Abaixo do oceano havia outro oceano que revelava um novo mundo. Ninguém ouvira falar, não havia vestígio desta terra submersa, quando, nas profundezas do mar sem fim, este lugar foi encontrado. Pausa. Respiro. Breve eternidade de surgir, ao acaso, um mundo perdido. Vasto, incompreensível, gigante.
Em que horas seu rosto começou a dissolver-se no tecido fino da memória? Quanto tempo levou para sua imagem dissipar-se como fotografias lavadas pelo tempo? Ainda existe o contorno dos seus olhos, a marca da sua boca, um sorriso pego por acaso. Suas linhas antes tão definidas apagaram-se, sumiram, como tempestade no deserto. Agora apenas aridez e sol escaldante. Insolação.
Escrevo pelo meu corpo o que não quero esquecer. Frases, ritmos, números, símbolos. E o tempo os leva como fez desaparecer, quase por completo, sua identidade. Transformou-a em outra, suspendeu a lógica, sublinhou o ar. A respiração, que ouvia quando você estava ao lado, e quando estava longe, permanece nos sonhos. Te ouço quando durmo.
Construo uma imagem de algo que foi inteiro um dia. Invento, crio, imagino. Sua pele suave como pétala, sua voz perto dos meus ombros, a fumaça entre os dedos. Não é mais meu, não é mais nada, não faz parte. Paisagem submersa.
O cheiro das coisas que estavam ali mudou, a cor das músicas esvaiu-se, o céu que assistia o anoitecer inundou-se de estrelas. Escrevo na minha pele todas as palavras que são minhas, que são agora o tempo incessante e preciso, que formam um outro rosto no qual eu escuto, soletro e respiro. Até adormecer.
O oceano estava ali, intacto, abissal, entre as rochas, à espera do tempo seguinte. Onde estão as linhas, os segredos, as memórias, os contornos daquilo que um dia fomos nós.
Há um sentimento entre aqueles que estiveram com Lula neste quase um ano de seu retorno à Presidência da República: ele está um pouco mais lento politicamente para compreender a dinâmica do Congresso.
Segundo quatro pessoas ouvidas pelo Bastidor, entre os quais parlamentares, empresários e aliados, o presidente tem dificuldade com algumas questões do governo.
Um dos exemplos citados foi o encontro que Lula teve com o presidente da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL), no início de novembro. O presidente começou a conversa dizendo que a reunião era importante para tratar “da agenda parlamentar para o segundo semestre”. Foi lembrado de que estavam em novembro.
Dias antes, perguntou ao ministro Rui Costa (Casa Civil) o motivo de não terem editado uma medida provisória para reformar o Ensino Médio em vez de enviarem um projeto de lei.
Foi lembrado que Lira tem dificultado a tramitação de MPs e que as medidas eram de grande impacto, por isso não seria a melhor estratégia tentar implantá-las sem discussão no Congresso e com efeito imediato. A poucos meses do fim do ano letivo, não era aconselhável arriscar uma MP que ficaria parada.
O presidente participou diretamente das negociações com Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, para que o governo evitasse a edição de medidas provisória, preferindo os projetos de lei, porque o Congresso não se acertou sobre a tramitação das MPs.
Também é atribuído ao presidente a decisão de pular o Congresso e abrir um arriscado canal direto com prefeitos para os investimentos do PAC. É um erro primário, diz uma liderança do governo. Além de precarizar a relação com os parlamentares, prejudica a própria escolha de prioridades.
Segundo um petista, ajuda a piorar a situação política do governo a dificuldade do Rui Costa em analisar conjunturas para levar ao presidente.
A dificuldade de lidar com a nova situação política foi evidenciada na demora de resolver as questões do PP e do Republicanos. Pior, de escondê-los. Lula não fez evento público para a nomeação dos ministros André Fufuca (Esporte) nem de Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos).
Também Lula rejeitou que a posse do presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira, ocorresse no Palácio do Planalto.
Tudo foi anotado pelo centrão.
A aprovação dos projetos de interesse do governo no Congresso neste primeiro ano, continua o petista, deve ser creditada ao controle de danos de Lira sobre seus pares e a coincidência de pautas com a sua própria agenda, principalmente nos temas econômicos.
O receio é que no ano que vem, quando os interesses de Lira podem ser divergentes em relação aos do governo, e com Haddad desgastado por conta das disputas internas, o governo acumule derrotas se nada mudar na articulação.
Segundo um empresário, o presidente está com dificuldades de compreender as mudanças na relação com o Congresso e de entender até as novas demandas do PT. “Este primeiro ano praticamente ocorreu porque há boa-vontade de todos, difícil serão os próximos a permanecer o ritmo”, diz.
Diversos bairros da cidade de São Paulo ficaram sem energia durante dias após um temporal na última sexta. Moradores do centro dizem que o prédio da prefeitura, no entanto, está com apagão há mais de dois anos.
O paulistano ficou chocado não com a demora da volta da energia, mas ao saber que a cidade tinha prefeito. “Ele é muito apagado”, disse um assessor.
Até agora o Sensacionalista não conseguiu apurar qual o nome do prefeito.
“Tomara que a luz volte para a cabeça do paulistano nas eleições”, disse um morador. “Vice também é eleito, já dizia Michel Temer”.
Na última edição do jornal cultural Rascunho, número 326, lemos na página 3 o texto de Jonathan Silva, que merece ser divulgado. Sob o título Capivaras vetadas, ele escreve o seguinte:
“Luisa Geisler, finalista do Prêmio Oceanos e vencedora duas vezes do prêmio Sesc de Literatura, teve a participação cancelada na Feira do Livro de Nova Hartz, no Rio Grande do Sul,depois que seu livro mais recente Enfim, capivaras, foi categorizado como “impróprio” por conter palavrões e ingestão de bebidas alcoólicas. Em nota publicada nas redes sociais, a Companhia das Letras afirmou que “repudia qualquer tipo de censura” e declarou apoio à autora. Até o fechamento desta edição, a organização do evento não havia se pronunciado”.
Como democrata que sou também repudio qualquer tipo de censura na arte e dou o maior apoio à Luisa Geisler, cujas capivaras eu gostaria muito de conhecer.
Eles estão sempre discutindo e decidindo a minha vida — a portas fechadas, na mesa de um café, na rodada de cerveja, no escuro do quarto. Não consigo acompanhar as andanças desses que discutem e decidem minha vida. Às vezes é pouca coisa — se ele mudasse o penteado… Se parasse de usar roupas de jovens… Se fosse consultar uma sortista… A essas coisas até que não dou muita importância — e isso também é motivo de discussão entre eles: se ele desse mais importância às pequenas coisas desse tipo… Muitas vezes nem fico sabendo o que foi discutido e decidido.
Só colho olhares atravessados, sorrisos forçados, gestos dissimulados e indiferença. A massacrante indiferença! E sinais — sim, sinais! Eles fazem questão de me dizer você não prestou atenção aos sinais que enviamos. Sinais — um dia sem palavras, um trancar de porta, a falta de convite para a festa, a roupa íntima nova, a demora para atender ao telefonema. Benditos e silenciosos sinais! O ar fica pesado e frio. Quando o assunto é mais sério, envolve decisões drásticas e exige imediata tomada de decisão — e ação — me chamam — sem palavras, só com gestos — a uma sala preparada para o momento.
Até jarra de água e copos estão à espera. Nem precisariam falar nada, dar ordens ou fazer a acusação final. O aparato já me faz ver que fui condenado e terei de cumprir a pena. Pode ser demissão, rebaixamento de cargo, fim de uma relação amorosa ou cessação de algum benefício por eles concedido anteriormente. Já conheço o teor da peroração — é sempre para o meu bem — os desejos explícitos — boa sorte, tudo vai se ajeitar. Fique bem! Nem as palavras eles conseguem mudar.
E nem precisariam — seria muito esforço para o mesmo final. Decoraram tão bem as expressões que — acreditam — com elas obtêm expressivo resultado em qualquer situação. Faz parte da estratégia deles serem sempre iguais — surte efeito, alivia a consciência. Tinha que ser assim — eis o fim. E sabem que isso vai me fazer ferver por dentro, sem ter como reagir. O sangue que some do rosto, os olhos que se perdem no vazio, o frio que se instala no estômago, as pernas que fraquejam. Talvez riam disso depois. A única questão que nunca abordam é quanto ao andamento das suas próprias vidas depois do que fazem com a minha vida.
Parecem soberanos quanto a isso. Têm olhos firmes no futuro, objetivos sólidos e vontade férrea. Nunca tentei argumentar a esse respeito. Aferrei-me a um antigo preceito — tão antigo como o próprio mundo — e me dou por feliz. Hesíodo disse e está dito — os deuses são caprichosos. Ponto final.
*Rui Werneck de Capistrano é grande mas não é dois.
Juvenildo – Jogador de futebol, Brasil, 1926 – “Cotovelo de Ouro” era o apelido de Juvenildo Constâncio, criador do gol de cotovelada. Sua habilidade não se restringia ao braço esperto: era hábil e poderosotambém nas cabeçadas e na dança do ventre. Apareceu no futebol quando foi escalado pelo técnico Artacherches Fonseca como centro-avante do Frontêra Bagual, no Rio Grande do Sul, em 1943, numa memorável partida em que o time gaúcho goleou o CTFC (Centro de Tradição do Futebol Catarinense) por 6×0, fazendo três gols de cotovelada e um com a barriga milagrosa que espantava a torcida.
Nunca chegou à Seleção Brasileira, pois era adepto do “copo de cerveja fatal” que o afastava dos coletivos por intoxicação alimentar.Também era mulherengo e viciado em naftalina. Na derrota do Brasil para o Uruguai, em 1950, chorou copiosamente e morreu afogado nas próprias lágrimas, ao descobrir que a empregada havia limpado as gavetas e jogado fora todas as suas bolinhas de naftalina. Era ainda nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga.
O EX-CHANCELER Celso Amorim, agora emissário internacional de Lula, acusa Israel de genocídio em Gaza. Não diz se o genocídio é pelo que foi feito ou pelo que se pretende fazer. O ex-chanceler está míope ou cego de um olho, pois quando diz que há genocídio de Israel contra palestinos finge ignorar o que levou ao genocídio de que acusa Israel e fecha aos olhos ao ato terrorista que matou e sequestrou israelenses. A frase do ministro está dentro do usual nos conflitos internacionais com mortes massivas: cada lado acusa outro de atrocidades, querendo convencer que as atrocidades foram unilaterais; do outro lado – como diria um genocida brasileiro – tratou-se apenas de uma gripezinha. Um diplomata deveria saber o que conceitualmente é genocídio, a saber, o dizimar populações e extinguir um povo, como o falado genocídio armênio, obra da Turquia (hoje cheia de razões contra Israel).
Acusar Israel de genocídio é costurar a carapuça nazista sobre os israelenses – e por extensão contra os judeus em geral, pois Israel é o porto seguro dos judeus para tantos genocídios que sofreram – e irresponsavelmente a estimular o antissemitismo interno. Neste momento só os que estão comprometidos com pauta política acusam Israel e Hamas de genocídio. Se genocídio houve, ele aconteceu dos dois lados, a começar pelo Hamas, pelo ataque, sequestros e assassinatos de israelenses. Sim, houve retaliação sucessiva de Israel, sem que fosse cumprida a regra invisível e falsamente comutativa que ao que parece esperava-se existir: matar tantos palestinos quanto os israelenses e estrangeiros judeus mortos, seviciados, estuprados e sequestrados. Não existe esse peso, essa dosimetria nos conflitos, que são historicamente regulados pelo poder do mais forte. Então, falar de genocídio de um lado ignorando o outro lado é mais uma das falsificações próprias dos conflitos armados.
Portanto, Celso Amorim requenta o esquerdismo petista, até há pouco camuflado sob a geleia que esconde as alianças de Lula à direita para se eleger e para governar (se é que podemos chamar assim o negaceio trôpego e ébrio de Lula para agir). Mas o esquerdismo petista ainda vende na América Latina, África e no Oriente não alinhado, onde Lula investiu a fundo perdido seu protagonismo e culto à personalidade que ora requenta. Como os EUA e a União Europeia condenam o terrorismo palestino, e o protagonismo de Lula na ONU esboroou-se diante de disputa de cachorros grandes (EUA e Rússia/China), o lulopetismo requenta o esquerdismo de sempre, aquele vindo da esquerda estudantil dos tempos da ditadura militar. Esse lulopetismo de agora segue o padrão dos ternos do Lula pós Janja: surgiu na fatiota de lulonazismo. Se o esquerdismo era a doença infantil do comunismo, esse lulonazismo é a fimose do petismo.
O lulonazismo apresenta-se como um nazismo requentado, pós-moderno, mas envergonhado da impostura, que nega um genocídio para ver outro, – até fraudando o conceito de genocídio. Um genocídio que a intelligentsia lulista poupou-se convenientemente de acusar Bolsonaro, pois que aliou-se a seus expoentes do Centrão. O genocídio de Bolsonaro, que deliberadamente ignora, acusa na autodefesa de Israel. O primeiro zurrar vem de Paris e logo ecoará na voz demagógica de Gleisi Hoffmann, José Dirceu e dos hierarcas petistas de Brasília, que deixam seus feudos nos grotões subdesenvolvidos para cantar em Brasília apenas para sua militância ouvir e aplaudir – uma militância tão ignara e desinformada quanto a dos antípodas bolsonaristas. Talvez a aliança do PCC com o Hezbollah traga luz à mente dos esquerdófilos do PT. Mas o Hezbollah só quer o discurso debiloide dessa gente.
Vem aí a edição de novembro da revista Piauí, trazendo uma matéria de impacto para as almas mais sensíveis. O veterano jornalista Roberto Muggiati, meu amigo e conterrâneo, descreve, de próprio punho, a experiência dolorosa que suportou ao passar num hospital 20 NOITES SEM DORMIR. Aos 85 anos, ele quebrara o fêmur, mesmo sem cair ou sem que houvesse algum impacto físico. Aconteceu. Muggiati transforma a experiência dramática em algo culturalmente importante, descrevendo em detalhes, o ambiente hospitalar e sobretudo, o lado humano desta decorrência.
Posso adiantar que o Muggiati se safou desta, já está em casa e se preparando para a próxima. Matéria, claro.
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