Números perdidos

A tecnologia nos lembra diariamente da nossa própria obsolescência

Como todo mundo, sou assolado por ofertas pela internet. Uma amiga recebeu, durante meses, mensagens sobre como aumentar o pênis e custou a descobrir como bloqueá-las. A avó dela distraiu-se e fez assinaturas de revistas de que não precisava, como Vela e Motor, MMA World e Aprenda a Falar Mandarim. No meu caso, são os leiloeiros. Recebo três ou quatro catálogos de leilões por dia, de antiguidades, numismática ou colecionismo. Fico me perguntando quem disputa tantos Laliques e Gallés, poncheiras de opalina, licoreiras de cristal, porta-ovos de porcelana, patacas do Primeiro Reinado e flâmulas de Cambuquira. 

Mas, há dias, certo leilão me chamou a atenção. Oferecia “LPs de 78 rotações”, com quatro peças não identificadas em cada lote. Acontece que nunca existiram “LPs de 78 rotações”. Os LPs, com seis faixas de cada lado, eram de 33 rotações por minuto —informação que, de 1950 a 1990, quando eles dominaram gloriosamente o mercado, não era segredo para ninguém. Os discos avulsos, quebráveis, com duas músicas, é que eram de 78 rotações.

 Da mesma forma, alguém se referiu há tempos a um “LP de 33 polegadas”. O que seria? Se a matemática não falha, 33 polegadas são cerca de 84 cm. De que tamanho seria um toca-discos capaz de tocar um LP com quase um metro de diâmetro? A pessoa queria dizer, naturalmente, um LP de 33 rotações. O qual, por sua vez, era um disco de 12 polegadas —a não ser confundido com os compactos, aqueles pequenininhos, de 7 polegadas. Eram números tão conhecidos que nem se pensava neles.

Incrível como a memória sobre objetos que bilhões de pessoas manusearam e amaram até há menos de 30 anos já está perdida. Em breve, ninguém mais saberá descrever também como funcionava um CD. 

Para isto serve a tecnologia. Para nos lembrar diariamente da nossa própria obsolescência.

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Playboy – Anos 80

1988|Eloise Broady.© Playboy Centerfold

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Na agenda

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Nova York, um amor de cidade

Nesses dias em que Jair Bolsonaro deve estar sentido muito ódio por Nova York, lembrei de um dos logotipos mais importantes do Século 20, uma declaração de amor à cidade. O trabalho gráfico passou depois a influenciar a comunicação mundial. Ao contrário de Bolsonaro, milhões de brasileiros deve estar amando o que Nova York fez nesses dias, então vamos lá.

É esta imagem que publico aqui, criada por Milton Glaser, um dos grandes artistas gráficos que já existiu e também grande desenhista, criador outras imagens também muito marcantes. É um dos modernizadores da ;e comunicação de massa, genial ilustrador e publicitário, um dos bambas que no século passado movimentaram o mundo com sua criatividade.

O logotipo fez parte de uma campanha publicitária de 1977 para promover o turismo em Nova York, que teve também uma música, da autoria de Steve Karmen. A música é competente, mas o que ficou mesmo foi logotipo, para o qual foi usada uma tipologia que era novidade na época, a American Typewriter, inspirada nos tipos de máquina de escrever — a fonte foi criada em 1974 por Joel Kaden e Tony Stan.

Cabe apontar que era dessa forma que a gente escrevia nesses tempos distantes do computador e ainda mais da internet, batendo letra por letra as frases na fita da máquina, que passava para o papel o que pensávamos.

A grande sacada de Milton Glaser foi a colocação do coração formando a frase. Esse grande artista, atualmente com 89 anos, deu ali o toque inicial do uso da imagem do coração, depois transferida para uma diversidade de formas de comunicação. O logotipo declarando amor a Nova York virou um dos ícones mais famosos do mundo.

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Cléo Pires. Anúncio da revista Playboy. © Bob Wolfenson

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Poluicéia Desvairada!

Show do milhão. 25 de março, centro de São Paulo.  © Lee Swain

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Salão Internacional de Humor do Piauí

A economista Creuza Martins e o cartunista que vos digita, na Praça D. Pedro II, em algum lugar do passado.  © Vera Solda

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Pólvora seca

“QUANDO ACABA A SALIVA, entra a pólvora” – a grande lição de diplomacia de Jair Bolsonaro em saudação aos formandos do Instituto Rio Branco, que ingressam na carreira do Itamaraty.

Relembrava a Guerra do Paraguai, que deu estatura às forças armadas, na época exército e marinha? Ou lembrava o Barão do Rio Branco, que projetou o Brasil na diplomacia internacional?

Não, falava da Venezuela e do possível envolvimento do Brasil em conflito armado. Ainda bem que a saliva do presidente é rala e a pólvora é seca. E guerra não se vence com perdigotos.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
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Na agenda

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© Benett|Plural

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Asneiras do Messias

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Bolsonaro e seu sonho retroativo de ser militar

Jair Bolsonaro é um sujeito tão papudo, que costuma falar certas coisas da maior responsabilidade, se colocando em um papel que não se sustenta pela sua própria história. Em cerimônia no Itamaraty, nesta sexta-feira, ele disse a diplomatas: “Quando os senhores falham, entramos nós, das Forças Armadas. E, confesso, que torcemos, e muito, para não entrarmos em campo”.

Bolsonaro forçou a barra com esse “nós, das Forças Armadas”. O presidente da República é quem manda nas Forças Armadas, porém este papel constitucional não faz dele um componente militar. Sobre isso, aliás, o general Ernesto Geisel já foi muito claro: “Bolsonaro é um mau militar”. O ex-presidente do penúltimo governo do ciclo da ditadura militar falou isso em uma entrevista, lembrando o tempo em que Bolsonaro, já como deputado federal, atiçava as casernas para que os militares dessem outro golpe, retornando ao poder.

A verdade é que Bolsonaro saiu corrido do Exército Brasileiro. Respondeu a um inquérito por insubordinação e chegou a ficar preso 15 dias. Foi em 1988 o julgamento que pôs fim a sua carreira militar. Foi absolvido no STM, mas ficou claro que o processo podia voltar a ser apreciado. Foi praticamente uma ordem para que ele pedisse pra sair.

Quem abandonaria uma carreira militar no posto de capitão, saindo do Exército para ser vereador no Rio de Janeiro? Foi o que Bolsonaro fez. Das duas, uma: ou não tinha muito apreço pela carreira militar ou foi obrigado a sair. Portanto, “nós, da Forças Armadas”, uma pinóia. Bolsonaro está mais para paisano, além de já ter demonstrado que o conceito que Geisel tinha dele como militar serve também para definir sua qualidade como civil.

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Zé da Silva

Nunca entendeu o que queria dizer “hoje eu quero me acabar”. Não sabia se tinham lhe falado ou se era letra de uma música do passado. Nunca tinha se acabado. Nem de furrupa, nem do pior jeito. O máximo de prazer que sentia, não de se acabar, era jogar dominó com uns idosos como ele na mercearia da esquina. Uma vez por semana. Se acabar com o Chocomilk que tomava não deveria ser o que sempre lembrava. Rezou como nunca no seminário, para onde foi e manteve a abstinência sexual por todo o resto da vida. Saiu de lá porque um dia viu um padre de batina toda preta – e pensou num saiote de balzaquiana. Achou que era pecado. Herdou alguns imóveis dos pais. Vivia do aluguel que rendiam. Não tinha televisão, nem rádio. Não lia jornais. Comia o suficiente para não engordar nem 100 gramas. Tomava banho uma vez por semana. Seria a água quentinha a razão para se acabar? Um dia resolveu não mais se levantar da velha poltrona de couro empoeirada. Ficou olhando para o nada, como se esperasse uma aparição que lhe explicasse a grande dúvida. Acabou.

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Mural da História

O Estado do Paraná – Em algum lugar do passado

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