Janja não é criticada por ser mulher ou feminista, mas por trapalhadas ligadas ao cargo ocupado por seu marido
Nunca entendi direito o cargo de primeira-dama. Esposas de médicos, juízes, engenheiros não têm papel algum no trabalho de seus maridos. Por que haveria de ser diferente com o presidente da República?
Na América Latina, o posto é valorizado com carga emocional. Sintoma do personalismo populista que grassa na região, primeiras-damas por aqui adquirem status de “mãe do povo” e até de santa —como Evita Perón, na Argentina.
No Brasil, a atual ocupante do cargo tem dado o que falar. Primeiro, pela compra de um sofá no valor de R$ 65 mil e, principalmente, por se meter na divulgação de medida econômica do governo.
Janja retrucou a postagem de um site de fofocas que tratava do fim da isenção de imposto para compras internacionais entre pessoas físicas e disse que a taxa seria cobrada das empresas, não dos consumidores. Logo críticas ao comentário disparatado viralizaram nas redes sociais.
Aí entra o feminismo oportunista em ação. A primeira-dama estaria sendo atacada por ser uma mulher com voz ativa num posto sempre ocupado por mulheres passivas.
E, aqui, entra o oportunismo político-ideológico. As feministas se esquecem de Ruth Cardoso, primeira mulher no cargo a ter uma carreira própria, produção acadêmica pujante e trabalho dedicado ao combate à pobreza reconhecidos com condecorações em países como Dinamarca, França, Finlândia, e pela ONU.
Em 1996, em entrevista ao Programa Livre (SBT), defendeu a descriminalização da maconha quando poucas figuras públicas ousavam fazê-lo. Na mesma ocasião, deixou claro seu já notório desconforto com o termo “primeira-dama” e a preferência pelo tratamento acadêmico: “Fiz força para ser doutora”, disse.
Ou seja, Janja não é criticada por ser mulher ou feminista, mas pelas suas trapalhadas relacionadas ao cargo ocupado pelo marido.
Talvez o ideal seja tratar primeiras-damas como os primeiros-cavalheiros: ninguém se importava com o marido de Angela Merkel.