Nuit # 1. Um filme de Anne Emond, 2011, Canadá, 1h31m. Clara e Nikolaï se encontram em uma rave. Eles vão para o apartamento de Nikolai e freneticamente fazem amor. Depois, em vez da separação, os dois amantes revelam os segredos mais profundos para um outro.
Nicolaï é um solitário, um com grande ambição. Aos trinta e um anos de idade, ele leva uma vida simples e frugal. Costuma ler os grandes clássicos da literatura, mas nunca termina um livro que começou. Incapaz de se submeter a qualquer horário, ele se encontra incapacitado para o trabalho. Tem grandes projetos e grandes ideias, mas, inevitavelmente, e apesar de si mesmo, as desperdiça antes que elas são realizadas.
Clara, como Nikolai, parece não ser feita para este mundo. Ela leva uma vida dupla. Durante o dia, trabalha como professora de terceiro grau; à noite, ela é uma compulsiva e quer exorcizar e esquecer suas esperanças. Sai toda noite, bêbada e drogada, combina alta tensão com desejos sexuais, ao mesmo tempo em que tenta desesperadamente preencher um vazio emocional.
São tentados a se animar por políticas de gênero comuns e divisionistas e, simultaneamente, têm medo de abraços, o atrito entre eles é superado por uma determinação comum para preencher a lacuna que eles percebem e que aflige mulheres e homens, de uma geração sem esperança.
Bate-cabeças é comum no início de todo governo. Sobretudo em governo sem nenhuma prática administrativa, com falta de liderança e excesso de vontade de aparecer. Mas o que tem ocorrido nesta fase inicial da jornada Bolsonaro, começa a preocupar. Sobretudo porque o desastrado matraquear tem partido, em regra, do próprio presidente.
Se me permitem a intromissão, está na hora de alguém segurar a língua do capitão. Ele levanta pela manhã lá no Alvorada entusiasmado com o cargo e deita falação, que precisa ser desmentida, corrigida ou adaptada logo em seguida por ministros e porta-vozes subalternos. O homem precisa ser avisado que já não está mais em campanha, e sim na presidência do País e que qualquer coisa que diga tem repercussão imediata.
Anunciou que havia assinado a redução da alíquota do IR e o aumento do IOF, e tirou da cama assustado o Secretário da Receita Federal. Obrigou também o ministro da Casa Civil e porta-voz de plantão a um equilibrismo verbal para concluir que o presidente havia se equivocado, e a assinatura referia-se à prorrogação dos incentivos à Sudene e à Sudam – o que nada tem a ver uma coisa com a outra. O mesmo aconteceu com a anunciada mudança na reforma da previdência, com a redução das idades para a aposentadoria. E lá veio o gaúcho Onyx com nova prestidigitação interpretativa.
A anunciada mudança da embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém, exigida por lideranças evangélicas (!), passou a sofrer resistência dentro do próprio Palácio do Planalto. O ministro da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, com o bom-senso que parece faltar aos paisanos governistas, acha a medida precipitada e não conveniente no momento. A conclusão coincide com o gentio cá da planície.
O mesmo acontece com a instalação de uma base militar norte-americana no Brasil. Bolsonaro, logo depois de ter sonhado com Trump, anunciou a iniciativa. Foi o que bastou para que milicada nacional se alvoroçasse. Na opinião de três generais e três oficiais superiores, ouvidos pelo Estadão, “a possibilidade de o governo do Brasil ceder espaço territorial para instalação no País de uma base militar dos Estados Unidos é desnecessária e inoportuna”.
Um dos chefes de tropa lembrou que acordos desse tipo só se justificam quando há risco de agressão externa fora da capacidade de reação e capaz de colocar em perigo a integridade da nação. “É o caso do menino fraco que chama o amigo forte para enfrentar os valentões da rua; estamos longe disso” – exemplificou.
E assim, aos trancos e barrancos, vai caminhando a caravana bolsonariana neste início de governo. Nem vou me referir aos tropeções diários da paranaense “Dilma…res” Alves, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, aquela do “menino veste azul e menina cor-de-rosa”, porque seria covardia. Cheia de ideias e de entusiasmo, língua incontrolável, a pobrezinha tem tudo para durar pouco na Explanada dos Ministérios. Há quem garanta que já subiu na frigideira… Outro no mesmo caminho é o chanceler Ernesto Araújo, aquele que pretende “despetizar o Itamaraty” e quando fala ninguém entende.
Põe ordem na tropa, excelência! E um cadeado na língua.
É tão absurda a resposta do general Hamilton Mourão sobre a nomeação de seu filho para um cargo no Banco do Brasil, que na primeira olhada pode-se pensar em alguma piada de adversários, nesses memes com ataques políticos compartilhados nas redes sociais. Parece fake news criada para complicar o governo de Jair Bolsonaro, mas foi mesmo postada no Twitter por seu vice. Mourão justifica a nomeação com a alegação de que foi por merecimento profissional de seu filho. Para a piada ficar completa, ele afirma o seguinte: “Em governos anteriores, honestidade e competência não eram valorizados”.
Como se a conseqüência política pudesse ser amenizada por uma suposta capacitação profissional do nomeado, que aliás não vem sendo contestada em lugar algum. Nem é citada. A questão é outra e de conseqüência muito grave. É provável que os longos anos de caserna, quando esteve protegido por uma forte couraça corporativista e longe dos olhos da opinião pública, tenha forjado no general uma personalidade insensível ao estrago que certos gestos podem infligir a um governo, tanto no respeito e confiança junto à população quanto nas relações com as instituições e os políticos. Daí sua dificuldade de entender a dimensão do problema da nomeação do filho que tanto admira.
Nunca se viu algo assim, em governo nenhum desde a redemocratização, até pelo fato de termos à nossa frente a dificuldade extra — até previsível quando foi montada uma chapa com dois militares — de uma confrontação de poder em que o dono da caneta (ainda que seja apenas uma esferográfica) é de patente menor. A questão da nomeação adquire uma dimensão ainda maior como o apoio público de Mourão. É óbvio que a manutenção do filho dele no cargo acaba com a imagem que criou o fenômeno Bolsonaro. Vai demolir a credibilidade do governo na articulação com os políticos, anulará a respeitablilidade junto à população e contribuirá para desmobilizar o apoio espontâneo nas ruas e nas redes sociais. E evidentemente deixará os petistas gargalhando de satisfação.
Como foi que o governo conseguiu montar uma questão tão destrutiva? Caso o presidente Bolsonaro não interfira prevalecerá a impressão de que afinou pela diferença de patente e de uma provável influência de Mourão junto aos militares. O conflito de autoridade é muito forte. O poder do presidente não chegará a mudar de mão, mas um naco razoável ficará com o vice. E caso Bolsonaro encare o problema, anulando a nomeação, abrirá uma divergência pessoal muito séria com seu próprio parceiro de chapa. A resposta para tudo isso dependerá do desenrolar do processo que já está em andamento, mas já é possível dizer que nem uma oposição altamente qualificada conseguiria criar uma encrenca tão séria.
Se esta eleição presidencial por grande maioria provou alguma coisa, é que nosso passado não tem mais nenhuma relevância política
“Desilusão, desilusão…” O samba Dança da solidão, do grande Paulinho da Viola, cantado pela grande Marisa Monte, seria um fundo musical perfeito para estes estranhos tempos.
Poderíamos chamá-lo de leitmotiv da nossa desesperança, se quiséssemos ser bestas. A desilusão começou quando? Dá para escolher. No fim da ditadura que o Bolsonaro diz que nunca existiu, quando Tancredo ia tomar posse como o primeiro presidente civil em 20 anos, mas os germes hospitalares de Brasília tinham outros planos? Depois viria o entusiasmo seguido de grande frustração com Collor, o Breve, tão bonito, tão moderno, tão raso, a desilusão com o PT e a desilusão com os políticos em geral, agravada com as revelações de que até grão senhores da República levavam bola.
E a desilusão com o 7 a 1, e a desilusão com a seleção do Tite, e a desilusão com a votação maciça para presidente de um homem notoriamente despreparado para o cargo por eleitores desiludidos e iludidos. Agora, os que claramente anseiam por heróis veem o Sergio Moro aceitar o Ministério da Justiça do novo governo, como recompensa (se não é, parece) por ter despachado o Lula para a cadeia ligeirinho e publicado a delação do Palocci contra o Lula dias antes da eleição. Até os mitos desiludem.
Por falar em escândalos… O samba do Paulinho também tem um verso que, ligeiramente adaptado, nos diz respeito: “Quando eu penso no futuro, não esqueço o passado”. Se esta eleição presidencial por grande maioria provou alguma coisa, é que nosso passado não tem mais nenhuma relevância política. A ditadura foi esquecida, até os generais estão voltando. Bolsonaro pode ter razão, a ditadura pode nunca ter acontecido, o golpe de 64 pode ter sido apenas um movimento de tropas, como disse o Toffoli.
Foi tudo um delírio, vamos esquecê-lo. Rubens Paiva, Stuart Angel, Vladimir Herzog, Manuel Fiel Filho e as centenas de supostos desaparecidos, podem voltar. Acabou a farsa. E façam suas apostas: o que vai ser esclarecido primeiro, o caso da bomba no Riocentro, do qual nunca se ouviu mais nada, ou o caso da Marielle, que também não?
A Professora (Ucitelka), 2016, Jan Hrebejk|Eslováquia-República Tcheca
Desde a chegada, em 1983, de Maria Drazdechova, uma nova professora, a uma escola no subúrbio de Bratislava, a vida de pais e alunos virou de cabeça para baixo. O comportamento inadequado da professora e uma tentativa de suicídio de um dos alunos que poderia guardar alguma relação com a problemática, fazem com que o diretor da escola convoque os pais dos alunos para uma reunião urgente, que de repente colocará em risco o futuro das famílias. Eles são convidados a assinar um pedido de transferência para a Sra. Drazdechova.
No entanto, as altas conexões da professora com o Partido Comunista fazem com que todos se sintam ameaçados, mas a essa altura não têm outra escolha senão tomar uma decisão. Será que eles ousarão desafiar Drazdechova e defender o que pensam contra todos os riscos ou permanecerão em silêncio e deixarão as coisas como estão?
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