Se Lula tinha alguma esperança de não ser condenado em segunda instância no processo do famoso triplex do Guarujá, isso se rompeu definitivamente com o depoimento de Antonio Palocci desta quarta-feira, dado ao juiz Sérgio Moro. É claro que o julgamento no Tribunal Regional Federal da 4ª Região deve ater-se às provas que já estão lá, mas em processos do tipo nunca se deve subestimar o clima político e era com isso que Lula contava para se safar. Tanto é que até inventou essa caravana pelo Nordeste, que ao contrário do esperado sucesso esperado, acabou contribuindo para demonstrar fraqueza política.
O depoimento de Palocci foi desastroso para Lula, em tudo que ele tem para enfrentar daqui pra frente. Desmonta até a lorota sobre sua candidatura em 2018. Seu ex-ministro fez uma confissão extensa sobre o esquema criminoso investigado pela Lava Jato, inclusive falando de Lula diretamente. Ele disse que o ex-presidente fez um “pacto de sangue” com a Odebrecht. E Palocci é um chegado. Foi da mais alta importância na primeira vitória eleitoral de Lula para presidente e sempre foi pessoa de sua intimidade. Era um braço-direito mesmo depois de sair do governo. E a forma que o ex-ministro abriu o verbo mostra que ele sabe que o Ministério Público tem provas consistentes. E apesar de ter falado bastante hoje, com certeza ele guarda muita coisa para depois, para garantir a delação premiada que ainda está negociando com os promotores.
Algo muito interessante que dá para observar no depoimento foi a falta de percepção de Lula frente ao aumento do volume de corrupção em seu governo e também sua falta de capacidade de conduzir o esquema em condições mais controladas. Chama a atenção o papel do chamado pré-sal como aguçador da ambição pelo dinheiro. Palocci diz que o pré-sal “foi um dos grandes males para o Brasil”. Ele diz que o governo não soube “lidar com a riqueza”, o que de fato ocorreu e não foi só no estímulo aos ladrões para meter a mão no dinheiro público.
Todo o país perdeu muito na ilusão de que o petróleo jorraria de tal forma que o Brasil chegaria a fazer parte da Opep, como repetia então o próprio Lula. E agora ficamos sabendo pela fala de um dos mais graduados dirigentes petistas que a animação com o dinheiro fácil afetou até a capacidade de atenção dos corruptos no disfarce de seus crimes. Esta foi outra situação no governo do PT em que a propaganda manteve-se ativa mesmo depois da vitória eleitoral, convencendo até os próprios autores da fraude. Tem até um slogan forte que define muito bem este arrebatamento: “Sem medo de ser feliz”. Eles se deixaram levar pelo engodo que deu muito voto para o PT. O governo petista gastou o que não tinha e ainda passaram a roubar além da conta.