Uma vaga lembrança

Nelson Padrella

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Ah, esse Favretto

Carlos Marun está fora do conselho de Itaipu, para o qual foi nomeado no apagar das luzes do governo Temer. Decisão liminar do desembargador federal Domingos Favretto. Para quem ainda não sabe, Marun é aquele gordinho de cabelo escovinha que peitava todas as encrencas como ministro de Michel Temer.

O ex-ministro foi a única visita durante a curta prisão preventiva do ex-presidente. Se a liminar foi pelo cabelo, a barriga ou a visita não é coisa de esquentar a cabeça, pois há ministros do STJ para cassá-la. O desembargador Favretto é aquele que cantava com o ex-Sergio Moro a música dos Beatles: You say yes, I say no, You say stop and I say go.

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Liquidações sob suspeita

No Brasil qualquer estabelecimento coloca um anúncio de liquidação nos seus produtos e serviços – e pronto, supostamente há descontos entre o preço final e o apresentado. Será que isto é verdadeiro?

Há vários casos de consumidores que compram um produto e no dia ou na semana seguinte o estabelecimento coloca aquele mesmo produto em liquidação. Ou ainda, na suposta troca de estoque da loja, fazem descontos em produtos encalhados, sem que se investigue a verdadeira razão daquilo. Ou,  pior ainda, muitas vezes o produto tem qualidade duvidosa ou está com algum defeito de fábrica.

Muitos consumidores se conformam diante do preço baixo e aceitam pagar menos por algo de qualidade inferior ou duvidosa.

Na França há dois períodos de liquidação no ano. Se o comerciante utilizar o termo liquidação fora do prazo oficial pagará uma multa em torno de 285 mil reais. Os produtos são somente aqueles do estoque antigo e não os adquiridos recentemente.

Estuda-se a proibição da venda de produtos abaixo do preço de custo para evitar a concorrência desleal das grandes redes de varejo nos países civilizados. Esta prática é comum no Brasil – e é o que acaba com as pequenas e médias empresas, concentrando os preços em poucos grupos econômicos. Assim, autoriza-se a concorrência desleal e a formação de cartéis e oligopólios.

No Brasil há promoções que variam pela quantidade com a distribuição de produtos e serviços gratuitos. Por exemplo: o consumidor compra um produto e leva outro de brinde, ou se comprar uma caixa leva um brinde maior.

Na verdade não existe brinde, pois este produto ou serviço está incluído na venda. Neste sentido, há a venda casada que é proibida pelo Código de Defesa do Consumidor. Seria uma venda casada com o brinde, pois este não é vendido em separado. E se o for deve ter um desconto proporcional ao da liquidação.

Há estabelecimentos que estão em liquidações permanentes, mas não há nenhuma explicação aos consumidores das razões pelas quais ela existe.

Em resumo, há falta transparência nas liquidações no Brasil e a legislação está longe de acabar com as práticas comerciais que enganam ou falseiam os supostos descontos nas liquidações aos consumidores.

Por vezes se proíbem as trocas em produtos comprados em liquidações, ou nas vésperas de lançamento de coleções novas liquidam-se as coleções supostamente antigas quando na verdade se trata apenas de produtos que estavam encalhados.

No fundo, as liquidações devem ser enquadradas como propaganda enganosa, que é proibida pelo Código de Defesa do Consumidor caso não se comprovem os reais motivos da suposta redução dos preços. No Brasil, entretanto, não se entende desta forma.

Países com critérios legais rígidos para as liquidações estimulam o consumo consciente, a boa fé e a ética nas relações de consumo.

Muitas vezes os consumidores são induzidos a comprar produtos desnecessários e supérfluos simplesmente pelo fato de estarem em liquidação e, por exemplo, com a data de validade por vencer nos próximos dias.

Quem não gosta de pagar por algum produto ou serviço abaixo do preço convencional? Contudo, há sempre alguma razão por detrás desta venda e o consumidor, a rigor, deveria ter conhecimento das razões desta redução.

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Flagrantes da vida real

Girondino. Largo São Bento, São Paulo. © Orlando Pedroso

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Vendendo a alma de graça

Já parou para pensar por quanto você está vendendo sua alma para Face e Google?

Há uma pegadinha nas tentativas, ao meu ver necessárias, de buscar a quebra da dominação quase absoluta de Google e Facebook em serviços de busca online e redes sociais, duas das mais novas e indispensáveis atividades da vida contemporânea.

A pegadinha é a seguinte: como Google e Facebook são gratuitos, a dominação que têm do mercado não se traduz em cobrança abusiva de preço aos seus consumidores finais. E cobrança abusiva de preços é o maior abuso contra a economia de monopólios ou cartéis que precisam ser combatidos.

Claro, Google e Face cobram dos anunciantes, que usam cada vez mais seus serviços para fazer anúncios, mas não de seus consumidores diretos.

Por isso, autoridades europeias estão usando um outro medidor de abuso econômico contra essas gigantes americanas: seu poder excessivo de coletar dados dos usuários, que lhes dá uma vantagem enorme diante dos concorrentes.

Na economia da informação, saber é poder. Já saber os dados íntimos de bilhões de consumidores é muito poder, que se traduz em lucros bilionários.

É justamente essa coleta intensa e abrangente de dados que faz Face e Google serem tão dominantes. Com isso eles conseguem vender aos anunciantes onde, quando e o que querem seus bilhões de usuários, informações valiosíssimas para o mercado publicitário e seus anunciantes (sim, no final quem roda essa roda é a boa e nova propaganda).

Reguladores europeus agora estudam como combater esse virtual monopólio que reduz a competição e a inovação, forças vitais do capitalismo. Eles já decretam multas bilionárias e avaliam medidas mais profundas, como forçar as gigantes a compartilhar os dados coletados dos usuários com outras empresas.

A baixa regulação do Estado sobre as empresas é uma das forças da economia americana e de suas megatechs, mas mesmo nos EUA grandes empresas foram sistematicamente divididas e reguladas quando se tornaram grandes demais —caso de petroleiras e bancos em séculos passados, por exemplo.

A propaganda, insisto sempre, continua sendo a alma do negócio. A coleta de dados tem tanta relevância econômica porque ela permite às companhias anunciantes, como nunca antes na história, encontrar o consumidor certo na hora certa para vender seus produtos e serviços.

Por isso Google e Facebook, em poucos anos, passaram as redes de TV americanas e se tornaram os maiores canais de faturamento publicitário —e com méritos, dada a eficiência do modelo montado em cima do fluxo infinito de dados gerados por seus bilhões de usuários.

Nessa nova corrida do ouro, a Amazon, que também sabe muito do que as pessoas estão consumindo por ser um site de compras tão abrangente e popular nos EUA, está cada vez mais investindo para se tornar uma plataforma de publicidade com poder exorbitante.

A demanda pela atenção desse consumidor-alvo, que está fazendo busca do que deseja no Google, comprando na Amazon ou navegando na rede social, é tão grande que ela é vendida em leilões instantâneos cada vez que acessamos esses sites.

Importante então saber que, assim como não existe almoço grátis, muita coisa na web que parece sem custo na verdade custa caro.

Google e Facebook não cobram dinheiro pelo uso de seus maravilhosos serviços. Mas cobram conhecer e compartilhar com o mercado seus dados mais íntimos e reveladores. Você já parou para pensar por quanto você está vendendo sua alma? No final, quem não está cobrando é você.

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Duke

© Duke – O Tempo (MG)

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Tempo

No Polaco da Barreirinha: Antonio Thadeu Wojciechowski, Bárbara Kirchner, (Lucky Leminski) Paulo Lemiski Neto e o cartunista que vos digita, em algum lugar do passado.© Anderson Tozato

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Joice Hasselmann e Kim Kataguiri no ringue do Twitter

A semana começa com brigas e não é só troca de tabefes entre namorados, como na relação de Jair Bolsonaro com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Agora tem furdunço de Joice Hasselmann com Kim Kataguiri, coisa muito feia, com troca de insultos pesados pelo Twitter. O bate-boca começou com Kataguiri fazendo críticas ao PSL, que levou Joice a investir sobre ele com uma ferocidade que nada tem a ver com os papéis de ambos. Ela é líder do governo Bolsonaro. O deputado é líder do MBL é um apoiador do governo e ativo apoiador da reforma da Previdência. Deviam estar de namoro firme.

“Oportunista”, “cara de pau”, “moleque”, foi um show no Twitter depois que Kataguiri chamou a atenção do PSL sobre incoerências do partido na relação com Rodrigo Maia. O quiproquó é o efeito visível da tática brucutu de Bolsonaro na relação com o Legislativo. O conceito “negociação” virou palavrão, a partir de suas repetidas falas sobre o toma-lá-dá-cá. O desentendimento se espalha, como conseqüência previsível do que o presidente vem fazendo.

Joice foi uma escolha errada de Bolsonaro. Seu perfil não se enquadra de jeito algum na necessidade de equilíbrio, articulação e capacidade de convencimento, essenciais no cargo. Mas aí é uma questão de padrão do gestor Bolsonaro. No embate pelo Twitter, Kataguiri lembra inclusive o tratamento que Joice dava ao presidente da Câmara, outro empecilho para colocá-la como articuladora entre políticos.

Quando atuava como jornalista, ela era uma atiçadora das redes sociais. Segundo a tuitada de Kataguiri, a deputada afirmava que Maia “era o Demônio na Terra, o arqui-inimigo da Lava Jato, o símbolo-mor da corrupção”, o que é verdade. Era o estilo, digamos, jornalístico dela, uma incansável caçadora de audiência e likes.

A investida agressiva de Joice sobre Kataguiri chega a ser uma insanidade política. Primeiro, ele vem defendendo a pauta do governo. E hoje em dia o deputado é líder de uma rede eficientíssima de comunicação na internet, com militância em cidades de todo o país. O ativismo lhe deu quase quinhentos mil votos em um estado eleitoralmente difícil como São Paulo. Sem Bolsonaro pedir voto para ele. O apoio do MBL aconteceu apenas no segundo turno, como voto útil. Nenhuma outra entidade ativista tem a organização e capacidade técnica do MBL, além da empatia com jovens conservadores. Como líder do governo, Joice deveria atuar para estreitar laços com Kataguiri e seu grupo. Política é isso, sem o entendimento de Bolsonaro de que negociação é um lixo.

Mas a desastrosa intervenção de Joice não para por aí. Na sua reação a Kataguiri ela usa o conceito de juventude como desprezível pejorativo. Chama o líder do MBL de “moleque”, como se isso fosse xingar a mãe. Bem, isso vai totalmente contra o discurso da “nova política” contra a velha política, evidentemente uma risível cascata, mas é o que eles repassam por aí. Nos xingamentos ao deputado e líder do MBL, a líder do governo estigmatiza sua juventude como condição de despreparo, desonestidade e vagabundagem.

Não é preciso saber muita coisa de comunicação para entender o efeito disso na relação com os jovens animados com política e ávidos para influir no debate, muito próprio da juventude e altamente saudável para a democracia. Ao usar a palavra “moleque” como um pesado pejorativo, numa época em que isso é um cumprimento até carinhoso, Joice demonstra o que não é novidade para quem conhece seu currículo: ela é capaz de jogar tudo fora quando perde as estribeiras.

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Troopie. © Suicide Girls

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A vivandeira de volta aos bivaques

O Marechal Castello Branco, um dos líderes e primeiro presidente do regime instalado com o golpe de 1964, criticava os radicais que tentavam levantar os militares para fazer mais radical a repressão política. Falava das “vivandeiras [vendedoras de comida] que rondam os bivaques [acampamentos de tropas] agitando os granadeiros”.

Quarenta e cinco anos mais tarde, Jair Bolsonaro, uma criança na época do golpe, um militar que não se ajustou à disciplina da caserna, elege-se presidente e orienta os quartéis a celebrarem o golpe de 1964. Os militares têm celebrado, mas de forma discreta, eles sabem que há feridas ainda não fechadas pela repressão.

Ao rondar os bivaques e agitar os granadeiros, Jair Bolsonaro faz a vivandeira de plantão, papel para o qual os ministros militares e radicais civis de seu entorno recomendam contenção. Perda de tempo, o presidente é daqueles que sofre de impérvia, a trava cega, irracional, invencível, incorrigível, intransponível.

Do modo como já se desgastou a relação de Bolsonaro com o Legislativo e o Judiciário, parece que é exato o que o presidente quer: mais um golpe, com apoio daqueles que, como ele, não viveram o regime de 1964. Se ele fosse inteligente, organizado, articulado, seria a interpretação correta para sua proposta de celebrar o golpe.

Nada de subestimá-lo. Ninguém imaginava que viesse a ser eleito – até que o PT se engasgasse na gula e o destino pusesse a faca na mão de Adélio Bispo. A história tem tantos casos… Mobutu Sese Seko (na foto) era sargento no exército colonial francês, liderou golpe militar, promoveu-se a general e ficou 32 anos (1965/1997) no poder do Zaire.

Mobutu levou à miséria um país rico e ao enriquecimento de sua família pobre. O coronel Hugo Chávez tentou duas vezes e conseguiu o apoio militar para essa Venezuela que Jair Bolsonaro diz que se alimenta de ratos. Falta um certo refinamento para Bolsonaro igualar-se aos dois. Mas nem precisa. Com os filhos, os olavos, o cabo e o soldado ele chega lá.

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Todo dia é dia

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© Kleber. Charge Online

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Elas

Nina Becker. © Jorge Bispo

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De volta ao amadorismo

Em arte e cultura, perguntar pelo dinheiro pode ser de novo uma ofensa

A história é conhecida. Em 1956, no Rio, o jornalista Lucio Rangel apresentou o jovem Tom Jobim a Vinicius de Moraes no bar Villarino, como sendo o homem que Vinicius procurava para musicar sua peça “Orfeu da Conceição”. Para Vinicius, se Lucio Rangel o indicava, é porque Tom devia ser bom mesmo. E fez com a cabeça algo como “Ótimo!” ou “Vamos nessa!”. E, então, Tom perguntou: ”Tem um dinheirinho nisso?”. 

Lucio quase caiu de seu copo de uísque. Recuperou-se e esbravejou: “Tom, este é o poeta e diplomata Vinicius de Moraes!! Como é que você me fala em dinheirinho??” —como se o simples fato de trabalhar com Vinicius fosse remuneração suficiente. E Tom, já quase querendo se matar, balbuciou: “É que… eu preciso pagar o aluguel!”.

Bem, Tom e Vinicius saíram dali parceiros e o que fizeram juntos, pelos seis anos seguintes, entrou para a história. E teve, sim, um dinheirinho para Tom. Mas o que interessa aqui é a ideia de que, em 1956, o teatro e a música popular ainda eram uma operação romântica, em que falar de dinheiro era quase uma ofensa. Dava-se de barato que os artistas trabalhassem pela glória e só almoçassem de vez em quando.

Mas, a partir dos anos 70, o Brasil se profissionalizou. A arte brasileira ingressou no capitalismo e todos lucraram: os artistas, os produtores, o público, o país. O mundo se encantou com o que fazíamos, e isso só foi possível porque nossos artistas já podiam viver de sua arte.

Mas o mundo gira e, de repente, regredimos a 1956. Desde 2015, quando Dilma Rousseff quebrou o país, o dinheiro sumiu. Incontáveis projetos na área da arte e da cultura foram cancelados; outros tantos nem saíram do papel. E, sob a ignorância ou má-fé dos beleguins de Jair Bolsonaro, a Lei Rouanet virou palavrão. Na área cultural, o Brasil dispara de volta rumo ao amadorismo. Perguntar pelo dinheirinho pode ser, de novo, uma ofensa.

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