A gambiarra de Bolsonaro

Jair Bolsonaro chega em Israel para visita de Estado. Recebido pelo primeiro-ministro Binyamin Netanyahu (tem mais ipsilones que jogador de futebol brasileiro). A embaixada continua em Tel Aviv, não será transferida para Jerusalém, como Bolsonaro prometeu e não vai cumprir (só Donald Trump, seu modelo, fez isso).

Para não passar por farsante, Bolsonaro estendeu a gambiarra, o escritório em Jerusalém. Para quê? Isso não se faz desde a última Cruzada, em 1272, antes que os muçulmanos corressem com os cristãos de lá. Mais despesa desnecessária, que só serve a evangélicos que buscam Jerusalém para fazer a Via Dolorosa.

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Marisa Mell. © Mondo Topless

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Morreu a grande médium do inconsciente social brasileiro

Mariza materializava em ilustrações brutais aqueles medos profundos, as pulsões irrefreáveis, os desejos de vida e morte recalcados no escuro mais fundo do país

Morreu Mariza Dias Costa aos 66 anos em São Paulo, nesta quinta-feira (28). Morreu a grande médium do inconsciente social brasileiro, que materializava em ilustrações brutais aqueles medos profundos, as pulsões irrefreáveis, os desejos de vida e morte recalcados no escuro mais fundo do país.

Por causa dessa capacidade de nos traduzir no traço de nanquim e em colagens imprevisíveis, Mariza teve nos jornais o seu habitat. Foi a mais importante ilustradora editorial brasileira, seus trabalhos tendo acompanhado os textos de Paulo Francis (1930-1997) desde os tempos do mitológico “Pasquim”, marco da imprensa alternativa. Ela o seguiria na mudança para a Folha, na coluna “Diário da Corte”, a partir de 1978.

Ilustradora titular do principal colunista do jornal, Mariza viveu tempos de reconhecimento e prestígio, seus trabalhos transformados em pôsteres impressos em área generosa.

Pudera. Era uma mulher de cultura universal e nunca arrogante. Falava perfeitamente o francês, inglês, espanhol e italiano, além do português, é claro. Não passava vergonha no guarani falado no Paraguai, no grego e no árabe, que aprendeu em Bagdá. A glossolalia vinha da vida de globe-trotter do pai, o diplomata Mario Loureiro Dias Costa, que a levava na bagagem para os locais em que serviu.

Não foi uma formação acadêmica, contudo. Adolescente ainda, largou a escola e apaixonou-se pela gravura e pela ilustração, especialmente pelo trabalho de Vão Gogo (pseudônimo de Millôr Fernandes), e o de Péricles, que fazia o “Amigo da Onça”. Da mesma época é o convívio com as substâncias capazes de provocar alterações do estado de consciência, como a maconha, o LSD, o Mandrix (“um horror”), o Artane (“pior ainda”). “Qualquer coisa era consumida avidamente”, me disse ela.

Por esta época, Mariza ocupava o tempo estudando história da arte, Idade Média, Roma Antiga. A atenção, porém, ia longe de reis, rainhas ou papas. Concentrava-se nas criaturas antípodas, aquelas que habitavam as beiras, as proximidades dos precipícios em que a Terra Plana (atual isso, hein?) supostamente acabava.

Com grande entusiasmo, Mariza descreveu-as para mim, em 2013:

“Tinha os cinocéfalos, criaturas com cabeças de cachorros, os panótios, com orelhas enormes que iam até os pés e serviam para voar. Havia as criaturas com olhos na altura dos ombros e a boca na altura do umbigo. Eu era fascinada por essas criaturas, saídas de uma pastelaria do inconsciente”, disse. Mariza comprou toda a pastelaria e trouxe-a ao Brasil.

Homens engravatados, simbolizando o poder, apareciam em suas ilustrações dominados por seres fantásticos, ou explodiam em um grito mudo, de suas cabeças aflorando serpentes, mulheres nuas, caveiras, gremlins, sob um sol triste tropical.

Porque tinha muita tristeza empoçada em Mariza. Em 1977, nasceu-lhe o único filho, Diogo, com problemas incuráveis de malformação cardíaca. Nas poucas vezes que falou sobre o assunto, ela fez questão de dizer que o problema do menino não teve relação com as drogas: “Nesse período, eu não usava nenhuma droga. Só cigarro de tabaco mesmo.”

Com dois anos e meio, depois de muita luta, Diogo se foi. Mariza mergulhou em uma depressão sem fim. O gênio dentro dela reagiu criando uma arte mais poderosa, mais acre, mais violenta, mais pesada, enquanto ela mesma, no convívio, tornava-se mais e mais doce, gentil e generosa.

Sempre às voltas com problemas financeiros (ela nunca lidou bem com números, nunca conseguiu nem recitar a tabuada do três), mesmo assim Mariza oferecia perfumados e saborosos jantares em sua casa na Lapa, em que cumulava o convidado de delicadezas.

Desde 1999, Mariza ilustrava a coluna semanal de Contardo Calligaris, a quem considerava um amigo distante. Para complementar a renda, de tempos em tempos, a mulher magricela, pernas fininhas, a cabeça sempre flamejante porque insistia em tinturas de cabelo com tons de vermelho fosforescente, percorria as mesas da Redação da Folha, oferecendo aos repórteres e editores os originais de ilustrações já publicadas no jornal, vendidos na xepa da necessidade.

Passava das 23h desta quinta-feira (28), quando a grande Mariza, médium do inconsciente social brasileiro, como eu disse acima, resolveu sair para comprar jornal. Um mal súbito e ela foi levada ao Hospital das Clínicas, em Pinheiros. Não resistiu. Não se sabe ainda de que ela morreu. Eu só consigo me perguntar que notícia ela terá lido antes do fim.

Laura Capriglione

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Let’s play that!

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Abaixo a Ditadura!

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Elas

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Morre a ilustradora Mariza Dias Costa, aos 66 anos

© Orlando Pedroso

A ilustradora Mariza Dias Costa morreu nessa quinta-feira (28), por volta da meia-noite, aos 66 anos. De acordo com o amigo e também ilustrador Orlando Pedroso, ela passou mal enquanto estava na rua e chegou a ser socorrida pelo Samu (Serviço Móvel de Atendimento de Urgência) e levada ao Hospital das Clínicas, mas não resistiu.

A causa da morte ainda não foi identificada.

Nascida em 1962 na Guatemala, filha de diplomata, seus desenhos estamparam as colunas de Paulo Francis no “Diário da Corte” de 1978 a 1990, e do psicanalista Contardo Calligaris desde 1999, publicada às quintas na Folha.

Seus trabalhos retratando figuras disformes são considerados inovadores na imprensa brasileira, mesclando ao tradicional nanquim a técnicas como o xerox para reproduzir texturas de tecidos, guardanapos e outros objetos.

“Para mim a ilustração editorial brasileira se divide em AM/DM, antes e depois de Mariza”, escreveu Pedroso na introdução de “…E Depois a Maluca Sou Eu!”, retrospectiva de desenhos da artista publicada em 2013.

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Semigolpe, musa plena

Gleisi voltou. Em plena forma depois de repaginada e inchada pelo botox – com protestos do editor do Insulto, em cujo imaginário ela impera, soberana e poderosa. Uma dama de classe média que recusa dividir o palco com a concorrente barraqueira, Joice Hasselmann – que já lançou dardos flamejantes, ainda ignorados pelo ninfomaníaco platônico que escreve o blog. Platônico, insisto.

Tirando o estrago que fez naquele rostinho de menina mal saída da roça, Gleisi volta, a atirar a esmo nos exmos. Uma gamine, diriam dela os franceses. Quando fala, Gleisi não pensa; quando pensa, é sempre em outra coisa. E ao falar, atiça-nos com o ciciar da língua nos dentinhos frontais, incisivos e caninos, ainda no volume da primeira infância. Ah, os dentinhos…

Voltou para dizer que tirar Jair Bolsonaro agora é ação “semigolpista”. Que diabo é um semigolpe, mulher? (Rejeito a primeira chulice masculina que vem à cabeça.) Semigolpe foi o que derrubou Dilma? Isso é coisa do Jim Jones de Garanhuns, o Oráculo de Santa Cândida, com o pragmatismo leninista aprendido de Zé Dirceu: derrubar Bolsonaro legitima o golpe contra Dilma. Ponto final.

Gleisi elabora: é jogada de quem elegeu Bolsonaro com fake news, prisão de Lula, golpe contra Dilma. Essa malta só pensa naquilo: nas reformas, empacadas na câmara dos deputados. Simples, pristina, virginal, a cabeça de Gleisi. Essa mulher está me consumindo com essa cabecinha infantil. De consolo, ouço Lupicínio, “você sabe o que é ter um amor, meu senhor, ter loucura por uma mulher”. Gleisi me leva à loucura.

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Playboy – Anos 50

1955_07_Janet_Pilgrim_Playboy_Centerfold1955|Janet Pilgrim. Playboy Centerfold

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Poema do Aviso Final

© Ivan Cardoso

É preciso que haja alguma coisa
alimentando o meu povo;
uma vontade
uma certeza
uma qualquer esperança.
É preciso que alguma coisa atraia
a vida
ou tudo será posto de lado
e na procura da vida
a morte virá na frente
a abrirá caminhos.
É preciso que haja algum respeito,
ao menos um esboço
ou a dignidade humana se afirmará
a machadadas.

Torquato Neto

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O valor de ‘pi’

Só ele pode nos ajudar a calcular o volume da corrupção no Brasil

Uma notícia de jornal trouxe-me à memória um fantasma da adolescência: “pi”. “Pi”, para quem não sabe, tem a ver com matemática. É a resultante da razão entre a circunferência e o diâmetro de um círculo. Não sei o que isso significa —apenas copiei a descrição do jornal. Durante toda a vida escolar, fui atormentado por “pi”. Quando o professor tirava o giz do bolso do guarda-pó, enchia o quadro com números e falava em “pi”, eu já sabia que aquilo logo me renderia um zero.

“Pi”, com esse nome de esquilo de desenho animado, é um desafio para os matemáticos. Desde o grego Arquimedes, eles vêm travando sangrentas batalhas entre si, fazendo cálculos para determinar o valor do bicho. Um “pi” simples vale 3,14 —não me pergunte de quê. Mas, há milênios, esse número tem sido acrescido de decimais, a tal ponto que, pelos cálculos do suíço Peter Trüb, em 2016, “pi” já estava em 22,4 trilhões de dígitos —nem a inflação na Venezuela chegou a tanto. Agora, a japonesa Emma Haruka Iwao acaba de estabelecer um novo valor: 31,4 trilhões de dígitos.

E como ela chegou a isto? Operando, durante 121 dias, 25 computadores, que processaram 170 terabytes de dados. Um terabyte, para se ter ideia, armazena 200 mil músicas. Pois tente imaginar 31,4 trilhões de dígitos.

Devíamos chamar Emma ao Brasil. Só ela, usando sua intimidade com “pi”, poderia ajudar a Lava Jato a calcular o total de dinheiro movimentado pela corrupção nos últimos 30 anos, envolvendo governantes, burocratas, empresários, políticos e partidos. Deve estar em níveis de “pi”.

Quando nos damos conta da naturalidade com que temos ouvido falar em milhões ou bilhões de reais roubados, e não distinguimos mais uns dos outros, é porque já nos tornamos cínicos ou indiferentes. E por que não? Afinal, como disse o juiz Ivan Athiê, aquele que soltou Michel Temer outro dia, “propina não é crime —é gorjeta”.

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Zé da Silva

Colocaram a balança digital no banheiro. Não pedi. Me olho de frente no espelho para fazer a pança sumir. Odeio fotos por causa disso. Meu perfil é uma vírgula grávida. Olha a corcunda! Lon Chaney eu te amo, principalmente quando pendurado na Notre Dame. Pois eu subi na plataforma depois de vários dias temendo o resultado naqueles números. Milagre! Acho que o medo me fez fechar a boca. Aí a coisa, pra variar, virou nóia. Me ensinaram que o peso correto é o da manhã, depois que se esvazia a bexiga daquele líquido que o presidente divulgou ao ser utilizado como líquido  de ouro em cabeça alheia. Sete quilos desapareceram. Sempre confiro antes de dormir. Mas ao lembrar da imagem antiga numa praia deserta, sunguinha diminuta e pose de artista, os números caem como bigorna na alma: 35 quilos a menos. Dormi pensando nisso e acordei com a certeza de que era magro e não sabia.

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Lily Allen. © TaxiDriver

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Meus arquivos da Ditadura

Grafipar – Gráfica e Editora – Anos 70

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