Ela vai fazer uma propaganda para prevenir o suicídio e a automutilação. “Pouca gente de fato consegue perceber que por trás de uma rotina aparentemente normal pode haver um profundo sofrimento”, dirá a modelo na campanha.
A gente não faz anos; os anos é que fazem a gente. Fazem a gente ser o que já foi, o que somos agora, ser o que um dia seremos e deixar de ser o que um dia já fomos, até não sermos mais coisa nenhuma. Fazem delícias e misérias com o corpo que temos, nos fazem iludidos com o que não temos, fazem o passado ser primeiro inesquecível e depois esquecido. Com os anos estamos feitos, sem eles nada feito, com os anos a experiência vem, sem eles se vai a esperança, com eles estamos com tudo, sem eles sobra contudo, com eles contemporâneos e conterrâneos, sem eles apenas o subterrâneo, com eles a existência, sem eles a desistência. Os anos são a melhor prova que a vida nos aprovou.
Dizem que Bolsonaro é burro, que tudo que diz e faz é absurdo, minhoca, sem pé nem cabeça. Eu concordaria, com uma condição: que Dilma foi mais burra – e aquilo que vem a seguir ao ‘burro’ de Bolsonaro na frase anterior. Mais burra, sim senhor. Explico. Bolsonaro não esconde a burrice e o despreparo. O mundo e as ideias para ele reduzem-se ao genérico “isso tudo aí”. Ser burro não é problema. Problema é se achar inteligente. Melhor só meu colega de UFPR, que dizia “sou burro mas não represento”. E nunca representou, pois nunca foi ator.
O presidente admite que teve dificuldades no ensino fundamental e, humilde, reconhece que fez curso de português à distância – ia escrever ‘por correspondência’, mas tenho orelhas sensíveis ao cacófato. Seu curso superior foi a academia de Agulhas Negras, não uma universidade mineira ou paulista. Não seguiu o rumo do estrelado comum aos militares, os cursos de estado-maior e da Escola Superior de Guerra. Bolsonaro deixou o exército e caiu no baixo clero da política, ou seja, deixou o céu por ser escuro e foi ao inferno à procura de luz.
Dilma foi bailarina infantil, pai fugitivo do comunismo búlgaro; cursou as cadeiras optativas da guerrilha, estudou economia, assessorou Leonel Brizola como secretária das Finanças do Rio Grande (?!) Tem doutorado fake no currículo e fez o que fez como presidente – pior, nada fez. Suas contribuições à inteligência estão no feminino em tudo, da comandanta do avião presidencial ao presidenta. Sem esquecer o teorema da mandioca e na maravilha da ‘mulher sapiens’. Se alguma viúva petista concordar, afirmo a burrice do presidente.
O habeas-corpus conseguido pelos advogados do ex-governador Beto Richa no Tribunal de Justiça do Paraná, que o tiraram da terceira prisão, depois de 17 dias, começou a ser questionado nos bastidores a partir do resultado apertado da decisão dos desembargadores: 2 a 1. O relator, desembargador José Maurício, foi voto vencido na sua tese de manutenção da prisão ocorrida no âmbito da Operação Quadro Negro. Quem conhece o intrincado relacionamento e influência familiar entre os poderes na capital paranaense desconfia que a relação próxima do Legislativo e do próprio Executivo, além da Ministério Público, no caso do posicionamento do representante contra a ação do próprio MP, podem ter pesado no resultado. O novo relator da Quadro Negro será o desembargador Francisco Rabello Filho porque, por ser voto vencido, uma norma do Regimento Interno do TJ, cuja constitucionalidade é contestada, tirou o caso das mãos de José Maurício. Uma varredura em cargos comissionados no Executivo foi feita para encontrar parentes diretos dos protagonistas no julgamento. Deu positivo.
No Brasil, ao fim de qualquer espetáculo, todos se levam e começam a bater palmas
Glenda Jackson, a atriz britânica, acaba de estrear com “Rei Lear” na Broadway. Ela é danada. Nos anos 90, trocou sua carreira no cinema e no teatro por uma cadeira no Parlamento, candidatou-se a prefeita de Londres pelos trabalhistas e foi cogitada para o cargo de primeira-ministra. Voltou ao palco e, há tempos, foi homenageada numa cerimônia em que estavam presentes diversas categorias de cabeças coroadas. Quando seu nome foi anunciado e ela surgiu no palco, a plateia a aplaudiu de pé por longos minutos. Glenda esperou os aplausos silenciarem, sorriu e disse: “Em Londres, não aplaudimos de pé”.
Aplausos, tudo bem —ela diria—, mas por que de pé? Representar direito o papel é a obrigação do ator. O aplauso sentado é mais que suficiente.
Sempre foi assim. Ao surgir no cinema, com filmes como “Delírios de Amor” (1969) e “Mulheres Apaixonadas” (1971), de Ken Russell, e “Domingo Maldito” (1971), de John Schlesinger, foi como se viesse de um planeta mais adulto que o nosso. De saída, ganhou dois Oscars —que aceitou, mas não foi receber. E, embora fosse filha de um pedreiro e de uma faxineira, nunca escolheu seus papeis pelo que lhe renderiam em dinheiro, mas pelo que exigiriam dela como atriz. Aliás, o cinema nunca foi sua primeira opção, daí ter feito poucos filmes. O teatro, sim.
Se fosse uma atriz brasileira de teatro, Glenda Jackson teria de repetir todas as noites sua advertência sobre aplaudir de pé. No Brasil, assim que qualquer espetáculo termina, todos se levantam e, tenham gostado ou não, começam a bater palmas. Se já se começa pelo aplauso de pé, o que será preciso fazer quando tivermos realmente gostado de um espetáculo?
Neste momento, haverá outra atriz no mundo disposta a encarar o papel de Rei Lear? É uma peça de três horas e meia e serão oito récitas por semana. Glenda está com 82 anos. Isto, sim, é caso para aplaudir de pé.
O povo adora apedrejar pecadoras e detesta quem as perdoa
Talvez uma das passagens mais famosas do Evangelho seja aquela em que umas pessoas trazem uma mulher aos prantos, envergonhada, e a jogam aos pés de Jesus. Ela tinha sido pega transando com outro homem que não o seu marido. Um horror até hoje. Uma adúltera (que não tem nada a ver com Maria Madalena!).
As pessoas que a levaram perguntaram a Jesus se ela não deveria ser morta por apedrejamento, como rezava a lei de Moisés. Era uma armadilha para testar se Jesus era fiel às leis de Israel ou se era algum tipo de herege.
É fácil imaginar que leis como essas visavam garantir a fidelidade da mulher e, com isso, a paternidade dos filhos. Esse negócio de sexo é coisa séria demais para deixarmos nas mãos dos idiotas de gênero. Façamos um exercício literário bíblico. Na Bíblia, outro personagem muito famoso, que para os cristãos era ancestral de Jesus, o Rei Davi, passou por uma semelhante. Davi se apaixonou por Batsheva (Betsabá), mulher de um dos seus generais mais fiéis.
Davi, segundo a tradição, escreveu os Salmos. Homem de coração apaixonado, ambicioso, libidinoso, mas profundamente sincero, e Deus gosta dos corajosos, sinceros e humildes. Ele engravidou a mulher do general (logo, ela era uma adúltera) e armou uma situação para parecer que ela estava grávida do marido. Em seguida, armou outra para o general morrer na guerra que estava acontecendo ao norte do reino israelita. O militar morreu, mas a história não colou. Davi queria que sua amada escapasse do apedrejamento que “merecia” por lei. Mas não adiantou, o povo foi atrás. O povo adora apedrejar adúlteras e detesta quem as perdoa. O povo odeia o perdão.
As pessoas clamaram pelo apedrejamento da adúltera às portas de Jerusalém, inclusive porque os homens santos diziam que a seca infame que Israel sofria àquela altura era castigo pelo adultério real. Davi se recusou a entregar sua amada e foi pedir a Deus, pessoalmente, na tenda onde ficava a Arca da Aliança, para que perdoasse Batsheva e o punisse, afinal Davi era o rei, enquanto ela era uma coitada que tinha de obedecê-lo —apesar de saber que ela também o amava e o desejava, portanto, também era responsável pelo pecado do adultério.
Sendo Davi ele mesmo um pecador por ter armado tudo que armou, deveria ser destruído pelas chamas do céu ao tocar a Torá, na qual só os puros poderiam encostar.
Mas não. Deus o perdoa e faz chover sobre Israel. A sinceridade de Davi, reconhecendo que ele mesmo merecia morrer, e não ela, e o pedido para que ele fosse castigado, e não ela, faz Deus ficar comovido. O povo, impressionado, aprende ali que Deus é misericordioso e que a lei não esgota a relação entre nós e Ele.
Davi se casa então com Batsheva, e deles nasce Salomão: o futuro rei sábio da Israel antiga, autor, segundo a tradição, dos livros de sabedoria israelita, entre eles o Cântico dos Cânticos, uma história de amor proibido.
Davi, na tradição judaica, é o bem-amado de Deus, o preferido entre os heróis do Antigo Testamento. Por quê?
Quem somos nós pra saber o que se passa no coração de Deus, mas talvez Davi seja querido justamente porque sabe que não merece o perdão e não o barganha —no lugar disso, pede que ele salve a mulher amada.
Deus não resiste à sinceridade e ao amor verdadeiro, que pode custar a vida de quem ama. Por isso, o caminho mais reto para o coração divino é a verdade. A verdade comove o coração da divindade israelita. Voltando a Jesus e à adúltera, a reposta dada pelo Cristo é famosa. Ele reconhece que a mulher pecou, e ela também, e que a lei é a lei. Mas pede que aquele que tiver o coração puro atire a primeira pedra.
Jesus, como Deus na história de Davi e Batsheva, comove-se com a dor da mulher humilhada e desafia os “puros” de coração a aplicar a lei. Ninguém atira a primeira pedra, porque não existem os puros de coração, pelo menos entre os que assim pensam de si mesmos.
Essa passagem é fundamental para uma época com tantos santos desfilando pelo mundo. A Bíblia nos ensina que a virtude não está onde parece se revelar, orgulhosa de si mesma (evidente contradição, não?). A virtude está no desespero de Davi diante do possível apedrejamento da mulher que ele desgraçou. A virtude está naquela adúltera desesperada pega em pecado evidente diante dos seus juízes.
Enfim, a virtude está no pecador que sabe quem é. Por isso, uma das velhas e maiores máximas do mundo bíblico é: só os pecadores verão a Deus.
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