Benett, o Grande. Prometi anunciar este fim de semana o quinteto básico do Plural. Então vamos lá. Eu já disse que um dia meus filhos, quando eu falar que trabalhei com o Alberto Benett, vão achar que eu estou inventando, pra parecer que sou grande coisa.
Uma das vantagens do Plural vai ser deixar isso bem documentadinho. De parceiros de coluna, agora viramos sócios num projeto que, na definição do José Lázaro Jr., é “o barco que providenciamos pra esse dilúvio”.
Não tem o que falar do Benett. Baita quadrinista, grande chargista, gente fina pacas. E além de tudo, pai do Gabriel e da Melinda. Uma honra combater a teu lado, meu rei.
Um filme de 1962, “The Manchurian Candidate” —no Brasil, intitulado em idiotês “Sob o Domínio do Mal”—, de John Frankenheimer, trata de um soldado americano capturado pelos chineses na Guerra da Coreia. Eles o submetem a uma lavagem cerebral, que o torna passível de controle por um agente externo à simples visão de uma carta de baralho, a dama de ouros.
O militar é devolvido aos EUA e envolvido numa trama cujo fim é o assassinato do candidato republicano à Presidência, em plena convenção do partido, e sua substituição pelo vice, um aparente direitista hidrófobo secretamente sob as ordens de Moscou.
Lembrei-me do filme ao ler no New York Times que o FBI está investigando o presidente Donald Trump por suspeita de colaborar com a Rússia contra os interesses do país.
A história é a de que, farejando ligações perigosas entre Trump e os russos na campanha eleitoral de 2016 —entre outras, Trump disse que a Rússia deveria hackear o email de sua rival democrata, Hillary Clinton—, o diretor do FBI, James Comey, iniciou uma investigação. Trump venceu, tomou posse e demitiu Comey. Mas o inquérito continuou, sob o comando do procurador Robert Mueller. A dúvida agora é se, ao demitir Comey, Trump não estaria praticando crime de obstrução da justiça —o que, nos EUA, leva a um processo de impeachment— ou, pior ainda, trabalhando para a Rússia, o que, no passado, rendia cadeira elétrica.
Minha teoria é a de que, numa incursão a um bordel de patas —sim, existe— em Moscou, há anos, Trump foi narcotizado e submetido a uma lavagem cerebral para adotar o discurso mais insano possível, de modo a ganhar a confiança dos eleitores desencantados com o raciocínio lógico e se eleger presidente dos EUA.
Imagine, Trump comunista! Se o FBI estiver certo, e geralmente está, vai-se descobrir que sua indefectível gravata vermelha já era um sinal.
O PT é bastante experiente e seus dirigentes têm senso de oportunidade quando isso lhes convém. Do mesmo modo, a presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann, sabe agir com pragmatismo quando precisa disso para se livrar de encrenca ou tirar proveito político. Fez isso, por exemplo, na última eleição, quando manteve a imagem de brigadora pela causa, mas espertamente recuou nas pretensões pessoais, deixando de tentar a reeleição para o Senado e saindo candidata a deputada federal, numa disputa em que a máquina do partido faz a diferença de forma mais efetiva. Nesta opção, conseguiu também trabalhar politicamente um eleitorado menor, mais simpático à relação intensa dela com o presidiário Lula.
A ex-senadora e agora deputada é uma espertalhona, neste caso muito mais habilidosa que, por exemplo, Roberto Requião. O ex-senador pelo Paraná resolveu enfrentar a parada pela reeleição, mesmo com o risco de ter passado todo seu mandato colado à Lula e depois ao governo Dilma Rousseff, tendo atuado também contra o impeachment e por consequência mantendo-se na memória do eleitor como cúmplice do desastre político e social que todo mundo conhece muito bem. Chega a ser engraçado ver Requião, em vídeos feitos após a derrota, reclamando de terem ligado sua imagem ao PT. Pois foi exatamente este risco que Gleisi não correu, desistindo de tentar uma reeleição em um estado onde o PT não é bem visto.
Essa capacidade de precaução e o tremendo senso de oportunidade se choca com a viagem de Gleisi Hoffmann para a posse de Nicolás Maduro, prestigiando um dos governantes mais repudiados mundialmente. E cabe destacar que foi como presidente do PT que a deputada levou o apoio ao ditador venezuelano. Qual é o sentido de um gesto desse numa situação tão complicada para o partido do Lula, agora na oposição a um duro adversário no Brasil?
Até parece um erro, mas não é bem assim. Gleisi Hoffmann, Lula e os demais dirigente do PT sabem muito bem que a presença do partido na posse de Maduro é mais uma nódoa a impregnar a imagem petista. Vai se juntar às tantas outras manchas que desacreditam os petistas nos mais variados assuntos. Hoje em dia, petista não tem credibilidade para fazer crítica alguma. Qualquer simpatizante do PT que tenta apontar defeito mesmo nos piores adversários sabe do que estou falando. Sempre aparece algo pior que o PT já fez.
A presença de Gleisi Hoffmann como presidente do PT na posse do ditador Maduro lembra muito o beija-mão a Fidel Castro, feito por Lula e depois por Dilma Rousseff como presidente, em clima de veneração e obediência. Eram cenas que politicamente seria melhor serem evitadas, por isso deve-se suspeitar que o regime cubano tinha poder suficiente sobre o PT que exigia a presença dos dois governantes brasileiros. Era uma obrigação. É provável que um dia ainda apareçam as provas que expliquem tamanha afeição, até hoje protegidas pelo regime castrista numa muito bem guardada caixa preta que quando for aberta determinará a mais triste desonra da esquerda brasileira.
A relação intensa do PT com um regime político como o de Maduro talvez possa ser explicada, da mesma forma, também pelos laços anteriores que mantém o chavismo com o controle sobre o partido de Lula presidido pela deputada Gleisi. São misteriosas interações políticas e financeiras, não se sabendo ainda de que montantes e com quais implicações pessoais. Só muito rabo preso, em reprováveis relações subterrâneas, pode justificar o apoio a um regime nefasto, repudiado de uma forma quase unânime em todo o mundo. No rescaldo do desastre provocado pelo chavismo na Venezuela ainda aparecerá uma caixa preta com as revelações do passado, mostrando ao mundo os laços dessa paixão política que torna inseparáveis o PT e o governo Maduro.
A recente Lei nº 13.786, de 27 de dezembro de 2018, dispôs sobre o consumidor e a compra de imóvel na planta, ou seja, sobre a incorporação imobiliária.
Toda lei nova gera a dúvida se ela está ou não de acordo com a Constituição. Esta, em particular, prevê que:
A construtora pode atrasar 180 dias a entrega do imóvel a partir da data estipulada no contrato e não pagará nenhuma multa ou terá qualquer punição contratual por isso.
Após os 180 dias, terá mais 60 dias para devolver o dinheiro ao consumidor; então, terá uma carência total de 240 dias.
Se apesar de tudo isso o consumidor quiser receber o imóvel, a construtora pagará 1% de multa, independente das prorrogações.
Outra coisa: a multa de desfazimento ou desistência do consumidor em seu desfavor, poderá ser de 50% (cinquenta por cento), descontadas diversas despesas que podem acrescer esta porcentagem, sem limitações legais.
Igualmente o prazo para a devolução dos valores pagos pelo consumidor será de 180 (cento e oitenta) dias após do desfazimento do contrato, podendo o valor ser dividido em 12 parcelas mensais, isto é, mais um ano após os 180 dias.
Esta lei é resultado da atuação de um Congresso Nacional em final de mandato.
Em 2018 a Câmara dos Deputados Federais se renovou em 43,7% e o Senado Federal em 87%. Uma mudança significativa, quase cinquenta por cento de novos deputados e quase noventa por cento de novos senadores.
Na verdade, houve uma corrida contra o tempo para a aprovação da lei aqui abordada, sem profundas discussões, ou interlocução com sociedade e os consumidores.
Foi promulgada e publicada no apagar das luzes do final da legislatura, dia 27 de dezembro de 2018.
Desde 1990 o Código de Defesa do Consumidor prevê que é proibido ao fornecedor de produtos ou serviços exigir vantagem manifestamente excessiva do consumidor. É o que justamente aconteceu com os dispositivos desta lei que prevê prazos excessivamente elásticos e devoluções de arrependimento completamente absurdas.
A Constituição Federal prevê, desde 1988, o princípio da defesa do consumidor. Ela é como um filtro contra novas leis que rebaixem ou anulem as proteções e garantias conferidas aos consumidores.
Portanto os conteúdos desvantajosos aos consumidores e excessivamente favoráveis às incorporadoras e construtoras com esta nova lei não estão de acordo com a Constituição e, portanto, são claramente inconstitucionais.
Aguardamos que o Poder Judiciário analise isto e declare a inconstitucionalidade desta lei – na sua quase totalidade.
Em nosso país, muitas vezes, o Poder Legislativo comete equívocos em desfavor dos consumidores. A nosso ver, foi exatamente isto que ocorreu.
Em 1992, fui a Laranjeiras entrevistar Antonio Nássara para meu livro “O Anjo Pornográfico”, sobre Nelson Rodrigues. Nássara era um formidável caricaturista e autor de letras eternas do Carnaval, como a do samba “Meu Consolo é Você”, de 1939, e da marchinha “Alá-lá-ô”, de 1941. Mas, em 1929, Nássara fora também paginador do jornal Crítica, de Mario Rodrigues, pai de Nelson, e era sobre isso que eu queria conversar. Na véspera, dona Iracema, sua mulher, me passara o endereço e a hora em que eu poderia visitá-lo.
Ao chegar, ela me avisou: “Ele está muito surdo. Use isto para fazer as perguntas” —e me passou um bloco tamanho A2 e uma caneta Pilot. Aos 83 anos, Nássara estava com a memória inteira. A cada pergunta que eu rabiscava, dava-me respostas riquíssimas em detalhes. Só que aos gritos, como se estivesse falando para alguém tão surdo como ele. Ou quem sabe ele quisesse se escutar.
Nas últimas semanas, temos ouvido discursos, exortações e até hinos traduzidos em Libras, a língua brasileira de sinais. A princípio, pareceu-me apenas uma demagogia politicamente correta, o que, no caso de Jair Bolsonaro, seria uma contradição em termos —demagogia, sim; politicamente correta, não. Mas, de repente, somos informados de que o Brasil tem 10 milhões de surdos —e que bom que, até que enfim, eles estejam sendo lembrados. Fiquei me perguntando como seria viver num mundo de silêncio, a salvo da exasperante cacofonia das ruas, mas também privado de ouvir música ou a voz de alguém querido.
Todos conhecemos uma folclórica categoria de surdos, aqueles que usam um aparelhinho no ouvido e o desligam quando não querem escutar um chato ou inconveniente.
Talvez passível de lhes oferecer surpresas, é o que vem se passando com muitos eleitores de Bolsonaro —que, mesmo podendo ouvir perfeitamente, só estão escutando o que lhes interessa escutar.
Os bolsonaristas que assumem como missão a defesa do governo que se preparem para responder por mais um recuo do presidente Jair Bolsonaro. A Empresa Brasil de Comunicação, a EBC, mais conhecida como “TV do Lula”, não será extinta. Seu fechamento era uma proposta importante da campanha de Bolsonaro.
Quem defendeu a candidatura dele sabe muito bem disso, pois deve ter compartilhado muito material bolsonarista lascando o sarrafo nos gastos com a “TV do Lula”. A EBC tem 2025 funcionários e custa R$ 680 milhões de reais anuais aos contribuintes.
A informação de que ela não será mais extinta é do ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz. Em entrevista ao jornal O Globo, o ministro disse que vão “racionalizar a empresa e otimizar seu orçamento”, destacando que será feito “respeitando os direitos dos funcionários que trabalham lá”.
Pois é, pelo jeito a questão não era com os altos custos nem a falta de necessidade de uma emissora estatal. O problema é que era a “TV do Lula”. Se for “TV do Bolsonaro” está tudo bem.
Oi, Fraga, talvez você ainda lembre de mim, tantos anos depois de ter escrito isto. Talvez não lembre mais, e o temor que isso aconteça é que me levou a deixar esse bilhete para eu mesmo, para mim mesmo.
Eu? Mim?
Eu e mim, são pronomes da primeira pessoa, Fraga. Primeira pessoa é você mesmo, quer dizer, nós mesmos: o Fraga que escreveu antes e o Fraga que veio (re)ler depois.
Agora escrevo com clareza e acho que domino o que digito. Nem posso imaginar como isso poderá vir a ser lido, nem consigo cogitar quando nem onde. Enquanto teclo este premeditado texto me vem a suspirada esperança de nunca vir a sentir que desconheço este bilhete a mim mesmo. Prometo me reler vez em quando, pra me habituar a reconhecê-lo.
Ao mesmo tempo, essa esperança se desdobra e se amplia: aspira que, se em algum tempo eu não mais reconhecer a própria identidade do autor deste recado a você (Fraga do futuro), que estas linhas provoquem um vago resquício de lembrança de quem foi o Fraga do passado, ambos um só. O mesmo.
Deste precioso fiapo, puxe uma nesga de outra coisa, e mais outra, e outra. Quem sabe desfie uma lembrança maior, e mais outra e outra. Quem sabe assim ressurja algum nítido contorno do Fraga que escreveu isso que você está lendo, texto este que podia ser mais simples e de mais ajuda para a condição de não-Fraga em que você possa estar, um dia, lendo isso.
Ah, Fraga, se você lembrar que escrevia torto assim, confuso assim, enviesado, que bom. E desse jeito restar uma pista autoral, levemente autorreconhecível, não estaremos tão perdidos nessa névoa. Essa coisa que hoje, às vezes, começa a obliterar certas palavras, tantos nomes, muitos rostos. Uma opacidade que nem tomografável é.
Sei lá se o verbo obliterar significará algo a você, Fraga. Logo você que, guri, costumava ler uma página de dicionário por dia. Que se divertia com jogos de palavras, que então não eram tão fugidias. Lembra? A enxurrada de sinônimos que desaguava na sua, minha, nossa mente, assim que se abria a torneira da imaginação. Recorda?
Outras pessoas, que conheceram e conviveram com o Fraga que fui, que fomos, virão ler outros textos, mostrar fotos, contar fatos. Tentarão fazer cosquinhas nas suas, minhas, nossas lembranças. Putz, vão tentar nos acordar de um sono de olhos abertos.
Porra, Fraga, escreva um help mais exato e direto pra você mesmo. Reescreva isso antes de publicar, Fraga. Ponha mais humor nisso, cara. Não me deixe esquecer do Fraga. Eu adorava ser eu.
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