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Mais uma vítima do rebranding
As nefastas consequências de uma ousada estratégia de marketing
Sei muito bem que o Brasil e o mundo estão passando por momentos terríveis e enfrentando problemas gravíssimos, mas hoje vou tratar de um perrengue pessoal e intransferível.
O caso é o seguinte: sou contrabaixista de um grupo de samba-jazz carioca que se chama CEJ (Companhia Estadual de Jazz). Esse nome é um trocadilho que só é compreendido no Rio de Janeiro e em poucos outros lugares, porque é uma referência à CEG (Companhia Estadual de Gás), empresa distribuidora de gás na região.
O problema é que essa companhia passou por um processo de rebranding e, a partir deste ano, atende pelo nome de Naturgy. Vejam bem, nós, da CEJ, já tínhamos muita dificuldade de explicar o nome do grupo, principalmente nas nossas turnês internacionais, em São Paulo, Belo Horizonte e Búzios.
A partir de agora, o nome CEJ (Companhia Estadual de Jazz) vai ficar ainda mais misterioso e incompreensível. E o engenhoso jogo de palavras vai se perder para sempre. É lamentável, e a culpa é do rebranding.
Outro processo de rebranding que aconteceu recentemente foi implementado pela equipe de propaganda e marketing do atual governo. Eles conseguiram emplacar novos significados para antigas expressões, como “homem de bem”, que agora é um substantivo masculino, aliás, macho pra caralho, cuja definição é: “Fanático religioso que adora armas de fogo e odeia mulheres, negros e gays”.
Outro termo que passou por um rebranding é o substantivo “comunista”, que agora significa: “Anormal que se preocupa com pessoas injustiçadas e menos favorecidas”. E tem mais: “novo” agora significa “velho”. A culpa é do rebranding.
Publicado em Geral
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É corrupção. Só que não
As situações concretas para o ministro Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública, explicar: então o dinheiro que a mãe de todas as empreiteiras, a Odebrecht, distribuiu adoidado para o Caixa Dois de todas as campanhas eleitorais no Brasil e no mundo, não era corrupção, assim, tão grave? E como fica o propinoduto do PT, partido que lavou milhões e milhões via campanhas eleitorais ( caixa Dois para os íntimos) para se manter no poder? Também foi crime menos grave?
Publicado em Sem categoria
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Ofertas irresistíveis
Capa do livro ‘A Sutil Arte de Ligar o Foda-se’
Para que ir a livrarias ou a lojas de rua ou de shopping?
Como um dos últimos usuários vivos do email, continuo recebendo mensagens com ofertas irresistíveis, enviadas à minha revelia e por gente que desconheço. Elas incluem desde comprar uma casa com vista para o Polo Sul na Patagônia até reservar um túmulo com xis megabytes no primeiro cemitério virtual, a ser inaugurado em breve pelo Google. Como não preciso de nada disto, apenas as deleto e vou tratar da vida. Mas uma mensagem recente da Amazon me abalou. Parecia um catálogo antigo da Sears e oferecia toda espécie de produtos a preços pela metade e entrega na minha porta em dois dias, com frete grátis. Era só ir abrindo as páginas até achar a seção que me interessasse —e clicar.
Algumas seções: eletrônica, celulares, computadores, bebês, brinquedos, jogos, macacões, ferramentas, material de construção, esporte, uniformes, aparelhos de ginástica, camping, barcos; moda, sapatos, guarda-roupas, joias, bijuterias, adereços, casa, cozinha, móveis, beleza, saúde, cuidados corporais e, talvez —cansei e parei de abrir as telas—, transportes: aviões, navios, submarinos.
Cada uma dessas seções se dividia numa infinidade de itens. A dos bebês, por exemplo, “disponibilizava” fraldas pró-ambiente, sutiãs para amamentação, indutores de arroto, peniquinhos vintage de ágata ou porcelana e “baby-sitter” artificial. A de cuidados corporais oferecia desodorante sabor cenoura, xampu pós-barba, creme para pele atópica, moldes para design de sobrancelha e manteiga ativadora de cachos. Etc.
Para não dizer que a Amazon não oferecia livros, procurei saber quais ela recomendava. Eram “Como Mentir com Estatística”, de Darrell Huff, “A Sutil Arte de Ligar o Foda-se”, de Mark Manson, e “Seja Foda”, de Caio Carneiro.
Para que ir a livrarias ou a lojas de rua ou de shopping se você pode ter essas maravilhas em sua porta a preço módico, em dois dias e com frete grátis?
Publicado em Ruy Castro - Folha de São Paulo
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Ainda faltam dois, Carlos
Alguém precisa dizer ao vereador Carlos Bolsonaro que para completar a limpeza que ele iniciou ainda faltam pelo menos dois marmanjos, que precisam ser afastados do pai com urgência – o “empresário” Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro e o “diplomata” Marcos Troyjo, atual secretário especial de comércio exterior e assuntos internacionais do Ministério da Economia…
Gustavo Bebiano, Paulo Marinho e Marcos Troyjo são crias legítimas do mais nefasto empresário brasileiro, o baiano Nelson Tanure, um homem para lá de perverso….Tanure e seu colega German Edromovich são conhecidos no mercado empresarial brasileiro como “urubus” – deixam-se atrair pelo cheiro da carniça exalado pelas empresas insolventes e atacam os despojos com a crueldade dos homens absolutamente sem coração…
O trio é também muito amigo, sabe de quem ? … do inefável José Dirceu, que há pouco tempo, todo alegrinho,disse que voltaria ao poder, sem ganhar as eleições…que ninguém o subestime: se Bebiano caiu, ele tem no poder seus outros dois amigos, Marinho e Troyjo, tudo farinha do mesmo saco…
AMIZADE ANTIGA
Marinho é amigo de Bebiano há mais de 30 anos…trabalharam juntos nos anos 2000 no Jornal do Brasil, quando este era comandado por Nelson Tanure. Marinho era o vice-presidente e Bebiano o diretor jurídico.
Chamado de “urubuzinho”, Troyjo apareceria no ninho algum tempo depois (2004), já transformado no homem da maior confiança de Tanure no comando do jornal Gazeta Mercantil, uma empresa em ruínas que eles acabaram de enterrar depois de embolsar mais de 500 milhões em dez anos de operação selvagem…Tanure e seus aliados, hoje empoleirados no governo, deveriam estar presos por trabalho escravo…
Inacreditável que o presidente Jair Bolsonaro ainda não tenha se dado conta de como pode ser perniciosa sua relação com Paulo Marinho…ele já foi sócio de Nelson Tanure em vários empreendimentos…depois, brigaram …
Com ajuda do impoluto Ricardo Boechat, Marinho detonou Daniel Dantas, o dono do Oportunity, para favorecer Nelson Tanure na disputa do controle acionário da telefônica canadense TIW…
Foi Gustavo Bebiano quem introduziu Marinho no clã de Bolsonaro…. E ele começou a nadar de braçada nas esferas de poder…cedeu sua mansão no Jardim Botânico (RJ) para gravação de programas do PSL e começou a frequentar a casa do presidente no RJ, sempre solícito como agem os grandes puxa-sacos…
Seu filho, André Marinho, é presidente do braço jovem do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), criado em 2003 por João Doria, governador de São Paulo. Foi André quem traduziu a primeira conversa de Bolsonaro com o presidente americano, Donald Trump.
E assim segue o baile…não será de espantar que Zé Dirceu, agindo nos bastidores dos bastidores — como ele gosta – recupere parte do poder que já teve, se é que já não recuperou…e que Nelson Tanure volte a frequentar os porões do poder em Brasília sem pagar o seu enorme passivo trabalhista
A menos que o pit-bull Carlos entre novamente em cena para estragar a festa…
E eu torço para que ele o faça…
O vento no laranjal brasileiro
Saio do Brasil por uma semana para visitar minha filha em Portugal. Mas saio apreensivo. Coração na mão. Houve uma série de tragédias neste início de ano. Há muitas coisas pendentes desses desastres. Como se não bastasse essa sensação de casa velha caindo que o Brasil nos transmite hoje, há ainda uma crise política, provocada pelo próprio governo.
Uma pena, porque os temas básicos precisam ir adiante: reforma da Previdência, combate ao crime organizado. Os liberais levaram um chega pra lá no caso do leite. O governo manteve restrições ao leite da Europa e Nova Zelândia. Falando de subsídios, a ministra da Agricultura afirmou: o desmame não pode ser radical. No mundo biológico, o desmame tem um momento de acontecer. Se deixar apenas pelo gosto de algumas crianças, a coisa vai longe.
O plano de Sergio Moro é voltado para mudar as leis, adaptá-las ao combate ao crime. Se forem aplicadas com seriedade, vão levar mais presos às cadeias? O que faremos com elas?
A última das minhas escolhas em política é falar de intrigas palacianas e familiares. Mesmo para contestar o ministro do Meio Ambiente, no caso do Chico Mendes, hesitei um pouco. Tenho vontade de deixar tudo isso pra lá, seguir focado no que importa.
É tudo tão subversivo para minha concepção de política que me sinto um pouco espécie em extinção. No mundo que se foi, presidentes reuniam-se com ministros, acertavam sua demissão e, em alguns casos, trocavam cartas diplomáticas de agradecimento etc.
Hoje, são demitidos pelo Twitter. Não é novo. Trump costuma usar esse método. Mas esse estilo de fazer política representa mesmo um avanço?
No caso de Bolsonaro, há um dado delicado. Ele divulgou uma gravação telefônica com um ministro. Presidentes não punem primeiro nas redes sociais . Nem costumam divulgar suas falas.
É um cochilo em termos de segurança nacional. Mas é, sobretudo, uma falta de consideração. Se houvesse alguma coisa a ser resolvida, deveria ter sido pessoalmente. Sem humilhações públicas.
O poder, isso é um lugar-comum, revela muito as pessoas. Sobretudo no princípio de governo, quando ainda estão embaladas pelo voto popular e ainda não sofreram o desgaste das limitações reais.
A tendência é um excesso de autoconfiança. Mesmo entre os generais, que são uma força moderadora e mais tranquila, às vezes surgem surpresas.
Na minha concepção política, os governos, de um modo geral, ao saber que serão criticados, apenas preparam-se para a defesa, que será proporcional às críticas e suas repercussões.
O governo brasileiro resolveu se antecipar às potenciais críticas que sofreria de bispos de esquerda num sínodo sobre a Amazônia. Nesse movimento, ele trouxe as atenções para as críticas que podem sair daí. O sínodo ainda não aconteceu. Dizem que o celibato dos padres será um dos temas. Por que não esperar que aconteça e reagir de acordo com os fatos reais?
Enfim, é tudo tão perturbador para uma visão mais clássica. Governos minimizam críticas, não criam um palco planetário para elas.
Um dado novo também é a importância dos filhos de Bolsonaro nas crises políticas.
Como um sobrevivente do século XX, impossível não levar em conta a intensidade da relação pai e filho. Não usaria jamais a frase redutora: “Freud explica”. Arriscaria apenas dizer que ele fornece algumas pistas.
O que me parece fato neste momento é a intensidade emocional deste governo, as rivalidades, as tramas, os ciúmes. A experiência mostra que existe um antídoto para as veleidades pessoais: é a existência de um projeto comum, algo que nos transcenda.
A retirada do Brasil desta crise, as necessárias reformas, tudo isso deveria falar mais alto. Mas não fala. A própria insegurança estrutural pela ausência de uma cultura de precaução só aparece nas primeiras semanas pós-desastre.
Quando este governo se instalou, dispus-me a ficar atento e, se necessário, fazer uma crítica construtiva. Mas esse projeto se esvaziou um pouco. Daí minha apreensão. Será preciso, em primeiro lugar, libertá-lo dessa tendência autodestrutiva.
Tratem-se bem, cuidem uns dos outros, vivemos num país quase em ruínas. Isso é o pressuposto para trabalhar com a sociedade, levá-la para as mudanças que deseja.
Publicado em Fernando Gabeira - O Globo
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Outro queremismo
Jair Bolsonaro nomeou o general Floriano Peixoto para o lugar de Gustavo Bebianno. O presidente ou não conhece a História ou, caso conheça, não se benze dos antecedentes históricos. Floriano Peixoto foi o vice de Deodoro, o primeiro presidente.
Um vice incômodo, enciumado desde antes da proclamação da república. Um vice que deixou Deodoro enforcar-se sozinho enquanto ficava em casa fingindo-se de doente, à espera que a presidência lhe caísse no colo, o que efetivamente aconteceu.
O general Floriano Peixoto veio para abotoar as camisas de força, tanto as do pai quanto as de seus porta-vozes, os filhos que agem como príncipes absolutistas. Se Bolsonaro acreditasse em bruxas, mesmo as inexistentes, faria um descarrego de seu vice, general como os 8 generais que o cercam.
O Floriano de Bolsonaro chama-se Hamilton Mourão – que, como o primeiro Floriano, é melhor que este segundo Deodoro. Em um mês de governo e trapalhadas, Jair Bolsonaro incentiva um queremismo novo, entre tantos que tivemos no Brasil: o ‘queremos Mourão’.
Pulos no Paraná
As leis frouxas e a perturbação do sossego
Numa sociedade cada vez menos coletiva e mais individualista, as pessoas não percebem o quanto podem incomodar as outras. Seja porque fazem escolhas pessoais sem pensar na coletividade, seja porque não se importam com as leis e as normas de um convívio civilizado.
Alguns exemplos de perturbações de sossego:
- Veículos na madrugada com o som no último volume para o motorista não dormir, ou porque está drogado ou simplesmente porque está em arruaça – e por onde ele passa as pessoas acordam;
- Vizinhos que promovem festas com o som alto, gritaria e bebedeira e não estão nem um pouco preocupados com outros que precisam dormir e trabalhar no dia seguinte;
- Pessoas que andam com caixas de som portáteis que captam músicas do aparelho celular e incomodam o sossego dos outros, nas praias, nos parques ou até na rua;
- Agremiações religiosas que, na hora do culto, produzem sons e músicas altas na crença de que todos seus vizinhos são fiéis à determinada religião e não irão se incomodar;
- Guardas noturnos que tocam apitos, sirenes ou outros aparelhos nas altas horas da noite como serviço de vigilância, sem se importar com os vizinhos que não toleram esta ronda nas madrugadas;
- Sons de lojas que competem em promoções nas ruas e não deixam os moradores de prédios e residências terem um mínimo de sossego e paz, o dia todo;
- Fábricas que funcionam de madrugada e não se importam com os ruídos e vibrações que incomodam seus vizinhos;
- Barzinhos e casas noturnas que funcionam a noite inteira e seus clientes saem fazendo farras e gritarias, inclusive nas calçadas, com mesas e venda de bebidas em zonas residenciais;
- Animais domésticos que fazem barulho a noite toda e que seus proprietários são se incomodam em acalmá-los para que não perturbem seus vizinhos;
- Ruídos de escapamentos e motores de motocicletas, veículos de passeio ou caminhões em desacordo com o Código de Trânsito, além, é claro, dos poluentes produzidos em razão disto;
O direito ao sossego é amplo e diz respeito ao direito ao sono, ao descanso, à paz pública, ao repouso, ao silêncio, à intimidade e ao lazer. Ele é disciplinado em leis municipais, no código de trânsito, em leis civis e penais.
Normalmente, este direito é disciplinado por leis municipais, que preveem decibéis mínimos de tolerância e que podem ser verificados por meio de aparelhos celulares, com aplicativos de medição – ou aparelhos dos órgãos de fiscalização, que são raros.
No primeiro semestre de 2018, foram 5 mil casos de reclamações de perturbação de sossego, em Curitiba. Os infratores preenchem um termo circunstanciado e voltam para suas casa. Depois a coisa se resolve com cestas básicas. Ficam sujeitos às apreensões de equipamentos sonoros – e segue o baile.
Na sua maior parte, estas condutas também se caracterizam em contravenção penal, referente à paz pública que proíbe a gritaria e a algazarra, o exercício de profissão ruidosa, o abuso de instrumentos sonoros e acústicos, e provocando ou não tentando impedir barulho produzido por animais sob sua guarda.
O fato é que, em muito casos, há a omissão das autoridades que deveriam fiscalizar e autuar os infratores. Em resumo, a frouxidão leva ao descumprimento dos deveres previstos nas leis.
Há conflitos que se arrastam por anos na Justiça e provocam até a mudança de pessoas dos seus locais de residência originária.
Nos países civilizados estas ocorrências são raras e, se ocorrem, imediatamente as autoridades efetuam a prisão dos infratores e aplicam multas pesadíssimas. Resultado: o sossego e a paz são respeitados e garantidos.