Quatro órgãos de inteligência do governo paranaense municiam o Departamento Penitenciário estadual com informações para a eventual escolha de um local para acomodar o ex-presidente Lula, caso ele seja preso e enviado para o sistema prisional do Paraná.
As agências de inteligência são ligadas à Polícia Militar, à Polícia Civil, ao Departamento Penitenciário (Depen) e à Secretaria de Segurança Pública. Caso o STF decida pela execução da pena após a decisão de segunda instância, fica a cargo de Sergio Moro determinar o local do cumprimento da pena.
Os investigadores das duas polícias estão monitorando principalmente as atividades de movimentos sociais, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), que devem protestar em caso de prisão do petista.
Já a inteligência do Depen apura as condições internas dos presídios, incluindo risco de animosidade de presos e carcereiros contra o ex-presidente. É comum agentes penitenciários serem hostis a petistas, por causa da ligação do partido com movimentos de direitos humanos.
A Folha apurou que o local considerado adequado pelo governo paranaense para receber Lula seria o Complexo Médico Penal (CMP), de Pinhais (PR), conhecido como presídio da Lava Jato.
Lá a sexta galeria –pavilhão isolado no fundo do presídio– acomoda presos da Lava Jato desde março de 2015.
Outros presídios do estado têm grande presença de presos de facções criminosas, o que colocaria o ex-presidente em risco.
O complexo consiste em um hospital, duas alas para doentes e feridos, outras para presos que cumprem medidas de segurança (aqueles que cometeram crimes e a Justiça determinou tratamento psiquiátrico) e uma para grávidas.
A quinta galeria, embaixo do pavilhão da Lava Jato, é habitada por policiais e presos ameaçados por outros detentos, transferidos após rebeliões, em 2014. Na sexta galeria há, além de presos da Lava Jato, detentos idosos.
O problema da escolha do CMP é que ao redor do presídio há descampados que poderiam servir como base para acampamentos de movimentos sociais. O complexo foi concebido como uma instituição médica, e a segurança não é máxima.
IMAGEM PRESERVADA
A recepção ao ex-presidente está sendo calculada para evitar tumulto. Cogitou-se preparar uma sala no aeroporto para que Lula fizesse o exame de corpo delito assim que o avião pousasse. Esta possibilidade, porém, perdeu força com a inauguração, em 15 de março, do novo prédio do Instituto Médico Legal (IML), em Curitiba.
No local o preso que vai para o exame pode entrar por uma garagem, tendo sua imagem preservada. Foi na entrada do antigo IML que fotógrafos e cinegrafistas registraram as principais imagens de presos como Marcelo Odebrecht, Otávio Azevedo, Eduardo Cunha e Antônio Palocci.
Lula também teria esquema especial na triagem, que é o período em que o preso fica separado dos outros para se adaptar à cadeia. Um alto funcionário do sistema penal paranaense disse que o ex-presidente pode ficar num quartel do Exército ou da Aeronáutica cerca de 15 a 30 dias, antes de seguir para o local onde cumpriria pena.
Durante a triagem o preso não tem direito a banho de sol ou visita de parentes, apenas encontro com advogados.
Apesar de ficar no quartel, os carcereiros e as refeições seriam fornecidos pelo Depen. Não é descartada a possibilidade de o ex-presidente ficar mais tempo isolado, por questões de segurança.
Hoje há dez celas desocupadas na sexta galeria do CMP. Se Lula for mandado para lá, encontrará antigos aliados, como o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Netto e o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB). Também conviverá com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB), um dos artífices do impeachment de Dilma Rousseff.
Folha de São Paulo