Ticiana Vasconcelos Silva

E tá vendo a pinta bem no meio do peito? É a marca de um coração, de uma alma e de um espírito em um só corpo. A união de todos os aspectos. A matéria a serviço do universal. O amor incondicional. A veia do artista. O olhar do caçador. O alento do mistério. O segredo. O ímpeto de um ser que abdicou das construções ilusórias. A vitória. A luz que sai da vastidão. A condição mística da solidão. A incógnita da filosofia. A maestria. A dimensão abstrata. O símbolo da escuridão. O medo e a razão. Destino e prontidão que tremem diante da conclusão rápida de toda a desmistificação. O inepto desejo destruído. Eu, a maligna sensação do deserto. Como um cetro menor. Como a nota maior. Poluída pela miséria. Sorrateira como o inglório Deus da unção. Que se esquivou da tarefa de abrir a arca da divisão entre o mundo e a prisão. Forasteiros e terrenos. Gentios e mosqueteiros. Todos que mantiveram a distância do cemitério e do silêncio da injustiça. Para não dar continuidade ao sol que continua impassível. E não nos dá alívio. Pois somos a correnteza da inquietude. E se nos aquietamos, ficamos impunes. E se nos rebelamos, somos fios desalinhados. Do séquito senil e desentranhado das aldeias. Meros beatificados das ideias mínimas e  dos predomínios da ficção. Perdemos a definição da destreza da distinção entre o norte e a solução rápida, tácita e pronta a dizer não. Pronta a atacar a mais séria criação. Por isso, descrevo o que me faz agir sem ação. O sábio, o mágico, o destemido coração.

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Tudo pela morte

Extinguir a vigilância eletrônica que reprime acidentes é agir contra a vida

As asnices oficiais, a um só tempo tristes e anedóticas, juntam-se ao blá-blá-blá sobre a Previdência e formam uma névoa que encobre certos atos de irresponsabilidade ou de má-fé no governo. Até mesmo com grande potencial de ameaça à vida.

Embora em Israel, Jair Bolsonaro propalou um exemplo desses atos, cuja alucinação é comprovável em números captados por meio eletrônico. Pela internet, interrompeu a participação na campanha eleitoral da direita radical israelense e comunicou o fim, à medida que acabem os contratos, da vigilância eletrônica das velocidades em rodovias federais —as lombadas eletrônicas ou radares fixos.

Não teve cerimônia em expor seu raciocínio: “É quase impossível você viajar sem receber uma multa”. Culpa dos radares. Não lhe ocorreu que multas respondem ao abuso de quem dirige, e não do radar. Do próprio Bolsonaro, pois, nas idas dos fins de semana em Angra dos Reis. Onde, por sinal, o ímpeto desordeiro submeteu-o a outro tipo de multa, por invadir estação ecológica vedada à presença humana, por uso de motor de popa e pesca proibida na área. O fiscal do Ibama que o multou foi demitido há dias.

A eficiência dos radares está comprovada pela redução de mortes nas estradas que os têm. E ainda pelo aumento de 50% dos registros de infração em 2017-18. Extinguir a vigilância eletrônica que reprime a provocação de mortes, portanto, é agir contra a vida. Coerente em governo que promove o uso de armas, porém mais uma atitude contrária ao povo desprovido de governo.

Bolsonaro armou-se também de um argumento ao gosto popular: “Por que queremos acabar com isso? É a indústria da multa, é para meter a mão no seu bolso, nada além disso”. É ainda a campanha da mentira. O pagamento das multas é recolhido pelo governo, sem participação das concessionárias.

Não é diferente, senão na forma, a providência de Sergio Moro como ministro da Justiça: uma comissão especial para estudar os tributos incidentes sobre os cigarros. Bem entendido, para a possibilidade de que o ministro sugira a redução. Em toda parte, mesmo no Brasil e apesar da força dos fabricantes e da publicidade, há sempre mais medidas para reduzir o consumo de tabaco, em especial o do cigarro. Apesar da astronômica arrecadação que a indústria cigarreira representa para os governos, a luta da medicina se impôs contra essa causa de doenças horríveis e mortes prematuras. É uma vitória de alcance mundial.

O ministro da Justiça nada tem a ver com tributos. O pretexto é o contrabando de cigarro paraguaio, que, na verdade, nem sempre é paraguaio: é brasileiro mesmo, dá umas voltinhas e figura como estrangeiro contrabandeado. Contrabando é reprimível com ação policial eficaz, cuja responsabilidade, no caso, é do ministro da Justiça interessado em tributos que baixem o preço do cigarro brasileiro.

Cigarro mais barato é estímulo a consumo maior. No mínimo, à contenção da constante queda. Logo, é um modo de disseminar doenças e mortes em maior número, sobretudo entre jovens e os mais pobres, uns e outros com menos dinheiro disponível. Missão injustificável que Sergio Moro se atribuiu. Ou aceitou. Em favor da única indústria que tem um lobby equivalente ao das armas, se não mais forte.

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Na mão direita

Galileu, sob ameaça de tortura, teve que se desdizer e afirmar que a Terra não se movia em torno do Sol. Calado, dizia a seus botões: “mas que se move se move”. Digo aqui, sob risco de tortura, que o messias brasileiro não é nazista. E aos meus botões confesso: apenas porque não é de esquerda.

A grande, fundamental, seminal e definitiva questão brasileira: o nazismo foi de direita ou de esquerda. Para quem? Evidente que para você, eu e cinquenta milhões de brasileiros matando cachorro a berro ela não diz nada. O nazismo está lá atrás, quase oitenta anos, e dele restaram preconceitos, neonazistas e comportamentos nazistas – aqui no visível e radical genocídio praticado todos os dias na África e na Ásia, sem sequer a pausa do purgatório em campos de concentração.

Direita e esquerda perderam o sentido depois da queda do Muro de Berlim, de Rússia e China neocapitalistas. Os dois apedeutas brasileiros que, na falta do que dizer e do que fazer, resgatam a distinção nem sabem de onde ela se origina. Mas os apedeutas, à sua maneira tosca e pedrês, pensam que sabem – com eles é essa dificuldade, pensar e saber. Ao jogar o nazismo para a esquerda ele cai no colo da oposição ao Messias da classe média furibunda e imediatista.

Ou seja, Lula, Gleisi, Dirceu et peterva são nazistas. Temos que reconhecer que a oposição cuspiu para o alto ao acusar nosso Messias de nazi-fascista. Melhor ficar fora dessa briga de macacos, que combatem com tiros de merda. Só cabe aqui a ponderação, digamos, etnológica: no Brasil, esquerda e direita só definem a mão que empunha o papel higiênico. Eis a fonte do pensamento bolsoignárico: os messio-ignáricos usam a mão direita. Esquerda, só nas bundas e mãos nazistas.

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Votar sem saber direito

Democracia é assim mesmo. Você vota e só depois vai saber o que fez

Os britânicos estão às voltas com as complicações decorrentes da sua dramática decisão de sair da União Europeia, decretada por um referendo em junho de 2016. É o famoso brexit, que está diariamente no noticiário e que, nós, que não somos ingleses nem europeus, tentamos acompanhar sem entender direito. O imbróglio envolve a primeira-ministra Theresa May, o Parlamento, os outros países e, agora, o próprio povo britânico, que parece se dar conta de ter feito besteira ao votar pela saída.

Por coincidência, eu estava em Londres por aqueles dias e no próprio dia do referendo. O qual me interessava muito pouco, diante da temporada de revivals de musicais clássicos americanos rolando nos teatros, como o de “Show Boat”, “Guys and Dolls” e outros. O problema é que, ao entrar e sair de cada teatro, eu me defrontava com os cartazes cobrindo as paredes da cidade, mostrando a severa figura de sir Winston Churchill dizendo sua frase, pronunciada, imagino, na Segunda Guerra: “Brits don’t quit” —um jogo de palavras significando, ao mesmo tempo, que os britânicos não desistem nunca, nem fogem da raia.

O cartaz insinuava que, se Churchill (1874-1965) estivesse vivo e fosse, de novo, primeiro-ministro britânico, o Reino Unido não sairia da União Europeia. Fã de Churchill, isso me fez decidir logo para que lado torcer no referendo. Veio o dito e acompanhei nas ruas os resultados. Os britânicos desmentiram Churchill: 51,9% votaram por sair; 48,1%, por continuar.

Hoje, com as grandes empresas europeias deixando Londres e com a perspectiva de um futuro sombrio para os ingleses em matéria de indústria, comércio, finanças, imigração e turismo —tudo por causa do brexit—, vê-se que eles votaram obedecendo a um impulso, sem saber direito no que estavam votando.

Democracia é assim mesmo. Você vota e só depois vai saber o que fez. Mas, aí, já era.

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Playboy – Anos 60

1965|Sally Duberson. Playboy Centerfold

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Ex-presidente da Vale vai receber R$ 40 milhões

Fabio Schvartsman, presidente afastado da Vale, terá direito a receber cerca de R$ 40 milhões quando deixar o cargo oficialmente, publica O Globo. O pacote de saída de Schvartsman inclui desde cláusulas de ‘não competição’ até a antecipação de suas stock options. O Antagonista

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Vejam só que festa de arromba

Um breve relato das comemorações na sede do PMPC

O Doutor Darth Vader dos Santos e o Pastor Herodes da Silveira acordaram cedo naquele domingo e rumaram para a sede do PMPC (Partido Macho Pra Caralho), que fica num antigo prédio no centro do Rio de Janeiro. Os dois líderes estavam empolgados com as mensagens do governo federal, estimulando o povo a comemorar o aniversário do movimento democrático de março de 1964.

Eles tinham combinado uma reunião com as principais lideranças do partido e alguns aliados políticos, para festejar a data em grande estilo. Quando chegaram na sede, já estavam lá os deputados Deletério Malandrini, Roubildo Ladravázio e Pastor Estelionelson, além dos senadores Fraudêncio Propinato e Ilícito Furtosa. E seus assessores já tinham providenciado o material para os festejos: champanhe, revólveres, rifles AR-15, vuvuzelas verde-e-amarelas e bandeiras brasileiras.

Mas o senador Fraudêncio Propinato reparou que estava faltando alguma coisa. “Temos que fazer uma chuva de papel picado!”, ele disse, e completou: “Tem um monte de Bíblias aqui…”

“Não! As Bíblias, não! De jeito nenhum!”, disse o Pastor Estelionelson. “Por que vocês não usam isso?”, e apontou para alguns exemplares da Constituição e da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Imediatamente, Ilícito Furtosa e Roubildo Ladravázio, os mais hábeis em trabalhos manuais, pegaram tesouras e começaram a cortar as páginas. Em pouco tempo, eles já tinham um monte de papel picado. Com o problema resolvido, foram todos para as janelas. Enquanto uns sopravam as vuvuzelas, outros davam tiros para o alto e agitavam bandeiras brasileiras. Ao mesmo tempo, alguns gritavam “Ustra Presente!”, e lançavam no ar os papéis picados.

Lá embaixo, na rua, dois cidadãos de bem sorriram ao ver a comemoração. Mas um deles se abaixou para pegar um pedaço de papel picado e falou, indignado: “Que absurdo! Esses idiotas estão emporcalhando a rua com essa merda! Você viu? Isso é um pedaço da Declaração Universal dos Direitos Humanos!”.

O outro pegou um pedaço de papel e disse: “É verdade, esses caras não têm noção. Eles deveriam utilizar um material melhor. Podiam ter usado uns livros do mestre Olavo“.

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O escritor Marcio R. Garcia participa do projeto Aventuras Literárias nesta quarta-feira

© Divulgação

A Biblioteca Pública do Paraná realiza nesta quarta-feira (3) mais um encontro do projeto “Aventuras Literárias”, com a participação do escritor e quadrinista Marcio R. Garcia, que conversa com o público infantojuvenil sobre o livro O pato Euzébio. O evento acontece na Seção Infantil, às 14h30, com entrada gratuita.

A obra, que é a segunda incursão do autor pela literatura infantil, conta a história de Euzébio, um pato aparentemente comum que acaba se distanciando de seus pares.

Marcio R. Garcia é formado em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com especialização em Literatura e Cultura. É autor, entre outros, do livro infantil O menino e a lua (2014) e da história em quadrinhos Silence (2017).

Serviço: Aventuras Literárias”, com Marcio R. Garcia. Dia 3 de abril, às 14h30, na Seção Infantil da BPP. R. Cândido Lopes, 133, Centro — Curitiba/PR. Entrada franca. Mais informações: 3221-4980.

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Teorias psicanalíticas Freudianas

© Myskiciewicz

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Naomi Campbell. © TaxiDriver

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No Museu do Holocausto…

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Tempo

Ligia Kempfer e Julinha, a filhota. © Bill Matsuda, 2009.

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Racinha teimosa

Um nome é um nome, é um nome, é um nome, como a rosa de Gertrude Stein. Explique ao cara que faz mofa de Voldisnei Kuchuminsk, garboso em sua placa profissional ali na região do Paraná Imprevidência. Tem gente que se orgulha, “porta bem” o nome, como o gabiru da Ilha de Marajó que atendia por ‘Charles de Gaulle da Silva’.

Brava gente, perpetua a tradição. Um invejoso jura que Voldisnei batizou de Estanlei seu primogênito. Devoção a Stan Lee? A Stanley Kubrick, talvez? Quem sou eu para falar? Não fosse a mãe, os filhos atenderiam por Marciano Antonino e Francisco Xavier. Filhas? Cândida da Imaculada Conceição e Maria Auxiliadora de Fátima.

Um nome é um nome, nada além. O nome não dota o portador dos atributos, virtudes e defeitos da inspiração. Seria a tragédia de Marciano e Auxiliadora. Mas há os que acreditam nas virtudes – e nos defeitos, para eles virtudes – do nome. Muito além do que pretenderam os pais. Um exemplo: Jair Messias.

Melhor – ou pior – Jair Messias Bolsonaro. Nem pai nem mãe queriam para o filho aquilo de Via Dolorosa, beber vinagre, levar estocada de centurião, morrer pregado na cruz. Nem mesmo com a recompensa da adoração ou da salvação dos homens. Fosse humilde pescador ou cabo do Exército, estaria de bom tamanho.

Acontece que Jair acreditou ser o Messias. E, como o outro, convenceu 40 milhões de carentes a acreditar que era o Messias. Carrega alguns sinais disso, o carisma, a estocada na costela. Só faltava a Jair Messias converter os judeus. Para isso, partiu à Terra Santa. Sabe nada, o inocente, foi brincar com o povo de Israel.

 prometeu salvar Israel da sanha palestina. Convincente, trouxe para sua entronização o chefe dos fariseus, Binyamin Netanyahu. Duas luas depois segue em procissão para Jerusalém, prometida sede de sua igreja – assegurando ao fariseu que “juntos alcançaríamos grandes feitos”.

Prático, o fariseu queria a santa sé bolsoignara em Jerusalém, mas o Messias a manteve em Tel Aviv. Em Jerusalém será instalada a lojinha dos fuzis de brinquedo. Foi o Messias do diz e desdiz reconhecer direitos aos palestinos. A peregrinação, prevista para três dias, O novo Messiasdurou dois. O Messias, deficiente nas parábolas, ofendeu judeus e palestinos.

Não se brinca com judeu, “racinha teimosa”, disse a professora dos judeus de Curitiba. Teimoso, o fariseu cortou um dia da peregrinação do Messias. Israel não mais podia garantir a segurança do Messias. Se Jesus fosse como este Messias, em vez da cruz morreria vendendo peixe de Jerusalém. Na terra da jabuticaba os brasileiros carregam sua cruz: o Messias Bolsonaro.

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