pinto já havia pedido demissão. Fez isso de forma equilibrada, como devem ser os rompimentos profissionais e também os políticos. Em nota, ele afirmou que não continuaria no cargo “diante do descontentamento manifestado pelo presidente da República”. Noutro trecho fez uma defesa que aponta sutilmente para o desastre que pode ser para o mercado profissional a forma de relacionamento imposta por Bolsonaro. “Tenho muito orgulho da carreira que construí ao longo dos anos, seja no governo, seja na academia, seja no mercado financeiro”, ele escreveu.

O desfecho ficou assim, com o subordinado dando uma excelente lição de moral ao chefe truculento e desqualificado. Toda essa confusão por causa de algo menor em relação à quantidade de problemas que o Brasil precisa enfrentar vem da péssima formação de Bolsonaro, aprendida na escola da vida fácil dos políticos do baixo clero. Ele não tem noção nem de bons modos. Qualquer um que encare trabalhar para alguém assim deve ir preparado para enfrentar desrespeito e humilhação. É claro que profissionais de verdade não serão atraídos para um governo com este, digamos, modelo de gestão.

Este episódio demonstra como Bolsonaro é um desastre político e administrativo, de um modo que nunca aconteceu antes em nossa história recente. É impossível estabelecer uma relação de trabalho em seu governo, onde não se sabe que rumo tomar. Bolsonaro é um sujeito autocrático, de base simplória. Muitos são assim na política. Só funcionam em proveito próprio e num âmbito restrito, como políticos de baixo clero ou encaixados em cargos nomeados de menor relevância. Porém, aí está esta figura tosca como presidente do país. Um autocrata é sempre negativo no comando de uma nação e neste caso Bolsonaro é o pior exemplo. É um autocrata que não sabe o que fazer no governo.

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Pino a mais, pino a menos

O PRESIDENTE QUER ACABAR com a tomada dos três pinos. Qual é o problema, o pino a mais de Dilma Roussef ou o pino a menos de Jair Bolsonaro? Não resolve o anterior e cria o mesmo, replicado. Cidadãos, comércio e indústria terão despesas para se adaptar ao pino a menos como tiveram antes com o pino a mais.

Extinguir a tomada significa destruir o passado a pretexto de construir o presente. Porque o futuro não é, como seria desejável. Melhora alguma advirá. Coisa pequena, de político menor, que, já eleito, leva um mandato em campanha para derrotar o antigo antecessor. Algo com o ódio que responde ao amor recalcado.

Lembra o caso emblemático do Paraná, quando Roberto Requião assumiu o governo e uma de suas primeiras medidas foi mudar o nome do museu construído em fim de governo por Jaime Lerner, seu antecessor e nêmesis desde a juventude. O pino e o museu são atos mais freudianos que maquiavélicos.

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Que país é este?

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XVII Salão Carioca de Humor. Jaguar, Ota e o cartunista que vos digita, Casa Laura Alvin, Rio de Janeiro, 2006. © Vera Solda

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