Mães

Benjamin e Sandra Solda. © Geísa Borrelli

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Faça propaganda e não reclame

ABSOLUTÍSSIMA

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Mensagem devagar

A morte de Quentin Fiore prova que o mundo não ficou tão instantâneo assim

Em 1968, um professor canadense chamado Marshall McLuhan lançou nos EUA seu livro “The Medium is the Massage”. O “massage” do título era um trocadilho envolvendo a mensagem propriamente dita e a massagem —a surra— que já estávamos tomando dos meios de comunicação. E rimava também com “mass age”, a era das massas que julgávamos estar vivendo. McLuhan queria dizer que os meios pelos quais recebíamos a informação eram mais importantes do que a informação em si. Só isso já tornava o livro revolucionário.

Mas aí é que está. O que o fazia apaixonante era o seu incrível projeto gráfico, a cargo do designer Quentin Fiore. O importante não era o que o livro dizia, mas o livro em si. Algumas páginas vinham impressas de cabeça para baixo. Outras só podiam ser lidas se postas diante do espelho. E outras eram escritas em gótico arcaico ou eram reproduções de quadrinhos, manchetes de jornais, cartuns, cartazes, cenas de filmes. O meio era a mensagem.

Bem, isso foi há 50 anos e, hoje, várias de suas afirmações ficaram discutíveis. McLuhan dizia que os meios eletrônicos seriam extensões de nós mesmos. Mas não foi o contrário? O ser humano não se tornou uma extensão de seu celular? E o conceito da aldeia global, em que ficaríamos sabendo das coisas no momento que acontecessem e todos ao mesmo tempo? Realizou-se?

Será que, para pensarmos sobre isto, era obrigatória aquela barafunda visual? Eu, por exemplo, nunca li o que estava escrito nas páginas ao contrário, porque nunca as botei diante do espelho —e não fez diferença. O livro virou um produto típico de 1968, em que as coisas mais simples tinham de vir embaladas em fórmulas complexas, como o coquetel de camarão, o vestido tubinho e o concretismo.

Quentin Fiore morreu há um mês, aos 99 anos. Só agora a notícia circulou. O mundo, afinal, não ficou tão instantâneo assim.

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Jodie –  © TongPictures

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Hoje, no cafofo do Sponholz

© Miskiciewsz

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Companhias

mulher-bebendo© Myskiciewicz

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A agonia do êxtase

Rogério Distéfano

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Ressarcimento Parlamentar

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Benett

© Benett – Plural

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Pessimismo

O verme agora é outro

Deu ruim. Tá tudo dominado. Sempre achei que, nos piores momentos da vida, bastaria respirar bem fundo e tomar um copo de água para me acalmar. O ar a gente já sabe que está podre há muito tempo” mas a novidade de que a água está gravemente contaminada por agrotóxicosé um tremendo soco no estômago. E o presidente segue liberando cada vez mais venenos para alimentar o agronegócio

Eu não quero ser a louca da garrafa, eu fico arrasada quando lembro que no futuro haverá mais plástico nos oceanos do que peixes, mas, desde que minha filha começou a comer, só cozinho para ela usando água mineral. Sempre acho que o André Trigueiro vai aparecer de repente na minha cozinha e me dar um sermão, mas para onde correr? E, se corrermos e der sede, como lidar com a informação de que o querido filtro de barro (e tantos outros filtros mais metidos e caros) não dá mais conta do problema? Lembra quando a gente tomava Annita para derrubar os vermes? Que saudade! Como talvez dissesse um cineasta quase arrependido, o verme agora é outro (e não para de armar seu séquito).

Você compra alface orgânico, chega em casa e mete as folhas na água da pia, que está batizada com mais de 20 tipos de pesticidas cancerígenos —adiantou acordar cedo para ir na feirinha natureba? Vamos então desistir de tudo e nos alimentar com embutidos logo de uma vez, na esperança de encurtar a palhaçada? Lembra quando a avó de um colega de um tio distante tinha câncer e a gente ficava chateado? Agora quem tem câncer são nossos amigos bem próximos e jovens.

Nos Estados Unidos, uma senhora péssima deixou de doar dinheiro para o tratamento de uma criança com câncer porque descobriu que ela era criada por um casal de lésbicas. Daí você pensa: “É pra desistir do mundo”. Mas calma, justamente porque essa anta tornou pública a sua ignorância, a vaquinha virtual lançada pelas mães da menina deu certo. Meu pessimismo só não me afunda de vez porque estou aqui agarrada em pessoas e ideias boas.

Imagine uma campanha para filmar tio racista e homofóbico, em vez de professor de filosofia? Fico fantasiando com grupos de WhatsApp e redes sociais mais preocupados em desmascarar o número alarmante de casos de abuso infantil dentro de casa do que em pirar com aulas de comunismo nas escolas. Livros e arroz com feijão em vez de armas e ração humana. Os prédios tombados de Higienópolis e não o Itaim com sua arquitetura importada do inferno.

Em vez de o Ministério da Saúde proibir o termo “violência obstétrica”, como seria bom se todas as mulheres pudessem ter (ou não) seus filhos sem sofrer tantos abusos físicos e psicológicos. Chega de proteger os médicos, eles não são deuses! Eu passei por quatro obstetras e voltava para casa sempre solitária e assustada. Cínicos, dinheiristas, entediados, vedetes midiáticas deprimentes. Se é assim em consultórios recomendados, não gosto nem de imaginar pelo que passa a maioria das pessoas.

Queria cortar meu cabelo em paz, sem ver estampado numa revista triste o jantar de Moros com Anas, Lucianas e Zezés. A mesma publicação traz os bastidores do casamento do filho Zero Três. Como não sentir uma imensa preguiça da humanidade? Não respiro nem bebo água —não dá mais— , mas ainda sonho com um país com mais filosofia, sociologia, antropologia e milhares de trabalhadores árduos do nosso cinema. E, definitivamente, sem um presidente que oferece suas próprias eleitoras para turismo sexual.

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O grande paparazzo

© Brad Elterman|Getty Images

Ron Galella, o paparazzo mais famoso do mundo, cujas perseguições a Jackie Kennedy pelas ruas de Manhattan ficaram famosas. É de Galella, aliás, a foto clássica dela atravessando a Quinta Avenida.

Marlom Brando também não suportava o fotógrafo. Encurralado numa rua do SoHo, o ator não quis conversa: deu um soco na cara de Galella, arrancando-lhe cinco dentes. Ron Galella não se intimidou: quando encontrou Brando de novo, estava usando um capacete de futebol americano para proteger-se das pancadas. E recebeu 40 mil dólares de indenização, judicialmente.

O Museu de Arte Metropolitano de Nova York homenageou os 80 anos do fotógrafo com uma exposição reunindo centenas de imagens de estrelas de Hollywood. Seguindo a mesma trilha a HBO (no catálogo da Netflix) exibiu recentemente o documentário “Destrua sua Câmera” sobre a vida atribulada de Galella. 

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A lagosta das excelências

O Supremo Tribunal Federal, capitaneado pelo magnânimo ministro José Antonio Dias Toffoli, está em estado de graça: garantiu, por decisão de segunda instância, a lagosta de suas excelências.

Historiando os fatos, a excelsa Corte lançou na praça edital de licitação, na modalidade de pregão eletrônico (nº 27/2019), destinado ao fornecimento de refeições aos eminentes homens e mulheres da capa preta, estimado em R$ 1,1 milhão, incluindo, entre outros acepipes, medalhões de lagosta com molho de manteiga queimada, camarão à baiana, bacalhau à Gomes de Sá, frigideira de siri, arroz de pato e pernil de cordeiro assado. Para acompanhar o refinado rango, além do indispensável uísque 18 anos, mereceram destaque as especificações para os vinhos – três tintos e dois brancos: é indispensável que as bebidas tenham vencido pelo menos quatro premiações internacionais. No caso do vinho Chardonnay, deve ter “sido envelhecido em barril de carvalho, de primeiro ou segundo uso, por período mínimo de seis meses” e a colheita das uvas “feita manualmente”. Inclui-se ainda no cardápio champagne brut com ao menos quatro premiações internacionais, cachaças envelhecidas em barris de madeira nobre, gim, vodca e conhaque envelhecido por no mínimo dois anos.

Achando que era só o que faltava, o servidor público estadual Wagner de Jesus Ferreira, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), ajuizou uma ação popular na Justiça Federal do Distrito Federal contra o pregão eletrônico.

A juíza Solange Salgado, da 1ª Vara Federal em Brasília, acatou o protesto e determinou a suspensão da licitação, entendendo que o pregão afronta o princípio da moralidade administrativa:

“A par de o objeto licitado no Pregão eletrônico em comento não se inserir como necessário para a manutenção do bom e relevante funcionamento do Supremo Tribunal Federal, os itens exigidos destoam sobremaneira da realidade socioeconômico brasileira, configurando um desprestígio ao cidadão brasileiro que arduamente recolhe seus impostos para manter a máquina pública funcionando a seu benefício” – registrou a magistrada.

E aduziu configurar a licitação a “prática de ato com potencial lesivo à moralidade administrativa”, “com alto custo de dinheiro público”, não levando em conta o “período de gravosas dificuldades econômicas e deficiências orçamentárias, que atinge a todos”.

Estávamos nós, apreciadores do velho e bom feijão com arroz, a comemorar a arrojada decisão da dra. Solange, quando constatamos, uma vez mais, que, nesta terra de Pindorama, o que é bom dura pouco: acatando recurso da Advocacia-Geral da União – aquele órgão público que deveria zelar pelos interesses da Nação –, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, por meio do des. Kassio Marques, “corrigiu” a decisão da dra. Solange, liberando a realização do pregão e ainda admoestando a colega, cuja decisão teria refletido uma visão destorcida dos fatos, “nutrida por interpretação superficial e açodada”:

“A tese acolhida no Juízo de primeiro grau referenda a preocupante ideia de que, no âmbito do Supremo Tribunal Federal – que abriga nada menos do que a Chefia de um dos Poderes da República, o Poder Judiciário – são concebidos atos com desvio de finalidade”.

Imagina!!! Quem seria capaz de idealizar tamanha barbaridade?! É sabido que a augusta Corte de Brasília é constituída não apenas de figuras de elevado saber jurídico, mas de comportamento exemplar, imune a falhas e deslizes comuns apenas à patuleia. É verdade que as vezes há uns arranca-rabo públicos no plenário entre os insignes ministros, que chegam a trocar elogios como “você é uma pessoa horrível, uma mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia. Vossa excelência nos envergonha, é uma desonra para o tribunal, uma desonra para todos nós”. Mas sempre com o maior respeito.

Até porque – revela o des. Marques – o Pregação 27/2019 se destina a qualificar o STF a oferecer refeições institucionais às mais graduadas autoridades nacional e estrangeiras, em compromissos oficiais nos quais a própria dignidade da instituição, obviamente, é exposta”.

Está se vendo, excelência.

Publicado em Célio Heitor Gumarães - Blog do Zé Beto | Com a tag , | Deixar um comentário
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Os descaminhos de Olavo de Carvalho

©Bibi Zanatta|Folha Press

Olavo de Carvalho informa na sua página de Facebook que vai ficar três dias sem postar, mas não disse o motivo do afastamento. Nos últimos dias ele foi assunto diário na mídia, ainda que de forma altamente negativa para sua imagem. Nem é necessário fazer pesquisa alguma para saber que sua rejeição está em alta, com poucas possibilidades de que ele possa reverter o estrago.

Atiçador de conflitos, com o pouco cuidado que tem ao espalhar a cizânia o professor da Virgínia cometeu um erro grave enquanto atacava pesadamente a ala militar do governo Bolsonaro. Olavo escreveu que “altos oficiais militares” criticados por ele foram “buscar proteção escondendo-se por trás de um doente preso a uma cadeira de rodas”, em referência ao general Villas Bôas, que sofre de doença degenerativa.

A indignidade só não foi repudiada por seus discípulos mais próximos. Poucas vezes se viu unanimidade parecida na política brasileira. Ninguém gostou do que ele escreveu. A grosseria teve protestos até de quem costuma se divertir com a atrapalhação causada no governo Bolsonaro pela sua xingação. Olavo ainda tentou consertar o estrago, inventando uma tola teoria conspiratória de que articularam tudo para que ele escrevesse o post desastrado depreciando a condição de saúde de Villas Boas, mas esta idiotice não colocou.

Esses três dias de Os descaminhos de Olavo de Carvalhoresguardo anunciados pelo Facebook me parece pouco para uma tarefa que faz tempo que tem sido deixada de lado por Olavo, que é escrever coisa séria. Poderiam ser até mesmo artigos sobre a atual conjuntura, com ideias que ajudassem o governo apoiado por ele a concretizar alguma coisa. O sujeito quer ser reconhecido como filósofo, mas virou um caçador de likes nas redes sociais. Fica o tempo todo escrevendo palavrões e dando sarrafadas em integrantes do governo que ele apóia. Vai acabar sendo lembrado apenas por isso e mesmo assim não será por muito tempo.

Algumas pessoas tentam fazer análises elaboradas, procurando encontrar um habilidoso plano nesse comportamento de moleque mal educado, mas podem fuçar nessas nojeiras todas que eu duvido que surja dentre as maluquices de Olavo de Carvalho algo além da aparência de um tremendo desvario de um sujeito que perdeu de vez o bom senso e que não sabe mais nem qual é seu próprio objetivo.

Publicado em José Pires - Brasil Limpeza | Deixar um comentário
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Rui Werneck de Capistrano

outra-daqueles-tempos

O Roberto Duailibi é um gentleman. No melhor sentido da palavra. Posso garantir que foi o único que tentou me ajudar em São Paulo. Quando comecei a enviar textos meus pra ele, pensei que ia me mandar às favas e me ignorar. Mas, não. Um dia, me ligou e disse que estava em São Paulo um grande publicitário do México — só sei que o chamavam por Pato, ou Patto — e estava recrutando redatores.

O Duailibi agendou um encontro nosso no hall de entrada de um grande hotel. Lá fui eu. Foi uma conversa até que meio longa. Eu iria trabalhar na capital mexicana e blábláblá. Só que duas coisas me perturbaram de imediato. Uma, eu estava bem com a Heloisa, e o Ruizinho era pouco mais que um bebê. Outra seria trabalhar no México, com meu parco inglês e castelhano só pro gasto — uma temeridade. E, mais, na agência dele os criadores trabalhavam por contas. Eu iria fazer dupla com algum estrangeiro ou mexicano e atenderíamos uma conta. O emprego estaria garantido enquanto a conta fosse da agência. Ops! Fiz as contas rapidamente e me imaginei trocando figurinhas com um gringo qualquer lá no México. Por um momento, lembrei do Ambrose Bierce engajando no exército de Emiliano Zapatta e se perdendo entre cactos, tumbleweeds e poeira. Até música do Enio Moricone ouvi! Seria desafiador, porém sem garantia nenhuma. A conversa foi agradável, mas tive que dizer pro Duailibi, depois, que não era pra mim. Aí, ele me convidou pra trabalhar na Interação.

O que eu disser da Interação é meu ponto de vista. Pode ser que esteja errado, mas foi o que senti naqueles tempos. Pois, aí, um dia a dona da agência me chamou e perguntou se eu tinha alguma coisa contra trabalhar dentro de um banco — que era cliente — e exigia uma agência dentro da empresa. Era o que se chamava house agency – agência da casa, né? Em Curitiba, eu já havia tido experiência atendendo diretamente os clientes, quase dentro das empresas. Tem milhões de pessoas dando palpites, criando junto, atravessando ideias… Anúncios e campanhas passam por diversos departamentos e… eu já tinha visto alguns anúncios daquele banco. Sei lá quem fez, mas eram ruins comparados aos de outros bancos. Fui direto dizendo à dona da agência que não queria ir trabalhar fechado no banco. Isso, com certeza, abreviou minha permanência lá.

Pra sempre grato com Duailibi, só tentei mais algumas agências em São Paulo. E me mandei da grande Meca publicitária diretamente pra Núcleo Sul — agência que atendia Tubos Tigre, em Joinvile. Aí, todo fim de semana eu pegava o ônibus e ia a São Paulo. Fui algumas vezes, só eu e o motorista, no ônibus do Circo Aéreo do Carlos Edo — outra figura ímpar que conheci — e uma vez com o jatinho da Cia. Hansen. Ainda morava com a Heloisa. Era bem mais perto do que o México, mas ajudou a acabar com nosso casamento.

RUI-19Rui Werneck de Capistrano não é bobo nem nada

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Playboy – Anos 60

1963|Victoria Valentino.Playboy Centerfold

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