Levy Fidelix, do aerotrem a homem de ideias de Bolsonaro

Levy Fidelix, esse mesmo, o candidato do aerotrem com quem a Luciana Genro gostava de debater, apareceu com uma ideia estonteante na área da segurança. Fidelix, que é dono do partido do vice de Jair Bolsonaro, já disputou uma porção de cargos e nem dessa vez conseguiu se eleger para deputado federal, mesmo com o fenômeno Bolsonaro levando vários salafrários na rabeira para a Câmara — teve apenas 23.113 votos.

Mesmo sem boa votação, Fidelix continua uma usina de idéias. Sua proposta é a utilização de navios-presídio para evitar fugas. Que sacada, não? E vem mais dessas por aí. Em entrevista ao jornal O Globo ele disse que “partido coligado não vem para se coligar à toa, vem para somar ideias”. E falou que já está discutindo algumas ideias com o candidato.

Está aí algo que ninguém pensava: Levy Fidelix como uma das cabeças-pensantes de um provável governo Bolsonaro. Bem, tem por aí algumas pessoas com medo de um retrocesso político com a vitória dele. Até o momento não existem elementos sólidos para esse temor, mas uma coisa pelo menos é garantida se ocorrer um desastre do tipo. A ditadura do Bolsonaro vai ser muito mais engraçada que a ditadura militar de 64.

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Sun Tzu para bozonaros – O capitão precisa por ordem unida na tropa, a soldadesca atira a esmo dentro da trincheira e acerta mais nos companheiros que no inimigo. Perda de tempo e munição. O inimigo foi derrotado por si mesmo e pela estratégia de seu marechal de campo.

A guerra ainda não está decidida e um general rebaixado a vice-capitão faz aliança que pode tirar o apoio de exército que se mantém neutro. A combatente mais forte imita o vice-capitão e faz acordo isolado, quebrando a hierarquia.

Isso não é bom, as forças sairão desunidas da trincheira e o resultado se sabe: a tropa se dispersa. Bom para os inimigos à espreita, prontos para fundir seus exércitos. Aliás, seus generais já traçam estratégias.

Faltam os estigmatas – “Quero ser o Bolsonaro de saias” |Promessa de Joyce Hasselmann sobre sua conduta como deputada mais votada do PSL. Tais promessas lembram o bolero que fala das “procelas do mar”, inconstantes e passageiras. Ela pode envergar as saias de Bolsonaro, fidelidade ou interesse políticos levam a isso.

O que se espera dos fiéis é mais que fidelidade; espera-se o sacrifício, como os cristãos que morreram no circo romano. Ou que repliquem as chagas de Cristo, os estigmatas, como entre os fiéis que viviam o transe da Paixão. Já vimos o fervor que leva a tais expansões afetivo-políticas.

Caso de Gleisi Hoffmann, que renegou o curial Gleisi Bernardo pelo Gleisi Lula – com o risco da troca do ‘l’ pelo ‘m’. A vibrante campeã dos votos do PSL assumirá seu Joyce Bolsonaro, eventualmente Bolsonara, como as imigrantes russas de sua (nossa) Ponta Grossa?

Isso de nada conta, é detalhe de forma. A fidelidade de uma e outra, da Lula e da Bolsonara, será crível com os respectivos estigmatas: Gleisi sacrificando uma falange no moedor de carne; Joyce atirando-se contra uma faca de cozinha. O resto é o resto, figuração.

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Frente esvaziada

Estratégia eleitoral do PT praticamente inviabiliza uma aliança ampla no segundo turno

A meros dez dias da votação decisiva, parece rumar a um fiasco a pretensão propagada pelo presidenciável Fernando Haddad (PT) de liderar uma frente suprapartidária, unida em defesa da democracia, contra Jair Bolsonaro (PSL).

As dificuldades para tal concertação foram expostas de forma pública e franca pelo senador eleito Cid Gomes (PDT-CE) —cujo irmão, Ciro Gomes, terceiro colocado no primeiro turno, é naturalmente o aliado prioritário para o PT.

“Tem que fazer mea-culpa, tem que pedir desculpa, tem que ter humildade e reconhecer que fizeram muita besteira”, cobrou o político cearense de uma plateia petista, sabendo que não será atendido. “Vão perder feio.”

Ex-ministros de governos petistas, os Gomes declararam, como seria previsível, voto em Haddad. Entretanto deixaram claro que seu engajamento não irá muito além disso. As demais lideranças relevantes mostram ainda mais frieza.

Há exemplos no Brasil e no mundo de união entre forças políticas heterogêneas para derrotar uma candidatura vista como um mal maior —e Bolsonaro, dado seu histórico de declarações em favor da ditadura militar e hostis ao meio político, poderia, em tese ao menos, desencadear tal fenômeno.

Entretanto a forma como o PT conduziu toda sua campanha praticamente inviabiliza uma aliança de amplo espectro. Mais que a eleger um chefe de governo, a estratégia do partido se prestou a sustentar sua versão para o impeachment de Dilma Rousseff, a ruína econômica e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O comando petista passou os últimos meses a incentivar a polarização e a acusar um quimérico complô da elite econômica, dos partidos adversários, da imprensa, do Ministério Público e da Justiça com o intuito de afastá-lo do poder.

Tal pregação teve lá seus resultados —exploraram-se os redutos lulistas, em especial no Nordeste, para levar Haddad ao segundo turno, eleger ao menos três governadores e formar uma bancada expressiva na Câmara dos Deputados.

No entanto produziu-se o efeito colateral de ampliar e intensificar a rejeição à sigla no eleitorado, hoje um trunfo para Bolsonaro.

A tarefa de atrair aliados se tornou inglória. Se Ciro Gomes pode sentir-se sabotado pelas manobras petistas que inviabilizaram sua união ao PSB, os tucanos e Marina Silva (Rede) —há muito tachados de golpistas pelo PT— têm ainda menos motivos para aderir a Haddad.

Este procura se mostrar mais moderado e maleável; depois de apresentado como preposto de Lula, porém, a mudança soa falsa. O sumiço da cor vermelha e o aceno a religiosos renderam, até aqui, pouco mais que piadas. As chances de vitória se reduzem, mas ainda superam as de autocrítica.

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Meus arquivos da Ditadura

Publicado em algum lugar do passado.

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Mural da História

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O golpe do boleto

O golpe do boleto acontece quando o consumidor vai emitir um boleto pela internet e é direcionado para um site falso – ou recebe em casa pelos correios o boleto fajuto.

Por exemplo: o consumidor recebe o boleto de algo que pensava que já pagou ou que deve pagar. Faz o pagamento e depois descobre que o valor foi depositado para um golpista.

Apesar de no boleto constar os dados aparentemente corretos da sua compra, o código de barras é diferente do número que está registrado no boleto; assim, o crédito vai para um titular da conta diferente do que está escrito no cabeçalho. Mas o fato de ter números iguais também não significa que está correto.

Por isto é importante guardar os boletos de pagamento e das contas pagas para prevenir reclamações posteriores.

Pode acontecer de o consumidor pagar o boleto fajuto e ainda por cima ser cadastrado no Serviço de Proteção ao Crédito. Daí ele terá direito a uma indenização por danos morais, além de ter reconhecido o pagamento que efetuou.

Outro golpe semelhante é o quando o golpista liga para a casa do consumidor se fazendo passar por um credor e solicita o correio eletrônico  para remeter o boleto falso.

Neste tipo de golpe tem até uma pessoa se fazendo passar por telefonista, música de espera, e as frases tradicionais: “Obrigado por aguardar nossa ligação”. Os golpistas até pedem a senha do cartão de crédito do consumidor, confirmação da data do nascimento e endereço, por “medida de segurança”.

A responsabilidade é das instituições financeiras e de seus sites na internet, pois as empresas têm a obrigação de monitorar e garantir a tecnologia adequada do serviço que oferecem, inclusive a forma do pagamento correta e segura.

Quando se descobrem fraudes é obrigação das empresas e instituições bancárias alertarem os consumidores para prevenirem novos golpes. Além disso, devem aprimorar os seus sistemas de segurança digital.

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Já foi na Academia hoje?

© Myskiciewicz

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PT, saudações…

está-provado

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Na confissão da senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do partido, o PT subestimou o poder do WhatsApp e este foi um dos motivos tanto do baixo desempenho do seu candidato, Fernando Haddad, como do crescimento – agora quase impossível de ser revertido – do adversário Jair Bolsonaro. Mas o uso do aplicativo de mensagens não era coisa de grupos de amigos – mas algo profissional. Sistemas de disparo foram comprados por empresários simpatizantes do ex-capitão e fortunas estão sendo gastas em  pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT.

Um dos patrocinadores do esquema seria o dono das Lojas Havan, Luciano Hang, que desmente. Disse que não precisa usar este recurso para viralizar as gravações que faz em favor de Bolsonaro.

Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, cada contrato com empresas especializadas em fazer os disparos de mensagens para centenas de milhões de celulares custa R$ 12 milhões. Para a última semana que antecede a votação de 7 de outubro, a previsão é que o sistema seja utilizado ainda mais maciçamente.

O PT protesta. Diz que os gastos feitos desta forma por empresários caracteriza crime de caixa 2. A prática é ilegal por se tratar de uma doação indireta de campanha, o que é proibido pela legislação, principalmente porque usam bases de dados de terceiros, e não de listas orgânicas de apoiadores.

Pelo menos quatro grandes empresas do setor – Quickmobile, a Yacows, Croc Services e SMS Market – estão contratadas para prestar o serviço. Seus preços variam de R$ 0,08 a R$ 0,12 por disparo de mensagem para a base própria do candidato e de R$ 0,30 a R$ 0,40 quando a base é fornecida pela agência.

As bases de usuários muitas vezes são fornecidas ilegalmente por empresas de cobrança ou por funcionários de empresas telefônicas.

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Gleisar, verbo intransitivo – Quando a gente bota boa vontade em Fernando Haddad lá vem ele e gleisa, diz tolice, coisas que não se sustentam. Como as gleisices desta semana. A primeira, que Bolsonaro vai entregar a Amazônia aos EUA. A segunda, que o fracasso do PT nesta eleição deve-se ao “golpe”, “que atrapalhou tudo”. O golpe de novo, a monomania petista.

Mesmo que quisesse, Bolsonaro não entregaria a Amazônia, porque seria preso pelos generais de seu ministério. Quanto ao ‘golpe’, sempre o golpe que continua a revelar o pior dos defeitos do PT, o senso de infalibilidade, a hegemonia do patriotismo, a superioridade moral. Em tempo: o que significa ‘entregar’ em língua de Haddad, doutor em filosofia?

Se golpe houve, alguém levou a isso. Quem provocou o golpe? Dilma, é claro, pela incompetência, arrogância e obstinação no erro. Isso Haddad faz de conta que não vê, faz de conta que nós não vemos. Chamar o impeachment de golpe é estranho para quem insiste em disputar eleições democráticas.

O autor, o autor – Quem foi o jênio que marcou o Enem para o primeiro dia do horário de verão?

Fogo cruzado – Fernando Haddad pede investigação da visita de Jair Bolsonaro ao Bope, no Rio. Bolsonaro pode pedir investigação das visitas de Haddad a Lula, na delegacia, em Curitiba.

Tarde piaste – Cid Gomes pede no TRE a retirada de seu destampatório ao PT da propaganda eleitoral de Jair Bolsonaro. Não resolve, já foi pro YouTube.

Réu certo, crime errado – A PF indicia Michel Temer pelos contratos do Porto de Santos. Injustiça. Tinha mais que indiciá-lo por visitar a Associação Comercial do Paraná.

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PT, saudações…

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PF indicia Temer no inquérito dos portos e pede prisão de amigo do presidente

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Cid Gomes e sua autocrítica do PT

Quando eu digo que as coisas andam de um jeito tão torto na campanha de Fernando Haddad que até parece que Jair Bolsonaro infiltrou alguém dele na equipe petista pode parecer exagero, mas como é que se explica esse negócio de chamarem Cid Gomes para discursar em ato público da campanha? Fizeram isso no Ceará e claro que tomaram na cabeça. Foi na noite desta segunda-feira. Cid Gomes discutiu com a platéia petista, gritou que o PT vai “perder feio a eleição”, exigiu mea culpa do partido do Lula e disse que os petistas vão perder “porque fizeram muita besteira, porque aparelharam as repartições públicas, porque acharam que eram dono de um país, e o Brasil não aceita ter dono, é um país democrático”.

Eu sei que esquerdista tem problema com memória de longo prazo — esquecem os crimes de Stalin, pensam que a luta armada era pela democracia, acham que Che Guevara tinha ternura, essas coisas. Mas encrenca com o irmão do Ciro Gomes é memória recente. O atual senador eleito pelo Ceará foi ministro da Educação no segundo governo de Dilma Roussef, interrompido no meio pelo impeachment. Dilma tinha aquele slogan esquisito de “Pátria educadora”, que ela tornou ainda mais bizarro nomeando Cid para o ministérioque teria o papel de educar a mãe gentil. Logo quem foram colocar no papel de educador.

Bons modos não é com ele. Do mesmo modo que seu irmão Ciro Gomes, Cid diz umas coisas que às vezes ate dá para concordar. O problema é a hora e o lugar que ele escolhe para dizer algumas verdades. Dilma já estava com a oposição em seus calcanhares. Os ouvidos dela zuniam com panelaços pelo país afora. Foi quando Cid disse numa cerimônia oficial que “a Câmara tem 300 a 400 achacadores” e de imediato recebeu uma convocação oficial para explicar-se perante os deputados. Até a base aliada de Dilma votou a favor. Todo mundo queria a explicação. Ele teve que ir e fez a situação piorar para o governo petista, agravando a crise com o Congresso. Da tribuna, deu de dedo no presidente da Câmara, que era Eduardo Cunha, reafirmou o que havia dito e ainda falou mais algumas coisas. E evidentemente acelerou o processo de impeachment. Isso foi em março de 2015, quando Cid teve que pedir demissão. O boquirroto ficou menos de três meses no cargo.

Este é o cara estourado que resolveram colocar para discursar em evento da campanha do PT, com Haddad já repleto de problemas numa candidatura que vem dando chabu. O PT devia estar satisfeito do Ciro Gomes estar longe no estrangeiro, mas aí alguém teve a ideia de chamar o irmão dele para dar uma força pra campanha. Pode ter outra explicação para o deslize, mas é tão grande a besteira que não se pode descartar a presença de agente bolsonarista infiltrado.

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Cândido de outubro destaca novo romance de Ignácio de Loyola Brandão

A edição de outubro do jornal Cândido, editado mensalmente pela Biblioteca Pública do Paraná, traz como destaque uma reportagem sobre Ignácio de Loyola Brandão. Aos 82 anos e após mais de uma década sem publicar romance, o escritor paulista volta ao gênero com Desta terra nada vai sobrar, a não ser o vento que sopra sobre ela. O livro retoma temas que consagraram seus romances mais célebres, Zero e Não verás país nenhum.

Além de discutir seu livro mais recente, Brandão fala à reportagem — assinada pelo jornalista Rodrigo Casarin — sobre o Brasil e o mundo, sua carreira literária, os livros marcantes e as motivações que o fizeram se dedicar à escrita em um país de pouquíssimos leitores. Casarin, em seu texto, também traz uma série de depoimentos de autores que foram influenciados pela obra do autor de Bebel que a cidade comeu.

Outro autor veterano, o poeta Paulo Henriques Britto, também marca presença na edição. Ele participou da edição de julho do projeto Um Escritor na Biblioteca e falou de, entre outros assuntos, seu processo de escrita e seu mais recente livro, a coletânea de poemas Nenhum mistério.

Na série Os Editores, a entrevistada é Isa Pessoa, que nos anos 1990 atuou como diretora editorial da Objetiva e emplacou diversos livros de nomes importantes da literatura do país na lista dos mais vendidos. Já na segunda edição da coluna Pensata, o tradutor Caetano Galindo analisa o ensaio “E unibus pluram: television and U.S. Fiction”, em que o escritor norte-americano David Foster Wallace critica o uso da ironia na ficção e na publicidade. Em outro texto crítico, o também tradutor e escritor Paulo Polzonoff Jr. reflete sobre o pessimismo na obra de Philip Roth, autor morto este ano e que deixou um vasto legado.

Também em destaque está a programação da 2ª Flibi (Festa Literária da Biblioteca). Realizado entre 22 e 27 de outubro, o evento — com curadoria do escritor e jornalista Marcio Renato dos Santos — conta com palestras, bate-papos, oficinas, apresentações de música e teatro. São mais de 60 convidados. Este ano o escritor homenageado é Jamil Snege (1939- 2003). Toda programação tem entrada franca.

Entre os textos inéditos, a 87ª edição do Cândido publica haicais de Domingos Pellegrini, poemas de Luiza Mussnich, narrativas de Harini Kanesiro e um trecho do romance inédito A velha cidade perdida, de Edilson Pereira. A ilustração da capa é assinada pelo artista visual Samuel Casal.

Serviço – O Cândido tem tiragem mensal de 3 mil exemplares e é distribuído gratuitamente na Biblioteca Pública do Paraná e em diversos pontos de cultura de Curitiba. O jornal também circula em todas as bibliotecas públicas e escolas de ensino médio do Estado. É enviado, pelo correio, para assinantes a diversas partes do Brasil.

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A boca aberta

Há dois meses, estava eu na cadeira do dentista, submetendo-me às manobras realizadas por ele e sua graciosa assistente. Em certo momento, tinha na boca —cada ferrinho com sua função e todos ao mesmo tempo— dois rolos de algodão, um espelhinho, a agulha da anestesia e, já se preparando para entrar em ação, a competente broca. Sou um sujeito tranquilo no dentista. Posso ficar horas de boca aberta e chego até a cochilar. Era o que provavelmente aconteceria se não fosse pelo súbito bafafá no andar de baixo —na sala de espera.

Começou por uma sinfonia de grunhidos. Evoluiu para uma troca de insultos —eram as vozes de dois homens— e culminou com um troar de corpos e móveis se chocando. Eu, o dentista e a assistente levamos 30 segundos para entender de onde vinha aquilo. Podia ser do prédio ao lado ou da rua lá fora. Ao concluir que era de sua sala de espera, o dentista largou as ferramentas na mão da assistente e na minha própria boca, e saiu correndo para a cena do conflito.

Dois clientes estavam se atracando e aos murros por motivos políticos —um, eleitor do PT; o outro, de Bolsonaro. O dentista, amigo de ambos, pôs-se entre eles e, arriscando-se a levar as sobras, chamou-os à razão. Não queria saber quem começara. Não era possível que uma discussão política levasse àquela irracionalidade.

Foi o primeiro episódio do gênero que testemunhei nesta eleição. Aliás, não testemunhei —estava de boca aberta na cadeira e assim continuei quando o dentista veio me contar o que acontecera. Pensei na hora: se nem as salas de espera dos dentistas estão a salvo, onde iremos parar?

Hoje sabemos. E não era para ser assim. Afinal, direita e esquerda não chegaram ao segundo turno, exatamente como queriam que acontecesse, cada qual achando a outra mais “fácil de derrotar”? Aos demais, que não querem nenhuma das duas, só resta agora a boca aberta.

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