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Exagero de Israel
Com base no que foi apresentado pela PF, os presos tinham contatos apenas iniciais. Ou seja, os agentes federais agiram no momento certo. Mas o que foi apresentado pelas autoridades israelenses e americanas a seus pares nas rodas internacionais fez parecer que o Hezbollah estava na iminência de cometer um atentado terrorista no Brasil. Segundo uma fonte do governo ligada à diplomacia, não era o caso —dado o que foi apurado até agora.
A postura tem causado um certo desconforto, diz a mesma fonte, porque a ação da PF se tornou adereço de propaganda em meio a uma guerra que o governo brasileiro já considera desproporcional contra o povo palestino.
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Os meus amigos “turco” e judeu
A tragédia irracional que se abate, no momento, sobre o Oriente Médio, envolvendo povos irmãos, ambos descendentes do profeta Abraão, remeteu-me, com saudade, a dois bons amigos – um filho de sírio-libaneses, indevidamente chamados “turcos”; outro de judeus – que, infelizmente, já nos deixaram.
O primeiro deles chamava-se José Tadeu Saliba, que viria a ser advogado, mas fora excelente narrador de futebol, torcedor apaixonado pelo esporte (era atleticano, no Paraná; corintiano, em São Paulo; e vascaíno, no Rio, num tempo em que se torcia por um time de cada Estado).
Tadeu foi o meu primeiro amigo, aquele do qual jamais se esquece, ainda que o tempo passe e a vida nos separe. Crescemos juntos e vivemos os melhores anos de nossas vidas numa Araucária tão provinciana quanto acolhedora; de poucas ambições, mas muita cordialidade; de gente comum e ordeira, vizinhos fraternos que não existem mais. Juntos, partilhamos ideias, embalamos sonhos e inventamos moda. Era um convívio diário, de grande afinidade, que começava cedo, nas viagens de ônibus para os colégios, em Curitiba, e terminava no campinho de futebol próximo à casa dele, em peladas que iam até o escurecer, ou em torneios de tamborete, no meio da rua, em frente à loja de tecidos e armarinhos de “seu” Michel, pai de Tadeu.
Nossos heróis estavam nas páginas dos gibis, nos seriados e nos mocinhos & bandidos do velho Cine Império (a TV era ainda um sonho inimaginável) e na equipe do Araucária Futebol Clube. Depois, fomos para o rádio e, ainda juntos, ingressamos na Faculdade de Direito da UFPR. Juntos – com Maria Marta, irmã de Tadeu, e Renato Nascimento –, ainda fizemos, no final dos anos 50, o primeiro jornal araucariense, o minúsculo “A Voz de Araucária”.
Quando vim para Curitiba, Tadeu ficou na Araucária que tanto amava. Ali fez carreira, constituiu família e foi prefeito – o mais jovem que o município teve, com pouco mais de 30 anos de idade – e deu início à mudança da cidade, arredando-a da vocação agrícola para dar-lhe ares de centro industrial. Quando o mandato terminou, voltou-se por inteiro à advocacia, que exerceu sempre com entusiasmo e paixão. No mais, como disse Maria Marta, “um paizão, propenso a abrigar o mundo inteiro no colo”.
Nunca imaginei que José Tadeu fosse embora tão cedo. Mas acho que parte dele já havia morrido, em 1995, quando a tragédia do edifício Continental, em Guaratuba, tirou-lhe, no mesmo golpe, não apenas um filho, mas também a mãe, duas irmãs, dois sobrinhos e um cunhado.
O segundo amigo referido no início deste texto, foi Jaime Stivelberg. Mais do que um competente advogado, estimado e respeitado no foro curitibano, Jaime era um ser humano excepcional, que tinha um talento especial para fazer amigos.
Quando Romeu Felipe Bacellar Filho deixou a administração pública para dedicar-se à advocacia, Jaime Stivelberg abriu-lhe espaço em seu tradicional escritório. Algum tempo depois, quando Romeu convidou-me para auxiliá-lo na nova jornada, fui recebido por Jaime como se fosse um veterano. Não me conhecia, mas o fato de haver sido chamado por Romeu Felipe, a quem ele admirava e respeitava, foi-lhe o suficiente. JS era um homem gentil, cordial, emotivo e com um profundo sentimento humanitário. Tanto que logo passou a considerar-me “um irmão”.
– Eu sou como você, Célio – costumava dizer-me, como se eu pudesse servir de referência. “Não consigo esconder sentimento. Quando não gosto de alguém, vou logo dizendo, sem nenhum constrangimento”. E emendava: “Com certeza fomos irmãos numa encarnação passada”. Quer dizer, um judeu que acreditava no espiritismo.
Nos últimos tempos, Jaime Stivelberg, que chegou a ser juiz do Tribunal Regional Eleitoral, dizia-se cansado da profissão, mesmo antes dos sinais do mal que o consumiria. Mas jamais deixou de comparecer ao seu gabinete de trabalho, no Edifício José Loureiro, na Rua XV de Novembro. Da mesma forma que enfrentou com galhardia os sobressaltos, as dores e as tristezas da caminhada, sem nunca desviar-se da rota inicial. Foi assim até o fim. E como o desembargador Aurélio Feijó, uma de suas principais referências, procurou em vida conciliar a profissão com o coração. Foi um profissional exemplar. Era um homem franco, sem ser rude; amava o chiste, sem perder o respeito; e não perdia a oportunidade de rir – ainda que (ou principalmente quando) a piada tivesse como personagens os descendentes de Abraão, entre os quais ele se incluía.
Não sei se Tadeu e Jaime se conheceram. Acredito que não, embora exercessem a mesma profissão. Se tivessem se conhecido, certamente seriam amigos. Apesar da diferença de etnias. Ou talvez por isso mesmo.
De José Tadeu e de Jaime, restou-me a lembrança e a saudade. E quando isso acontece, como dizia Rubem Alves, inspirado em Guimarães Rosa, não é parte do passado. É sempre presente.
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“Stella!” bradou Kerouac como Brando. E morreu…
Levado ao hospital, com uma hemorragia do esôfago, Kerouac recebeu várias transfusões de sangue, mas não pôde ser operado por causa do estado crítico do fígado. O “pai dos beats” morreu às 5:15 da manhã seguinte aos 47 anos. A causa oficial da morte foi hemorragia interna, (provocada por varizes esofagais) causada por cirrose hepática, decorrente de décadas de abuso alcoólico.
Um fato curioso: numa carta de 1957 – ano em que o lançamento On the Road causou grande comoção nos meios literários – Kerouac instava Marlon Brando a comprar os direitos para a filmagem do romance.
Jack assim vendia o seu peixe a Marlon: “Estou torcendo para que você compre On the Road e o transforme em filme. Não se preocupe com a estrutura, sei como comprimir o enredo para criar uma estrutura cinematográfica perfeitamente aceitável. Queria que você interpretasse o papel de Dean [Moriarty] porque ele (você sabe) não é desses babacas ligados em corridas de automóvel, mas um irlandês muito inteligente (na verdade um jesuíta). Você faz Dean e eu faço Sal (a Warner Bros decidiu que eu seja Sal) e vou lhe mostrar como Dean atuava na vida real.”
Caberia a um brasileiro, Walter Salles, pelos caminhos mais tortuosos, levar On the Road às telas, 54 anos depois da sua publicação. Mas isso já é outra história, da qual eu participei, como “consultor beat”, recebendo um belo cachê da Zoetrope, a produtora de Francis Ford Coppola.
Publicado em Roberto Muggiati - branca7leone
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Mural da História – 2009
Publicado em Charge Solda Mural
Com a tag mural da história, O Estado do Paraná
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O parlamentarismo à brasileira
As palavras e os conceitos jurídicos se alteram sem que a sociedade se aperceba. No segundo Reinado, em 20 de julho de 1847 a 1889, o Brasil teve 36 gabinetes ministeriais, com 21 formados pelo Partido Liberal e 15 pelo Conservador, um parlamentarismo de acomodação monárquica, com um fim desastroso.
O parlamentarismo reaparece, como o monstro da lagoa. O presidente João Goulart, de 1961 a 1963, governou como Presidente, mas com poderes reduzidíssimos, com três primeiros-ministros; Tancredo Neves, Brochado da Rocha e Hermes Lima. Foi antecipado o plebiscito, e o presidencialismo venceu com 80% dos votos. Na sequência Goulart foi derrubado pelo Golpe Militar, que durou 21 anos, cujo gabinete foi composto por generais ditadores e o Congresso servil, um verdadeiro partido militar que, posteriormente, ressurgiu.
Na Constituição de 1988, as disposições constitucionais transitórias obrigaram a realização de plebiscito, em 1993. Venceram: a República (66%) e o Presidencialismo (55%), perderam: a Monarquia (10%) e o Parlamentarismo (24%).
Os impeachments de Fernando Collor (1992) e Dilma Roussef (2016), absolvidos posteriormente pelo Supremo Tribunal Federal, foram derrubados numa orquestração tipicamente parlamentarista, em resumo, um golpe parlamentar.
A Constituição sofreu mutações, mantendo a fachada jurídica do presidencialismo num cenário de hipertrofia e grande musculatura dos poderes do Congresso Nacional.
Como uma matrioska cujo primeiro boneco russo é presidencialista, mas todos os outros bonequinhos, são parlamentaristas.
No quadro atual: quem derruba e indica os ministros do governo em troca de votos e apoio nos projetos do governo? Quem recebe emendas secretas/PIX de bilhões de reais para distribuir nos grotões eleitorais, desvirtuando o orçamento? Quem está com a espada sob a cabeça do Presidente quando são protocolizados pedidos de impeachments? Quem gonga e veta ministros indicados pelo Executivo, quando devem ser aprovados pelo voto secreto do Senado?
Por outro lado, o Presidente atua na agenda internacional, representa o Estado, pega criancinhas no colo e tudo mais do roteiro presidencialista, apenas simbólico.
Arthur Lyra, em maio de 2023, afirmou que: “Todos têm que entender que o Congresso brasileiro conquistou maior protagonismo…” Em tempo, livrou-se dos processos no STF que pairavam sob sua cabeça, inocente de tudo que o acusaram.
Na atualidade, o parlamento não pode ser dissolvido, o Primeiro-Ministro é intocável, os partidos não têm nenhuma ideologia política formal, o voto para Presidente não afeta a maioria eleitoral do parlamento e vice-versa.
Tem-se apenas um verniz presidencialista, que se transformou num clientelismo parlamentar do troca-troca de bilhões, forjado na liberação do orçamento pelo executivo aos atuais representantes da Casa Grande.
Esse é o parlamentarismo à brasileira.
Publicado em Claudio Henrique de Castro
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Flagrantes da vida real
Publicado em Maringas Maciel
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Os limites da guerra
— Matem todos, Deus reconhecerá os seus.
A questão da morte de inocentes em guerra perpassa os séculos. Depois da Segunda Guerra, houve grandes julgamentos: Nuremberg e Tóquio. As potências ocidentais passaram a sensação de que as leis humanitárias internacionais seriam respeitadas a partir daquele momento.
Depois disso, vieram conflitos no Vietnã, Afeganistão, Iraque, e os americanos não foram julgados. De nada adiantaria, pois não aceitam o Estatuto de Roma, muito menos um tribunal internacional.
No entanto, em 2022, em Dublin, Estados Unidos, Brasil e mais 81 países firmaram um importante documento de proteção a civis durante uma guerra. O compromisso é não apenas restringir bombardeios que possam matar inocentes, mas reparar os possíveis danos colaterais.
Israel não assinou o documento. Mas poderia ser levado pelos Estados Unidos a considerar cada vez mais a questão de poupar vidas. Há um longo caminho subjetivo para chegar lá. É importante contestar a tese de que não existem inocentes em Gaza e de que mesmo as crianças são educadas para odiar. Da mesma forma, é essencial ver Israel como uma sociedade diversa, em que nem todos partilham a ideia de povo prometido ou mesmo da supremacia judaica.
As próprias organizações terroristas tornaram-se mais frias e cruéis que no passado. Há algum tempo, Moacyr Góes encenou a peça de Camus “Os justos”. Participei de um debate sobre ela em que se discutia o adiamento de um atentado ao arquiduque por causa das crianças na carruagem.
Os estigmas que a guerra produz em massa estão chegando ao Brasil. Há uma ideia de que a Tríplice Fronteira é uma retaguarda de terroristas. Essa ideia foi inspirada nas investigações da CIA e do Mossad. De fato, houve um caso de colaboração financeira com o Hezbollah. De fato, andando pelas ruas de Foz de Iguaçu, sente-se a presença forte da colônia árabe, assim como nos hotéis de luxo inúmeros visitantes muçulmanos são vistos no saguão.
Publicado em Fernando Gabeira - O Globo
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