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Justiça poética
O governador Ratinho Júnior quer acabar com a aposentadoria dos governadores. Medida salutar: governador não fica inválido quando deixa o cargo, sempre disputa outro mandato ou ganha cargo vitalício com ademanes de magistrado; não sai velhinho e inútil do governo.
Ratinho pode fazer isso, é rico de berço, muito rico, riquíssimo. Tão rico que diante de governadores que enriquecem no cargo e acabam na prisão preventiva, parece que é governador por hobby ou caridade. A proposta pode ser demagógica, mas é justa. Contudo, carrega dose de maldade.
Maldade com o ex-governador Roberto Requião, que terá de viver das aposentadorias de senador e advogado. E justiça, ainda que poética, pela língua de Requião, que, candidato ao governo pela primeira vez, criou um escândalo falso em cima da aposentadoria do ex-governador José Richa.
Sem o apoio de Richa, o ingrato Requião não seria eleito prefeito de Curitiba, no que deslanchou a carreira política. Hoje aposentado como governador, foi oportunista e malicioso ao condenar a aposentadoria de Richa e ignorar a de outros governadores, um deles com um mês na função.
STF nega pedido de Flávio Bolsonaro para suspender investigação
Para a decisão, Marco Aurélio se baseou na recente mudança de entendimento do Supremo em relação ao foro privilegiado de parlamentares
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) poderá seguir com as investigações no caso que envolve Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, foi proferida nesta sexta-feira, 1º de fevereiro, e nega o pedido da defesa do senador eleito para suspender a análise do MP em movimentações financeiras consideradas atípicas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) na conta de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
O pedido do filho do presidente Jair Bolsonaro foi enviado ao Supremo pois, de acordo com a defesa, ele teria foro privilegiado por ter sido eleito senador, caberia, então, ao STF decidir se a apuração deve correr na primeira instância ou na própria Corte. As investigações haviam sido suspensas no dia 17 de janeiro pelo ministro Luiz Fux, então responsável pelo plantão.
Para a decisão, Marco Aurélio se baseou na recente mudança de entendimento do Supremo em relação ao foro privilegiado de parlamentares, que passou a valer somente para supostos crimes cometidos durante e em função do mandato.
Entenda o caso
Levantamentos do Coaf indicam que nove funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj transferiam dinheiro para a conta de Fabrício Queiroz, então assessor do parlamentar, em datas que coincidem com os dias de pagamento de salário. O conselho identificou uma movimentação suspeita de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz e também na conta de Flávio Bolsonaro. Em um mês, foram 48 depósitos em dinheiro, no total de R$ 96 mil, segundo o Coaf. A investigação que envolve Queiroz integra da operação Furna da Onça, um desdobramento da Lava Jato no Rio de Janeiro e que já prendeu dez deputados estaduais.
Presidente do STJ manda soltar ex-governador Beto Richa
Beto Richa foi preso em operação que apura supostas fraudes na gestão de concessões rodoviárias no Paraná. João Otávio de Noronha entendeu que não havia motivos para prisão.
O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio de Noronha, determinou a soltura do ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB).
Beto Richa foi preso na semana passada na 58ª fase da Operação Lava Jato, que apura suposto esquema de fraude na gestão das concessões rodoviárias federais no Paraná.
Ao mandar soltar o ex-governador, Noronha concedeu ainda um salvo-conduto que impede Beto Richa e o irmão José Richa Filho de serem presos novamente no âmbito da mesma operação, exceto se houver motivo concreto previsto em lei para a nova prisão.
A Justiça Federal do Paraná considerou que a prisão era necessária por “conveniência” do andamento do processo em razão da suspeita de ação de obstrução, por supostamente coagir testemunha.
Noronha considerou que não havia motivos para uma nova prisão de Beto Richa e mencionou que os fatos atribuídos ao ex-governador do Paraná são antigos, pois se referem ao período de 2011 e 2012.
“Nada de concreto foi demonstrado que se prestasse a justificar a necessidade de proteger a instrução criminal e, com isso, justificar a preventiva decretada”, decidiu o ministro.
Conforme o presidente do STJ, a situação mudou porque Beto Richa não é mais governador.
“Os fatos remontam há mais de sete anos e, além disso, a realidade é outra, houve renúncia ao cargo eletivo, submissão a novo pleito eleitoral e derrota nas eleições. Ou seja, o que poderia justificar a manutenção da ordem pública – fatos recentes e poder de dissuasão – não se faz, efetivamente, presente”, disse na decisão.
O ministro também considerou que não há provas de que Beto Richa tenha tentado coagir testemunhas ou corromper provas, o que configuraria obstrução.
Publicado em Sem categoria
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A grande família
Por que, com tanto poder, o Queiroz perdia seu tempo atrás de um volante?
Pode-se falar o que quiser dos Bolsonaros, mas eles são uma família. Uma grande família, composta do titular com seus filhos, mulheres e ex-mulheres, e de assessores, agregados e amigos idem, juntos por muitas afinidades. Posso imaginá-los aos domingos, no fim da tarde, em volta de uma grande mesa na casa de Jair Bolsonaro, na Barra, dividindo uma pizza também família.
Fabrício Queiroz, motorista e ex-assessor parlamentar do então deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), é um querido membro honorário da família. Sua própria família se confunde com a dos Bolsonaros e eles dividem não apenas a pizza como nomeações, cargos e contas bancárias a ponto de, às vezes, nem a Fazenda saber o que é de um ou de outro. É bonito observar como eles se dão e se ajudam. Exemplos:
Queiroz sugeriu pelo menos sete funcionários do antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio. Começou pela indicação de sua mulher, Márcia, e de sua enteada Mayara, e, para provar que poderiam ser personagens de um filme de Ingmar Bergman, indicou também Márcio, ex-marido de Márcia e pai de Mayara.
Queiroz era colega de batalhão e amigo de Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado como chefe da milícia que domina a comunidade de Rio das Pedras e cabeça do Escritório do Crime. Mas amigo é amigo, e Queiroz indicou a Flávio a filha de Adriano, Danielle, e a própria mãe de Adriano , Raimunda. Tão atencioso para com filhos alheios, Queiroz não poderia descurar dos seus, com o que indicou suas filhas Nathalia e Evelyn.
Todos os indicados pelo motorista Queiroz foram nomeados por Flávio e alguns foram também para o gabinete do deputado federal Jair Bolsonaro. E, como nas melhores famílias, o dinheiro às vezes trocava de mão entre eles. O que me intriga é: com tanto poder para nomear, pagar e receber, por que o Queiroz perdia seu tempo atrás de um volante?
Publicado em Ruy Castro - Folha de São Paulo
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Lula ao pé da letra
Com certeza foram avisados, pois deletaram a página, mas na minha opinião o título devia ter sido mantido assim mesmo. A palavra maldade escrita com “u” dá um tom de autenticidade para a frase. Dessa forma não tem como duvidar: a declaração é mesmo do Lula.
Publicado em tchans!
Com a tag a bunda mais bonita da cidade, https://www.ishotmyself.com/public/main.php
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As manguinhas de Mourão – O vice Hamilton Mourão não veio a passeio, veio para jogar. Fala o tempo todo, recebe a imprensa, que trata muito bem, dá opiniões sobre assuntos do governo. O que faz e o que diz nunca resulta em ações do governo, mas faz contraste chocante com o presidente, que só fala com os filhos e os generais, foge da imprensa ou a ofende, e não dá opinião sobre nada, o que deixa a impressão que não tem opinião nem noção sobre os assuntos do governo.
Mourão já tinha posto as manguinhas de fora. Agora arregaçou as mangas: menos de um mês de mandato já montou bancada no Congresso, três senadores e três deputados federais. Agora trabalha para fazer Fernando Collor presidente do Senado. Mourão é mistura de José Alencar com Aureliano Chaves. Quando incorporar Itamar Franco com o rancor de Michel Temer, Jair Bolsonaro vai sentir a artilharia do vice. E vice é aquela coisa: não pode ser demitido.
Cúmplices e calados – O silêncio do PT sobre a tragédia de Brumadinho é daqueles que nos deixam surdos. Nem uma palavra de Gleisi, de Haddad, do companheiro José Dirceu. A saída de Lula para o enterro do irmão é mais importante para o PT que os 100 mortos e 260 desaparecidos de Minas. No primeiro caso já se esfregam no protocolo da ONU, a tradicional queixa de perseguição ao “preso político”. No segundo caso, o silêncio cúmplice. E não é que não queiram tirar partido da desgraça alheia. É que nessa desgraça todos os partidos políticos são cúmplices. Mais que todos o PT, cujo governo estadual em Minas, favoreceu e aprovou a barragem de Brumadinho.
Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário
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Procure lembrar
De vez em quando, ouço Luiz Melodia, que sempre me apoiou nas campanhas claramente perdidas, antes mesmo do começo. O verso foi escrito num contexto amoroso, no qual os amantes se esquecem do mundo. Infelizmente, não posso seguir o amigo, nesse verso de “Pérola negra”.
Minha tarefa é exatamente procurar lembrar em que ano estamos. Não é fácil. Para quem viveu longamente, muitos anos disputam o lugar de modelo, referência para compreender o que se passa. Pouco servem diante da singularidade de 2019.
A chegada de um novo grupo ao poder trouxe consequências imprevistas. O novo chanceler Ernesto Araújo escrever que o aquecimento global é uma invenção do marxismo global.
Não conheci Osvaldo Aranha, embora tenha visitado seu túmulo no Sul. Entrevistei, ainda jovem, Augusto Frederico Schmidt, leio constantemente sobre a trajetória de Afonso Arinos, San Tiago Dantas. E há ainda os grandes diplomatas de carreira. Nenhum desses homens, creio, seria capaz de se antepor tão ousadamente às evidências científicas colhidas pela humanidade.
Araújo é um intelectual. Fiquei até agradecido por aconselhar a leitura de Clarice Lispector. Não sei bem o que ela estava fazendo no seu discurso. Mas é sinal de bom gosto. A própria Clarice ficaria perplexa como se estivesse diante de um búfalo ou de uma galinha.
Realmente, tenho de me esforçar muito para entender a política ambiental de Bolsonaro. Antes de partir para Davos, aprovou para o Serviço de Florestas um homem que quer liberar a caça de animais silvestres no Brasil.
Esforço-me por entender o universo ético da família do presidente. Flávio Bolsonaro apegou-se ao foro privilegiado para enfrentar denúncias de movimentação financeira atípica. Em seguida, soube-se que ele empregou em seu gabinete a mulher e a mãe de um matador ligado às milícias.
Sua posição sobre as milícias admite que são vantajosas porque expulsam os bandidos. Isso só pode ser entendido na linha do tempo.
A defesa das milícias nos dias de hoje não pode ignorar que controlam o gás, parte do comercio imobiliário, do transporte coletivo e até do tráfico de drogas. E matam muito.
O tempo torna mais aceitável a posição de Flávio. O desconcertante é que a mulher e a mãe do bandido trabalharam até 2018 no seu gabinete. E isso num período em que ele já estava na cadeia.
Minha perplexidade aumentou com o decreto de Mourão autorizando funcionários de segundo escalão a classificar os documentos como secretos. O projeto deles, com apoio da maioria, era o de combater a corrupção. O decreto enfraquece precisamente a melhor arma contra esse crime: a transparência.
Qualquer movimento de volta à opacidade serve apenas para levantar suspeitas de concentração de poder. Ou de riqueza. A história recente no Brasil deixou nas mãos da sociedade escaldada pelo menos um instrumento de defesa, que é a transparência.
O fato de haver muitos militares no governo para mim não tem conotação negativa. Considero-os uma força moderadora. Mas qualquer recuo na transparência fica parecendo um enfoque militarizado do governo.
Mourão afirmou que o decreto já estava pronto no governo Temer. Levamos anos discutindo essa lei de acesso. Se o decreto tinha mesmo uma justificava racional, por que não discuti-lo?
Estou muito velho para ficar desapontado, reclamando de governos. Mas nem tanto para iniciar um leve combate agora que estou com a carteira praticamente vencida.
Por que conciliar com a ignorância humana que pode arruinar nossos recursos naturais? Por que aceitar um recuo na lei da transparência que ajudei a construir na Câmara?
Espero que os eleitores de Bolsonaro não fiquem muito zangados. Nada contra eles. O que penso sobre milícias, transparência e aquecimento global não depende tanto de eleições. A ideia não é conhecer a verdade e se libertar através dela? A minha é essa: milicianos são criminosos, o planeta está se aquecendo, e não há nada mais suspeito do que golpear a transparência.
Publicado em Fernando Gabeira
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Nossa vida, mais amores
Como Gonçalves Dias escreveria hoje sua ‘Canção do Exílio’?
Um dos maiores poemas, e talvez o mais célebre, da literatura brasileira diz em sua segunda estrofe: “Nosso céu tem mais estrelas/ Nossas várzeas têm mais flores/ Nossos bosques têm mais vida/ Nossa vida, mais amores”. Você adivinhou: é a “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias (1823-1864), que começa, claro, com “Minha terra tem palmeiras/ Onde canta o sabiá”.
Quando o poeta o escreveu, em 1843, o Brasil, ainda com 90% de território a desbravar, tinha de si próprio uma visão romântica e idealizada. Hoje sabemos muito mais sobre o país —e tanto que, se Gonçalves Dias fosse reescrever seu poema, teria outras imagens a escolher. Eis algumas.
Nossas barragens são criminosas e inseguras —rompem-se e levam à morte o que encontram pela frente. Nossos viadutos e pontes vão abaixo ou racham, pela ação do tempo ou por serem feitos com material de quinta. Nossos museus se incendeiam e destroem patrimônios que não nos pertencem, mas à humanidade.
Nossos mares, baías e rios recebem nossos abjetos dejetos naturais e industriais e só têm o odor como protesto antes de morrer. Nosso céu é, às vezes, uma hipótese —algo que deve existir acima da camada de poluição. E nossos sistemas de fiscalização, obedientes a interesses maiores, não fiscalizam.
Nossos hospitais, escolas e transportes públicos são carentes, insuficientes ou inexistentes. Nossas estradas, ruas e calçadas são crateras, impróprias para humanos e carros. Nossas cidades têm vastos territórios vedados aos cidadãos e outros em que, pela miséria, seus habitantes podem praticar tudo, menos a cidadania. E nossos administradores são inoperantes, incompetentes ou corruptos.
Falando neles, nossos corruptos são, estes, sim, dignos de poemas e rapsódias. Penetraram por todas as brechas conhecidas da vida pública — e, como não paramos de descobrir, também pelas desconhecidas.
Publicado em Ruy Castro - Folha de S.Paulo
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